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16 de novembro de 2023

Mastodon e Gojira fizeram shows históricos em São Paulo

Fotos: Tamires Lopes (Headbangers News)


Mastodon e Gojira - Espaço Unimed - São Paulo/SP - 14 de novembro de 2023


Por Pedro Pellegrino

Fotos gentilmente cedidas por Tamires Lopes (Headbangers News)

 


14/11/23, quase final do ano, 18 horas, no "Espaço Unimed", em São Paulo, o jornalista chegava para cobrir um showzaço de duas das bandas mais faladas do Metal dos últimos anos.

Se você gosta um pouquinho de som pesado, provavelmente, já escutou alguma canção do Gojira ou do Mastodon.

Um calor de 37 graus "recepcionava" o público na fila para entrar no antigo "Espaço das Américas".

Ao lado do metrô Palmeiras-Barra Funda, talvez essa seja a melhor casa de shows de São Paulo. Amplo acesso, várias entradas, 8 mil lugares bem distribuídos.

Ficamos trocando uma ideia com as jornalistas Tamires Lopes (é dela as fotos abaixo), e Bárbara Silva, antes do pessoal do credenciamento chegar. Um pouco antes, o jornalista Luan Carvalho também deu a letra enquanto a fila não andava.

Várias figuras me chamaram a atenção: um cara vestido de Mário. Sim, aquele do videogame. Uma "homenagem" ao Mário Duplantier, genial baterista do Gojira. Ao término do evento, encontramos esse mesmo "Mário", ele nos disse que o batera do Gojira apontou pra ele, e ficou com o seu chapéu da indumentária. O Mário cover espera um reconhecimento nas redes sociais de seu ídolo. A ver...

Perto da área da imprensa, Paulo Júnior (baixista do Sepultura), estava acompanhado de Estevam Romera do Desalmado, Tainá Bergamaschi da Crypta, e Maya Melchers do Family Mob Studio.

Dentro do Espaço Unimed, ao nosso lado, estava Bruno do Desalmado, e Jean Patton do Project 46.

Perguntei para algumas pessoas qual banda você gosta mais, ou qual veio ver com mais paixão: Gojira ou Mastodon?

Ganhou o Gojira. Bárbara Silva disse uma boa frase: "Mastodon é casual, Gojira é coisa séria". Bárbara estava no primeiro grande show de sua vida. Queria ter ido no Ghost, mas não conseguiu conciliar sua agenda. Dessa vez, ela fez de tudo para assistir uma de suas bandas prediletas.

Foto: Tamires Lopes (Headbangers News)


Entramos por volta das 19h30, e a pista VIP nos esperava. Já havia um bom público. Mas aos primeiros acordes, 20H19, do Mastodon, o local estava lotado.

Brann Dailor (batera e vocalista), Brent Hinds (guitarrista solo e vocal), Bill Kelliher (guitarra) e Troy Sanders (baixista e vocalista) são o Mastodon. Formada em 99/2000, em Atlanta, na Georgia, a banda possui 8 álbuns de estúdio, e têm 1 Grammy de melhor performance de metal, com a música "Sultan's Curse".

O Mastodon faz um prog-metal, com diversas influências diferentes, tornando a sua música única.

Com os três vocalistas se revezando no palco, o Mastodon fez um show brutal. Rodas e mais rodas, mosh pit eram formados em todo o canto do "Espaço Unimed". A banda se mostrava muito feliz por voltar ao país após nove anos! Disseram que não vão demorar muito para retornar.

Vamos aguardar... Um mesmo cantor em 2013 disse no mesmo "Espaço das Américas" que voltaria logo. Estamos esperando há 10 anos...

Foto: Tamires Lopes (Headbangers News)


Setlist:

Pain With an Anchor

Crystal Skull

Megalodon

Divinations

Sultan's Curse

Bladecatcher

Black Tongue

The Czar

Halloween

High Road

More Than I Could Chew


Encore:

Mother Puncher

Steambreather

Blood and Thunder



GOJIRA:

As luzes se apagaram, e no gigantesco telão uma contagem regressiva começava: 150 segundos... pareciam uma eternidade... Quando chegou em 10, 9... o público gritou como se fosse um réveillon! 

A banda francesa voltava ao Brasil após tocar no Rock in Rio no ano passado. Fechado a turnê do último disco, o 7°, "Fortitude" (2021). 

Foto: Tamires Lopes (Headbangers News)


Em 2020, esse que vos escreve, relatou assim em uma pequena biografia da banda:

"Dia 19 de outubro de 1976 nasceu em Paris, França, um cara chamado Joe Duplantier.

Ele cresceu com a sua mãe cantora de country, que viveu anos em Wisconsin (Estados Unidos) e com o pai pintor.

Joe teria a companhia de seu irmão, Mario, nascido em 1981, na cidade de Baiona (perto do país Basco).

Os irmãos sentiram a arte infectando suas veias. Além da mãe cantora, o pai pintor, a irmã também começou a desenvolver o gosto pela fotografia, e se tornou uma das melhores fotógrafas do país.

Os Duplantier começaram a gostar de rock and roll e se apaixonaram pelo metal. Joe tentou fazer faculdade de arte, mas as bandas que ele e seu irmão fundaram dariam mais prazer do que tudo o que eles tinham feito até então na vida.

Mario desde cedo desenvolveu habilidade para tocar percussão, bateria, e Joe empunhava sua guitarra e berrava como poucos na pequena cidade de Baiona.

Decidiram fundar uma banda chamada Godzilla em 1996. Com o repertório de quase 80% de Sepultura, os irmãos franceses começaram a chamar atenção por onde passavam na cidade-luz. “Nós éramos muito fãs de Sepultura”- essa declaração já ouvimos em praticamente toda entrevista da banda. Nessa época eles contavam com o excelente guitarrista Cristian Andreu (que está desde o primeiro line-up da banda) e também com o baixista Alexandre Cornillon. Alexandre foi substituído em 2000 pelo grande baixista Jean Michel Labadie.

Em 2001 a banda teve que mudar de nome para Gojira. Que é como os japoneses pronunciam Godzilla. Nesse mesmo ano saiu o primeiro álbum da banda: "Terra Incógnita".

No começo de carreira, a banda fazia um death metal bem brutal, com o lançamento do terceiro álbum em 2005 “From Mars to Sirius”, o Gojira começou a ser visto como a esperança do metal moderno. Com elementos únicos de afinações de guitarra, com paradas ultra técnicas, com um groove espetacular desenvolvido por Mario (nessa época todas as mídias especializadas o consideravam um dos melhores bateras da cena), com a companhia da cozinha metálica do Jean Labadie, e com o vocal gutural super cavernoso e ao mesmo melódico de Joe, com seus riffs matadores, o Gojira despontou como uma das melhores da sua geração.

Na sua discografia, a banda conta com seis álbuns. O último foi lançado em 2016. Esse ano, se não fosse o Covid, talvez teríamos um novo disco dos franceses, porém eles lançaram em 2020 um clipe belíssimo que faz referência a um filme que com certeza você já viu (eu não vou dar spoiler, assista!)

Clique aqui: 


Lembra quando eu falei que eles eram fanáticos pelo Sepultura? Em 2008 os irmãos Cavalera, ex-Sepultura, convidaram o baixista do Gojira, Jean, para assumir as linhas de baixo do novo projeto dos irmãos brasileiros chamado Cavalera Conspiracy.

Joe, por ser tão fã, disse para os irmãos Cavalera que ele iria no lugar do baixista do Gojira. E assim foi: ele gravou o primeiro álbum do Cavalera Conspiracy: Inflikted.

Max Cavalera (guitarrista e vocalista), Iggor Cavalera (baterista), Joe Duplantier (vocalista e guitarrista), Mario Duplantier (baterista). A vida é bem gozada.

No Rock in Rio de 2015, o Gojira aterrissou em terras brasileiras. Eu não fui para o festival carioca, mas fui para o Carioca Club em São Paulo, onde o Gojira também tocou.

Outra banda que também tem dois irmãos na banda igual ao Gojira, e Sepultura, na voz e na batera é o Claustrofobia. Ouvi o Toninho Iron, figura importantíssima para o metal nacional, dizer que os irmãos Duplantier adoram o Claustro. Tomara que seja verdade mesmo, porque é o metal nacional influenciando e sendo influenciado por uma banda espetacular como o Gojira.

Esse show do Carioca Club foi um dos melhores da minha vida."

Foto: Tamires Lopes (Headbangers News)


Voltando ao dia 14 de novembro de 2023, a felicidade no rosto do público indicava o que todos já sabiam: um show do Gojira é pra lavar a alma. Copos de cerveja eram jogados para o alto, e as rodas comiam soltas.

A banda abriu com "Born For One Thing" do último álbum, todo mundo berrando a mil pulmões, "Backbone", "Stranded" e "Flying Whales" fecharam o começo arrasador dos franceses. Não precisavam de mais nada. O público estava conquistado. Voltei pra casa mais magro, de tanto que suei (apesar que, na saída comi dois espetinhos de R$10 reais cada um- enquanto o ambulante saía correndo porque o rapa tava chegando, e uma coca zero), mais uma fortuna do app "99". Ainda bem que o motorista era gente boa. Com tantos shows em São Paulo, ali a poucos metros, no Allianz Parque, Alanis Morissette fazia um concerto lotadérrimo. É preciso olhar com mais atenção ao transporte público em São Paulo, o metrô deveria ser 24 horas, ou em dias de shows poderia funcionar até mais tarde. Mas, já temos tantos problemas no Brasil, que talvez esse seja o menor. 


Em uma recente entrevista à Rolling Stone, Joe Duplantier soltou essa: 

"Às vezes, você está tendo um dia ruim e pensa que vai se atrasar para uma festa, um show, uma prova importante ou algo do tipo. Então, você finalmente consegue chegar e percebe que estava se preocupando por nada. Tenho que me lembrar disso. Manter a fé e a cabeça erguida, pois nunca se sabe. Talvez algo bom ainda pode acontecer, e uma situação que parece completamente horrível pode se tornar ok no fim do dia. Talvez consigamos fazer dar certo. Vamos ver. Mas, sim, a situação no Brasil é tão interessante quanto a de outros países ao redor do mundo. Há tanta coisa acontecendo neste momento, que pode ser sufocante para todos.

Eu convidaria qualquer um que vai ler isso, caso coloque isso na entrevista, a se manter focado. 

Mas não vou me preocupar muito. Se os humanos decidirem se destruir, o que você vai fazer? Tem tanta gente nesse planeta. Vamos ver o que acontece."

O Gojira é muito consciente em suas letras: falam do aquecimento global, da preservação dos animais marinhos e de todo ecossistema. No último disco, com a faixa "Amazônia", eles fizeram mais do que muitas bandas brasileiras. Colocaram o dedo na ferida de tanto descaso que os governos fizeram com os indígenas no Brasil. Indico o clipe de "Amazônia" pra vocês assistirem: 


Joe Duplantier durante o show disse que se inspirou na música "Kaiowas" do Sepultura. 

Como mencionado acima, admiram muito a banda brasileira. Deve ser legal, você criar uma banda com inspiração numa banda do Brasil, e você ser amado pelo público do mesmo país. Deve ser uma sensação incrível. Os irmãos Duplantier estavam no estúdio Family Mob esses dias também.

E falando em Sepultura mais uma vez, não podemos deixar de citar que, Troy Sanders (baixista do Mastodon), também é baixista do projeto paralelo de Max Cavalera: Killer Be Killed.

E o João Nogueira? Sambista? Não, o tecladista do Mastodon, que do nada, começou a falar em português, surpreendendo todo mundo. Aliás, ele é de Pernambuco, levantou uma bandeira do Estado, empunhou o microfone e comentou assim: "Tem sempre um brasileiro aleatório no rolê... Eu sou o brasileiro aleatório". Totalmente excelente.

Mario Duplantier, o batera do Gojira, fez o seu já tradicional solo, abriu um cartaz que estava escrito em português: "mais alto, porra!" e depois: "agora sim, c*******!"

Figuraça.


No final do show, ele pegou um bolt de plástico e foi surfar na galera. Foi cômico.

As milhares de camisetas do Mastodon e Gojira ficaram extenuadas, suadas, encharcadas e gratas por essa noite infernal. A "Mega Monsters tour" veio para ficar, a gente às vezes quer sair do Planeta Terra por tantos problemas, mas se os ETS existirem, eles devem ficar de boca aberta com essas duas bandas. Não é preciso ir para outro mundo para presenciar o seu espírito chacoalhando ao som do belo heavy metal.

Foto: Tamires Lopes (Headbangers News)


Setlist:

Born for One Thing

Backbone

Stranded

Flying Whales

The Cell

The Art of Dying

Drum Solo

Grind

Another World

Oroborus

Silvera

The Chant

L'enfant sauvage


Encore:

The Heaviest Matter of the Universe

Amazonia

The Gift of Guilt



Agradecimento à Move Concerts e Midiorama pelo credenciamento e Espaço Unimed pela atenção.

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