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17 de fevereiro de 2024

Kool Metal Fest - Carioca Club - São Paulo/SP

Fotos: Dani Moreira


Kool Metal Fest  - Carioca Club - São Paulo/SP - 11 de fevereiro de 2024


Por Roberio Lima / Rodrigo Noé de Souza (Mtb 0090611/SP )

Fotos gentilmente cedidas por Dani Moreira


Já se completaram 21 anos de existência e de ótimos serviços prestados a uma cena que resiste bravamente, graças aos muitos entusiastas que se alimentam da arte produzida nos palcos do Kool Metal Fest.  Felizmente tivemos a oportunidade de conferir ‘in loco’ alguns capítulos dessa história, e podemos afirmar que mesmo a música sendo o principal atrativo do festival, outros elementos também contribuem para que o evento permaneça relevante e atraindo um grande público em todas as suas edições. Mais uma vez os organizadores não decepcionaram, e a escolha das bandas foi novamente motivo de destaque. 

São Paulo resolveu dar uma alternativa para quem não curte Carnaval, seja em sambódromo ou em blocos de trio elétrico. No Carioca Club, em uma tarde ensolarada, ocorreu o Kool Metal Fest, que teve como foco o Thrash Metal.

Ok, o Ratos de Porão é praticamente uma atração fixa do fest, mas quem ousaria reclamar, afinal Gordo e Cia. não são apenas músicos do R.D.P., mas sim responsáveis por dilacerar mentes e corpos a mais de quarenta anos.  A história dessa entidade sonora já fala por si só, e se formos espertos, devemos aproveitar ao máximo enquanto estiverem na ativa. Nessa edição do festival o Thrash Metal foi o grande protagonista, e duas lendas do estilo foram escaladas para serem os headliners, falamos de Vio-Lence e Exhorder, duas formações que não alcançaram o mainstream, mas que foram fundamentais na formação do Thrash Metal como conhecemos hoje. Damn Youth, Escalpo, Cerberus Attack e Santa Muerte completaram o cast, cada formação com importância inquestionável dentro de suas respectivas cenas. Nas próximas linhas, seguirá o registro dos fatos ocorridos em mais um dia de festa regado a som pesado, adrenalina e muita nostalgia. E para o relato completo, feito à quatro mãos pela equipe Big Rock!

Com o público se preparando para bailar com o mosh nosso de cada dia, a Santa Muerte abriu os trabalhos com um setlist curto, mas muito eficiente. Marilia Massaro empunhando sua guitarra e proliferando riffs cortantes, mostrou que os anos de correria só fizeram bem para a banda. Marcelo Araújo (guitarra Cerberus Attack), ficou responsável pelas linhas de baixo – o que proporcionou um clima bem familiar entre os músicos. Os destaques ficaram por conta de sons como “Circulo de Sangue”, “Hipocrisia Never Ends” (que tem um web clip disponibilizado nas plataformas digitais), e fecharam a fatura com “Reactions”. Uma escolha mais que acertada para abrir a escalada de brutalidade que ainda teríamos pela frente. O Santa Muerte despejou um Crossover, no melhor estilo Municipal Waste. Destaque para a baterista Jhuly que triturou o kit, sem dó. Santa Muerte tocou faixas do EP e algumas novidades, ainda mais completando 12 anos de atividade.

Foto: Dani Moreira


Talvez já tenha mencionado essa história em algum outro relato que fiz (palavras do Roberio) sobre a banda, mas a muitos anos atrás, testemunhei pela primeira vez a Cerberus Attack em ação. A formação era bem diferente da atual, mas foi emocionante ver uma adoração tão sincera ao Thrash Metal. Muitos anos se passaram, e é muito bom ver o quanto evoluíram. Com dois álbuns na bagagem, EP’s, splits e afins, os caras estão recebendo o reconhecimento merecido. “Abyss Of Lost Souls” – lançado em 2021, é um primor de técnica e com todos os elementos que tornaram o Thrash Metal objeto de adoração. No setlist, figuraram as brutais “Fastest Way to Die” e “Moshers”. Cerberus Attack contou com o comando do Jhon França, que também é baterista da Eskröta. Com seu Thrash Metal, a galera fez muitas rodas e circle pit, para a alegria dos músicos. Realmente, mais uma apresentação no currículo. (palavras do Rodrigo). São Mateus e a Zona Leste estiveram bem representados até aquele momento! 

Foto: Roberio Lima

Foto: Dani Moreira

Foto: Rodrigo Souza


O Escalpobanda de Piracicaba/SP, adicionou doses de violência a sonoridade do Carioca Club, e foram bem recebidos pela audiência, que assistia atenta ao desfile de brutalidade, destilando com o melhor do D-Beat, bem acelerado. E o público respondeu, no melhor estilo "salve-se quem puder". Os caras estão prestes a realizar uma tour na Europa com aproximadamente 30 datas e deram uma pequena amostra do que levarão na bagagem para oferecer aos gringos. Canções como “A Dor do Açoite” e “Desumanização” certamente estarão no cardápio! 

Foto: Dani Moreira


Mais uma banda resolveu castigar os presentes, a cearense Damn Youth, com seu Thrash Metal anos 80. E tome rodas e mais fogo. O palco e a pista se tornariam uma coisa só, como explicou Elton Luiz, responsável pelos berros da Damn Youth, que também foi muito simpático e receptivo, ao representar o Nordeste. A banda fez a performance mais insana até aquele momento com um discurso político afiado, e derramando toda a indignação contra o sistema. Mandaram ver com pérolas do quilate de “Progress?!”, e “Your Líder Will Fall” do mais recente trabalho lançado em 2023, “Descends into Disorder”. “Sociopath Corporation of Surveillance” foi precedida de um esculacho à corporação policial e de uma indireta à um 'certo guitarrista' famoso de uma banda brasileira que participou de uma música em homenagem a polícia (mais precisamente para a ROTA). Para fechar com chave de caos, “No Mercy to Nazi Sympathy”. Nem é preciso dizer que os cearenses 'arrocharam a boca do balão' e saíram do palco ovacionados! 

Foto: Roberio Lima


A próxima atração dispensou qualquer tipo de apresentação, e numa uma noite em que o Thrash Metal foi um dos grandes destaques. Considerada a figurinha carimbada do festival, o Ratos de Porão continua fazendo o que faz melhor: soltar seu som mais sujo e agressivo. Abriram com "Satanic Bullshit" do disco 'Just Another Crime... in Massacreland', que completa 30 anos de lançamento, e que teve recentemente dois shows no Sesc Pompéia, onde o álbum foi tocado na integra em apresentações concorridíssimas! João Gordo estava bem descontraído e se comunicava a todo momento com a audiência. Os caras não brincam em serviço e o repertório clássico é sempre infalível! "Amazônia Nunca Mais", "Crucificados pelo Sistema", "AIDS, Pop e Repressão", "Aglomeração", "Caos, Morrer", "Crise Geral", "Mad Society", "Morte ao Rei" e "Beber até Morrer" possuem o mesmo efeito que a oração "Pai Nosso" tem para a igreja católica. Imaginem uma missa sem essa oração? "Descanse em Paz" foi a deixa para que Gordo lembrasse o amigo Jabá – baixista que gravou os grandes clássicos da banda. Definitivamente o Ratos de Porão e Kool Metal Fest são duas coisas indissociáveis, e não podemos reclamar! 


Foto: Roberio Lima



Foto: Dani Moreira


O Exhorder é indiscutivelmente uma formação clássica dos áureos tempos em que o Thrash Metal estava em seu auge, no entanto, nunca esteve entre as bandas que se destacaram no estilo, e mesmo com o lançamento do álbum 'Slaughter in the Vatican' (1990), que se tornou `cult´, nunca teve grande evidencia na época. Pela primeira vez no Brasil, o Exhorder debutou com seu Thrash/Groove, no qual foram os pioneiros, sem falar que esse estilo se popularizou com o Pantera. O publico acompanhou atento ao set que foi apresentado, e os melhores momentos se deram com as canções do "Slaughter...". O carismático vocalista Kyle Thomas fez uma boa apresentação como também tocou riffs infernais. Ao seu lado, estava o Wladimir Sorychta (ex-Grip Inc.), que, durante o show, teve problemas com a guitarra, mas que logo foi solucionado. Esperamos que voltem mais vezes.

Foto: Roberio Lima

Foto: Dani Moreira


Uma explicação para o clima mais `frio´ da noite também esteja relacionada a última atração do festival. Afinal, como veremos a seguir, nós brasileiros, recebemos mais uma aula de agressividade e técnica, e o responsável por mais esse momento tem um nome bem sugestivo; Vio-Lence!  

Não faz muito tempo que os caras se apresentaram no palco do Carioca Club, e para sermos mais precisos, a apresentação se deu no ano de 2022 no festival Setembro Negro. Encerrando a noite com chave de Metal, a Vio-Lence cuspiu Thrash Metal Bay Area, para delírio dos presentes. Agora, mais familiarizados com o público brasileiro, Sean Killian (vocal), Christian Olde Wolbers (baixo e ex-Fear Factory), Adrian Aguilar (bateria) e Phil Demmel (guitarra e ex-Machine Head) - que fez sua despedida dos palcos com o Vio-Lence, pois integrará a nova banda de Kerry King. Com um time desses, ninguém escapou do massacre coletivo no Carioca Club. Killan incentivou a galera a se jogar no palco.

O icônico álbum 'Eternal Nightmare' (1988) figurou com destaque no setlist da noite, aliás, não poderia ser diferente com clássicos inesquecíveis que nasceram na Bay Area de São Francisco para conquistar o mundo! Aos primeiros acordes de "Eternal Nightmare" a euforia veio à tona, com rodas e `Stage Diving´ que incendiaram de vez a pista do Carioca. Sean Killian estava nitidamente satisfeito em tocar novamente no Brasil, e interagia com o publico de todas as formas, seja ajudando os mais afoitos a subirem no palco, como os empurrando de volta para o mosh. Curiosamente na noite do Thrash Metal, em certo momento exaltou os patches de seu colete, que tinham nomes de bandas como Siouxsie and the Banshees, Misfits e G.B.H. que aparentemente não possuem relação com o Thrash, mas que são as principais referências para a maior parte dos músicos que ajudaram a criar esse estilo. Não por menos, antes de declarar seu amor ao Punk Rock, Sean Killian se juntou ao amigo Kyle Thomas do Exhorder para cantarem juntos "California Über Alles" do Dead Kennedys. Esse já seria o encerramento perfeito para o Vio-Lence e para o festival, mas ainda houve tempo para "World in a World" do não menos clássico 'Oppressing the Masses' (1990).  

Foto: Roberio Lima

Foto: Roberio Lima

Foto: Dani Moreira


Após o fim do festival, ficou aquela sensação de alegria e cansaço, e nossos sinceros agradecimentos aos organizadores desse festival, que indiretamente, nos proporcionam a cada ano, a possibilidade de ser jovem novamente, mesmo que por apenas algumas horas! 

Sem dúvida, a alma foi lavada com sangue e suor. Mais uma vez, o Carioca Club está de parabéns por mais uma edição desse incrível festival do underground.


Setlist Exhorder: 

Slaughter in the Vatican

Legions Of Death 

My Time 

Year Of the Goat 

Forever and Beyond Despair 

Exhorder 

Desecrator 


Setlist Vio-Lence: 

Eternal Nightmare

Serial Killer  

Phobophobia

Kill on Command  

I Profit 

Calling in the Coroner 

Officer Nice 

Upon Theis Cross 

California Über Alles (cover do Dead Kennedys com Kyle Thomas) 

World in a World 



Agradecimentos à Tedesco Comunicação e Midia pelo credenciamento e Carioca Club pela atenção.

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