Big Rock N' Roll - Pensou em rock, pensou Big Rock!: Alter Bridge - Espaço Unimed

Foto: Ricardo Matsukawa

Alter Bridge - Espaço Unimed - São Paulo/SP - 08 de novembro de 2023

Por Alexandre Veronesi

Fotos: Ricardo Matsukawa

Devo confessar que me sentia um tanto quanto temeroso em relação ao show do Alter Bridge, ocorrido na última quarta-feira (08 de Novembro), no Espaço Unimed, em São Paulo, apresentação única em nosso país. Como é amplamente sabido, tivemos há alguns meses o anúncio da volta do famigerado Creed, que detém três dos quatro integrantes da banda - o que poderia muito bem significar uma imediata mudança de foco dos músicos Mark Tremonti (guitarra), Brian Marshall (baixo) e Scott Phillips (bateria) - isso sem mencionar o fato de Myles Kennedy (voz e guitarra) já ter planos a curto e médio prazo com seu outro grupo, o The Conspirators, formação que tem no icônico guitarrista Slash a sua grande estrela. Para meu alívio, tais anseios logo se revelariam infundados.

Passados poucos minutos das 21 horas, as luzes da casa se apagaram e a introdução mecânica ecoou nos PA's. Banda no palco, e o espetáculo teve início com "Silver Tongue", a primeira de três do mais recente disco, "Pawns & Kings" (2022), que seriam apresentadas na noite. Na sequência, duas queridinhas do público: "Addicted To Pain" e "Ghost Of Days Gone By", cantadas a plenos pulmões por uma platéia ensandecida, que mesmo passando longe de lotar o Espaço Unimed, ainda assim compareceu em bom número. "Sin After Sin" serviu para diminuir um pouco os ânimos, entretanto, nada mais foi do que a calmaria antes da tempestade, e logo a banda destilou uma matadora trinca composta por "Broken Wings", "Burn It Down" - com Tremonti desempenhando muito bem os vocais principais - e "Cry Of Achilles".

Ricardo Matsukawa

A esta altura, já estava claro como cristal que aquele não seria somente um show protocolar, para cumprir agenda. Toda a banda demonstrava entusiasmo e energia contagiantes, além de uma nítida satisfação por estar ali, performando perante uma multidão devota e verdadeiramente apaixonada pela música do Alter Bridge. E por falar em performance, a cozinha de Brian Marshall e Scott Phillips se provou muito sólida e coesa, sempre fugindo de eventuais exageros, e trabalhando exclusivamente em prol das canções; já a peculiar voz de Myles Kennedy dispensa qualquer tipo de comentário, pois segue expansiva e poderosa, mesmo com o frontman já próximo de completar 54 anos; mas o que me surpreendeu de fato foram as guitarras, pois no "ao vivo" fica muito evidente a assimetria entre as linhas de Kennedy e Mark Tremonti: enquanto o primeiro ostenta um estilo mais elegante e refinado, o segundo é pura fúria e brutalidade. Mas não se enganem, ambos são guitarristas excepcionais, e tal discrepância apenas adiciona um tempero especial à sonoridade do grupo.

Era chegado então o momento intimista do set. Sozinho no palco com seu violão, Myles mandou a belíssima "Watch Over You", prontamente acompanhado por um coro de milhares de vozes - algumas bastante embargadas, é importante dizer. Ao final, Mark se juntou a ele para a interpretação de "In Loving Memory", tema do primeiro álbum, "One Day Remains" (2004), que o guitarrista compôs em homenagem à sua falecida mãe, vitimada por um câncer. O que veio depois foi a mais absoluta apoteose na forma de "Blackbird", melancólica e densa, uma das músicas mais celebradas da noite. Após "Come To Life", algo bastante inusitado: durante interação com a platéia, Myles decidiu atender ao pedido de um fã, que carregava um cartaz clamando pela canção "Lover", tocada então pelo grupo quase que em sua totalidade, de maneira 100% improvisada - o que surpreendeu bastante, considerando que bandas de médio e grande porte raramente fogem de seus "scripts".

"Pawns & Kings", uma das mais pesadas e marcantes do novo trabalho, foi o prenúncio de que o fim estava próximo, e sendo assim, o quarteto encerrou seu set regular com as clássicas "Isolation" e "Metalingus". Obviamente, o palco não ficou vazio por muito tempo, pois o grupo não tardaria a retornar para o aguardado bis, bloco este composto pelas sempre presentes "Open Your Eyes" e "Rise Today", dobradinha responsável por esgotar as últimas energias e as cordas vocais de cada membro da audiência.