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1 de novembro de 2018

Serenity + Visions of Atlantis + Dragony + Temperance, Enschede, Países Baixos - 27/10/18

Foto: Divulgação

No último sábado, 27 de outubro, fui para a cidade de Enschede, lado holandês da divisa entre os Países Baixos e Alemanha. A cidade de 150 mil habitantes recebeu o quarto show da turnê Symphonic Metal Nights, efetivamente um festival itinerante de power/sinfônico capitaneado pelos austríacos do Serenity, com os também austríacos Visions of Atlantis e Dragony, além dos italianos do Temperance.
A casa de shows, o Metropool, estava lotado - o que significa algo entre 200 e 300 pessoas no salão Saxion Zaal (há também o Grolsch Zaal). Isso permitiu um show bastante intimista e divertido.


Temperance

Foto: Facebook Temperance

Precisamente às 19 horas subiu ao palco a banda italiana Temperance, que tem apenas 5 anos de história e está fazendo a divulgação de seu quarto (!!!) disco de estúdio “Of Jupiter and the Moons”, o primeiro com a dupla de vocalistas Alessia Scolletti e Michele Guaitoli. O estilo da banda passeia pelo power italiano, com alguns traços mais modernos.
Ao contrário de bandas maiores com vocalista masculino e feminino, como Epica e Nightwish, onde o homem tende a fazer uma voz rasgada ou gutural, Michele faz vocais limpos em quase todas as canções, harmonizando com a voz de Alessia. Quando existem vocais masculinos mais rasgados, como em “Revolution”, entra em cena o guitarrista Marco Pastorino - membro fundador junto com o baixista Liuk Abbott.
Pastorino, inclusive, toca com uma guitarra de sete cordas, tendência entre bandas mais jovens para tentar adicionar peso ao estilo. Se você, leitor, já ouviu a banda Almah do ex-Angra Edu Falaschi, sabe do que eu estou falando. Se não, pegue “Me, Myself & I” ou “Way Back Home” no seu serviço de Streaming preferido.

Em 30 minutos de show, a banda apresentou seis músicas, sendo quatro do disco mais recente. Me preparando para o show, fui escutar as discografias das bandas e algo na letra da música título me incomodou  - e mesmo hoje re-escutando o setlist ainda me incomoda. Ainda assim, é a que eu fico cantando.

Foto: Jair Cursiol Filho


Setlist:

The Last Hope in a World of Hopes
Revolution
Broken promises
Me, myself and I
Of Jupiter and the moons
Way Back Home



Dragony

Foto: Facebook Dragony

O grupo austríaco Dragony subiu ao palco para fazer uma pequena passagem de som e desistiu logo depois para não atrasar o show. Sendo a única banda que fez isso, suponho que estivessem com algum problema antes. Quando voltaram ao som de um remix oitentista da música tema de Game of Thrones, confirmaram o que eu já imaginava: a banda que menos leva a sério as suas próprias letras e que mais abraça o brega e a farofa inerentes ao estilo, sem nunca deixar a peteca cair no quesito qualidade.

O primeiro a fazer o público rir foi o baterista Frederic Brünner, que resolveu tocar sem camisa - o termômetro do lado de fora da casa de shows marcava 4°C. E o cara sorriu durante o show todo, tocando feliz como poucas vezes vi um artista do gênero em quase 15 anos indo a shows.
Abriram com “Shadowrunners”, onde não é necessário ser muito esperto para ver a referência ao RPG Shadowrun, que coloca as raças mais famosas de Dungeons & Dragons (ou Senhor dos Anéis, para você que não joga RPG) em um ambiente cyberpunk. O mais novo disco, “Masters of the Multiverse”, lançado duas semanas antes do show, aparece com “Grey Wardens”, que  seria coincidência demais se não fosse baseado na ordem de guerreiros da série de jogos Dragon Age da BioWare. De acordo com a banda, “Masters of the Multiverse” é baseado nos heróis da infância e da adolescência dos membros. E para quem não percebeu a ligação, a série que ficou conhecida no Brasil como “He-Man” se chamava “He-Man and the Masters of the Universe”, baseada nos brinquedos “Masters of the Universe” (sim, os brinquedos vieram antes). Até o horroroso filme do He-Man é, na verdade, chamado “Masters of the Universe”.
Seguimos com “Lords of the Hunt” do EP de mesmo nome lançado como comemoração de 10 anos de banda em 2017. A música é baseada no jogo Bloodborne, mais uma das exclusividades da Sony no PlayStation 4 - uma chatice sem tamanho com jogadores de outras plataformas. Você pode não ter jogado o jogo, mas eu duvido que consiga ir num show do Dragony sem gritar “we’re the lords of the hunt” no refrão.
Falando em refrão, a cereja do bolo é “If it Bleeds We Can Kill It”, homenagem ao filme Predador de 1987 e ao ator austríaco Arnold Schwarzenegger, com seu tecladinho totalmente anos 80.
A meia hora de show terminou com “Wolves of the North”, que é sobre os lobos do norte de Winterfell. Nada melhor do que terminar com Game of Thrones of que começou com Game of Thrones. A única coisa que faltou, para mim, foi “Dr. Agony” (entenderam a piada?), que, como eu disse depois para o vocalista Siegfried "The Dragonslayer" Samer, é como um show do Helloween sem “Dr. Stein”. 

Ao fim, o Dragony foi a banda que mais me surpreendeu no show. Há um quê de Kai Hansen (Helloween, Gamma Ray) na década de 1990 e Edu Falaschi (Almah, ex-Angra) na voz de Siegfried e um humor quase Edguy na banda.

Foto: Jair Cursiol Filho


Setlist:

Game of Thrones - Main Theme (80's Version by Steve Duzz)
Shadowrunners
Grey Wardens
Lords of the Hunt
If It Bleeds We Can Kill It
Wolves of the North





Visions of Atlantis

Foto: Jair Cursiol Filho

A segunda banda austríaca da noite já não é mais tão austríaca assim: a vocalista Clémentine Delauney é francesa e está na banda desde 2013, e seu primeiro lançamento foi o EP “Old Routes - New Waters”, lançado em 2016 com 5 músicas antigas da banda regravadas na voz da então nova vocalista. Foi neste mesmo EP que Siegfried Samer (sim, o vocalista do Dragony) entrou nada banda. 
Os dois vocalistas assumiram a posição de letristas da banda no primeiro disco de estúdio que participam, “The Deep & the Dark”, lançado agora em 2018. A aceitação tem sido tão boa que das 12 músicas tocadas, 8 são do disco e outras 2 são do já citado EP. 

A banda abriu com “The Deep & the Dark”, uma das minhas favoritas e pro já acompanhar Clémentine em sua outra banda, Exit Eden, estava bastante curioso em como a moça ia se sair sozinha ao vivo. Aliás, nota paralela, se você leu até aqui, vá escutar Exit Eden, que é a banda de Clémentine junto com outras 3 vocalistas femininas (incluindo a brasileira Marina La Torraca) fazendo covers metal de músicas pop, incluindo Lady Gaga, Backstreet Boys, Madonna e Depeche Mode.
Uma das únicas músicas a não ter versão de estúdio com os dois vocalistas, “A New Dawn”, do disco “Delta” de 2011, é a segunda. “Book of Nature” e “Ritual Night” seguem a divulgação de “The Deep & the Dark”. A segunda dessas achei bem interessante pelo fato das letras tratarem de uma pessoa aceitando o amor que ela sente, algo que não é tão comum assim como tema do metal.
O legal de shows pequenos é que permite algo um pouco mais intimista entre banda e público, como as brincadeiras de Clémentine com um fã que deu “spoilers” sobre a próxima música, “Lost” - o fã estava no show anterior da tour. Após “Lost”, houve o anúncio em cima do palco de algo que já estava nos canais oficiais da banda, mas que este que vos escreve havia sinceramente esquecido durante o show: Siegfried está fazendo sua última turnê com a banda, que está grande demais para que ele concilie com o seu outro trabalho - ele é advogado.
“The Last Home” começa com a francesa sozinha no palco junto com um piano pré-gravado para que a banda se junte depois. E é antes de “The Silent Mutiny” que o novo vocalista é anunciado: Michele Guaitoli. Não, você não leu errado, é justamente o vocalista do Temperance Ele já havia feito alguns shows com a banda em setembro quando o Visions of Atlantis abriu para Kamelot e Leaves Eyes na Alemanha e na Suíça.

O italiano ainda cantou “Words of War”, “Seven Seas”, “The Grand Illusion” e “Passing Dead End”, onde agitou bastante o público antes de agradecer Siegfried e dar espaço para ele cantar uma das minhas favoritas do último CD, o single “Return to Lemuria”. E assim, retornando ao lendário continente, os auto-entitulados piratas do Visions of Atlantis terminaram o show.

Foto: Jair Cursiol Filho


Setlist:

The Deep & the Dark
New Dawn
Book of nature
Ritual Night
Lost
- Anúncio da saída de Siegried
The Last Home (Clementine sozinha no palco)
- Entrada de Michele Guaitoli
The Silent Mutiny
Words of war
Seven Seas
The Grand Illusion
Passing dead end
- Siegfried volta para fechar o show
Return to Lemúria





Serenity

Foto: EMILIEGARCIN.COM

A terceira banda austríaca da noite foi a headliner Serenity, liderado pelo vocalista Georg Neuhauser e pelo baterista Andreas Schipflinger. Antes de ver a banda ao vivo, sempre havia ouvido falar que Georg se espelha muito em Roy Khan (Conception, ex-Kamelot). Embora seja impossível negar que a vestimenta dos austríacos seja bastante similar à do grupo que cobrimos no mês passado e Georg tenha alguns maneirismos similares, a música em si é bastante diferente. A partir de Ghost Opera o Kamelot se afastou do power metal mais tradicional que ainda permeia o som do Serenity e Khan se afastou dos agudos para tons mais sóbrios. Se há influência do norueguês em Georg, é da época dos álbuns The Fourth Legacy, Karma e Epica.

A banda abriu com “United”, do mais recente disco “Lionheart”, de 2017. Esta deve ser a última tour de divulgação do disco. O show se seguiu com “Far From Home” de “Death & Legacy” (2011), o disco que fez a banda crescer no cénario. O Serenity costuma fazer tours com uma vocalista de apoio, que já foi Cleméntine, e desde o ano passado é a suíça Melissa Bonny (Evenmore, Rage of Light), que dá as caras em “The Perfect Woman”, música que poderia muito bem ter saído de algum álbum do Mr. Big.
O guitarrista Christian Hermsdörfer não está participando dos shows devido aos seus compromissos com a banda Beyond the Black, que, por sua vez, abre os shows do que Georg classificou em tom de brincadeira como “uma banda de garagem holandesa muito pequena” chamada Within Temptation. Para o seu lugar, foi chamado Niklas Müller (Devilizer), que tinha 12 anos quando “Reduced to Nothingess” foi lançada em 2007. O rapaz ainda faz uns bons vocais rasgados na música.
Após reclamar da cerveja holandesa e dizer que é a única coisa que não gosta quando vai para o país, Georg começa “Iniquity”, que tem a volta de Melissa. A música é uma das minhas favoritas do setlist. A primeira parte acaba com “Hero”, outra pedrada de “Lionheart”.
Várias bandas tem adicionado passagens acústicas em seus setlists e o Serenity aparentemente gostou da experiência iniciada no começo do ano e aproveitou para estrear “In the name of Scotland”, música nunca lançada e que está sendo tocada nessa tour. A premiere foi na Inglaterra e Georg comentou que eles sobreviveram a tocar lá uma música sobre heróis escoceses. A segunda música acústica é “Changing Fate”, que em sua versão original conta com Amanda Somerville (Avantasia, Exit Eden, Trillium), que também nunca havia sido tocada ao vivo.
“Youngest of Widows”, originalmente uma bônus japonesa de “Death & Legacy” marca o retorno ao metal. “Spirit in the Flesh” conta com o baixista italiano Fabio D'Amore dividindo os vocais com Georg. Alguém fala para a banda que ele precisa cantar mais, por favor?
O disco “Lionheart” volta com sua música título, disco que é baseado na vida do Rei Ricardo I da Inglaterra, também conhecido como Ricardo Coração de Leão pela sua liderança de exércitos durante a Terceira Cruzada.
O show seguiu com “Serenade of Flames”, com Melissa fazendo ao vivo o papel de Charlotte Wessels (Delain) e “Velatum”, única do segundo disco “Fallen Sanctuary”. A banda voltou para o bis com “The Final Crusade”, escrita do ponto de vista de Ricardo Coração de Leão nos seus momentos finais, novamente com vocais ásperos de Niklas. A última música que consegui ver foi “Follow Me”, pois infelizmente chegou a hora do último trem de Eschede de volta para casa. Acreditem, ficar na estação de trem a noite toda a quase 0°C não é divertido. 

Como em toda a tour, a banda ainda tocou “Legacy of Tudors” para finalizar. Infelizmente fiquei sem ver a minha música favorita do Serenity.

Foto: Jair Cursiol Filho


Setlist:

United
Far From Home
The Perfect Woman (com Melissa Bonny)
Reduced to Nothingness
Iniquity (com Melissa Bonny)
Hero
In the Name of Scotland (música nova, versão acústica)
Changing fate (com Melissa Bonny, versão acústica)
Youngest of Widows
Spirit in the Flesh
Lionheart
Serenade of Flames (com Melissa Bonny)
Velatum (com Melissa Bonny)
The Final Crusade (com Melissa Bonny)
Follow me
Legacy of Tudors





Por: Jair Cursiol Filho

Agradecimento pelo credenciamento: Rick Escher - Metropool

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