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9 de junho de 2017

25 anos de Passion and Warfare: duas horas de pura perplexidade em SP



Sem atraso nenhum, a banda se posicionou no palco à espera, junto com a plateia, do gigante! Um trecho de Encruzilhada, filme estrelado por ele em 1986, apareceu no telão enquanto a casa e o palco permaneciam escuros. De repente, ele entra em cena, roubando gritos, assovios e aplausos de todos: Steve Vai, poucos dias antes de seu aniversário de 58 anos, em perfeita boa forma, vestido com um agasalho prateado, óculos com luzes combinando com sua guitarra iluminada, arrebentando com Bad horsie. A plateia foi ao delírio! Steve já emendou mais três músicas sem dizer uma só palavra e seu primeiro contato com o público foi através da guitarra. Ninguém se incomodou, porque todos ali sabiam que só tinha uma linguagem a ser falada: a da música e, ninguém entende melhor dela, do que o carismático guitarrista com mais de 30 anos de carreira.




Ao término do bloco composto por Bad horsie, The crying machine, Gravity storm e Tender surrender, as primeiras palavras de Steve foram fazendo graça com o fato de não conseguir ficar parado com a música. Rebolados e uma linguagem corporal que se alternava entre suavidade e movimentos felinos e uma incrível intensidade explosiva marcaram o show do começo ao fim: “Não sei o que acontece comigo quando estou em São Paulo... Eu começo a fazer isso... [rebolar]. Minha mulher [pergunta] ‘por que você fica fazendo essas merdas?’ e eu respondo ‘porque eu posso e porque me sinto ótimo!’”.



Depois de um longo papo inicial com o público (inclusive recomendando uma lição de casa a todos: “Eu realmente recomendo que vocês tentem. Quando chegarem em casa hoje, me façam um favor: antes de irem para a cama, tirem todas as suas roupas e – acreditem em mim – procurem o maior espelho da casa e deem uma boa olhada nesses seus lindos traseiros pelados, relaxem e... rendam-se!” [nesse momento, Steve faz uma pose bem exagerada à marcação da guitarra e bateria]), o simpático músico apresenta a banda, anuncia a comemoração dos 25 anos de Passion e Warfare e avisa que tocará TODAS as músicas do álbum. Sim! Do começo ao fim! 





Liberty é apresentada acompanhada de uma performance ao vivo da música tocada com Brian May, na Espanha, em 1992, de fundo no telão. Answers contou com uma hiper surpresa para os fãs dos grandes guitarristas: dueto feito com Joe Satriani, através de um vídeo gravado previamente. E não, as participações e lembranças não pararam por aí! The audience is listening foi tocada em dueto em vídeo com John Petrucci, guitarrista da banda Dream Theater e, por fim, Stevie’s spanking, cover de Frank Zappa, foi tocada também com vídeo de fundo, relembrando a parceria dos dois músicos. Seus antigos clipes estiveram presentes no telão durante uma boa parte do show.




Para os fãs foi dia de realização. Técnica não faltou, ousadia também não. Teve inclusive participação especial de sua língua (sim, é isso mesmo!), que, aliás, toca muito bem! É hipnotizante ver que Steve gesticula em absolutamente todas as notas que toca. A impressão que dá (não só impressão, mas certeza) é a de que sabe falar exatamente toda a sequência de notas de todas as suas composições, portanto, caretas, olhares e feições de todas as nuances foram abundantes durante o show. A sincronia com entre ele e a banda – e que banda! – é “milimétrica” e, e duas horas e dez minutos de espetáculo, não se viu uma falhinha, um tropecinho, nada! Apenas sintonia e sincronia de chamar atenção do mais atento dos espectadores. Steve explora a guitarra de uma maneira única, tirando dela sons que nós, meros mortais, jamais imaginaríamos ser possível tirar. É uma delícia vê-lo interpretar cada nuance de suas músicas junto da parceira que mais parece extensão de seu próprio corpo!!
Mas técnica não foi o único ingrediente do show: Steve colocou muito sentimento em suas composições, especialmente nas faixas mais melodiosas, além do carisma a-bun-dan-te! Quando eu consegui desviar por alguns segundos o olhar estatelado no guitarrista e ver parte da plateia que estava ao meu redor, percebi algo curiosíssimo: o público estava igualmente perplexo e atento a cada movimento de Vai, que estava visivelmente curtindo DEMAIS seu show em São Paulo! É escancarado o quanto ele se realiza tocando e percebendo a receptividade dos fãs, o que faz com que nós nos deliciemos mais ainda.


 

É difícil falar em ponto alto do show, já que ele, inteiro, foi um ponto alto. Para mim, pessoalmente, foi uma delícia poder escutar Ballerina 12/24 e Sisters ao vivo, minhas preferidas. Duas horas intensas e explosivas fizeram valer a noite de todos os presentes no Tom Brasil, no último dia 4. Eu trouxe para a vida uma noite para ser guardada minuciosamente na lembrança e ouvidos que estão zumbindo até hoje!

 
Setlist 

Bad horsie
The crying game
Gravity storm
Tender surrender
Liberty
Erotic nightmares
The animal
Answers
The riddle
Ballerina 12/24
For the love of God
The audience is listening
I would love to
Blue Powder
Greasy kid´s stuff
Alien water kiss
Sisters
Love Secrets
Stevie´s spanking
Racing the world

Por: Marcela Monteiro
Fotos: Marcela Monteiro
Agradecimento: Miriam Martinez

Um comentário:

  1. Foi uma realização pessoal poder ver em pessoa o melhor guitarrista do planeta de todos os tempos.
    Sou suspeito para falar, mas tudo que foi descrito nesta resenha gaz jus ao maravilhoso músico que tira sons que a própria guitarra não sabia que existia.
    Fiquei perplexo a notar o infindavel número de notas que ele toca por segundo. Mestre, monstro, gênio, gente boa, humilde, apaixonado pela platéia boquiaberta que o impelia a não parar por um minuto sequer.
    Era nítido que ele não queria encerrar o show e que nós não queríamos que ele parasse nunca mais.
    Fiquei enfeitiçado e rouco.

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