Na noite de quarta-feira (25/10), sob ameaça de chuva
na zona sul de São Paulo, uma multidão aguardava o último show da turnê comemorativa
de 30 anos do icônico álbum The Joshua
Tree, da banda irlandesa U2, no estádio do Morumbi.
A abertura começou com aproximadamente 25 minutos de
atraso quando Noel Gallagher, ex-vocalista da banda de britpop Oasis, e sua
banda atual Noel Gallagher’s High Flying Birds entraram no palco. O show durou
1h30 sem muita interação com o público, que, apesar de ter curtido o show,
deixou razoavelmente claro que o motivo de estarem ali era outro. Das onze
músicas tocadas, cinco foram covers da época do Oasis e, obviamente, "Wonderwall" foi uma das poucas que, de
fato, comoveu a multidão. Apesar disso, o som estava limpo, as músicas foram
boas e o setlist parecia interessante, porém a própria personalidade “reservada”
de Noel não favoreceu grandes interações. O momento mais dinâmico foi quando
Bono supostamente atravessou o palco vestindo uma fantasia de frango: “Esse era
o Bono passando por aqui!”, disse Noel sem muitas brincadeiras. "Champagne Supernova" e "Don’t look back in anger" me valeram a
apresentação.
Por volta das 20h30, o quarteto entrou em cena em um
apêndice feito do palco principal até o meio da pista VIP, sem telões e com
pouca iluminação, trazendo uma atmosfera meio densa e sombria, mas chegou lançando
bombas: "Sunday, Bloody Sunday" agitou o público de forma inimaginável, "New Year’s Day", "Bad" e "Pride" fecharam o
bloco, deixando o público extasiado. Confesso que estava esperando ansiosamente
por "Bad" e já recebi meu presente logo
na terceira música; para completar o cenário perfeito, Bono, homenageando David
Bowie, intercalou trechos de "Heroes",
sucesso do camaleão do rock, à música. O telão, que era formado por mais de mil painéis em full HD e atravessava o estádio, começou a projetar trechos do
famoso discurso de Martin Luther King ao som de "Pride".
Após esse primeiro bloco mais intimista, a banda
deslocou-se para o palco principal, a árvore gigante que formava o painel do
telão se acendeu em vermelho e e uma filmagem que parecia engolir o público
mostrava uma estrada em movimento enquanto a banda tocava "Where the streets have no name". É importante ressaltar que o show
do U2 foi muito conceitual e socialmente engajado, promovia o tempo inteiro um
discurso de união entre as pessoas e povos, a união entre as mulheres o amor
fraterno, porém sem ser panfletário ou cansativo. Muito pelo contrário! A arte
gráfica, desenvolvida por uma brasileira, foi um choque, o qual não era apenas
esteticamente bonito, mas intenso em seus significados. Somada às letras das
músicas que compunham o setlist, o resultado final foi um boom conceitual sem intervalos que deixou o público (pelo menos eu
e o Rodrigo - fotógrafo Big Rock - nos sentimos assim o tempo inteiro) atordoado (num ótimo sentido) e
pensativo, por falta de palavras melhores.
A interação da banda com o público e o telão foram
excepcionais! Desta vez, não houve aquela pegada de chamar fãs no palco que a
gente conhece, foi bem mais interativo no sentido de fazer o público “pensar e
refletir”. Foi uma espécie de “wake up call” (um alerta) sobre o que temos
vivenciado coletivamente no planeta.
A homenagem a Chester Benington foi linda, mas talvez
(talvez!) tenha passado despercebida do público por uma questão linguística
mesmo… O bloco de homenagem às mulheres foi de chamar a atenção pela estética e
pela valorização da mulher de uma maneira humana. Não como aquelas batidas
homenagens vazias que geralmente recebemos no dia 8 de março, como “mudam nossa
vida”, “princesas e rainhas”, mas como seres humanos fortes que conquistaram
direitos importantes através de muita luta e dor, seres humanos indispensáveis
para o planeta e que, juntas, podem e devem ir muito mais longe. Foi aí que,
dentre várias homenageadas, Susana (não me recordo de seu sobrenome,
infelizmente), a artista gráfica, foi homenageada. No telão, símbolos da luta
feminina do mundo inteiro perpassavam as músicas, dentre elas Tarsila do Amaral,
Taís Araújo e Maria da Penha. Os dois encores trouxeram porradas deliciosas: o
primeiro contou com "Beatiful day", 'Elevation" e "Vertigo" e o segundo, com "You’re
the best thing about me", "Ultraviolet", "One" e "I will follow".
Eu já tinha muita vontade de assistir um show do U2 e
sabia que seria um ótimo show, contudo parece que a cada momento eu tomava uma
surra de efeitos visuais e sonoros, de atitude e de provocação, de
conscientização e de emoção. Parece que aquele todo me tomava de uma forma tão
íntima e completa que, ora sentia necessidade de cantar até estourar os pulmões
ou sentia as lágrimas caindo contra a minha vontade, tornando-se protagonistas
das minhas emoções. Para mim, foi muito mais do que um “show foda, porque eu
curto a banda e tocou vários sucessos”. Foi, pessoalmente, uma espécie de transe
conceitual e estético.
Setlist Noel Gallagher’s High
Flying Birds:
1.
Shoot
a hole into the sun
2.
Everybody’s
on the run
3.
Lock
all the doors
4.
In
the heat of the moment
5.
Riverman
6.
Champagne
Supernova
7.
Holy
Mountain
8.
Half
the world away
9.
Little
by little
10. Wonderwall
11. Don’t look back in
anger
12. AKA… What a life!
Setlist U2 - The Joshua Tree Tour:
1.
Sunday,
bloody Sunday
2.
New
Year’s day
3.
Bad
(Heroes)
4.
Pride
(in the name of love)
5.
Where
the streets have no name
6.
I
still haven’t found what I’m looking for
7.
With
or without you
8.
Bullet
the blue sky
9.
Running
to stand still
10.
Red
hill mining town
11.
In
God’s country
12.
Trip
through your wires
13.
One
tree hill
14.
Exit
15.
Mother
of the disappeared
Encore:
16.
Beautiful
day
17.
Elevation
18.
Vertigo
Encore 2:
19.
You’re
the best thing about me
20.
Ultraviolet
(light my way)
21.
One
22.
I
will follow
Por: Marcela Monteiro
Fotos gentilmente cedidas por: Cris Ferrari
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