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26 de agosto de 2024

Batushka - Vip Station - São Paulo/SP

Foto: Divulgação



Batushka - Vip Station - São Paulo/SP - 10 de agosto de 2024


Por: Alexandre Veronesi

Fotos: Alexandre Veronesi


O dia 10 de Agosto de 2024 foi um sábado cinza e de frio cortante na cidade de São Paulo, clima mais do que propício para uma boa celebração ao Black Metal, não é verdade? Pois bem, foi neste cenário nefasto que a maior metrópole da América Latina recebeu pela segunda vez o BATUSHKA, importante formação da música extrema polonesa, cujo nome é alvo de acirrada disputa judicial - aparentemente próxima de um desfecho, situação a qual tentarei explicar de forma resumida no parágrafo abaixo.

Inspirado pelas religiões ortodoxas do leste europeu, o BATUSHKA foi fundado em 2015 pelo multi-instrumentista Krzysztof "Derph" Drabikowski, que não tardou a convocar Bartłomiej "Bart" Krysiuk para o posto de vocalista principal, e assim, naquele mesmo ano, o duo gravou e pôs no mercado o excepcional álbum "Litourgiya", atraindo prontamente uma atenção massiva, tanto por sua sonoridade poderosa e singular, quanto pela estética visual macabra, em muito remetendo a uma verdadeira missa negra. Ocorre que, em 2018, Derph e Bart se separaram de forma nada amigável, e como ninguém quis largar o osso, ou seja, abrir mão do nome, criaram-se duas versões da "mesma" banda, o que até hoje gera muita polêmica e certa confusão na cabeça dos fãs. De acordo com as informações mais recentes que tomei contato, a justiça por fim se mostrou favorável à Krzysztof, portanto Krysiuk, ao menos em teoria, está proibido de se apresentar com seu grupo sob a alcunha de BATUSHKA - reitero: isso em teoria, porque foi exatamente esta a formação que esteve agora no Brasil. Enfim, aguardemos cenas dos próximos capítulos...

Pontualmente às 15:30h, com o público do Vip Station - casa de espetáculos localizada em Santo Amaro, na Zona Sul da capital paulista - ainda tomando forma, sobe ao palco o SHAYTAN, primeira atração do evento. Daniel Blasphemoon (vocal, ex-NervoChaos), Alan Nisiyamamoto (guitarra), Idimmu Lalartu Xul (baixo) e Getúlio Bonelli Filho (bateria) praticam um Black Metal tradicional, aos moldes estruturais da velha escola noventista, porém tecnicamente apurado, recheado de nuances e bastante vigoroso, que de imediato conquistou a ainda diminuta audiência. Divulgando seu recém-lançado disco de estreia, "Occult Aeon" (2024), o quarteto destilou uma porção de temas tão diabólicos quanto cativantes, como é o caso de "Night Of Sacrifice", "I Am The Hellfire", "Ishtar", "The Possession" e "Dark Mistress Of Death". Não obstante ter iniciado a sua trajetória em 2015, a banda ainda pode ser considerada nova, e definitivamente merece um olhar especial, pois dispõe de todos os predicados necessários para obter grande ênfase no cenário nacional em um futuro breve.


Setlist:

01 - Night Of Sacrifice

02 - I Am The Hellfire

03 - Lords Of Hell

04 - Ishtar

05 - The Possession

06 - Funeral Soul

07 - Dark Mistress Of Death

Foto: Alexandre Veronesi


De Mogi das Cruzes para o ABC Paulista, falando mais especificamente do município de Diadema, chegava a vez do SPIRITUAL HATE. O experiente grupo, que tomei a liberdade de apelidar como "o Belphegor brasileiro", é hoje composto por Fabiano Blackmortem (vocal e guitarra), Daniel Mobbirum (guitarra), João Ribeiro (baixo) e Nelson Paschoal Junior (bateria), e creio que a supracitada referência à lenda austríaca do Black/Death Metal já seja o suficiente para esclarecer, ao menos de forma geral, qual é a sonoridade praticada pelos caras. O repertório da apresentação foi calcado principalmente em temas dos últimos 2 registros, "The Ancient Pestilence" (2022) e o EP "Malvm Perpetvm" (2024) - que foram, até então, os trabalhos lançados desde que Blackmortem assumiu os vocais da horda, em 2021 - com destaque para as pedradas "The End Is Now", "With Black Wings, Through The Ages" e "Hereticvm"; mas é claro que não poderiam faltar músicas do ótimo debut "Diabolical Dominium" (2017), que foram "Awaiting Fucking Jesus" e "Behind The Lies Of God", esta responsável por encerrar o show de maneira visceral. Vale citar também a grande energia e presença de palco emanada pelo quarteto durante o set, tornando o momento ainda mais prestigioso.


Setlist:

01 - Regie Sathanas (intro) / Malvm Perpetvm

02 - The End Is Now

03 - Awaiting Fucking Jesus

04 - With Black Wings, Through The Ages

05 - The Anguish Of A Dying Soul / Merciless And Abyssal

06 - Hereticvm

07 - Behind The Lies Of God

Foto: Alexandre Veronesi


Na sequência, o palco foi tomado pelos veteranos do AMAZARAK. Na ativa desde 1997, o quinteto formado por Cavalo Bathory (vocal), Kristiano Profano (guitarra), Eddie Soulreaper (guitarra, substituindo Thiago Anduscias na ocasião), Guilherme Sorbello Lopes (baixo) e Orlando Vulcano (bateria) executa um Black/Thrash/Speed Metal cru, veloz, repugnante e mortal, feito sob medida para os fãs "old school" do gênero, ou, parafraseando o próprio frontman, "de headbanger para headbanger", e assim sendo, nenhum pescoço saiu impune após "Comando Blasfêmia", "Ascensão do Anticristo", "Sob Ataques Profanos", "Hino da Blasfêmia", "Hellbangers", entre outros tantos sons. Com o show se aproximando do fim, o vocalista anunciou uma homenagem ao rei, e é mais do que óbvio que ele se referia ao Rei Diamante! Então, recebemos uma releitura brutal da clássica "Black Funeral", canção das mais icônicas do Mercyful Fate. "Lendários Batedores de Cabeça" foi o petardo derradeiro da apresentação, bradado a plenos pulmões por diversos presentes na pista do Vip Station.


Setlist:

01 - Intro / Impuro Armagedom

02 - Comando Blasfêmia

03 - Sovereign And Proud

04 - Ascensão do Anticristo

05 - Sob Ataques Profanos

06 - Sangue Manchado

07 - Intro / O Filho da Serpente

08 - Hino de Blasfêmia

09 - Hellbangers

10 - Black Funeral [Mercyful Fate]

11 - Triunfo e Sangue

12 - Lendários Batedores de Cabeça

Foto: Alexandre Veronesi


Com a casa já bem mais cheia, chegava a hora do PARADISE IN FLAMES. Direto de Belo Horizonte, os musicistas Andre Damien (vocal e guitarra), Guilherme de Alvarenga (vocal e teclado), Robert Aender (baixo), Samuel Bernardo (bateria) e Nienna Ni (vocal) abriram o espetáculo com as intrincadas "Concerto No.6 In C Minor, Cold Spring" e "Unseen God", prontamente atraindo a atenção total do público. Tendo o setlist 100% baseado em seus 2 discos mais recentes - "Act One" (2021) e "Blindness" (2024) - o grupo performou com vigor e precisão cirúrgica, ainda mais se considerarmos a complexidade técnica das composições, que fundem com maestria o Metal negro à música erudita, trazendo ainda doses homeopáticas de sons regionais do Brasil, como acontece em "Black Wings", por exemplo. Impressiona também a dinâmica entre os 3 vocalistas durante as canções, e não posso deixar de enfatizar o talento de Nienna, cantora convidada nesta turnê, que transita entre o canto lírico, voz limpa e gutural com assombrosa naturalidade. O único "porém" ficou por conta da mixagem, que manteve o som da guitarra exageradamente alto, embolando o todo em alguns momentos, mas que de forma alguma tirou o brilho da magnífica apresentação realizada pelos mineiros.


Setlist:

01 - Desolate World (intro) / Concerto No.6 In C Minor, Cold Spring

02 - Unseen God

03 - Black Wings

04 - Reasons To Not Believe

05 - Old Ritual To An Ancient Curse

06 - Bringer Of Disease

07 - I Feel The Plague

08 - Endless Night Battle

09 - The Way To The Pentagram

Foto: Alexandre Veronesi


Isso com certeza vai soar clichê, mas falar a respeito do KRISIUN é como chover no molhado. Com mais de 3 décadas de estrada, o trio de irmãos Alex Camargo (vocal e baixo), Moyses Kolesne (guitarra) e Max Kolesne (bateria) é nada menos do que uma sumidade no que tange à música extrema nacional, sendo considerado por muitos - este que vos fala incluso - uma das maiores potências do Death Metal ao redor de todo o mundo. Quanto à apresentação em si, não faltaram bombardeios sônicos do calibre de "Hatred Inherit", "Ravager" (o único momento no qual Alex divide os vocais com o guitarrista Moyses), "Combustion Inferno", "Vengeance's Revelation" e "Descending Abomination"; as mais recentes "Scourge Of The Enthroned", "Necronomical" e "Serpent Messiah"; além é claro, da antológica e indispensável "Black Force Domain", faixa-título da primeira bolacha, lançada em 1995. Dissertar mais a fundo sobre a performance da banda definitivamente não se faz necessário, pois qualquer um que tenha visto um mero show do KRISIUN na vida conhece bem o nível de perfeição alcançado pelos caras no quesito "ao vivo". Um breve solo de bateria e a pesadíssima "Blood Of Lions" colocaram fim a mais uma feroz demonstração do poder de fogo da banda gaúcha, que mesmo após tantos invernos, permanece em sua mais plena forma.


Setlist:

01 - Hatred Inherit

02 - Ravager

03 - Combustion Inferno

04 - Scourge Of The Enthroned

05 - Necronomical

06 - Vengeance's Revelation

07 - Serpent Messiah

08 - Descending Abomination

09 - Infamous Glory / Black Force Domain

11 - Solo de bateria / Blood Of Lions

Foto: Alexandre Veronesi


Começava então a montagem para a atração principal da noite. Altares, candelabros, incensos e outros adornos foram calmamente dispostos no palco, em grande parte pelos próprios integrantes do grupo - ainda sem as suas devidas caracterizações, obviamente - com cânticos lúgubres emanando dos PA's durante todo o tempo. Passados cerca de 20 minutos do horário programado, entram Błażej Kasprzak (backing vocals) e Jacek "Hiatsyntos" Wiśniewski (backing vocals), seguidos pelos instrumentistas Rafał "Tarlachan" Łyszczarz (guitarra), Jakub "Szatan/Boruta" Śliwowski (guitarra) e Paweł Jaroszewicz (bateria), e por último, a figura central da entidade, Bartłomiej "Bart" Krysiuk (vocal), todos em suas túnicas negras recheadas de signos, iniciando assim o culto profano com "Yekteniya I: Ochishcheniye".

O que o BATUSHKA oferece aos seus súditos é uma experiência que, para muito além do "simples" audiovisual, mostra-se altamente sensorial e quase etérea. Durante pouco mais de 1 hora, o local foi dilapidado a uma espécie de purgatório, onde nossas almas pecadoras se fizeram arrebatadas por meio de obscuros hinos - alternando entre canções dos álbuns "Litourgiya" (2015) e "Hospodi" (2019), e dos EP's "Raskol" (2020) e "Carju niebiesnyj" (2021) - como é o caso de "Powieczerje", "Yekteniya III: Premudrost'", "Pismo I", "Polunosznica", "Irmos II", "Irmos III" e "Yekteniya IV: Milost'". Em meio a isso tudo, os vocalistas se encarregam da parte cênica do espetáculo, ora erguendo imagens de santos, ora um horripilante crânio humano, além de acenderem mais velas e incensos ao longo do set, dando um toque extra na iluminação do recinto, incessantemente banhado por luzes vermelhas.

O culto se encerrou ao som de "Pismo VI", com os integrantes deixando aos poucos o ambiente, não sem antes atribuir uma rápida e respeitosa saudação à plateia. O show havia acabado, mas a memória nutrida por cada um dos afortunados presentes naquela noite, sem dúvidas, será eterna.


Setlist:

01 - Yekteniya I: Ochishcheniye

02 - Wieczernia

03 - Powieczerje

04 - Yekteniya III: Premudrost'

05 - Pismo I

06 - Polunosznica

07 - Utrenia

08 - Irmos II

09 - Irmos III

10 - Yekteniya IV: Milost'

11 - Pismo VI

Foto: Alexandre Veronesi


A despeito do apoteótico ritual do BATUSHKA, deixo nas minhas palavras finais um convite à reflexão: notem a riqueza da cena underground brasileira. Aqui foram abordadas somente vertentes mais "bárbaras", porém, no nosso país temos bandas incríveis em todo e qualquer subgênero do Rock e do Heavy Metal, para literalmente todos os gostos. Encerro com os meus mais sinceros parabéns à curadoria do evento, que simplesmente não poderia ter realizado uma seleção melhor.


Agradecimentos à LP Metal Press e Xaninho Discos pelo credenciamento e Vip Station pela atenção. 

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