A última terça-feira, dia
21, foi um dia de alegria para o Big Rock 'N Roll e para mim que, como
parte da equipe e fã, tive a honra de falar com ninguém menos do que
Gerson Conrad, integrante da formação consagrada da banda Secos &
Molhados. Gerson integrou o grupo que, em aproximadamente dois anos,
mudou radicalmente o cenário do rock e da música popular brasileira,
deixando um legado riquíssimo em nossa cultura contemporânea.
De
sua residência em São Paulo, poucos momentos antes de um dos últimos
ensaios para o seu show "Gerson Conrad & Trupi Cult", que estreia no
sábado, dia 25, Gerson conversou com o Big Rock 'N Roll e contou um
pouco sobre a nova fase da carreira, o novo álbum e, naturalmente, sobre
sua história no Secos & Molhados.
Com
a banda Trupi, Gerson já toca desde 2007. Com formação definitiva,
composta por Aru Júnior, responsável pelos arranjos, vocais e guitarra,
Allex Bessa nos teclados, Baraldo, no baixo e o baterista Fernando
Faustino, o cantor assume novamente os palcos. O quinteto apresenta o
show intitulado "Gerson Conrad & Trupi Cult", que trará ao público
16 músicas, das quais 5 são releituras de sucessos dos Secos &
Molhados, além de composições de seus dois discos solo e músicas
inéditas que têm previsão de lançamento ainda neste ano.
A
respeito do novo álbum, Conrad conta que a composição das músicas é,
para ele, um exercício diário e as escolha do repertório para o disco
não foi difícil, já que o processo de seleção das faixas é sempre feito
pensando no gosto do público: "Na verdade são todas músicas inéditas.
Nesse CD, eu tenho duas composições com o Paulinho Mendonça que já era
meu parceiro desde a época dos Secos & Molhados e tenho
[composições] com Alessandro Uccello que é parceiro novo, com Pedro
Levitch, um amigo com quem já compus anteriormente, mas ainda não tinha
gravado nada dele, e também composições de letras e música minhas. Meu
processo de composição é meu exercício diário, eu estou sempre tentando
compor e encontrar caminhos, então escolher o repertório não foi
difícil, porque acho que a gente conseguiu escolher as composições mais
expressivas e as músicas que têm mais cara de cair no gosto de público.
Foi mais ou menos por esse caminho".
Depois
do fim do Secos & Molhados, Gerson Conrad lançou, em 1975, em
parceria com Zezé Motta, o álbum "Gerson Conrad e Zezé Motta", pela Som
Livre e, em 1981, "Rosto Marcado", pela Warner. Desde então, havia
ficado um bom tempo longe dos palcos e do estúdio até a retomada da
carreira em 2007. O novo álbum, previsto para este ano, já está em
processo de negociação com um selo importante no país. Sobre a pausa e o
lançamento do disco, Conrad afirma: "Eu fiquei muito tempo sem gravar,
porque sou radicalmente contra a chamada produção independente no nosso
país. Acho que é uma questão de bom senso e eu, como tive a sorte de
sair do ostracismo quando era moleque para um sucesso a nível nacional,
fiquei muito mal acostumado e costumo brincar sempre que, pela minha
contribuição, não só com as músicas que foram gravadas pelos Secos &
Molhados, mas também com os meus dois discos solos, que eu tive a
oportunidade de fazer depois, tanto pela Som Livre quanto pela
Continental, que essas pessoas do chamado show business têm a
obrigação de me escutar pelo menos! (risos) Não são obrigados gostar,
mas pelo menos de escutar aquilo que eu tô fazendo. Eu resolvi gravar um
CD e comecei como uma produção independente, mas nesse momento eu estou
negociando com um selo já bastante renomado no mercado nacional por uma
questão de não acreditar realmente na venda independente ou no mercado
independente em termos de CD e de discos. Eu jamais quis fazer isso e me
satisfazer com vender 10, 30 discos no pós-show para justificar custos
de uma produção independente. Ou eu saio para correr na "raia um", em
projeção nacional ou simplesmente não faço, mas agora chegou o momento e
tudo caminha para acontecer e a gente ter um lançamento bacana nacional
ainda este ano".
Apesar
da retomada na carreira e da produção inédita, Gerson Conrad não deixa
para trás o passado estrondoso e glorioso de sua banda. Em seu livro
Meteórico Fenômeno, lançado em 2013, o compositor conta a trajetória do
grupo durante o breve período de atividade e a relação entre os
integrantes. Para o Big Rock 'N Roll, Conrad conta ter muito orgulho de
sua produção: "Isso [falar abertamente do Secos & Molhados] é por
uma questão de princípio. Eu sou um menino educado, que não cospe no
prato em que comeu... (risos), mas não é só isso! É porque é um trabalho
de excelente qualidade e merece ser relembrado sempre. E tem um
agravante nisso tudo: na década de 90 eu fiquei muito afastado do
cenário artístico, de palco, mas toda vez que eu tive a oportunidade de
me apresentar, e depois quando retomei em 2007, se eu não toco pelo
menos uma música do Secos & Molhados, é capaz de me jogarem tomate!
(risos) Então não dá pra renegar o legado. As pessoas pedem e a gente,
evidentemente, atende, então neste show do dia 25 eu resolvi fazer uma
releitura. Não tô tocando os arranjos originais, eu tô fazendo uma
releitura, como eu vejo isso 43 anos depois".
Logo
nos primeiros dez meses, o Secos & Molhados alcançou repercussão
nacional e internacional, deixando um legado importantíssimo para a
história do rock e da MPB e revolucionando o mercado e a indústria
fonográfica brasileira. A estética inovadora, os arranjos e a
musicalidade eclética colocaram a banda num patamar à parte do cenário
mundial: "Eu acho que até ousaria dizer [que estávamos] um pouquinho à
frente do nosso tempo, tanto que o registro do que conseguimos mostrar
ao público com o Secos & Molhados foi uma coisa de aceitação não só
nacional, mas internacional. Nosso trabalho ultrapassou fronteiras e
ficou conhecido lá fora, chegou até ter polêmica do Kiss, se copiou a
maquiagem, foram tantos os fatores que o Secos & Molhados deixou
como legado que eu acho que estávamos até um passo à frente naquele
momento".
Não
é segredo que, infelizmente, apesar de algumas tentativas, a banda
ainda não está em um momento propício para um reencontro. Embora já
tenham havido conversas sobre uma possível reunião, João Ricardo, o
terceiro integrante da banda e detentor da marca e de grande parte das
músicas do grupo, não demonstra desejo em reunir-se com os
ex-companheiros de banda. Já a relação entre Gerson e Ney é bastante
positiva e a amizade perdura ao longo das décadas: "Nós temos uma
relação sadia de muitos anos e o que determina isso é a questão daquilo
que eu chamo de respeito mútuo. Eu sempre tive um respeito muito grande
por parte de Ney e sempre o respeitei muito e respeitava também João
Ricardo e deixei de respeitá-lo quando ele deixou de ter respeito com a
minha pessoa e com o meu trabalho. Já houve épocas em que Ney, toda vez
que vinha a São Paulo, me telefonava e falava 'eu quero que você venha
assistir [aos show]'. Evidentemente que nos últimos anos, até por uma
questão de compromissos dele, em alguns show de passagem por São Paulo,
eu não tive oportunidade de ir ver em estreia, mas acabei vendo depois
ou em outra cidade, então a gente sempre teve uma relação sadia".
O
bom relacionamento com Ney dá ao público esperanças de uma reunião para
tributo ao Secos & Molhados. A participação, inclusive, dos músicos
que os acompanhavam na época foi cogitada. Houveram tentativas para o
Rock in Rio de 2016, entretanto a tão esperada reunião ainda não se
consolidou. Felizmente, Gerson deixa no ar que "tudo pode acontecer".
Enquanto
a tão aguardada reunião não ocorre, o público pode conferir as
novidades que o compositor preparou para este ano. Para aumentar as (já
altas) expectativas sobre o show "Gerson Conrad & Trupi Cult",
Gerson deixa a gente com água na boca: "O que eu posso falar sem falsa
modéstia é que o som que eu tô produzindo hoje com a Trupi é
certamente... Bem... se o Secos & Molhados tivesse sobrevivido
juntos, eu tenho impressão que estaríamos fazendo algo muito parecido
com o que nós estamos fazendo hoje e que vamos apresentar ao público
ainda este ano, porque o trabalho é bastante eclético, com letras de
altíssimo gabarito, bem dentro daquele quadro que nós, integrantes dos
Secos & Molhados, determinamos naquele momento com qualidade
literária e eu continuo mantendo isso no meu trabalho, aliás mantive nos
meus discos anteriores e estou mantendo agora".
Felizmente, amanhã poderemos conferir o retorno desse ícone da música popular brasileira no Teatro UMC, a partir das 21h.
Agradecimento: Erick Tedesco - Moshi Moshi Produtora
Equipe: Juliana Carpinelli e Marcela Monteiro
Texto: Marcela Monteiro
Foto: Divulgação
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