Pré - Festa XV Setembro Negro Festival - Carioca Club - São Paulo/SP - 07 de setembro de 2023
Por Roberio Lima
Fotos: Roberio Lima
07 de setembro de 2023 foi o dia em que se comemorou a independência da República no País. Além das festividades programadas para celebrar essa data, a agenda de atrações culturais na cidade ficou repleta de opções para todos os gostos. O sol por sinal, se fez presente com muita intensidade durante toda a quinta-feira de feriado, demandando uma necessidade maior de hidratação. Para quem vive em São Paulo, e acompanha a efervescência cultural da metrópole, sabe que as alternativas se multiplicam a cada ano que passa. Portanto, não dá para estranhar quando ao mesmo tempo e em locais distintos, acontece um festival de grandes proporções que arrebata uma legião de “moderninhos” de um lado, enquanto no outro extremo (em se tratando do evento que falaremos a seguir, a palavra pode ser utilizada em mais de um sentido!), temos uma horda de esquisitões. Obvio que estamos falando do Festival Setembro Negro, que em 2023, completa quinze anos de existência e que já tem como tradição agitar o submundo do entretenimento, além de fazer a cabeça dos apreciadores de sonoridades mais indigestas a quinze anos! Para esse evento que tradicionalmente acontece em três datas, foram reservados os dias 08, 09 e 10 de setembro, para mais um desfile de musica extrema em suas mais variadas vertentes. O festival que foi idealizado, e é conduzido na raça pelo destemido Edu Lane, teve nessa edição um ‘bonus’ (que pegou a todos de surpresa!), pois além dos já tradicionais três dias de festival, o publico foi agraciado com um ‘pré-fest’, e com ninguém menos que os canadenses do Voivod para dar início a maratona de shows, que no decorrer dos quatro dias, contou com um total de 36 bandas! Um deleite para os amantes de sonoridades mais intensas! Além do Voivod, o ‘esquenta’ teve também como atrações; as bandas brasileiras Erasy, Burn The Mankind, Warshipper, Leviaethan, e os noruegueses do In The Woods...
A previsão de início do evento se deu pontualmente as 15h55, e o Erasy, abriu oficialmente os trabalhos com seu Doom metal arrastado e com aquela essência de Canabis. Ainda com um público tímido, os rapazes desfilaram um set com o doom/sludge metal, produzido em Feira de Santana (BA). Os elementos do estilo, estavam cravejados na vestimenta e na performance do grupo. Com alguns singles e 2 “full-length” na bagagem, sendo o último álbum - lançado em 2020 “Some Nice Flowers”, os caras agradaram e foram muito aplaudidos ao final da apresentação. Definitivamente a Bahia é demais!
Foto: Roberio Lima |
Saindo da terra do acarajé e do axé diretamente para o sul, tivemos o death metal no palco do Carioca Club em sua melhor configuração. O Burn of Mankind despejou toda a brutalidade e técnica sem a menor piedade sobre a audiência que assistia atentamente a apresentação. A qualidade do som estava muito boa, e isso elevou o nível da performance. Em certo momento o vocal – comentou que achava que tocaria para umas vinte pessoas, mas se surpreendeu com a quantidade de gente que assistia ao show. Óbvio que a qualidade das canções e uma apresentação irrepreensível ajudaram a despertar o interesse do público. O Warshipper, formação oriunda de Sorocaba, deu as caras logo em seguida, e elevou ainda mais o nível do que tinha sido apresentado até aquele momento. O carismático vocal/guitarra Renan Roveran e o baixista Rodolfo Nekathor, alternavam os vocais, enquanto Theo Queiroz (guitarra) e Roger Costa (bateria), davam os contornos mais intensos a uma sonoridade brutal. No final, os sorocabanos entregaram uma baita apresentação aos que ali estavam, um show impecável.
Foto: Roberio Lima |
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Não houve tempo para respirar, e o Leviaethan já estava no palco para comemorar quarenta anos de historia e de serviços prestados ao thrash metal . Os gaúchos, trouxeram na bagagem os dois álbuns clássicos lançados no final dos anos oitenta e inicio dos anos noventa; - “Smile! “ e “ Disturbed Mind“ respectivamente, para abrilhantar ainda mais o festival. Flavio Soares (baixo/vocal), que lembra muito fisicamente o saudoso Miranda, manteve a onda, mas em certos momentos, o fôlego faltava. Nenhum problema para o destemido músico que vem desbravando através de todos esses anos os palcos do Brasil para proliferar sua arte. O publico correspondeu a altura, e o Power trio porto-alegrense pode registrar o show como sendo um dos pontos altos de sua longa história.
Foto: Roberio Lima |
A primeira atração internacional dessa edição foi o In The Woods... e os noruegueses que entraram no cast do evento substituindo o Primitive Man (que cancelou sua participação no festival), aproveitaram a oportunidade, e entregaram um show de altíssima qualidade. Com uma trajetória que começou no início dos anos noventa, a banda concebida por membros da formação original do Green Carnation, e produz desde então, uma sonoridade densa que mistura Black Metal, Metal Progressivo e Ghotic, com letras que abordam temas filosóficos e existenciais. A banda está em plena divulgação do último disco, “Diversum” lançado em 2022. Os músicos abriram a apresentação com “Heart of the Ages”, que faz parte do clássico álbum de mesmo nome lançado no ano de 1995. Na sequência mandaram a longa e viajante “Empty Streets” do disco “Cease The Day” lançado em 2018. Os músicos se apresentaram de forma bastante profissional, e executaram um setlist com total de seis canções – o que pode parecer pouco se não levarmos em conta a duração das músicas. A ótima apresentação foi finalizada com “...In The Woods”, que também está presente no clássico álbum “Heart of the Ages”. Em seguida Bernt Fjellestad (vocal), Kåre André Sletteberg (guitarra), Bernt Sørensen (guitarra), Nils Drivdal (baixo) e Andres Kobro (bateria), agradeceram a audiência e deixaram o palco muito aplaudidos. Nesse momento as cortinas se fecharam para que o palco fosse preparado para a ultima atração da noite.
Foto: Roberio Lima |
O Voivod é uma das bandas mais emblemáticas da história da música. A formação canadense é influência e principal referência para uma serie de bandas e músicos de renome no mundo inteiro. Para mim, essa história começou quando vi pela primeira vez o vídeo clip de “Astronomy Domine” (cover do Pink Floyd, que foi lançado no álbum “Nothingface” de 1989), no saudoso Fúria Metal da MTV. Naquela época a minha primeira impressão foi de estranhamento, e só compreendi a proposta muitos anos depois - o que dá a medida do vanguardismo da banda. O fato é que muitos anos se passaram até chegar o momento de conferir ao vivo a lenda canadense em carne e osso, mais precisamente no palco do Carioca Club, em São Paulo. Essa é a segunda aparição dos caras no Brasil, mas já posso adiantar que não foi menos impactante que a ocorrida no Hangar 110 no ano de 2014.
Poucos minutos depois das 21h, as cortinas se abrem para que Snake (vocais), Chewy (guitarra), Rocky (baixo) e Away (bateria), tomem suas posições no palco para despejar no publico uma sequência de clássicos. E já abrem o set com “Killing Technology”, mandando na sequência “Obsolete Beings” do mais recente álbum de estúdio “The Wake” (2023). Enquanto isso, o sentimento da audiência era uma mistura de inúmeras sensações; uns assistiam incrédulos aquela performance, enquanto outros agitavam freneticamente seus frágeis pescoços, a fim de seguir o ritmo frenético das canções executadas. O ano de 1988 foi revisitado através de “Macrosolutions to Megaproblemas” do seminal “Dimension Hatröss” (1988), e a essa altura, posso garantir que alguns marmanjos não seguraram as lágrimas. Todos sabem que a arte gráfica na carreira da banda sempre foi algo de grande destaque e para valorizar a estética“ voivodiana”, o telão alternava imagens dos álbuns e de outras pinturas relacionadas a banda. Em plena comemoração dos quarenta anos de existência, os caras revistaram os principais álbuns para saciar seguidores insaciáveis, que muito provavelmente permaneceriam no Carioca Club para ouvir “aquele som” que marcou algum momento da vida, assim como aconteceu comigo. Ah, claro que encerraram o show com “Voivod” do debut “War and Pain”(1984), para deleite daqueles que guardaram o fôlego derradeiro para entoar o refrão ‘Voivod!’ o mais alto possível.
Foto: Roberio Lima |
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Difícil acreditar que estamos falando da ‘pré-festa’, e que ainda haveriam mais três dias de som pesado encabeçado por Picture, Sodom e Triumph Of Death (Hellhammer), sem falar das demais bandas que se apresentariam ao longo dos três dias. Só nos resta parabenizar a Tumba Prod e seu idealizador Edu Lane, por manter ativo esse evento tão fora da curva e tão necessário. Já estamos ansiosos pelo que virá em 2024, Uh!
Setlist In The Woods...:
Heart of the Ages
Empty Streets
Yearning The Seeds of a New Dimension
A Wonderful Crisis
299 796 Km/s
...In The Woods
Setlist Voivod:
Killing Technology
Obsolete Beings
Synchro Anarchy
Macrosolutions to Megaproblemas
Rise
Rebel Robot
Thrashing Rage
Holographic Thinking
Nuage Fractal
Sleeves Off
Pre-Ignition
Fix My Heart
Encore:
Voivod
Agradecimento especial à LP Metal Press e Tumba Productions pelo credenciamento e Carioca Club pela atenção e suporte.
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