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7 de agosto de 2018

Warriors Festival - Espaço 555

Foto: Roberio Lima

O filme "Warriors" (1979), ou "Selvagens da Noite", como ficou conhecido no Brasil, inspirou muitos jovens pelo mundo a fora. Os conflitos entre gangues retratados na película serviram para aflorar o espírito de rebeldia de uma geração que ainda precisava levantar do sofá para mudar o canal da TV. O filme, apesar de não desfrutar do mesmo prestígio de produções contemporâneas, como "Alien, o Oitavo Passageiro" e "Apocalypse Now", se tornou cult. O fato é que seu espírito de rebeldia inspirou outras vertentes artísticas, e acabou influenciando a criação de um festival que leva seu nome e que carrega sua temática. 

Um evento de mesmo nome, surgiu nos Estados unidos e já contou em suas edições com Sick Of it All e Cro-mags. A versão brasileira do festival não deixou por menos e escalou as formações mais relevantes do cenário underground nacional, um total de dez bandas! E já podemos citar como destaque dessa primeira edição a presenças expressiva de bandas formadas exclusivamente por mulheres, como veremos a seguir.


Foto: Roberio Lima

O Espaço 555 na região central de São Paulo, foi o local escolhido para sediar o evento que estava marcado para começar as 14h. Devido a problemas com passagens aéreas,  o D.F.C. que seria um dos headliners do festival, cancelou sua apresentação (já remarcado para a segunda edição do festival, que está marcado para meados de Dezembro e contará em seu cast com, entre outros; Garotos Podres e Boom Boom Kids).
Com a presença tímida do público, A Eskrota foi a primeira formação a subir ao palco para abrir os trabalhos com seu thrash/punk. Com o recém lançado EP "Eticamente Questionável" debaixo do braço, o power trio deu o seu recado e apresentou um som pesado com letras carregadas de contestação e fúria.  

Foto: Roberio Lima

Estávamos diante de uma verdadeira maratona e não haveria tempo a perder. A segunda apresentação ficou a cargo da Santa Muerte, outra formação que conta exclusivamente com mulheres. Nesse caso as meninas já possuem mais tempo na estrada e estão tocando em vários 'picos'  para divulgar o EP "Psychollic", que vem sendo bem recebido por headbangers sedentos por som rápido. Marilia Massaro é uma frontgirl de responsa e sua passagem por outras bandas ajudou a consolidar essa posição. A apresentação das minas empolgou, e as primeiras rodas se fizeram necessárias. Como já é tradição, as minas mandaram sua versão para 'Troops Of Doom" do Sepultura, mais uma apresentação que ficará marcada na história da Santa Muerte. 

A terceira atração à subir ao palco do Warriors Festival foi o Direction, banda formada por músicos experientes do cenário punk/hardcore paulista, deram seu recado com um som pesado e cheio de linhas mais melódicas. O set apresentou musicas do debut "Mesmo Horizonte". 

Foto: Roberio Lima

A quarta atração nem tinha começado a tocar, e já pude perceber que estou me tornando um tiozinho, pois as pernas começaram a 'pedir arrego'. No caso, o Faca Preta trouxe um punk rock mais tradicional ao palco, e entreteve aqueles que curtem um som mais puro (sem misturas). Os caras já estão na expectativa para o show que farão como "open act" da lenda The Toy Dolls no Carioca Club. Se tirarmos como base essa apresentação, não restará pedra sobre pedra na abertura do show dos ingleses. 

Já era noite e um frio quase insuportável se estabeleceu nas proximidades do famoso cruzamento da Av. São João com a Ipiranga e a próxima atração se encarregou de esquentar a galera. Diretamente do Rio de Janeiro, o Norte Cartel mandou um som pesadíssimo e cheio de groove. A galera respondeu a altura e os mais afoitos já se arriscavam nos primeiros stage dives da noite. Uma belíssima escolha que deixou o terreno preparado para uma das atrações mais aguardadas da noite. 

Foto: Roberio Lima
O Surra ao custo de muita correria e tocando praticamente de forma ininterrupta, vem conquistando um número cada vez maior de seguidores e foi exatamente isso que se comprovou com sua apresentação energética e caótica, entregando um som extremamente violento e empolgante. Quem já esteve em  alguma apresentação dos santistas, sabe que a interação entre público e banda já é uma tradição inalterável. E tome pedradas como "Merenda" e "Parabéns aos Envolvidos". Depois da devastação sonora promovida pelos rapazes, hora de tomar umas brejas e aguardar a próxima atração. 

Foto: Roberio Lima

A Cosmogonia fez uma apresentação muito bacana, e os que sobreviveram ao show do Surra, assistiram com atenção a apresentação das minas. Formada em 1993 na cidade de Osasco (SP), a banda é mais um foco de resistência e seu retorno é algo que deve ser comemorado. 

Foto: Roberio Lima

A penúltima atração do festival quebrou o clima (no bom sentido!). O Skamoondongos já é um velho conhecido da cena punk paulista e colocou todos para dançar. O ska comeu solto e a pista do Espaço 555, se rendeu aos que dançavam freneticamente. O show foi tão bom, que os caras acabaram incluindo uma versão para 'A Message To You Rudy" (The Specials). 

Os que resistiram a maratona de quase dez horas de punk/hardcore, ainda teriam a oportunidade de apreciar 'a cereja do bolo'. Jão é um personagem histórico da cena punk brasileira, e além de figurar em uma das mais importantes bandas de punk/hardcore/ crossover do mundo, ainda tem energia para manter ativo o Periferia S.A com seus comparsas Jabá (Baixo) e Dru (bateria). O musico teve que cumprir jornada dupla, já que havia tocado mais cedo com o Ratos, em Osasco. Depois de alguns ajustes nos equipamentos, o trio sobe ao palco com fantasia de palhaço para destilar o ódio em forma de música. Cara como esses tiozinhos conseguem?! Mandaram uma sequência de tijoladas dos dois discos lançados pelo trio. O cansaço já era uma realidade irrevogável e findada a apresentação do Periferia, a vontade predominante era por um bom banho quente e uma longa noite de sono para recarregar as energias... 

Com a segunda edição já anunciada, vamos torcer para que o Warriors Festival se consolide na agenda permanente de shows da cidade. Eventos como esse tem fundamental importância para a sobrevivência da uma cena que resiste contra tudo e todos! 


Por: Roberio Lima
Agradecimento pelo credenciamento: Erick Tedesco

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