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30 de janeiro de 2025

João Gordo entrega clássicos da MPB em novas (e bem-vindas) versões com muito rock e punk no La Iglesia

Foto: João Zitti 


João Gordo - La Iglesia - SãoPaulo/SP - 24 de janeiro de 2025


Por: João Zitti

Fotos: João Zitti (@joaozitti.work)


Quando se fala sobre música brasileira, qual é um dos principais gêneros que surgem na sua cabeça? Tenho certeza que uma grande variedade de sonoridades e nomes passam por sua mente, mas uma delas certamente será um consenso: a MPB, ou Música Popular Brasileira. Surgido na década de 60, o estilo musical abriga diversos artistas de grande relevância, como Elis Regina, Caetano Veloso e Chico Buarque, e continua extremamente vivo até hoje com o surgimento de novos nomes. Mas e se a MPB fosse diferente do que conhecemos? E se, ao invés da década de 60, o estilo tivesse surgido mais de uma década depois e com a presença de guitarras e vocais com grande distorção e maior velocidade? E se, na verdade, a MPB fosse um subgênero do rock e do punk? É essa a premissa que “Brutal Brega: MPB Mode”, de João Gordo, trabalha, e que teve seu show de estreia no dia 24 de janeiro de 2025 em São Paulo. 

Lançado em novembro de 2024, “Brutal Brega: MPB Mode” é um disco de 10 faixas que dá continuidade aos covers de músicas brasileiras iniciado em 2022 por seu antecessor, “Brutal Brega”, e que tinha músicas como “Fuscão Preto” (Trio Parada Dura) e “Tenho” (Sidney Magal). No novo disco, o foco (como seu próprio nome diz) vai para as músicas de MPB, com versões mais rock-punk de hits de artistas como Alceu Valença e Caetano Veloso nas músicas “Tropicana (Morena Tropicana)” e “A Filha da Chiquita Bacana”, respectivamente, entre vários outros, trazendo uma sonoridade que, em muitos momentos, lembra até mesmo outras bandas do cenário musical brasileiro como, por exemplo, Matanza (especialmente nas guitarras). 

O show oficial de estreia do disco aconteceu na “casa de shows mais abençoada de SP” (de acordo com o próprio lugar): La Iglesia, que fica na região de Pinheiros, São Paulo, e é mais conhecida especialmente no cenário musical underground e de rock-punk, tendo já contado com apresentações de grupos como Ratos de Porão, Zumbis do Espaço e Korzus. Para quem nunca foi na casa de shows pode demorar um pouco para se localizar, visto que ela fica nos fundos de um estacionamento, mas quando encontra não tem como confundir (visto que é o único lugar com uma cruz vermelha brilhante e invertida em seu topo).

O responsável por fazer a abertura do show foi ninguém mais ninguém menos que o parceiro de longa data do João Gordo, o Jão (mais conhecido por ser o guitarrista da icônica banda Ratos de Porão). Mas, ao contrário do que uma parte esperaria, o músico deixou a guitarra de lado durante a noite e foi o grande responsável pela trilha-sonora que precedeu a apresentação, ocupando o posto de “DJ Jão”. A casa demorou um pouco para se encher, visto que foi no mesmo dia em que houveram diversas enchentes em toda a cidade e que a maior parte do público preferiu tomar uma bebida em alguns dos bares da rua pra aliviar um pouco o calor, mas quando lotou sua capacidade máxima de 150-200 pessoas foi de uma vez só. 

Foto: João Zitti 

Foto: João Zitti 


O show, programado para 22h, começou cerca de meia hora depois (provavelmente para dar mais tempo para parte do público conseguir driblar as enchentes e chegar na apresentação), mas quando a música “Sobradinho” começou foi um estouro. No palco, além de João Gordo como frontman, estavam Guilherme Martin Guillas (bateria), Val Santos, (guitarra e backing vocal), Daniel ETE Giometti (baixo e backing vocal) e Rogerio Wecko (guitarra). A começar pelo João Gordo: ele é uma pessoa que tem uma presença de palco gigantesca, não só pelo nome dele em si e a merecida fama e prestígio que ele adquiriu no cenário do rock-punk ao longo de mais de quatro décadas, mas também pela energia que ele transmite durante todo o show (que durou aproximadamente 1h20), entregando vocais brutais e com grande distorção ao longo de toda a apresentação. O restante da banda entregou também performances extremamente afiadas, como nas batidas fortes e muito marcadas da bateria, que ajudou a trazer um maior dinamismo e uma certa “ginga” às músicas, e nas guitarras aceleradas e frenéticas que ajudaram a trazer a velocidade necessária para o show.  

Foto: João Zitti 

Foto: João Zitti 

Foto: João Zitti 


Uma proeza muito grande da banda (e que muitas vezes é incomum em performances ao vivo de outros grupos) foi conseguir reproduzir toda a sonoridade do disco gravado ao vivo com grande precisão, combinada de uma excelente qualidade de som das caixas do La Iglesia que estavam exatamente no volume ideal, sendo possível escutar com facilidade de qualquer canto da casa (inclusive detrás do palco). O repertório do show foi bastante diversificado, tocando quase que a totalidade do último disco (com exceção de “Sebastiana” e “A Filha da Chiquinha Bacana”) e também a grande maioria do disco anterior, o “Brutal Brega”. Creio que a cereja no bolo do projeto e, consequentemente, da apresentação é a presença nítida do humor e de algumas tosqueiras. Todos os envolvidos ali possuem plena noção do lado cômico disso tudo, de pegar músicas tão conhecidas e que tocam, por exemplo, em eventos como bailes e até festas juninas, e transformar em algo completamente diferente: afinal, quando você imaginaria escutar uma versão rock-punk de Sidney Magal? Isso se mostra presente também nos próprios videoclipes dos singles lançados em ambos os discos, desde uma nítida tela verde até as roupas extremamente exageradas e escrachadas que os membros da banda usam. Isso se reflete durante o show, por exemplo, nos intervalos entre músicas, em que João Gordo e Val Santos, principalmente, brincam com as histórias por trás das músicas (e royalties de 7 mil reais que tiveram que pagar para fazerem a nova versão), apelidos que possuíam na juventude e associados aos programas de televisão da época, as suas relações e opiniões com alguns dos próprios artistas que eles mesmos estão tocando, como Caetano Veloso e Belchior, entre diversos outros. Isso, consequentemente, traz uma leveza e um ar cômico que é muito benéfico, na minha opinião, ao projeto, e que resulta em uma apresentação e ambiente divertido e leve de se estar. 

Foto: João Zitti 

Foto: João Zitti 

Foto: João Zitti 

Foto: João Zitti 


Com humor e técnica, o show “João Gordo Brutal Brega MPB Mode” proporciona ao público uma ótima apresentação acompanhada de um setlist de peso (apesar de que poderia ter incluído a maior música do projeto até agora, que é “Fuscão Preto”) e de músicos que estão claramente se divertindo enquanto fazem o show, transmitindo esse mesmo sentimento para a plateia e entregando um ótimo entretenimento para uma sexta-feira à noite. 

Foto: João Zitti 


SETLIST:

01. Sobradinho 

02. Coroné Antônio Bento 

03. Pavão Misterioso 

04. Ciganinha 

05. Tenho 

06. Feiticeira 

07. Pepino 

08. Galos, Noites e Quintais 

09. Um Frevo Novo 

 10. A Namorada Que Sonhei 

11. Cavaleiro de Aruanda 

12. Espelho Mágico 

13. Atrás do Trio Elétrico 

14. Tô Doidão 

15. Pombo Correio 

16. Morena Tropicana 



Agradecimento à La Iglesia pelo credenciamento e atenção

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