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4 de agosto de 2019

Wacken 2019 - Dia 3

Foto: ICS Marketing
 
O último dia de Wacken Open Air no norte alemão começou com a banda punk oitentista Die Kassierer (os caixas, aqueles de supermercado), uma das bandas punks mais velhas do país e completamente pogo-anarquista - o vocalista Wolfgang Wendland foi candidato a chanceler alemão pelo APPD, o partido pogo-anarquista do país (aliás, sim, tem uma diferença entre pogo-anarquismo e anarquismo. Wendland é conhecido por fazer shows nu, mas desta vez vestiu ao menos calças para comandar a banda em músicas irreverentes e divertidas, ainda que sejam muito difíceis de levar a sério enquanto modelo de vida.

Foto: ICS Marketing

Em seguida veio o Subway to Sally, que mistura folk, metal e música medieval. Sim, eu sei que isso soa como 382 outras bandas, mas a banda alemã de 28 anos tem um som bem particular, tanto pela voz do vocalista Eric Fisher quanto pelos shows explosivos, melancólicos e sombrios. Com certeza uma das minhas bandas alemãs favoritas. A banda é meio avessa ao Spotify (apenas álbuns antigos estão lá), mas “Eisblumen” e “Kleid aus Rosen” são obrigatórias para quem gosta de boa música.

Foto: ICS Marketing

Entre os finlandeses do Battle Beast e os noruegueses do Kvelertak, acabei indo para os finlandeses. Isso teve o negativo de que escutar uma banda de power metal finlandesa é, quase sempre, como escutar algo fortemente baseado em Sonata Arctica, Stratovarius ou Nightwish. Ainda que não seja extremamente criativo, o som do Battle Beast se diferencia pelos teclados claramente oitentistas (poderiam muitas vezes ter saído de uma música do David Hasselhoff) e a voz da vocalista Noora Louhimo, muito parecida com a de Doro Pesch. Bônus para a irreverência demonstrada pelo tecladista tocando uma bateria eletrônica que piscava em cores diferentes a cada batida (sério, palavras não fazem justiça para o que vi ao vivo).

Foto: Jair Cursiol Filho

O terceiro dia foi o dia de algumas bandas que não fazem muito o meu estilo, como Of Mice and Men, Bullet for My Valentine e Prophets of Rage, por exemplo. Por sorte, o Wacken Open Air oferece atividades para todos os gostos, como o Bruchenball, esporte com inspiração medieval e que mistura wrestling e futebol - com muito mais wrestling, visto que a “bola” é algo como um saco de cimento encapado em couro e que deve ser carregado pelos 4 jogadores de cada time (a “bola” tem 80 kg). Assisti à quebra do recorde mundial de número de jogadores em uma hora num mesmo campo: mais do que 100. Quis participar, mas minha perna esquerda não permitiu devido a um percalço futebolístico recente. E, sim, mulher joga e joga bem!

Uma hora de pseudo-futebol-MMA-medieval e fui para o Bullhead City Circus ver o TesseracT, banda britânica de prog metal com pitadas de djent. Você sabe que uma banda quer soar complicada quando o nome é o de um “cubo 4D” (matemáticos irão me matar com essa definição) e o último disco tem como título Sonder, uma palavra inventada pelo autor John Koenig para “nomear as emoções aparentemente inefáveis que experimentamos ao perceber que cada um de nós vive ao mesmo tempo vidas vívidas e complexas”. Fácil, né? Ouvir TesseracT também não é muito fácil para quem não está acostumado com prog, mas a banda ajuda com performances empolgantes e um bom controle da platéia. King e Smile são duas excelentes portas de entrada.

O Uriah Heep faz 50 anos este ano (49 se contar pelo lançamento do primeiro álbum) e, apesar de só ter um membro original desde 1981, consegue se manter com sucesso na Europa, usando hit como “Lady in Black” e “Easy Livin" e muita nostalgia.

Como ninguém é de ferro, descanso e jantar soam uma boa. De barriga cheia e um café para renovar as energias, fui para o show dos tunisianos do Myrath. Confesso que esta não seria uma banda que por si só chamaria a minha atenção, mas chamou a da minha namorada e eu fui fazer uns vídeos e umas fotos para deixá-la feliz. Já havia escutado mais de uma vez um dos quatro álbuns dos caras e simplesmente por serem completamente de fora do eixo metaleiro composto por Europa e EUA os caras já merecem respeito. Vindos de uma região pouco aberta ao metal adiciona mais ainda. Mas me surpreendi com a qualidade do show que vi: os tunisianos fazem um belo metal com grande influência de música árabe e fizeram um show fenomenal, com dançarina do ventre, cuspidores de fogos, mágico, mensagens positivas e até tentar falar em alemão muito além do normal “boa noite”, “obrigado” e expressões curtas. O show foi tão bom que fiquei até o final, mesmo sem ter previsto. Escute “Believer” e “Born to Survive”.

Corri para o Powerwolf. Quer dizer, tentei correr. Foram mais de 15 minutos entre um palco e outro, tamanha a lotação. O tamanho do Powerwolf na Alemanha é completamente incondizente com a pouca fama da banda fora do país, ainda mais já com sete discos na carreira. O restante da Europa parece ter descoberto a banda no último disco e o Brasil ainda não descobriu. Assim como o Sabaton e o Hammerfall, as músicas grudam na cabeça e não querem sair. Tente não ficar cantando “We drink your blood” ou “Werewolves of Armenia”, tudo com o som do teclado (quase sempre como um órgão) de Falk Maria Schlegel, que quando não está no instrumento está pentelhando o vocalista Karsten "Attila Dorn" Brill e agitando o público. Acabei não conseguindo correr para o Delain, novamente devido à lotação e à infeliz ideia de três bandas de power sinfônico tocando ao mesmo tempo.

Vi o anúncio do Wacken 2020, com as meninas brasileiras do Nervosa marcando a volta de uma banda brasileira (que não seja o Sepultura ou uma de suas crias) ao Wacken depois de longos anos! Um orgulho para a cena brasileira!

Vi o Saxon já bem cansado após quatro dias de festival. Não há o que criticar no show do caras, que acabaram de lançar a coletânea ao vivo “The Eagle Has Landed 40” com 40 músicas para comemorar 40 anos do primeiro disco. O Saxon acaba meio esquecido frente a outras bandas do NWOBHM, como Judas Priest e Iron Maiden, mas a qualidade da banda ao vivo em nada deve às maiores (ainda que a pirotecnia não seja a mesma).

Ainda havia a apresentação do Rage junto com uma orquestra, mas o horário de início, uma e meia da manhã, o tornou proibitivo.

Foto: Jair Cursiol Filho

No geral, o Wacken XXX foi muito bem organizado, com respostas rápidas da organização para os problemas com tempestades em dois dias. Algo que acho essencial no verão é o fato de haver água de graça no festival, ainda que este ano estivesse menos claro onde achar a água. A estrutura de acampamento está cada vez melhor também.

Se você nunca foi, faça um favor a si mesmo: guarde dinheiro e vá ao menos uma vez na vida!

Terminamos também a nossa playlist de favoritas que vimos no Wacken: https://open.spotify.com/user/jcursiolf/playlist/1IpQBLzAG1ltZZvrdzioWN?si=MQht-J_vRTK-v3mAGeRtkQ


Por: Jair Cursiol Filho

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