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22 de outubro de 2022

Nightwish e Beast in Black - Espaço Unimed - São Paulo - SP

Foto: Rafael Strabelli



Nightwish e Beast in Black - Espaço Unimed - São Paulo - SP  - 14 de outubro de 2022



Por Juliana Carpinelli

Fotos gentilmente cedidas por Rafael Strabelli


O Nightwish desceu das geladas terras finlandesas para o calor sul-americano após vários adiamentos de sua turnê do disco “Human. :||: Nature.” (sim, escrito dessa maneira, com os pontos, dois pontos e barras verticais) de 2020. A data original do show seria 9 de maio de 2020, para se ter uma noção. Acabou ocorrendo em 14 de outubro deste 2022. Nesse tempo muito mudou: a casa de shows Espaço das Américas em São Paulo mudou de dono e nome, virando Espaço Unimed; em janeiro de 2021 o baixista e vocalista Marco Hietala deixou a banda citando problemas de depressão crônica e desilusão com o mundo da música (ele retornou aos palcos com a banda Northern Kings em agosto de 2022), sendo substituído por Jukka Koskinen (Wintersun); e o lineup do show foi alterado, saindo a banda solo de Hietala e entrando os europeus do Beast in Black, a quem eu sinceramente não conhecia antes desta noite.

Foto: Rafael Strabelli


O show do Beast in Black começou pontualmente às 21h, com o vocalista grego Yannis Papadopoulos liderando seus companheiros finlandeses/húngaros em despejar 12 músicas que vão desde coisas que já ouvimos o Stratovarius e o Sonata Arctica fazerem à exaustão, até excelentes misturas metal melódico e hard rock com música oitentista cheia tecladinhos típicos da época. Foi nas farofas, Aerosmith-isses e nas quase dance metal que a banda levou o público à loucura, fazendo muita gente participar, batendo palmas e pulando – o que já é muito para uma banda de abertura se apresentando para 8 mil fãs de Nightwish!

Foto: Rafael Strabelli

Foto: Rafael Strabelli

Papadopoulos tem um quê de Tobias Sammet em evolução e pode ser tornar um dos showman do metal melódico no futuro. Preciso dizer que passei metade do show esperando Papadopoulos aparecer vestido de Dona Hermínia, tamanha a similaridade entre ele e o falecido humorista Paulo Gustavo.

Deixo aqui indicações de “From Hell With Love”, a excelente e Bon-Joviana “Sweet True Lies”, a farofeira “No Surrender” e “One Night in Tokyo”, com seu teclado que parece tirado de Top Gear, clássico do Super Nintendo.


Uns 15 minutos depois entrava no palco o Nightwish, que já é uma banda com pouco à provar, sendo provavelmente a maior banda de metal melódico/sinfônico do mundo. Talvez o que muita gente ainda se pergunte é como a holandesa Floor Jansen se sai nas músicas de suas antecessoras, o que chega a ser quase estranho, visto que ela recentemente fez 10 anos como vocalista da banda (que lançou um vídeo comemorativo duas semanas atrás com um mix de versões ao vivo da música “Storytime”, https://www.youtube.com/watch?v=8as3D4whguI ). Mas apesar de ser já a vocalista que ficou mais tempo na banda, foram apenas dois discos de estúdio com a vocalista, contra 5 com Tarja Turunen em um período quase igual.

O set começou com apenas a introdução de “Music”, do disco mais recente, cortando para “Noise” como a primeira música verdadeiramente tocada pela banda. Essa é música que confesso ter alguma dificuldade, pois o seu riff principal tem muito do tema da franquia Game of Thrones, à ponto de automaticamente me tirar da experiência. 


A seguir veio “Planet Hell”, uma das únicas do setlist que não tem uma versão oficial ao vivo com Floor (algo que está para mudar com o lançamento mundial de Live at Islander Arms em novembro próximo). Aqui onde começamos a ver a solução da banda para a falta dos vocais de Marco Hietala, adaptando cada música. Nesta, Floor Jansen assume todas as vozes, substituindo os vocais rasgados por agudos que fariam iveja a Michael Kiske ou Timo Kotipelto.

A banda volta para o disco mais recente com “Tribal”, que ganha ao vivo uma força imensa, com seu clima animalesco e, como o próprio nome diz, tribal. Facilmente minha favorita da bolacha. E aí já vem “Élan”, do primeiro disco com Floor. A música é daquelas quase pop, quase Coldplay, perfeita para estádios, que no metal praticamente apenas o tecladista e compositor Tuomas Holopainen consegue fazer (e talvez Tobias Sammet do Avantasia também). E quem não quer cantar sobre experimentar vinhos enquanto se surfa pelas ondas do céu? “Storytime”, outra com um fundo pop e talvez a música-símbolo da fase com a sueca Anette Olzon nos vocais, funciona perfeitamente com Floor.

Vou confessar que, com algumas exceções, nunca tive muito apreço pelas músicas da fase com a soprano Tarja Turunen (apesar de saber que ela é a mas técnica a já ser a cara da banda), então “She is my Sin” e “Sleeping Sun” são momentos do show que não me pegam muito. Jansen diminui os elementos operísticos destas músicas, sem necessariamente descaracterizar ambas.

Foto: Rafael Strabelli

Foto: Rafael Strabelli


De volta à fase Anette, vem “7 Days to the Wolves”, onde no refrão o multi-instrumentista Troy Donockley faz a voz que no estúdio era de Hietala, com resultados muito bons. Por alguns instantes, cheguei a pensar que talvez estivessem usando a voz dele como playback.

“Dark Chest of Wonders” é das poucas da banda que há claramente um bumbo duplo acelerado típico do power metal. De novo, Jansen rouba a cena, se garantindo e levando o público à loucura, antes de nos convidar para dançar com ela na folk “I Want My Tears Back” (e como ela pula e dança!). A música infelizmente perde um pouco de sua força com a substituição de Marco por Troy, que não tem drives tão rasgados, tão típicos do ex-baixista. Mas como a outra opção seria retirá-la do setlist, melhor deixar assim mesmo!

De volta para o passado longínquo, temos “Ever Dream” e a obrigatória “Nemo”, o momento onde a banda mais conseguiu furar a bolha do metal, chegando às rádios e à MTV no auge da importância desta na música mundial.

Aí a pausa para todo mundo dar uma respirada: apenas Floor e Troy ficam no palco para uma releitura acústica de “How’s the heart” de “Human. :||: Nature.”, que sinceramente ficou melhor desta maneira – embora eu entenda a necessidade da versão “balada metal” no disco. “Shoemaker” fecha a lista de músicas novas antes de mergulharmos nas três últimas do show, um clássico de cada vocalista.

“Last Ride of the Day” é um exemplo de como o Nightwish sabe fazer um metal melódico de pular e bater cabeça de não deixar ninguém parado. Se você está curioso, aqui Troy substitui Hietala, mas como é em dueto, nunca Troy sozinho, sente-se menos falta da voz do ex-baixista. Perceba que sempre que menciono a falta de Hietala é como vocalista, não como baixista. Jukka Koskinen, o novo dondo das quatro cordas, já tocava com o baterista Kai Hahto no Wintersun e encaixou perfeitamente no som da banda. Nada se perdeu neste ponto. De uma porrada pra outra, chega “Ghost Love Score” do disco “Once”, um épico de 10 minutos que passa mais rápido que muito single radiofônico.

Normalmente antes da última música seria quando as bandas sairiam do palco para fingir que o show acabou e voltar para o bis. A última vez que vi isso funcionar e enganar o público de verdade foi num show do Paul McCartney em 2009 no Morumbi, e isso porque o músico inglês costuma fazer isso duas vezes, então a segunda vez costuma enganar os desavisados. O Nightwish pelo jeito resolveu fazer como se faz em festivais: aboliu a saída e partiu para “The Greatest Show on Earth”. A música, minha favorita da banda, é reduzida de seus dantescos 24 minutos do disco “Endless Forms Most Beutiful” para 16 minutos ao vivo. A letra do épico conta a história da evolução da vida na Terra através da seleção natural, da criação do universo até os dias atuais e termina de maneira maravilhosa a noite.

A banda se despede ao som de “Ad Astra”, oitava e última parte de “All the Works of Nature Which Adorn the World”, peça que toma todo o disco dois “Human. :||: Nature.”, mas aqui apenas Floor faz a sua parte ao vivo enquanto o restante dos membros se despede do público.

Ao final, com um setlist muito bem azeitado, passando por todas as eras da banda, o Nightwish conseguiu apresentar um show energético, muito graças à vocalista Floor Jansen, que (como já falei no passado em outra resenha) é a melhor vocalista que o Nightwish já teve para shows. Ela pula, dança, agita, bate cabeça, simplesmente não para. E agora, sendo o único foco do público, muito mais responsabilidade recai sobre ela. Uma prova de fogo que não parece ter afetado a holandesa.

E as oito mil pessoas que estiveram no Espaço Unimed ainda levaram de presente o DVD “Decades: Live in Buenos Aires”, ao vivo mais recente do grupo. Não dá para reclamar!

Foto: Rafael Strabelli

Foto: Rafael Strabelli


Setlist:

BEAST IN BLACK

1. Blade Runner

2. From Hell With Love

3. Beast in Black

4. Born Again

5. Cry Out for a Hero

6. Moonlight Rendezvous

7. Sweet True Lies

8. No Surrender

9. Die by the Blade

10. One Night in Tokyo

11. Blind and Frozen

12. End of the World


NIGHTWISH

1. Noise

2. Planet Hell

3. Tribal

4. Élan

5. Storytime

6. She Is My Sin

7. Sleeping Sun

8. 7 Days to the Wolves

9. Dark Chest of Wonders

10. I Want My Tears Back

11. Ever Dream

12. Nemo

13. How's the Heart? (Versão acústica)

14. Shoemaker

15. Last Ride of the Day

16. Ghost Love Score

17. The Greatest Show on Earth

18. All the Works of Nature Which Adorn the World: VIII. Ad Astra

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