Sem atraso nenhum, a banda se posicionou no palco à espera, junto com a
plateia, do gigante! Um trecho de Encruzilhada, filme estrelado por ele em 1986,
apareceu no telão enquanto a casa e o palco permaneciam escuros. De repente,
ele entra em cena, roubando gritos, assovios e aplausos de todos: Steve Vai, poucos
dias antes de seu aniversário de 58 anos, em perfeita boa forma, vestido com um
agasalho prateado, óculos com luzes combinando com sua guitarra iluminada, arrebentando
com Bad horsie. A plateia foi ao
delírio! Steve já emendou mais três músicas sem dizer uma só palavra e seu
primeiro contato com o público foi através da guitarra. Ninguém se incomodou,
porque todos ali sabiam que só tinha uma linguagem a ser falada: a da música e,
ninguém entende melhor dela, do que o carismático guitarrista com mais de 30
anos de carreira.
Ao término do bloco composto por Bad
horsie, The crying machine, Gravity storm e Tender surrender, as primeiras palavras de Steve foram fazendo
graça com o fato de não conseguir ficar parado com a música. Rebolados e uma
linguagem corporal que se alternava entre suavidade e movimentos felinos e uma incrível
intensidade explosiva marcaram o show do começo ao fim: “Não sei o que acontece
comigo quando estou em São Paulo... Eu começo a fazer isso... [rebolar]. Minha
mulher [pergunta] ‘por que você fica
fazendo essas merdas?’ e eu respondo ‘porque
eu posso e porque me sinto ótimo!’”.
Depois de um longo papo inicial com o público (inclusive recomendando
uma lição de casa a todos: “Eu realmente recomendo que vocês tentem. Quando
chegarem em casa hoje, me façam um favor: antes de irem para a cama, tirem
todas as suas roupas e – acreditem em mim – procurem o maior espelho da casa e
deem uma boa olhada nesses seus lindos traseiros pelados, relaxem e...
rendam-se!” [nesse momento, Steve faz uma pose bem exagerada à marcação da
guitarra e bateria]), o simpático músico apresenta a banda, anuncia a
comemoração dos 25 anos de Passion e Warfare e avisa que tocará TODAS as
músicas do álbum. Sim! Do começo ao fim!
Liberty é apresentada acompanhada de uma performance
ao vivo da música tocada com Brian May, na Espanha, em 1992, de fundo no telão.
Answers contou com uma hiper surpresa
para os fãs dos grandes guitarristas: dueto feito com Joe Satriani, através de
um vídeo gravado previamente. E não, as participações e lembranças não pararam
por aí! The audience is listening foi
tocada em dueto em vídeo com John Petrucci, guitarrista da banda Dream Theater
e, por fim, Stevie’s spanking, cover
de Frank Zappa, foi tocada também com vídeo de fundo, relembrando a parceria
dos dois músicos. Seus antigos clipes estiveram presentes no telão durante uma
boa parte do show.
Para os fãs foi dia de realização. Técnica não faltou, ousadia também
não. Teve inclusive participação especial de sua língua (sim, é isso mesmo!), que,
aliás, toca muito bem! É hipnotizante ver que Steve gesticula em absolutamente
todas as notas que toca. A impressão que dá (não só impressão, mas certeza) é a
de que sabe falar exatamente toda a sequência de notas de todas as suas
composições, portanto, caretas, olhares e feições de todas as nuances foram
abundantes durante o show. A sincronia com entre ele e a banda – e que banda! –
é “milimétrica” e, e duas horas e dez minutos de espetáculo, não se viu uma
falhinha, um tropecinho, nada! Apenas sintonia e sincronia de chamar atenção do
mais atento dos espectadores. Steve explora a guitarra de uma maneira única,
tirando dela sons que nós, meros mortais, jamais imaginaríamos ser possível
tirar. É uma delícia vê-lo interpretar cada nuance de suas músicas junto da
parceira que mais parece extensão de seu próprio corpo!!
Mas técnica não foi o único ingrediente do show: Steve colocou muito
sentimento em suas composições, especialmente nas faixas mais melodiosas, além
do carisma a-bun-dan-te! Quando eu consegui desviar por alguns segundos o olhar
estatelado no guitarrista e ver parte da plateia que estava ao meu redor,
percebi algo curiosíssimo: o público estava igualmente perplexo e atento a cada
movimento de Vai, que estava visivelmente curtindo DEMAIS seu show em São
Paulo! É escancarado o quanto ele se realiza tocando e percebendo a
receptividade dos fãs, o que faz com que nós nos deliciemos mais ainda.
É difícil falar em ponto alto do show, já que ele, inteiro, foi um ponto
alto. Para mim, pessoalmente, foi uma delícia poder escutar Ballerina 12/24 e Sisters ao vivo, minhas preferidas. Duas horas intensas e
explosivas fizeram valer a noite de todos os presentes no Tom Brasil, no último
dia 4. Eu trouxe para a vida uma noite para ser guardada minuciosamente na lembrança e ouvidos que estão zumbindo até hoje!
Setlist
Bad horsie
The crying game
Gravity storm
Tender surrender
Liberty
Erotic nightmares
The animal
Answers
The riddle
Ballerina 12/24
For the love of God
The audience is listening
I would love to
Blue Powder
Greasy kid´s stuff
Alien water kiss
Sisters
Love Secrets
Stevie´s spanking
Racing the world
Por: Marcela Monteiro
Fotos: Marcela Monteiro
Agradecimento: Miriam Martinez
Foi uma realização pessoal poder ver em pessoa o melhor guitarrista do planeta de todos os tempos.
ResponderExcluirSou suspeito para falar, mas tudo que foi descrito nesta resenha gaz jus ao maravilhoso músico que tira sons que a própria guitarra não sabia que existia.
Fiquei perplexo a notar o infindavel número de notas que ele toca por segundo. Mestre, monstro, gênio, gente boa, humilde, apaixonado pela platéia boquiaberta que o impelia a não parar por um minuto sequer.
Era nítido que ele não queria encerrar o show e que nós não queríamos que ele parasse nunca mais.
Fiquei enfeitiçado e rouco.