Big Rock N' Roll - Pensou em rock, pensou Big Rock!: Kiko Loureiro - Tokio Marine Hall

Foto: Paula Cavalcante

Kiko Loureiro - Tokio Marine Hall - São Paulo/SP - 10 de agosto de 2024

Por Paula Cavalcante (eyeofodin.photo)

Fotos: Paula Cavalcante (eyeofodin.photo)

"Mas o Kiko tá no Megadeth!"

Assim foi encerrada uma discussão entre amigos meus, que travavam uma batalha de argumentos para defender seus guitarristas prediletos. Infelizmente para este fã do Kiko Loureiro, ele já não poderá mais usar esse argumento! Em novembro de 2023, Kiko Loureiro “optou por não estar“ (palavras dele mesmo) no Megadeth. De lá pra cá, Kiko fez alguns shows acústicos e reencontrou os ex-colegas de Angra: Rafael Bittencourt (guitarra, no Rio) e Luís Mariutti (baixo, em São Paulo) Felipe Andreoli (baixo) e Bruno Valverde (bateria) que participaram como banda de apoio em alguns concertos dessa turnê que revisita seus 35 anos de carreira. E é curioso pensar que muita gente só tenha reconhecido ou conhecido seu valor devido a passagem do guitarrista por uma banda do porte do Megadeth. Entre novos fãs e fãs de carteirinha, o público compareceu ao Tokio Marine Hall, em São Paulo, em uma noite gelada para reverenciar o ícone.

Shows de Abertura:

Dois guitarristas foram responsáveis por aquecer a galera.

O primeiro a pisar no palco foi Luiz Toffoli, um rosto familiar para aqueles que comparecem aos eventos da Top Link, tendo ele também estado presente no recente show da banda Symphony X. Toffoli recentemente lançou seu álbum, intitulado “ Enigma Gardens “ (2023 ) e foi acompanhado por Cassio Marcos (vocal), Marcos Janowitz (baixo), Leo Carvalho (teclados) e Pedro Tinello (bateria) para um setlist enxuto porém eficiente que ainda contou com um cover de “ As I am “ do Dream Theater, que fez o ainda morno público presente bater cabeça e cantar junto.

Setlist Luiz Toffoli:

1 . Grand Opening

2.Human

3.I’m alive

4.Both Worlds

5.Gates of the underworld ( faixa do novo álbum que ainda será lançado este ano)

6.As I am ( Dream Theater cover )

Foto: Paula Cavalcante

Cerca de 10 minutos antes do horário previsto, teve início o segundo show de abertura comandado pelo guitarrista carioca Gustavo di Pádua que tem 26 anos de carreira e já integrou bandas como Almah, Glory Opera e Aquaria, além de já ter trabalhado com nomes como Sidney Magal e Kelly Key.

O talento de Gustavo e dos músicos que o acompanham Marcus Filipe Andrade (guitarra), Thiago Fernandes (baixo) e Gabriel Triani (bateria, ex-Wizards) é notável e poderá ser novamente apreciado no álbum “ Elephant “ que será lançado em breve.

O show que era basicamente instrumental, ganhou brilho com versões bem executadas de "Paranoid" do Black Sabbath e "Wasted Years" do Iron Maiden. A faixa título do álbum a ser lançado também estava presente no setlist. Gustavo aproveitou a ocasião para convidar o público a seguir suas redes sociais e conhecer melhor seu trabalho. E foi de fato um ótimo entretenimento para quem estava ansioso para ver a estrela da noite e também para aqueles que gostam de adicionar novidades a suas playlists.

Setlist Gustavo di Pádua:

Intro

Second Floor

Insight

The Stairs

Spiritual Lesson

Paranoid (Black Sabbath)

Wasted Years (Iron Maiden)

Welcome to the Next Stage

Elephant

2008

Foto: Paula Cavalcante

Kiko Loureiro:

Já passavam das 22hs quando Kiko Loureiro subiu ao palco acompanhado por Luiz Rodrigues (guitarra), Thiago Baumgarten (baixo, Hibria , Auro Control ) e Luigi Paraventi (bateria, Command6, Carol Biazin). Luiz não se limitou a ser guitarrista base como também apareceu para acompanhar Kiko em solos. Thiago, um dos melhores baixistas brasileiros da atualidade (convido o leitor a conhecer seu trabalho) cumpriu seu papel com maestria e a competência técnica que lhe è peculiar.

E o que dizer de Luigi na bateria? Muitos podem ter pensado: O que aquele garoto está fazendo ali? Mas não se engane com a carinha de menino, Luigi domina as baquetas e se destaca!

Mas a atração principal era ele, Kiko Loureiro, que foi recepcionado pelo público que entoava em coro: “Tesouro! Tesouro! Tesouro!“ o que trouxe um toque de humor e descontração ao início da apresentação. “Só no Brasil sou chamado assim“, brincou Kiko, sorridente! Kiko abriu a noite com a faixa “Overflow“ e em seguida veio “Pau de Arara“, aquela mistura de guitarra bem trabalhada com toque de música brasileira.

O público parou para admirar e curtir mais contidamente as faixas “Reflective“, “No Gravity“ e “Vital Signs“. Na sequência Kiko encaixou um medley com trechos de “Carry On”, “Spread Your Fire”, “Nova Era”, “Morning Star”, “Evil Warning” e “Speed” que ele mesmo admitiu ter precisado estudar para relembrar. E claro que esse medley mexeu com o público, celulares foram levantados e a empolgação aumentou.

A faixa “Du Monde“ que tem uma beleza complexa, fechou essa etapa do show antes que um convidado fosse chamado ao palco.

Kiko comentou que músicos brasileiros sempre citam referências estrangeiras e se esquecem de quem está “ao seu lado“ e foi assim que ele chamou um dos nomes mais conhecidos do Rock Nacional ao palco, o cantor, compositor e multi-instrumentalista: Lobão. Sim, eu também não esperava ver o Lobão em um show do Kiko Loureiro, de certa forma me pareceu uma peça que não se encaixava muito bem e olhando ao redor, o público parece ter pensado o mesmo. “Mais uma vez“ foi a faixa escolhida para a participação que começou com um volume baixo na voz de Lobão e um microfone que quase caiu, mas no fim, tudo deu certo.

Depois desse momento “awkward“, Kiko soltou a voz para “Conquer or Die“ e “Killing Time“ , e se o público curtiu? Eu diria que foi um dos pontos altos do show! Quem não queria ver Kiko tocando Megadeth?

Foto: Paula Cavalcante

A melódica e envolvente “Dreamlike“ abriu caminho para que um bem humorado e divertido Kiko, convidasse um fã para tocar no palco. Como se fosse ser difícil achar um guitarrista no meio da galera! (rs). O sortudo foi Felipe, que ajeitou o cabelo, pulou a grade e surgiu no palco de máscara cirúrgica, o que nos remeteu a época sombria da COVID 19.

“Pode tirar a máscara! Eu fiz teste! Aqui você está seguro!“ brincou Kiko.

Felipe fez questão de cumprimentar todo mundo que estava no palco e fez o momento dele, tocando com a guitarra do ídolo e sendo muito aplaudido. Da plateia, Kiko recebeu um presente: um desenho dele tocando uma guitarra em formato de bola quadrada.

“Vou colocar na minha sala!“ disse.

Foto: Paula Cavalcante

Era a vez de Alirio Neto, vocalista da banda Shaman, ser convidado ao palco para levantar a galera de vez com a faixa “Rebirth“. A instrumental “Dilemma“, diga-se de passagem uma das minhas faixas favoritas, tem o power metal em sua essência e abriu as portas para mais um convidado. Ninguém mais, ninguém menos que o baixista Luís Mariutti, que foi companheiro de Kiko no Angra.

“Vamos tocar aquela!“, disse Kiko e aos primeiros acordes de “Nothing to Say“ , com Alirio Neto nos vocais, o público delirou! Mais uma vez um mar de celulares levantados foi avistado! Todo mundo queria registrar aquele momento que sem dúvida foi o momento mais emocionante e marcante do show.

E então, mais uma da carreira solo de Kiko “Enfermo“ também repleta de complexidade foi perfeitamente executada.

Foto: Paula Cavalcante

Para fechar a noite, Kiko recebeu no palco o último convidado: Ron Bumblefoot (ex-Guns N' Roses e ex-Sons of Apollo ) com um visual “Gandalf “ para tocar “Escaping“ e a clássica “Stormbringer“ (Deep Purple). Kiko assumiu os vocais e Lobão, Luís Mariutti e Alirio Neto se reuniram no palco em clima de festa.

A performance de Kiko Loureiro foi impecável, o aclamado guitarrista entregou uma apresentação de alto nível técnico e aqui e ali se ouve os fãs: “Porque ele não volta como o Angra pooo?“

Porém, ao que tudo indica, Kiko seguirá seu próprio caminho no Angraverso, já que mais um álbum solo está encaminhado para ser lançado em breve e, se eu fosse hoje entrar naquela discussão dos meus amigos, talvez eu diria: Mais do que ter sido do Megadeth, ele é o Kiko Loureiro, do Brasil!