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2 de novembro de 2023

Finally Home - Blue Note SP - São Paulo/SP

Foto: Jair Cursiol Filho


Finally Home - Blue Note SP - São Paulo/SP - 31 de outubro de 2023


Por Jair Cursiol Filho

Fotos: Jair Cursiol Filho


O Shaman mudou de nome! Ué Jair, mas o Shaman não acabou? Sim e não. A terceira formação da banda sim, mas a segunda (mais sobre isso à frente) se reuniu em um projeto chamado Finally Home (baseado na música de mesmo nome do disco Origins) e lançou um disco chamado “Immortal / Origins (Acoustic)”. O álbum, lançamento apenas digital (Spotify, YouTube, Deezer, Apple Music) tem versões acústicas de 8 músicas daquela formação. Thiago Bianchi (vocais), Léo Mancini (violão), Fernando Quesada (violão) e Fabrízio di Sarno (piano) se reuniram na noite de ontem no Blue Note SP, na avenida Paulista na capital do estado, para o único show anunciado desta volta.

O Blue Note SP é um bar focado em shows de blues, que estava claramente despreparado para a quantidade de imprensa que cobre metal, especialmente em shows como esse onde a banda não toca junta há pelo menos 10 anos e o show é único. Se alguém do bar estiver lendo, sugiro rever a política de que imprensa não pode ter comanda: você tem que parar de usar a pulseira de identificação se quiser consumir, o que atrapalha o trabalho, por que depois os artistas não te identificam como imprensa mais.

E por não ter nem espaço específico nem mesa separada para imprensa, levei várias broncas de garçons, pois aparentemente todo lugar que eu ficava para tentar tirar foto atrapalhava ou um deles ou pessoas ou ambos. Dito isto, teria adorado o lugar se tivesse ido apenas como fã da banda.

Foto: Jair Cursiol Filho


No palco os quatro ex-membros do Shaman focaram o setlist nas oito músicas do disco de estreia, com algumas surpresas, então este review pode até servir como review do disco também. O palco do bar estava simples, com velas (falsas, daquelas de LED, por motivos óbvios), o apanhador de sonhos que se tornou o símbolo daquela formação e segue no novo projeto e um belíssimo piano de calda para di Sarno. O show abriu com a gravação de “Renovatti”, composta por Fabrízio para o disco de estreia, Immortal. Eu desconhecia este fato, mas Bianchi revelou que foi esta música que convenceu o maestro turco Musa Goçman a gravar o show do DVD One Live com a banda. Seguiu-se Finally Home, que devo dizer que ficou melhor acústica do que em sua versão original.

Para este álbum (e para o show), Bianchi fez uma escolha incomum: não alterou as linhas vocais, cantando como se estivesse acompanhando um instrumental de metal. Para o meu gosto pessoal, isto deixou algumas músicas estranhas no disco. “Immortal”, a segunda do show, é um caso destes, com vocais muito próximos do gutural em várias partes da música – o que contrasta bastante com o violão e piano ao fundo e faz com que a versão acústica não seja lá muito amigável para você ouvir com pessoas que não sejam fãs de metal. Dito isto, Bianchi é certamente um dos vocalistas mais constantes e técnicos que já vi ao vivo, e em um ambiente pequeno e intimista, qualquer erro fica muito visível.

Bianchi conseguiu reproduzir com fidelidade tudo o que cantou, algo que vi poucas vezes na vida – ainda que o mesmo assuma que hoje as músicas são mais difíceis do que eram quando lançadas 15 anos atrás.

A terceira música do show foi “Yellow Brick Road”, que ficou fantástica ao vivo, provavelmente a minha favorita da noite. Contudo, devo dizer que no disco ela é quase que uma trapaça. Explico: “Yellow Brick Road” já nasceu acústica originalmente, o que era até o momento algo inédito para o Shaman. Assim, existem poucas diferenças entre as duas versões, majoritariamente a falta de percussão, visto que o ex- baterista Ricardo Confessori não participa do projeto. Se no show ficou maravilhosa, no disco poderia muito bem ter dado espaço para pedradas como “Inside Chains” ou “Tribal by Blood”.

“Ego”, favorita dos fãs, foi a primeira música do disco Origins a aparecer. Considerada por Bianchi a música mais difícil da carreira (e definida por Léo Mancini como a música em que Bianchi vira um “apito para cachorro”), é um dos pontos altos tanto do disco como do show.

Foto: Divulgação


Sendo um show único e especial, houve vários convidados. O primeiro foi o produtor Alex Batista fazendo percussão em “Silent Lucidity”, cover de Queensrÿche cantado por Léo Mancini. Para os que não sabem, Mancini tem uma carreira consolidada com discos e singles de covers acústicos. “Silent Lucidity” era uma constante em seus shows com o vocalista BJ.

O próximo convidado foi certamente o mais inusitado da noite, o empresário Alexandre Costa tocando violão em “The Show Must Go On”, cover de Queen com Quesada cantando. Mas quem é Ale Costa? É nada mais que o fundador da Cacau Show. Não fez feio, mas com Quesada e Mancini no palco, fico feliz que ele tenha decidido focar em fazer chocolates.

Léo e Fernando saem do palco para deixar Fabrízio com uma peça ao piano. Não me atreverei a tentar identificar se é alguma obra clássica, um trabalho específico do tecladista ou um solo improvisado, dado meu limitado conhecimento de música clássica (e a peça não está marcada no setlist que estava com a banda). Mas deste solo, ele e Thiago emendaram com “I’m Yours” da banda Karma. Para os mais ovos, esta foi a banda inicial de Bianchi, Di Sarno e do baixista Felipe Andreoli (Angra). Infelizmente não está em oficialmente em nenhum streaming de música.

De volta ao Shaman e convidados, este foi talvez o convidado mais significativo da noite para a cena metal: Luís Mariutti, que fundou o Shaman, subiu ao palco para tocar “In the Dark”, talvez o maior sucesso da formação de Bianchi. Foi a primeira vez que algum ex-membro da primeira formação tocou uma música da segunda formação (todas as outras interações haviam sido tocando músicas da primeira formação durante a turnê do disco Rescue). Um gesto extremamente significativo, que só aumentou quando ele pegou o microfone e falou que eram todos uma banda só.

Foto: Jair Cursiol Filho


A última convidada da noite foi a vocalista Ciça Moreira em dueto em “S.S.D. (Signed, Sealed and Delivered)”. Sinceramente desconhecia a menina, de apenas 17 anos, que me surpreendeu muito. Sugiro darem uma chance ao disco Conflitos, que pode ser encontrado em todas as plataformas de música. Aqui tenho que, de novo, reclamar de trapaça no disco. “S.S.D.” é outra música acústica por natureza (com exceção de um solo de guitarra). Assim, a única real mudança no disco é a ausência de percussão e o solo sendo no violão.

Thiago e Quesada falam bastante e se provocam o tempo todo, o que torna o show divertido, mas quase custou uma música do setlist: o Blue Note tinha dois eventos na noite e o Finally Home era o primeiro. Com a autorização para tocar as duas finais, vieram “One Life” (primeira demo lançada com Bianchi, Quesada, Di Sarno e Mancini) e “Inferno Veil”. Esta última é outra que fica estranha no disco para quem não é fã de metal. Novamente, no show ficou ótima. Uma escolha inusitada para fechar o setlist, mas que combinou com uma noite toda inusitada.

Ficam os votos deste para que a banda lance o CD em formato físico (sou colecionador) e, mais do que isso, faça uma turnê e mais trabalhos. O metal nacional precisa do Shaman, mesmo que seja com outro nome e acústico.


SETLIST:

1. Renovatti (intro/gravação)

2. Finally Home

3. Immortal

4. Yellow Brick Road

5. Ego

6. Silent Lucidity (Queensrÿche cover, com Mancini cantando e Alex Batista no cajon)

7. The Show Must Go On (Queen cover, com Quesada cantando e Alexandre Costa no violão)

8. I’m Yours (Karma cover, apenas Thiago e Fabrízio)

9. In the Dark (com Luís Mariutti no baixo)

10. S.S.D. (com Ciça Moreira fazendo dueto com Bianchi)

11. One Life

12. Inferno Veil


LISTA DE FAIXAS DO DISCO “Immortal / Origins (Acoustic)”:

1. One Life

2. Immortal

3. In The Dark

4. Yellow Brick Road

5. Inferno Veil

6. Ego

7. Finally Home

8. S.S.D.


Agradecimento especial à TRM Press pelo credenciamento e Blue Note SP pela atenção.

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