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| Foto: Bárbara Matos |
HammerFall - Vip Station - São Paulo/SP - 08 de novembro de 2025
Por: Jon Levischi
Fotos: Bárbara Matos (@babi_matos)
Mesmo com um atraso de quase quatro horas, o público que lotou a Vip Station, em São Paulo, na noite de 8 de novembro de 2025, saiu com a sensação de ter presenciado algo memorável. A passagem do HammerFall pela capital paulista provou, mais uma vez, por que os suecos continuam sendo um dos nomes mais sólidos e carismáticos do heavy metal. Antes dos escandinavos subirem ao palco, as brasileiras Cova Rasa e Throw Me To The Wolves prepararam o terreno com apresentações intensas que aqueceram o público, ainda que ninguém imaginasse o quanto a espera seria longa.
Cova Rasa
Abrindo a noite pontualmente às 20h no Vip Station, Cova Rasa deu início ao evento com uma performance marcada pela energia e pela atmosfera sombria característica do grupo. O show começou com uma introdução ao piano, preparando o terreno para uma sequência de músicas que exploram temas de horror, marca registrada da banda. Apesar de enfrentar problemas técnicos nos primeiros minutos, o quinteto manteve o profissionalismo e seguiu com garra. O público respondeu positivamente, especialmente nos momentos em que o vocalista provocava interação.
A partir da segunda música, com o som já começando estabilizar nos PAs, o conjunto demonstrou mais confiança e mostrou sua presença de palco. O baixo e a bateria, bem entrosados, sustentaram a base das composições, enquanto os riffs cortantes de guitarra e os coros de “hey hey” do público criaram um clima de comunhão típica de festivais de metal nacional que os gringos adoram.
O repertório transitou entre o power e o speed metal, com passagens melódicas bem trabalhadas e temas visuais projetados no telão, de imagens de mansões e a morte a fotos antigas e cenas urbanas. A Cova Rasa apresentou maturidade e coerência estética, com composições que seguem uma identidade sonora consolidada. O público respondeu com entusiasmo, encerrando a apresentação com gritos de “Olé, olé, olá, Cova, Cova” e aplausos calorosos. A banda retribuiu com agradecimentos e uma foto coletiva diante da plateia, um fechamento vibrante e carismático para o primeiro ato da noite.
| Foto: Bárbara Matos |
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Throw Me To The Wolves
Às 22h, o palco do Vip Station recebeu a segunda atração da noite: a Throw Me To The Wolves, banda também brasileira que trouxe uma proposta mais moderna e técnica dentro do metal melódico com vocais rasgados. Após introdução nos PAs para dar aquela atmosfera, uma apresentação marcada pela precisão instrumental e pelo peso das composições foi o que definiu a banda da hora que pisou no palco até a despedida.
Impactado nos primeiros minutos por problemas técnicos como a Cova Rasa, o som logo se estabilizou, revelando a potência do conjunto. O vocalista, com timbre cortante e presença intensa, conduziu o público com autoridade, enquanto as cordas demonstraram excelente entrosamento, alternando duetos harmonizados e solos virtuosos. O baixista, por sua vez, chamou atenção pelo uso de técnicas avançadas como hammer-on e tapping com duas mãos, adicionando textura e complexidade às linhas graves, e tudo isso rolando no topo de linhas de bateria bem definidas.
O set da banda manteve um ritmo acelerado, com destaque para o equilíbrio entre peso e melodia, característica que permeou todo o repertório. As músicas apresentavam mudanças rítmicas elaboradas, incluindo compassos ternários e paradas estratégicas que criavam momentos de respiro antes de retomadas ainda mais intensas. A bateria sustentou o andamento com firmeza, embora em certos trechos os microfones dos tons tenham ficado baixos, o que reduziu a audibilidade de algumas viradas. Ainda assim, o bumbo duplo constante e a precisão do baterista garantiram a coesão do som.
Nos refrões, os coros de “hey hey” vindos da plateia reforçaram a conexão entre público e banda, que cresceu em confiança a cada faixa. A empolgação dos músicos no palco era evidente, especialmente nas trocas de solos entre os guitarristas e nas seções pesadas na volta das pausas. A banda finalizou sob aplausos consistentes, deixando claro que, mesmo com um repertório denso e técnico, soube conquistar o público pela execução precisa e pela energia transmitida do início ao fim.
| Foto: Bárbara Matos |
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HammerFall
Encerrando a noite, ou madrugada, os suecos do HammerFall provaram por que continuam sendo uma das forças mais sólidas do heavy metal tradicional mundial. Com mais de trinta anos de estrada, doze álbuns de estúdio e uma relação fiel com o público brasileiro, a banda subiu ao palco do Vip Station às 1h55 da manhã, após um atraso de quase quatro horas causado por problemas aéreos que afetaram vôo e equipe. Ainda assim, em menos de quinze minutos após chegarem à casa, já estavam no palco iniciando o show. Segundo o vocalista Joacim Cans, eles estavam há “48 horas sem dormir”, um detalhe que só reforça o profissionalismo e a paixão do grupo.
A plateia, visivelmente cansada, reacendeu assim que as luzes se apagaram. O público, qu resistia firme desde as bandas de abertura, foi recompensado com um espetáculo técnico impecável e uma entrega contagiante. O som estava cristalino, cada nota, bumbo e harmonia soando com nitidez estonteante, comparável a uma gravação de estúdio. O carisma dos cinco integrantes, especialmente de Cans e do guitarrista fundador Oscar Dronjak, dominou o palco.
Humor, energia e uma conexão genuína com o público transformaram o que poderia ter sido um show comprometido pelo atraso em uma celebração memorável.
Os trajes característicos, os timbres afiados e a iluminação teatral reforçaram o clima de epopeia metálica que a banda sempre entrega. Com um setlist equilibrado entre clássicos e faixas recentes, o grupo passeou por quase três décadas de história, alternando entre a nostalgia dos grandes hinos e a potência do material novo.
| Foto: Bárbara Matos |
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1. Avenge the Fallen
Abrindo o set com “Avenge the Fallen”, do álbum mais recente, lançado em 2024, o HammerFall mostrou que o fôlego segue intacto. O coro retumbante inicial “AVENGE! AVENGE! AVENGE!” fez o chão do Vip Station tremer, embalado por uma iluminação precisa que acentuava o clima da música. A entrega foi total desde o primeiro segundo: ninguém diria que aqueles músicos haviam acabado de enfrentar uma maratona aérea. A banda entrou em campo pronta para provar que, como o próprio refrão sugere, não há queda da qual não possam se vingar.
2. Heeding the Call
Na sequência, o primeiro clássico da noite. “Heeding the Call” reacendeu memórias e vozes em uníssono. O público respondeu com coros ensurdecedores de “oh oh oh oh”, cantando como se a noite ainda estivesse apenas começando. A execução foi irretocável, com solos precisos e mixagem equilibrada. Parecia a faixa de estúdio tocando ao vivo, mas com o vigor e a emoção que só o palco oferece.
3. Any Means Necessary
Com “Any Means Necessary”, o clima ganhou contornos mais sombrios. A iluminação intensa e os timbres pesados criaram uma atmosfera densa, amplificada por efeitos e samples que conferiam profundidade à música.
Joacim Cans aproveitou o intervalo entre as músicas para comentar os percalços da viagem, afirmando que “Nothing stops HammerFall. We don’t cancel shows.”, frase recebida com aplausos e gritos de apoio.
| Foto: Bárbara Matos |
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4. Hammer of Dawn
A plateia não se conteve nos primeiros versos de “Hammer of Dawn”, ecoando por todo o hall “Thunder! Lightning! Hammer fighting!”. Dronjak e Pontus Norgren coreografaram danças de guitarras à la Judas Priest, enquanto Fredrik Larsson e David Wallin mantinham a base rítmica firme e pulsante.
5. Blood Bound
Mais leve e contagiante, “Blood Bound” trouxe uma veia quase hard rock à sequência. As coreografias das cordas deram um toque performático, com todos bangeando juntos na frente do praticável da bateria. O público cantou os refrões com os punhos no alto enquanto Dronjak exibia orgulhoso sua icônica guitarra em formato de martelo.
6. Renegade
A madrugada continuou com “Renegade”, um dos hinos mais emblemáticos da carreira da banda. A plateia cantou aos berros. Um breve problema técnico no baixo foi rapidamente resolvido sem afetar o andamento da música e a empolgação de banda e fãs seguiu inabalada. Cans, em clima de descontração, brincou com o público perguntando se estavam bêbados, e em seguida pediu para todos erguerem seus “martelos imaginários”.
| Foto: Bárbara Matos |
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7. Hammer High
O coro do público iniciou “Hammer High”. Os punhos erguidos tomaram conta da pista, e a melodia épica serviu como trilha sonora para uma comunhão total entre fãs e músicos. Ao final, o público cantou sozinho o refrão, emocionando os integrantes. Era nítido o brilho nos olhos da banda vendo a comprometimento do público.
8. Last Man Standing
Com “Last Man Standing”, o show ganhou tons mais sombrios e a atmosfera densa se uniu à precisão técnica da banda. Um breve contratempo na guitarra foi logo corrigido, e Oscar Dronjak, sempre interativo, sorriu e incitou o público enquanto Cans mantinha o vocal impecável. A clareza do som permitia distinguir cada detalhe dos instrumentos.
9. Fury of the Wild
O trio de cordas — Dronjak, Norgren e Larsson — assumiu os backing vocals em “Fury of the Wild”, que além do jogo de vozes ainda trouxe um dueto de guitarras de arrepiar. As paradas da música foram executadas com precisão, encerrando com mais dancinhas coreografadas das cordas.
Cans aproveitou o intervalo entre músicas pra perguntar quantos ali viam o HammerFall pela primeira vez e quantos já tinham assistido show deles anteriormente, acrescentando que deviam ter gostado do que viram já que estavam lá de novo. Na sequência incitou os fãs a gritarem o nome da banda, e disse que era só gritar o que estava escrito no backdrop do palco. Quando olhou pra trás, notou que não tinha backdrop e corrigiu brincando que perderam nos vôos.
10. Let the Hammer Fall
Na sequência tocaram “Let the Hammer Fall”, que em 1998 já caracterizava a identidade da banda. Solos bem executados e uma dinâmica de palco cheia de energia. O público respondeu em coro a cada “Let the hammer…” com “FALL!” sem poupar pulmões.
11. The End Justifies
Outra faixa do álbum mais recente, “The End Justifies” trouxe velocidade e coesão, com os quatro músicos da linha de frente bangeando juntos. Com passagens de bateria complexas performadas pelo David Wallin, que quase se confundiam com pequenos solos, a costura entre as seções foi feita, e o solo dobrado de guitarras exibiu a técnica impecável da banda. Tudo coordenado, sem excessos, como um maquinário sueco perfeitamente ajustado.
12. (We Make) Sweden Rock
Em clima de celebração, “(We Make) Sweden Rock” fez todos no palco pularem. Joacim pediu “hands in the air”, e a resposta veio imediata. O backing vocal agudo de Oscar Dronjak complementou a performance com perfeição. A música funcionou como uma homenagem à própria trajetória da banda e ao legado do metal escandinavo — uma ode à identidade que eles mesmos ajudaram a construir.
13. Hail to the King
Após uma breve pausa no show, já no bis, “Hail to the King” manteve o peso e a densidade emocional do novo álbum. O público dividiu os vocais com Cans, em um refrão quase ritualístico enquanto Oscar e David disputavam baquetadas em um dos pratos da bateria.
No último intervalo do show, faltando 5 minutos para a apresentação se encerrar, Cans perguntou se queriam ouvir mais sobre sua história ou mais uma música, e na sequência declarou empate na votação com ironia.
14. Hearts on Fire
O encerramento não poderia ser outro. “Hearts on Fire”, clássico consagrado de 2002, transformou a casa em um coral uníssono. Cada palavra foi cantada pelo público, e cada nota executada com perfeição pela banda. Duetos de guitarras impecáveis, baixo e bateria sustentavam o pulso, enquanto o palco chegava à beira de incendiar. Final clássico de show com muito barulho, fritação e poses ensaiadíssimas, concluindo com Dronjak arremessando a guitarra-martelo para o alto para o encerramento apoteótico do espetáculo.
Enquanto o público aplaudia, “Dreams Come True” tocava nos PAs, encerrando a madrugada com um toque poético. Depois de décadas de carreira, o HammerFall segue vivendo o sonho de fazer heavy metal e de criar uma imersão profunda para quem presencia sua performance ao vivo.
| Foto: Bárbara Matos |
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| Foto: Bárbara Matos |
MEMBROS:
Joacim Cans - Vocais
Oscar Dronjak - Guitarra, backing vocals
Pontus Norgren - Guitarra
Fredrik Larsson - Baixo
David Wallin - Bateria
SETLIST:
1. Avenge the Fallen
2. Heeding the Call
3. Any Means Necessary
4. Hammer of Dawn
5. Blood Bound
6. Renegade
7. Hammer High
8. Last Man Standing
9. Fury of the Wild
10. Let the Hammer Fall
11. The End Justifies
12. (We Make) Sweden Rock
Bis:
13. Hail to the King
14. Hearts on Fire
Uma noite de metal e resistência
Mesmo com o cansaço, o atraso e o calor na primeiras filas, o HammerFall entregou um show impecável, digno de uma banda que carrega a bandeira do heavy metal há mais de trinta anos. O profissionalismo e a paixão do quinteto converteram o que poderia ter sido um fiasco logístico em uma noite histórica. Poucas vezes se vê uma banda tão conectada com seu público, e um público tão fiel, disposto a esperar até quase o amanhecer para cantar junto.
Naquela madrugada, o martelo caiu e o metal venceu.
Organização do Evento
Vale destacar dois pontos quanto à experiência do público para que as coisas melhorem nos futuros eventos em território nacional.
Não permitiram que fossem distribuídas as água dos fardos que estavam no chão, alguns metros de distância de quem estava na grade passando mal depois de tantas horas aguardando sem comer, no calor e pressão das primeiras fileiras da plateia.
A casa aparentemente não oferece nada comestível, somente bebidas, o que é bastante prejudicial para a experiência do público em eventos longos, mas depois de tantas horas de atraso, acabaram permitindo que as pessoas saíssem para comer nas barracas da rua fora da casa de show.
Agradecimento a Dark Dimensions e JZ Press pelo credenciamento e atenção.
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