Translate

2 de novembro de 2023

Album Reviews: ANGRA – Cycles of Pain (2023)

Arte: Eric Pasqua



Por: Jair Cursiol Filho - Repórter Big Rock


Este review foi feito com base em uma cópia digital gentilmente enviada pela gravadora Atomic Fire Records.


Ciclos de dor, esta é a tradução do nome do décimo disco de estúdio do Angra, Cycles of Pain, que chega às lojas e plataformas digitais nesta sexta-feira, 3 de novembro de 2023. E a banda passou por várias em sua história, com várias mudanças de formação. Afinal, este é apenas o segundo álbum com a formação atual: Fabio Lione (vocal), Rafael Bittencourt (guitarras), Marcelo Barbosa (guitarras), Felipe Andreoli (baixo) e Bruno Valverde (bateria), sendo o terceiro de Lione nos vocais (que agora empata em lançamentos de estúdio com Andre Matos).

Mas Cycles of Pain tem uma grande mudança com relação à OMNI, de 2018: o retorno do produtor Dennis Ward, que trabalho com a banda nos discos Rebirth, Temple of Shadows e Aurora Consurgens. Talvez por isso este seja o mais épico e mais próximo dos discos daquela época. Se isto é bom ou ruim, fica à cargo do ouvinte. Objetivamente, Cycles of Pain é um bom disco, com muito mais coesão interna do que Secret Garden, de 2015. Com relação à OMNI, melhor ou pior é puramente gosto.

A bolacha abre com “Cyclus Doloris”, a primeira introdução instrumental do Angra desde Aqua, de 2010. É a melhor? Não. Mas eu acho um desperdício toda vez que Rafael Bittencourt perde a oportunidade de nos mostrar o que aprendeu quando estudou regência e composição, então sempre quero uma nova, não me importa se é clichê. Quem não gosta pode só pular – ou aguentar os 48 segundos da música.

“Ride Into the Storm” já é conhecida do público, sendo o primeiro single. A faixa é um power metal com uma base de thrash (inclusive, “Thrash” era o título de trabalho dela antes da letra ser escrita). Curiosamente o riff é criação do baixista Felipe Andreoli. Se você quiser, leitor, pode ver o baixista gravando as bases de guitarra para esta e “Tide of Changes” no seu canal do YouTube. Depois de 20 anos seguindo o estilo, músicas assim pouco me pegam, mas esta aqui ainda é bastante divertida. Vale assistir o clipe, uma belíssima homenagem para Andre Matos.


A terceira faixa é “Dead Man on Display”, que começa com um clima bem tenso antes de entrar em uma música cuja intro caberia facilmente no Aurora Consurgens, com aquela qualidade específica que o disco tem de te causar algum incômodo, como faz “Ego Painted Grey”.

Aí entramos em “Tide of Changes”. Aqui vou primeiro reclamar para depois falar bem: pra quê dividir a música em duas faixas, sendo a tal parte 1 uma intro de baixo e vocal de 1 min e 10 segundos? Não é como se no total a música fosse gigante como “Elizabeth” do Kamelot (dividida em 3 partes de mais de 4 minutos cada). Se fosse uma faixa só teria 6:49, apenas 5 segundos a mais que “Faithless Sancturay” neste mesmo disco. Não consigo ver o motivo de fazer esta divisão, sendo que o próprio clipe une as duas e no único show da turnê no momento da escrita as duas também foram tocadas como uma. Explico minha reclamação: no mundo atual todos nós temos a playlist de curtidas do Spotify e 99% das pessoas escutam no aleatório: essa divisão implica que no mundo real a enorme maioria das pessoas jamais vai ouvir a música inteira. Reclamações à parte, este foi meu single favorito dos 3 que saíram até agora. Conta com a participação da cantora de MPB Vanessa Moreno. A parte que ela faz é uma sacada genial de Lione, que percebeu que a melodia em português de “Carolina IV” (Holy Land, 1996) fazia um excelente contraponto ao refrão desta. Uma pena que o Angra a colocou para cantar apenas isso nesta música.


Seguimos com “Vida Seca”, primeira vez que o Angra usa um título em português desde “Caça e Caçador” (Hunters and Prey, 2003). Esta é de longe a que mais caberia em Holy Land ou em Temple of Shadows, incluindo lembrar bastante “Late Redemption”, onde Milton Nascimento cantava em português em contraponto à Edu Falaschi em inglês. Aqui temos Lenine, cantor, compositor e multi-instrumentista fazendo a parte em português – papel que certamente ficará com Rafael Bittencourt se esta música chegar a ser tocada em shows. Tenho apenas uma pequena picuinha: Lenine canta apenas no início. Talvez tenha sido proposital, mas eu fiquei querendo mais. Dito isto, minha favorita do disco.

“Gods of the World” foi o terceiro single e, na opinião deste que vos escreve, um desperdício de single se olharmos pelo lado musical: esta é a mais “power metal espadinha” do disco. Talvez o foco tenha sido a letra, que é provavelmente a mais política que o Angra já escreveu? O clipe com certeza é o mais direto que a banda já fez, jogando na cara do espectador cenas de pobreza extrema, dor e sofrimento em contraponto a um grupo de pessoas ricas se divertindo e jogando, enquanto mostra dados como: mais de 400 milhões de pessoas já morreram em guerras, 16 milhões de pessoas tentam se suicidar todos os anos, 735 milhões de pessoas passam fome e 2,35 bilhões estão em estado de insegurança alimentar, o dinheiro que o futebol gera poderia acabar com a fome no mundo, 1,2 milhão de crianças são vítimas de tráfico infantil todo ano para abuso sexual e remoção de órgãos de. Pesado – e necessário no mundo atual.


A oitava é a faixa título, “Cycles of Pain”, inicia a segunda metade do disco, da qual nada havia sido lançado anteriormente. Assim como Temple of Shadows, a segunda metade tem mais mistura de estilos e esta música-título é a mais lenta da bolacha até agora, virando uma quase-balado. Por gosto pessoal, tendo a não ser fã de baladas metal, então esta não me marcou.

“Faithless Sanctuary” começa com uma batida indígena, quase que algo que caberia em um disco do Shaman e não do Angra – mas já que o Shaman acabou (pela terceira vez), vou aceitar a homenagem não-intencional. Depois ela passa a ser uma daquelas músicas que só o Angra sabe fazer com toques de percussão brasileira

“Here in the Now” já era conhecida se você é daqueles que vê tudo gravado da banda, visto que havia sido tocada na gravação do vindouro DVD acústico da banda, com a participação de Vanessa Moreno. A versão de estúdio com ela ficou como faixa bônus do disco fora do Brasil e não foi enviada para revisão.

“Generation Warriors” é a terceira power metal clássico do disco. Não tem nada demais (ou “de menos”) se você já ouviu os dois singles ou as outras do mesmo estilo nos discos anteriores, como “Travelers of Time” ou “Perfect Symmetry”.

“Tears of Blood”, que fecha Cycles of Pain, eu creio que será a mais divisiva entre os fãs. É um dueto operático entre Fábio Lione e Amanda Somerville (Avantasia). Imagine a versão de “Stand Away” com Lione e Tarja Turunnen no CD/DVD ao vivo Angels Cry 20th Anniversary Tour e você entenderá o que esperar. A vantagem aqui é que a obra é completamente nova, então não causará o estranhamento que “Stand Away” causou dez anos atrás. E essa aparenta ser uma aposta da banda como uma das favoritas dos fãs, visto que também foi executada na gravação do vindouro DVD acústico da banda.

Kiko Loureiro (Megadeth), ex-guitarrista da banda (mas ainda sócio de Rafael e Felipe na parte de negócios) gravou participação neste disco juntamente com Fernanda Lira (Crypta) em uma versão alternativa de “Tears of Blood” para o mercado japonês, também não enviada para esta análise.

Ao fim, Cycles of Pain é o disco do Angra com Lione mais parecido com o Angra de Edu Falaschi, o que me parece ser muito ligado com o retorno do produtor Dennis Ward. Não é o magnum opus da banda, este título ainda fica ou com Holy Land ou com Temple of Shadows, mas definitivamente é um disco que empata com OMNI em qualidade.

Nota: 8/10

Foto: Marcos Hermes


ANGRA – Cycles of Pain (2023)

Gravadora: Atomic Fire Records

Data de lançamento: 03/11/2023



LISTA DE FAIXAS

1. Cyclus Doloris 0:48

2. Ride Into the Storm 6:10

3. Dead Man On Display 6:13

4. Tide Of Changes - Part I 1:10

5. Tide Of Changes - Part II (com Vanessa Moreno) 5:39

6. Vida Seca (com Lenine) 5:13

7. Gods Of The World 4:46

8. Cycles Of Pain 5:09

9. Faithless Sanctuary 6:44

10. Here In The Now 5:57

11. Generation Warriors 5:10

12. Tears Of Blood (com Amanda Somerville) 5:36



Angra é:

Fabio Lione (vocal)

Rafael Bittencourt (guitarra)

Marcelo Barbosa (guitarra)

Felipe Andreoli (baixo)

Bruno Valverde (bateria)

Nenhum comentário:

Postar um comentário