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19 de setembro de 2018

Kamelot, Maiden uniteD e Leaves' Eyes - Tilburg, Países Baixos, 14/09/2018

Foto: Slashley Photography


Demorou muito para que eu pudesse ver a banda euro-americana Kamelot, uma das minhas favoritas das que passeiam entre o power, melódico e sinfônico. Conheci a banda em 2008 com o lançamento de "Ghost Opera: The Second Coming", uma reedição do disco "Ghost Opera" que continha como bônus o terceiro ao vivo da banda, gravado em Belgrado.
A banda vinha do enorme sucesso de "The Black Halo" (2005) e do segundo disco ao vivo/primeiro DVD, "One Cold Winter's Night" (2006), que é um dos melhores do gênero ao lado do "RituAlive" do Shaman. De lá para cá, a banda colecionou altos e baixos e eu colecionei chances perdidas de vê-la ao vivo.

Em 2010 houve o lançamento do incompreendido "Poetry for the Poisoned", que acabou por preceder a saída do vocalista norueguês Roy Khan uma semana antes do início da turnê pelos EUA, que teve que ser cancelada. O ano de 2011 trouxe uma tour mundial com o italiano Fábio Lione nos vocais, ainda antes de ele substituir Edu Falaschi no Angra. Esse tour rendeu a gravação de um DVD na Noruega, mas ele nunca foi lançado - o que é uma pena, pois o público não tem registros profissionais da passagem de Lione pela banda. Essa mesma turnê foi a minha primeira chance perdida, visto que o show foi na mesma data da formatura de um grande amigo.
O sueco Tommy Karevik assumiu os vocais no décimo disco de estúdio, "Silverthorn", que seguiu a linha de apostar em uma fórmula já testada - há muito de "The Black Halo" e "Ghost Opera" no disco e a voz de Tommy Karevik não foge muito da de Khan. Na semana em que a banda esteve no Brasil nesta turnê, eu estava fora do país e perdi novamente. Os fãs ficavam ansiosos por um novo DVD, mas o líder Thomas Youngblood quis que a banda ainda lançasse "Haven" (que não teve tour no Brasil) e o recente "The Shadow Theory" antes de finalmente gravar um novo projeto ao vivo.

Quis o destino que, após 10 anos tendo dificuldades em ver o Kamelot no Brasil, eu pudesse finalmente ver a banda em Tilburg, Países Baixos, na sexta-feira, 14 de setembro, gravação do próximo DVD da banda. O show foi na casa Poppodium 013, para cerca de três mil pessoas, a segunda data da turnê europeia. Estive em gravações de Edguy, Viper e Angra no Brasil e essas três bandas escolheram não ter bandas de abertura para ficar na gravação. O Kamelot escolheu manter Leaves’ Eyes, que fará todas as datas da tour, e o Maiden United, que só participou deste show.




Foto: Divulgação


LEAVE’S EYES:

Se você leu a cobertura do Wacken Open Air, talvez se lembre que eu vi apenas duas músicas da banda, que bebe da mesma fonte do Nightwish e do Epica, com um vocal feminino lírico e um masculino rasgado. A banda está em turnê do seu sétimo disco de estúdio, "Sign of the Dragonhead", sendo o primeiro registro completo com a vocalista finlandesa Elina Siirala, que substitui a fundadora e até então principal letrista Liv Kristine.
Com pouco tempo para apresentar as suas músicas, três das seis músicas acabaram sendo já gravações da nova vocalista. A escolha é acertada: ainda pequena no cenário, a banda foge da necessidade de levantar comparações entre as performances das duas vocais.
Aliás, particularmente achei que as músicas novas apresentadas, “Sign of the Dragonhead”, “Across the Sea” e o novo single “Riders on the Wind” funcionaram melhor do que as antigas “Swords in Rock” e “He'll to the Heavens” . A exceção foi a final “Edge of Steel” que, além de ser uma gravação da vocalista original, ainda continha a holandesa Simone Simons. A banda provavelmente terminou o show com mais fãs do que começou.

Setlist:
Sign of the Dragonhead
Across the Sea
Swords in Rock
Hell to the Heavens
Riders on the Wind
Edge of Steel





Foto: Slashley Photography


MAIDEN UNITED:

A próxima banda foi o Maiden United, projeto holandês que conta com membros de Ayreon e Within Temptation. Talvez a fama dos membros no país explique a péssima escolha de jogar água fria no público com um projeto acústico de covers de Iron Maiden entre duas bandas de metal - sem falar no fato de que é uma banda cover tocando depois de uma autoral. Isso não é uma crítica à banda ou ao seu show, que é muito bom e até surpreendeu por fazer uma versão de “Empire of the Clouds” de 2015 antes de desfilar os clássicos que nunca saem do setlist de nenhuma banda cover (e nem do próprio Iron Maiden).

Setlist:
Empire of the Clouds (Iron Maiden cover)
Aces High (Iron Maiden cover)
Strange World (Iron Maiden cover)
The Trooper (Iron Maiden cover)
The Evil That Men Do (Iron Maiden cover)
Wasted Years (Iron Maiden cover)


Foto: Slashley Photography


KAMELOT:

Eis que entram no palco Alex Landenburg (bateria), Sean Tibbetts (baixo), Oliver Palotai (teclado), Thomas Youngblood (guitarra) e Tommy Karevik (vocal) ao som de "Knight’s March" da trilha sonora de Rei Artur - nada mais apropriado para a banda que leva o nome da lendária cidade dos cavaleiros da távola redonda, ainda que o grupo não use mais as lendas arturianas com tema desde o longínquo "The Fourth Legacy" (1999). O show abriu com “Phantom Divine (Shadow Empire)”, segundo single do trabalho de estúdio mais recente e que contou com a participação de Lauren Hart (Once Human) repetindo os vocais limpos e guturais que fez em estúdio. A americana, aliás, tem acompanhado a banda como vocalista de apoio em toda a turnê.

O show segue com “Rule the World”, de Ghost Opera (2007). A faixa foi a primeira das cinco da época de Khan e nunca recebeu uma versão ao vivo - ela chegou a ser tocada no show de 2010 que gerou o Live from Wacken na reedição de Poetry for the Poisoned, mas não entrou no lançamento. A terceira música foi “Insomnia”, de Haven, que funciona bem melhor no show do que no disco - eu costumava pular ela ao escutar o disco todo. A era Khan reaparece com “The Great Pandemonium”, que ficou sem ninguém para fazer ao vivo os guturais, mas penso que nunca saberemos se foi um erro ou algo planejado. A quinta música do setlist foi “When the Lights are Down”, que tem sido quase uma constante no setlist da banda desde o seu lançamento em 2005 - a ponto de que este será o seu terceiro registro ao vivo. Nos anos recentes, a banda tem alternado entre ela e “Center of the Universe”.
“My Confession” raramente aparece na lista de favoritas dos fãs, apesar de ser o segundo single de Silverthorn. Mas o início da música, com o quarteto de cordas alemão Eklipse, é uma das minhas melodias favoritas da banda. E o Kamelot não perdeu a oportunidade de trazer as alemãs para participar da música ao vivo, que contém ainda um belo solo de guitarra - Thomas Youngblood não é conhecido por solos longos ou extremamente floreados.
“Veil of Elysium” é a primeira das cinco tocadas do álbum Haven e é o típico power metal com toques de Kamelot. A surpresa mesmo veio com “Under Grey Skies”, do mesmo álbum. A música, um dueto entre Tommy Karevik e a holandesa Charlotte Wessels (Delain), nunca havia sido tocada ao vivo, nem mesmo na tour pelos EUA no início do ano em que o Delain abriu para o Kamelot. A reação dos fãs foi uma das melhores da noite.

Sascha Paeth (Avantasia, ex-Heavens Gate, você talvez o conheça também como produtor de Angra, Shaman, Rhapsody of Fire, Epica, Trillium e MaYan) é praticamente o sexto membro do Kamelot, tendo produzido os últimos nove discos da banda, além de gravar algumas guitarras e atuar como letrista e compositor. Sua presença se deu em “Ravenlight”, onde divide os solos com Thomas Youngblood. Quem está acostumado com Sascha sabe dizer qual solo é dele e qual é de Youngblood sem nem olhar os créditos nos encartes.
Haven marcou presença novamente com “End of Innocence”, uma semi-balada que, mesmo que você não goste de baladas, acaba cantando a plenos pulmões.
A obrigatória “March of Mephisto” se seguiu, clássico máximo de The Black Halo (2005) e que ganha ainda mais vida ao vivo. A música sempre me incomodou um pouco tanto nas suas três versões ao vivo quanto nos vídeos do YouTube feitos por fãs: a música tem três vozes em estúdio (Shagrath com os guturais e a voz de Roy Khan duplicada, em grave e agudo), porém em shows a voz de Shagrath e o agudo de Roy sempre foram as versões gravadas, com Roy ou Tommy fazendo a parte grave ao vivo. Escute a versão do Live from Wacken no seu serviço de streaming favorito e notará. Isso levou inclusive a acusações de playback por parte do Kamelot na primeira passagem deles no Brasil em 2006. Para este DVD a banda se aproveitou da presença da talentosa canadense Alissa White-Gluz (Arch Enemy) para resolver o problema: Alissa fez tanto a parte aguda quanto os guturais e gerou a versão que eu estou mais ansioso para ver e ouvir quando este DVD finalmente cair nas minhas mãos.

Foto: Slashley Photography


O mais recente álbum The Shadow Theory voltou com “Amnesiac”, que é super fácil de cantar junto, mas que ficou meio apagada logo depois de “March of Mephisto”. Logo em seguida veio “Sacrimony (Angel of Afterlife)”, a primeira gravação oficial de Tommy Karevik com a banda e que é um mix de tudo o que o Kamelot havia feito até então: instrumental e vocal emulando o disco Ghost Opera, guturais de Alissa White-Gluz e vocais femininos de Elize Ryd (Amaranthe) e é uma das minhas favoritas dos discos com o sueco.

Oliver Palotai é um excelente tecladista, formado em regência e composição e tem vários gostos fora do metal. Parte disso pode ser visto no número de teclado e bateria feito com Alex Landenburg - o que, aliás, tornou uma parte geralmente chata dos shows, o solo de bateria, interessante. A minha única frustração foi quando ele começou a tocar o riff de teclado inicial de “The Fourth Legacy”, do disco de mesmo nome, e parou. A banda toca hoje muito pouco dos quatro primeiros álbuns, lançados antes dela estourar e virar um nome importante no cenário. O líder e único membro fundador, Thomas Youngblood, justifica isso pelo fato de que há pouca resposta dos fãs e que, considerando eu ter sido um dos únicos a gritar quando o riff começou, acho que ele infelizmente está certo.
Depois da curta decepção, Oliver começa a tocar “Here’s to the Fall” enquanto Tommy aparece de surpresa no meio da platéia, que o cercou com a versão atualizada dos isqueiros de outrora, a luz do celular. Outro dos clássicos da banda, “Forever”, a mais antiga do show, de Karma (2001), veio com a brincadeira da platéia cantar junto a melodia - que é baseada em Solveig's Song do norueguês Edvard Grieg. Você pode ouvir exatamente a mesma coisa nos discos One Cold Winter’s Night e Live from Wacken. Ainda assim, não dá pra não se empolgar enquanto acontece.
A segunda estreia ao vivo veio com “Burns to Embrace”, uma das favoritas dos fãs do disco mais recente e que ficava de fora por conter uma seção final cantada por um coro de crianças. A banda colocou no palco um coro infantil liderado pelo filho de Thomas - e que, na verdade, fizeram só playback, mas levaram o público ao delírio. A banda saiu, para voltar para o bis, “Liar Liar (Wasteland Monarchy”, que contou novamente com Alissa White-Gluz e fechou o show com chave de ouro.

Saí feliz com a experiência, vendo uma banda que se recuperou de uma troca de vocalista das mais complexas da cena metal na última década, construiu um bom repertório com o novo vocalista e conseguiu uma gravação de DVD quase que sem problemas - foi a primeira que fui sem nenhuma repetição de música ou atraso por algum defeito técnico ou execução problemática. Agora é aguardar a bolacha em mãos!

Setlist
Phantom Divine (Shadow Empire) - com Lauren Hart
Rule the World
Insomnia
The Great Pandemonium
When the Lights are Down
My Confession - com Eklipse
Veil of Elysium
Under Grey Skies - com Charlotte Wessels
RavenLight - com Sascha Paeth
End of Innocence
March of Mephisto - Alissa White-Gluz
Amnesiac
Sacrimony (Angel of Afterlife) - com Elize Ryd e Alissa White-Gluz
Solos de teclado e bateria
Here's to the Fall

Forever
Burns to Embrace
Liar Liar (Wasteland Monarchy) - com Alissa White-Gluz





Por: Jair Cursiol Filho

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