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31 de março de 2018

Lollapalooza Brasil: Pearl Jam

No segundo dia de Lollapalooza 2018, o show do Pearl Jam começou praticamente sem atrasos, como é de costume. Durante a semana, rolaram umas “brigas” e negociações para que o show fosse transmitido pelo canal de televisão a cabo Multishow. A banda não tem costume de assinar contratos com canais de televisão quando está no Brasil, o que é muito compreensível, pois esse tipo de contrato acaba restringindo a liberdade que se tem num show próprio. O Pearl Jam é muito engajado politicamente e não costuma poupar o público de suas opiniões e suas apresentações costumam ser muito intensas em termos sociais, ambientais e políticos. Contudo, o contrato foi assinado e, foi possível notar um Eddie Vedder, ainda que engajado, bem comedido em seus comentários e pautas.

Foto: Camila Cara/MRossi

O primeiro contato (frequentemente em português) com o público me soou bem irônico e veio com um “nós estamos na televisão! Vamos acenar para as nossas famílias!” e o público pareceu entender
(pelo menos a galera que estava ao meu redor encarou a ironia) e deu tchauzinhos para o ar de uma forma bem sarcástica.
Para mim, o show foi bem interessante, pois mais da metade dele foi muito “festival”, o que é ótimo e coerente com o que eu mesma cobro de bandas que se apresentam em festivais. Um festival atrai uma gama de público muito maior e mais variada do que um show exclusivo.

Foto: Camila Cara/MRossi

Muitos fãs vão acompanhar suas bandas favoritas, mas muitos vêem nesses eventos uma oportunidade de ver mais bandas de uma só vez e conhecer aquilo que não conhecem. Nesse sentido, eu acho justo que as bandas toquem suas músicas mais conhecidas, para que o público não fique à deriva e acabe se desinteressando no meio do evento. O curioso é que, em termos de Pearl Jam, parece que São Paulo nunca saiu de 1991, uma vez que os maiores picos de participação da plateia aconteceram durante as sete faixas do álbum Ten, o primeiro da banda. Para quem não sabe, o álbum possui onze faixas e uma bônus ao final de Release, ou seja, mais da metade de Ten marcou presença durante as duas horas e meia, aproximadamente, de show. Outros hits também apareceram, como "Better Man", "Do the Evolution", "Yellow Ledbetter", "Corduroy", "Elderly Woman" e um dos mais atuais, "Sirens".

Foto: Camila Cara/MRossi

O restante do show se dividiu entre: covers de canções famosas de Pink Floyd ("Comfortably Numb"), The Who ("Baba O´Riley") e participação de Perry Farrell, vocalista do Jane’s Addiction, cantando "Mountain Song", depois de ter seu aniversário celebrado no palco; outras faixas notei que foram bem específicas para a parcela de fãs que estavam por lá. Aqui confesso algo pessoal: como fã de Pearl Jam, experimento a delícia de setlists variadíssimos a cada show. É incrível saber que aquela “faixa 5 do quarto álbum”, por exemplo, que você curte loucamente, mas que seus amigos que não são fãs não conhecem, tem chances de aparecer no show. Já notei que outras bandas deixam algumas de suas músicas meio “de lado” nos show, mas o PJ, não. Então, a animação de participar do show aumenta. Apesar disso, eu tenho uma listinha pessoal de músicas que eu considero como sendo de baixa probabilidade (hahaha) e, a cada show, vejo o que posso “ticar” dessa lista. No Lolla foram mais duas: "Smile" e "Lukin", ambas do álbum No Code (1996). Outras que passaram por lá foram "Mind Your Manners" e "Unthought Known", dos álbuns Lightning Bolt e Backspacer, e "Wash", "Down, Hold on" e "Breath", lados Bs.

Foto: Camila Cara/MRossi

O que marcou muito a passagem do Pearl Jam no Brasil este ano (leia também a resenha do primeiro show solo de Eddie Vedder) foi o tema “armas” e a necessidade de revisar a lei que rege o porte de armas nos Estados Unidos, haja vista o número absurdo de mortos por arma de fogo e atentados em escolas apenas nos primeiros meses de 2018. A nova música da banda, lançada há duas semanas, "Can´t Deny Me", é, para mim, um recado direto e feroz ao presidente norte americano que propôs armar professores para lidarem com invasões nas escolas, mantendo o armamento da população como prioridade. No mesmo dia do show, ocorria a March for our lives (marcha pelas nossas vidas), liderada por estudantes em Washington DC. A música foi apresentada logo após homenagear os estudantes que mobilizaram o país, entretanto tenho certeza de que se o show não tivesse sido transmitido em televisão, a manifestação de Eddie Vedder a esse respeito teria sido consideravelmente mais provocadora e enérgica.

Por fim, achei que neste show o Pearl Jam apostou bastante em longos solos de guitarra. Tenho notado que os solos deixaram de desempenhar um papel muito intenso nas músicas da banda ao longo dos anos. Isto é, os solos existem, mas de formas mais melódicas e pontuais, ao contrário dos solos de Ten que tendiam a ser mais longos. No Lolla, os solos tiveram presença marcante. Eu, pessoalmente, não fico louca com solos longos, independentemente de que banda seja. Acho incrível ver a técnica e a energia do guitarrista, mas não me sinto cativada por muito tempo. Enfim, é um gosto pessoal. Apesar disso, Mike McCready toca arrasadoramente, é muito carismático, procura sempre estabelecer contato com os fãs, descendo à pista e, por isso, assistiria com um sorriso no rosto se ele tocasse solos de mais de meia hora cada! Hehe Ânimo, pique, dedicação, interação caracterizam todos os shows do Pearl Jam e este não foi diferente. O público pareceu muito satisfeito e a banda também, que é o que se espera num show daquela magnitude (vejam a foto). Que venham mais vezes e “taquem fogo” no autódromo de Interlagos com rock de alta qualidade.

Foto: Camila Cara/MRossi


Por: Marcela Monteiro

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