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22 de junho de 2025

Queens of the Stone Age nas Catacumbas de Paris: som limpo, clima espectral e um Josh Homme no controle total

Foto: Divulgação 


Por: Mayara Abreu 


Por mais que o Queens of the Stone Age tenha se reinventado inúmeras vezes ao longo das décadas, a banda ainda encontra maneiras de surpreender. O show filmado nas Catacumbas de Paris, exibido em primeira mão no cineclube Cortina, é mais uma prova disso. Em um cenário carregado de simbolismo e silêncio histórico, o grupo se apresentou em um formato intimista e milimetricamente pensado, onde o som limpo e a direção criativa de Josh Homme são protagonistas.

Logo de início, fica claro que essa não é uma performance convencional. A primeira faixa, uma fusão entre “Running Joke” e “Paper Machete”, já dita o tom: ambientações soturnas, arranjos contidos e uma mixagem que beira o cirúrgico. É possível ouvir cada detalhe dos acordes mais sutis ao estralo dos ossos sob os pés, literalmente. Há um respeito quase cerimonial pelo espaço.

A voz de Homme, despida de efeitos, parece cantar a capella mesmo quando acompanhada. Sua presença é constante e firme, como se ocupasse cada fresta do subterrâneo parisiense. Mais do que um frontman, Josh se mostra o maestro absoluto do projeto. Cada escolha estética, desde a posição dos microfones de lapela aos ambientes sonoros captados por microfones escondidos, passou pelo seu crivo, com apoio do engenheiro de som Mark Rankin. A dupla cuidou pessoalmente da mixagem, garantindo um resultado que soa orgânico, mas extremamente técnico.

Outro destaque é o trabalho com as cordas. Em um gesto que beira o improviso controlado, o arranjador foi convocado com uma lista de faixas em mãos, e em três dias montou os arranjos com músicos em uma sala de conferência em Roma. O resultado é sofisticado, adicionando texturas que reforçam a aura melancólica do ambiente.


A escolha do repertório foge do previsível: “Suture Up Your Future”, “Villains of Circumstance”, “Kalopsia” e “I Never Came” completam o set, de apenas cinco faixas, o que pode decepcionar alguns fãs. Ainda assim, cada música foi tratada com o cuidado de um curta-metragem. É um projeto mais conceitual do que celebratório.

O timing da gravação também carrega peso. Filmado um dia após as eleições na França, quando o país fervia diante da possível ascensão da extrema-direita, o show se propõe como um contraponto quase meditativo. Enquanto lá fora o caos político ameaçava eclodir, nas entranhas de Paris, o Queens of The Stone Age entregava um momento de suspensão e contemplação, algo raro no rock atual.

Nos bastidores, há também o lado humano. Mikey Shoes comentou sobre a exaustiva busca de perfeição de Josh Homme, mesmo diante de sérios problemas de saúde. Um perfeccionismo que gera tensão entre o brilho artístico e os limites do corpo, sendo uma dualidade que, de certa forma, permeia o clima do show inteiro.

Foto: Divulgação 


O projeto ainda não está disponível de forma gratuita ao público geral, apenas com a possibilidade de comprar diretamente no site da banda. Mas a premiere exibida no Cineclube Cortina mostra que o QOTSA segue inquieto, desafiando formatos e buscando novos territórios, tanto sonoros, quanto simbólicos. Que venha o lançamento completo. É uma experiência para se arrepiar.


Agradecimento a ForMusic pelo convite. 

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