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6 de março de 2018

No Hope Tour 2018


Mais uma quinta-feira de uma semana qualquer, dia normal para os que trabalham muito por muito pouco. A cidade não para, e em cada ponto desse emaranhado caótico, possivelmente terá algo que vá de encontro a essa monotonia enfadonha e que arrasta um rebanho de conformados para um abismo de obviedades. Esse fato não retrata uma totalidade, mas em meio a abundância de cretinices, o suspiro agonizante pode ser o último grito de um moribundo. 


Diante dessa argumentação insólita, procuro o fio da meada para dissertar sobre a primeira apresentação da “No Hope Tour 2018”, que reúne dois nomes improváveis do cenário independente – Deaf Kids e Test. O giro compreenderá todo o mês de março e passará por sete estados brasileiros. Quem conhece ou já viu alguma apresentação das bandas citadas, sabem que a previsibilidade é um recurso descartado por ambas. Aqui a afirmação de que ‘quem viu uma, viu todas’, não cabe. A prova disso é que em menos de um mês testemunhei aparições separaras das duas formações e não dá para fazer comparações. A Sala Adoniran Barbosa, do Centro Cultural de São Paulo, já é local bem conhecido pelos músicos e a disposição do espaço é a deixa para mais uma ode de caos. Os discos “Especies” e “Configurações do Lamento” serviram de roteiro para o que se viu no palco do CCSP. Intercalando as músicas ou até tocando juntos, não deram tempo nem para ovações e aplausos. Foi uma música atrás da outra e até o silêncio teve papel importante entre ecos e fragmentos sonoros. 
É como ver os filmes de Passolini, imagens aparentemente desconexas e sem sentido são o panorama de uma ideia muito bem fundamentada. Passolini para mim é o grande gênio do cinema, capaz de transformar imagens em poesia. 


Deaf Kids e Test são duas usinas sonoras que conseguem, como poucos, transformar ruídos, distorções e uma infinidade de sons, em imagens que retratam a iminência do fim de todas as coisas. Quem esteve na Sala Adoniran Barbosa, sabe bem do que estou falando.



Por: Roberio Lima
Fotos: Roberio Lima

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