Translate

24 de março de 2017

De papo com Gerson Conrad

A última terça-feira, dia 21, foi um dia de alegria para o Big Rock 'N Roll e para mim que, como parte da equipe e fã, tive a honra de falar com ninguém menos do que Gerson Conrad, integrante da formação consagrada da banda Secos & Molhados. Gerson integrou o grupo que, em aproximadamente dois anos, mudou radicalmente o cenário do rock e da música popular brasileira, deixando um legado riquíssimo em nossa cultura contemporânea.

De sua residência em São Paulo, poucos momentos antes de um dos últimos ensaios para o seu show "Gerson Conrad & Trupi Cult", que estreia no sábado, dia 25, Gerson conversou com o Big Rock 'N Roll e contou um pouco sobre a nova fase da carreira, o novo álbum e, naturalmente, sobre sua história no Secos & Molhados.

Com a banda Trupi, Gerson já toca desde 2007. Com formação definitiva, composta por Aru Júnior, responsável pelos arranjos, vocais e guitarra, Allex Bessa nos teclados, Baraldo, no baixo e o baterista Fernando Faustino, o cantor assume novamente os palcos. O quinteto apresenta o show intitulado "Gerson Conrad & Trupi Cult", que trará ao público 16 músicas, das quais 5 são releituras de sucessos dos Secos & Molhados, além de composições de seus dois discos solo e músicas inéditas que têm previsão de lançamento ainda neste ano. 

A respeito do novo álbum, Conrad conta que a composição das músicas é, para ele, um exercício diário e as escolha do repertório para o disco não foi difícil, já que o processo de seleção das faixas é sempre feito pensando no gosto do público: "Na verdade são todas músicas inéditas. Nesse CD, eu tenho duas composições com o Paulinho Mendonça que já era meu parceiro desde a época dos Secos & Molhados e tenho [composições] com Alessandro Uccello que é parceiro novo, com Pedro Levitch, um amigo com quem já compus anteriormente, mas ainda não tinha gravado nada dele, e também composições de letras e música minhas. Meu processo de composição é meu exercício diário, eu estou sempre tentando compor e encontrar caminhos, então escolher o repertório não foi difícil, porque acho que a gente conseguiu escolher as composições mais expressivas e as músicas que têm mais cara de cair no gosto de público. Foi mais ou menos por esse caminho".

Depois do fim do Secos & Molhados, Gerson Conrad lançou, em 1975, em parceria com Zezé Motta, o álbum "Gerson Conrad e Zezé Motta", pela Som Livre e, em 1981, "Rosto Marcado", pela Warner. Desde então, havia ficado um bom tempo longe dos palcos e do estúdio até a retomada da carreira em 2007. O novo álbum, previsto para este ano, já está em processo de negociação com um selo importante no país. Sobre a pausa e o lançamento do disco, Conrad afirma: "Eu fiquei muito tempo sem gravar, porque sou radicalmente contra a chamada produção independente no nosso país. Acho que é uma questão de bom senso e eu, como tive a sorte de sair do ostracismo quando era moleque para um sucesso a nível nacional, fiquei muito mal acostumado e costumo brincar sempre que, pela minha contribuição, não só com as músicas que foram gravadas pelos Secos & Molhados, mas também com os meus dois discos solos, que eu tive a oportunidade de fazer depois, tanto pela Som Livre quanto pela Continental, que essas pessoas do chamado show business têm a obrigação de me escutar pelo menos! (risos) Não são obrigados gostar, mas pelo menos de escutar aquilo que eu tô fazendo. Eu resolvi gravar um CD e comecei como uma produção independente, mas nesse momento eu estou negociando com um selo já bastante renomado no mercado nacional por uma questão de não acreditar realmente na venda independente ou no mercado independente em termos de CD e de discos. Eu jamais quis fazer isso e me satisfazer com vender 10, 30 discos no pós-show para justificar custos de uma produção independente. Ou eu saio para correr na "raia um", em projeção nacional ou simplesmente não faço, mas agora chegou o  momento e tudo caminha para acontecer e a gente ter um lançamento bacana nacional ainda este ano".

Apesar da retomada na carreira e da produção inédita, Gerson Conrad não deixa para trás o passado estrondoso e glorioso de sua banda. Em seu livro Meteórico Fenômeno, lançado em 2013, o compositor conta a trajetória do grupo durante o breve período de atividade e a relação entre os integrantes. Para o Big Rock 'N Roll, Conrad conta ter muito orgulho de sua produção: "Isso [falar abertamente do Secos & Molhados] é por uma questão de princípio. Eu sou um menino educado, que não cospe no prato em que comeu... (risos), mas não é só isso! É porque é um trabalho de excelente qualidade e merece ser relembrado sempre. E tem um agravante nisso tudo: na década de 90 eu fiquei muito afastado do cenário artístico, de palco, mas toda vez que eu tive a oportunidade de me apresentar, e depois quando retomei em 2007, se eu não toco pelo menos uma música do Secos & Molhados, é capaz de me jogarem tomate! (risos) Então não dá pra renegar o legado. As pessoas pedem e a gente, evidentemente, atende, então neste show do dia 25 eu resolvi fazer uma releitura. Não tô tocando os arranjos originais, eu tô fazendo uma releitura, como eu vejo isso 43 anos depois".

Logo nos primeiros dez meses, o Secos & Molhados alcançou repercussão nacional e internacional, deixando um legado importantíssimo para a história do rock e da MPB e revolucionando o mercado e a indústria fonográfica brasileira. A estética inovadora, os arranjos e a musicalidade eclética colocaram a banda num patamar à parte do cenário mundial: "Eu acho que até ousaria dizer [que estávamos] um pouquinho à frente do nosso tempo, tanto que o registro do que conseguimos mostrar ao público com o Secos & Molhados foi uma coisa de aceitação não só nacional, mas internacional. Nosso trabalho ultrapassou fronteiras e ficou conhecido lá fora, chegou até ter polêmica do Kiss, se copiou a maquiagem, foram tantos os fatores que o Secos & Molhados deixou como legado que eu acho que estávamos até um passo à frente naquele momento".

Não é segredo que, infelizmente, apesar de algumas tentativas, a banda ainda não está em um momento propício para um reencontro. Embora já tenham havido conversas sobre uma possível reunião, João Ricardo, o terceiro integrante da banda e detentor da marca e de grande parte das músicas do grupo, não demonstra desejo em reunir-se com os ex-companheiros de banda. Já a relação entre Gerson e Ney é bastante positiva e a amizade perdura ao longo das décadas: "Nós temos uma relação sadia de muitos anos e o que determina isso é  a questão daquilo que eu chamo de respeito mútuo. Eu sempre tive um respeito muito grande por parte de Ney e sempre o respeitei muito e respeitava também João Ricardo e deixei de respeitá-lo quando ele deixou de ter respeito com a minha pessoa e com o meu trabalho. Já houve épocas em que Ney, toda vez que vinha a São Paulo, me telefonava e falava 'eu quero que você venha assistir [aos show]'. Evidentemente que nos últimos anos, até por uma questão de compromissos dele, em alguns show de passagem por São Paulo, eu não tive oportunidade de ir ver em estreia, mas acabei vendo depois ou em outra cidade, então a gente sempre teve uma relação sadia".

O bom relacionamento com Ney dá ao público esperanças de uma reunião para tributo ao Secos & Molhados. A participação, inclusive, dos músicos que os acompanhavam na época foi cogitada. Houveram tentativas para o Rock in Rio de 2016, entretanto a tão esperada reunião ainda não se consolidou. Felizmente, Gerson deixa no ar que "tudo pode acontecer".

Enquanto a tão aguardada reunião não ocorre, o público pode conferir as novidades que o compositor preparou para este ano. Para aumentar as (já altas) expectativas sobre o show "Gerson Conrad & Trupi Cult", Gerson deixa a gente com água na boca: "O que eu posso falar sem falsa modéstia é que o som que eu tô produzindo hoje com a Trupi é certamente... Bem... se o Secos & Molhados tivesse sobrevivido juntos, eu tenho impressão que estaríamos fazendo algo muito parecido com o que nós estamos fazendo hoje e que vamos apresentar ao público ainda este ano, porque o trabalho é bastante eclético, com letras de altíssimo gabarito, bem dentro daquele quadro que nós, integrantes dos Secos & Molhados, determinamos naquele momento com qualidade literária e eu continuo mantendo isso no meu trabalho, aliás mantive nos meus discos anteriores e estou mantendo agora".

Felizmente, amanhã poderemos conferir o retorno desse ícone da música popular brasileira no Teatro UMC, a partir das 21h.
 
 
Agradecimento: Erick Tedesco - Moshi Moshi Produtora
Equipe: Juliana Carpinelli e Marcela Monteiro
Texto: Marcela Monteiro
Foto: Divulgação

Nenhum comentário:

Postar um comentário