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3 de agosto de 2019

Wacken 2019 - Dia 2

Foto: Jair Cursiol Filho

Onze horas da manhã e Wacken está a todo vapor com bandas nos palcos Faster, Louder e W:E:T. E aliás, “WET” seria a palavra do dia. Ouvi o Queensrÿche da sala de imprensa (tão  alto o som) enquanto terminava o texto anterior. É ruim comparar vocalistas, mas tendo visto Geoff Tate ao vivo com o Avantasia alguns meses atrás, é difícil não fazer isso instintivamente. La Torre é, contudo, bastante competente.

Foto: ICS Marketing

Consegui ir para os palcos pouco depois, enquanto Eluveitie e Gloryhammer estavam nos palcos Faster e Louder. Já havia visto o Eluveitie no Wacken Winter Nights, então resolvi partir para o grupo de Christopher Bowes. O incansável britânico é incapaz de parar e também de fazer qualquer música com letras sérias. O Gloryhamer se define como interdimensional space metal e é, basicamente, um Rhapsody que não se leva a sério. Isso permite músicas como “Land of the Unicorns”, “Goblin King of the Darkstorm Galaxy” e “Hootsforce”, descrita pelo vocalista Angus McFife XIII, Príncipe Coroado de Fife, como “para aqueles que querem se juntar a um eco-guerreiro e voar num submarino voador”. Diversão certa! Pena que a diversão acabou interrompida por um aviso de tempestade, o segundo em três dias.

A tempestade durou cerca de 90 minutos, mais do que o suficiente para bagunçar toda a agenda do festival: Gloryhammer e Eluveitie nunca terminaram seus shows, enquanto o Cradle of Filth teve que ser mudado para um dos palcos da tenda Bullhead City Circus, por exemplo.

Existem várias maneiras de aproveitar o Wacken e uma delas é fugir um pouco dos palcos principais e nomes conhecidos para passear pelos palcos menores, tendo surpresas boas e ruins. No palco History, o que tem a réplica exata do palco original do Wacken de 1990, vi o Leviathan (China) tocar quatro músicas e já ter que sair do palco. Além do palco History contar com várias bandas vencedoras do Metal Battle em seus respectivos países (caso do Leviathan), a chuva deu uma apertada nos tempos de cada banda. O Leviathan chinês não possui Spotify, mas tem um Bandcamp com um disco e um single que passam entre o metalcore e o death. Só foi duro de entender o inglês com sotaque fortíssimo tanto do vocalista quanto do guitarrista.

Eis que estava caçando o que comer e escuto a voz de Georg Neuhauser do Serenity (veja nossa cobertura aqui: http://www.bigrockandroll.com/2018/11/serenity-visions-of-atlantis-dragony.html) e penso: o que ele está fazendo aqui? Era a novata banda Warkings, banda conceitual onde seus quatro membros são personagens mascarados e vagamente históricos: Viking, Spartan (espartano), Crusader (cruzado ou soldado das cruzadas) e Tribune (tribuno romano). O problema é que esconder a voz é algo quase impossível, então Georg é o único membro conhecido da banda. Consegui pegar as músicas Sparta (com participação da vocalista suíça Melissa Bonny - Rage of Light) e Gladiator.

Foto: Jair Cursiol Filho

Voltei ao History pois me interessei pela descrição dos irlandeses do Greyface: parte-se da ideia da fera interior para uma apresentação extremamente teatral, com uma mistura de alt rock, metal e eletrônica. Devo falar que não é para todos os gostos, mas a banda tem potencial ao vivo. Destaques para o vocalista Shaye, quase um Coringa (aquele do Batman) no palco e a baixista Evra.

Aí fui ver o Venom Inc., que é o Venom de mais ou menos 1989 até 1992, mas não é o Venom, em uma daquelas ideias geniais de alguém querendo ganhar dinheiro (nem sempre o artista) que nos leva a ter dois Rhapsody, dois Asia, dois Sweet e por aí vai. Até o logo é o mesmo, com um pequeno “Inc.” abaixo. A confusão atinge desde o fã mais casual que fica gritando Venom durante o show, passando pelo jornalista tentando cobrir 150 bandas em 4 dias (sim, eu demorei pra notar) e até o apresentador, que demorou bem uns três segundos entre “Venom” e “Inc.”. O show é bom, recheado de velharia como “Countess Bathory”,  e junto da música “War”, do único disco do grupo.

Saí em direção ao palco Wackinger precisando de um café e dei de cara com o final do show do Gernotshagen, que certamente não estava na minha lista de preferências. O folk pagão dos alemães passa por um vocal gutural que torna toda e qualquer coisa em alemão quase ininteligível de início. No meio do som, bem legal por sinal, consegui identificar a música “Schlachtenbruder”, do disco mais recente, “Weltenbrand” de 2011.

Café na mão, resolvi conferir os holandeses da banda For I am King, que lançou sua terceira bolaxa, “I” em 2018. Meu lado nerd achou muito legal a vocalista Alma Alizadeh jogar fora toda e qualquer noção de vocalistas femininas ultra-produzidas e usar uma camiseta rosa de Dragon Ball Z. “Prey” foi uma das músicas que mais cativou o público.

O Santiano é uma banda alemã de folk rock que é relativamente nova, apesar dos seus membros não o serem.  Desde o primeiro disco em 2012, a banda se tornou grande o suficiente para tocar no palco Louder. Resvalando às vezes no pop rock, a banda consegue ter o público alemão na mão, ainda que não seja conhecida dos público internacional. Procure por “Lieder der Freihet” ou “Wir für euch und ihr für uns”.

Foto: ICS Marketing

Enquanto isso o Anthrax estava no outro palco grande, destilando thrash metal da mais alta qualidade. Peguei apenas o final, com A.I.R, Antisocial e Indians, trinca pra fã nenhum botar defeito. É uma pena que festivais acabem causando essa questão de bandas ao mesmo tempo.

Fiquei para o Within Temptation no palco central: não queria ver outra banda, mas trocar de palco em Wacken depois das 6 da tarde é uma loucura que muitas vezes não vale o esforço. Os holandeses estão em turnê do mais novo disco, Resist, lançado ainda esse ano. Talvez seja o fato de que eu não sou fã desse disco, mas me pareceu que pouca gente acompanhou as novidades. É com os clássicos que o público agita mesmo (algo que não é exclusividade do WT, devo dizer) e a voz de Sharon den Adel não decepciona em momento algum. Existem coisas, porém, que não cabem num show de uma hora em um festival, como perder preciosos minutos saindo do palco apenas para escutar o público pedir a volta da banda.

Foto: ICS Marketing

O Demons & Wizards, projeto de Jon Schaffer (Iced Earth) e Hansi Kürsch (Blind Guardian) volta à ativa depois de quinze anos para lançar um disco em fevereiro de 2020. O show de Wacken é a única aparição em festivais na Alemanha. Do pouco revelado na conferência de imprensa no dia anterior, aos brasileiros e latinos fica a notícia triste de que não existem planos para tours na América Latina, seja em 2019 ou 2020. Trazendo uma banda que é basicamente um mix de Blind Guardian e Iced Earth, a banda apresentou quase todo o primeiro (e autointitulado) disco, com salpicadas de Touched by the Crimson King. Sabendo que parte dos fãs mais novos pode não ter tanto contato com o material, Hansi e Schaffer ainda enfiaram duas do Iced Earth e duas do Blind Guardian. Aliás, foi em “Valhalla” (Blind Guardian) que o público tomou o show nas mãos e ficou cantando por mais de um minuto após o fim da canção, obrigando o sempre excelente Hansi a ter que parar a plateia para continuar.

Acabei vendo o Slayer do Streaming oficial na sala de imprensa, enquanto escrevia (ou tentava, já que o cansaço era grande), então infelizmente não me sinto extremamente apto a opinar sobre o feeling do show. A opinião geral dos colegas de imprensa foi muito positiva, contudo. Com a discografia do Slayer fica muito difícil errar.

Voltei para o último show da noite, dos suecos do Opeth. Classificar o Opeth dentro de um gênero é difícil: há prog setentista, baladas acústicas, guturais e ainda o death metal do início da carreira. É quase como se o Opeth fosse um estilo próprio. E o estilo do show também é próprio, onde o vocalista/guitarrista Mikael Åkerfeldt nunca parece estar 100% à vontade, a não ser enquanto toca e canta. Como curiosidade estranha, a banda decidiu tocar apenas coisas mais antigas (e não muitas, já que as músicas do Opeth invariavelmente batem os 8 ou 10 minutos com facilidade), apesar de a banda ter lançado um novo single em julho. Vai entender.

O Wacken tem ainda o terceiro dia neste sábado, 3 de agosto.

As músicas dos artistas do segundo dia estão na nossa playlist no Spotify: https://open.spotify.com/playlist/1IpQBLzAG1ltZZvrdzioWN?si=P_PrNTFQSzWEEcFDT5PLnw 


Por: Jair Cursiol Filho

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