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6 de março de 2020

Amenra, Labirinto e Basalt - Fabrique Club – São Paulo (SP) - 01/03/2020

Foto: Roberio Lima

Um domingo com atrações para diferentes paladares – do   Maroon 5, no Allianz Parque, ao ranço pós- carnaval dos bloquinhos nas  imediações do metrô Barra Funda - Foi um desfile indigesto de pessoas insípidas e com certa parcela desse nicho sempre pronta à ilustrar o show de horrores que as redes sociais proporcionam  em suas “timelines”. Ao mesmo tempo em que acontecia esse desfile involuntário do que há de mais cafona -  uma outra extremidade  do bairro, abrigava  as figuras mais esquisitas e “fora dos padrões” que se tem notícia. Estamos falando mais precisamente do entorno do Fabrique Club, onde  já havia no começo daquela tarde uma grande movimentação  de barbudões e desgrenhados – além de garotas com tatuagens e piercings improváveis. O código mais perceptível para identificar esses ‘esquisitões’, eram provavelmente as indefectíveis camisetas das bandas que certamente não ouviremos em uma “rádio rock” convencional.  

Essa breve introdução raríssimo leitor, serve para dizer que ali o objeto principal dessa movimentação tinha um único nome - Amenra – formação belga cultuada por praticar um tipo de som absolutamente fora de qualquer descrição mais específica. A noite ainda contaria com dois nomes diretamente influenciados pelos  belgas – estamos falando dos paulistas do Basalt e Labirinto. 

Foto: Roberio Lima

O Basalt pontualmente às 18:30h, tomou o palco para conduzir uma apresentação irretocável. O som caótico, sombrio e denso, matou a pau e deixou boquiaberto o bom público que preenchia rapidamente a pista do Fabrique. Canções  que sairão no próximo disco  “Circumspice” e “Silêncio Com Respiração”, foram bem aceitas logo de cara pela audiência. Marcelo Fonseca (vocal) fez um discurso contundente onde expôs a indignação da banda sobre os desmandos atuais, proporcionados pelo atual governo Brasileiro. Repudiou também o ocorrido com o Facada Fest (organizadores foram intimados pela polícia federal à  prestarem esclarecimentos sobre os cartazes, que segundo a PF, fazem apologia a violência e  que vão contra a honra do  presidente da república). Voltando ao show, posso afirmar sem medo de errar que foi um dos melhores números de abertura que já presenciei. Vamos aguardar ansiosos o novo álbum. 

Foto: Roberio Lima

Depois de um atraso que inevitavelmente alterou o cronograma divulgado previamente -  o Labirinto assumiu o palco para uma apresentação muito elogiada pelo público. Mesmo com um show longo e com um som atmosférico, a banda explora sonoridades muito particulares. Luís Naressi alternava sua performance entre sintetizador, guitarra e percussão. Eric Paes e Bruno Araujo – respectivamente integrantes das bandas Obscvre Ser e De Carne Flor e Ravir deram suas contribuições vocais na parte inicial do show para que depois a banda seguisse em um número totalmente  instrumental. O Labirinto teve a incumbência de abrir os shows da perna brasileira da turnê. Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG) e São Paulo foram as cidades contempladas. Assim como o Basalt, o Labirinto fez um show altamente profissional e competente. Estava chegando a hora da “missa” atingir o seu ápice....

Um silêncio absurdo tomou conta do local, enquanto um Fabrique Club praticamente lotado era o abrigo iminente de algo único que estava para acontecer. Quando as cortinas se abriram, os músicos já estavam posicionados no palco esperando o sinal para o início do culto. Ainda sob um forte silêncio (perturbador por sinal) Colin H. van Eeckhout permanecia ajoelhado e de costas para o público para enfim, iniciar com dois pedaços de metal  batendo um no outro de forma compassada. A canção que se materializava ali era “Boden” do álbum “Mass V”.  Uma força catalisadora faria seu papel a partir de então. Enquanto  o público ainda atônito recebia sem poder de reação “Plus près de toi” e “Razoreater”, os músicos iam ocupando cada milimetro do Fabrique Club com aquela sonoridade  sombria  e desesperadora. Talvez a única coisa razoável a fazer  fosse deixar o corpo se integrar aos movimentos em que C.H.V.E. Baseava sua performance. Mathieu van de kerckhove alternava em seu instrumento notas suaves e um peso descomunal em outros momento - um deleite para quem esperou tanto por aquele momento! 
Quando os acordes iniciais de “A Solitary Reign” vieram a tona, muitos daqueles marmanjos que mencionei no começo dessa matéria,  foram as lágrimas. O desfecho desse espetáculo primoroso foi sacramentado com “Am Kreuz” e “Diaken”. Sem nenhum tipo de comunicação com o público (apenas aquelas projeções abstratas no telão) ou qualquer outra convencionalidade, os músicos deixaram o palco e não retornaram.

Só restava então  ir embora - ainda com a mente impregnada por aquele som “torto e caótico”. 
Se existir algum remédio para esses casos, prefiro não saber! 


Setlist Amenra: 

Boden
Plus près de toi
Razoreater
Thurifer
A Solitary Reign
Nowena
Am Kreuz
Diaken


Por: Roberio Lima

Agradecimento pelo credenciamento: Luciano Piantonni - Lanciare Comunicação

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