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24 de abril de 2024

Mark Farner encanta e anima fãs em São Paulo com apresentação que deixou o desejo de um bis

Foto: Paula Cavalcante


Mark Farner - Carioca Club - São Paulo/SP - 20/04/2024


Por Tiago Pereira

Fotos: Paula Cavalcante


VITALIDADE talvez seja a palavra que melhor denomina o que Mark Farner, 75, mostrou vocal, instrumental e performaticamente no último sábado (20) no Carioca Club, Zona Oeste de São Paulo, em apresentação única. O ex-guitarrista e vocalista da banda Grand Funk Railroad, que veio ao Brasil com sua banda de apoio – assim nomeando o conjunto como Mark Farner’s American Band -, fez o primeiro de três shows programados em solo brasileiro – o segundo ocorreu no dia 23 de abril, no Rio de Janeiro, e o terceiro será no dia 25, em Belo Horizonte.

Mark fez de tudo um pouco no palco: cantou, dançou, solou e até fez os três ao mesmo tempo; circulou por todo o palco e até mesmo chegou a levar um tombo por causa disso. Nada que tenha prejudicado o conjunto da obra de sua performance na noite. Junto a ele, a banda de apoio seguiu e ajudou a entregar um instrumental de alta qualidade junto às linhas e solos de guitarra do artista principal. 

Foi uma noite que, devido à qualidade da apresentação, o setlist com os maiores sucessos de Farner pelo Grand Funk Railroad – além de três covers de outros artistas, também gravados pela banda de Michigan – e o sentimento de nostalgia dos fãs de idades diversas de um Carioca Club lotado, causou uma sensação de que haveria bis. Infelizmente, isso não ocorreu, mas gerou algo inusitado: uma longa espera de fãs que tinham certeza de um retorno do grupo ao palco, após a saída, por minutos, a ponto de confundir até mesmo os seguranças sobre abrir ou não os portões de saída da casa de eventos.

Foto: Paula Cavalcante


Pré-show:

Cheguei à casa de eventos faltando pouco mais de 15 minutos para o horário previsto para a apresentação – sem abertura, por sinal. O local já estava cheio e, para quem estava na pista, era difícil ficar em uma posição próxima do palco devido a concentração grande de pessoas nesse horário e no seu decorrer. Inclusive, foi uma apresentação sem a grade separando público do palco, o que permitiu que os fãs ficassem colados e mais próximos do artista principal.

Ver o show do mezanino – algo que não sou acostumado – deu uma perspectiva nova, o que já observei desde a subida das escadas. Mas são detalhes a contar no decorrer deste texto.

Em todo o Carioca Club, muitos adultos e pessoas de melhor idade eram visíveis em ambos os espaços da atração. Sentados no mezanino ou de pé no mesmo local e na pista, todos fizeram a diferença durante a apresentação.

Houve um atraso de 15 minutos para o início da apresentação. Nesse tempo, os testes de iluminação eram predominantes e, claro, a percepção que mais me inquietou: o kit de bateria estava atrás de algumas placas de acrílico que, muito provavelmente e devido à posição, eram para inibir o barulho dos pratos para o instrumentista ao lado esquerdo – no caso, o tecladista da banda – e para Mark Farner.

Às 19h15, então, as luzes da casa de eventos se apagaram. Era o indicativo do início do show.

Foto: Paula Cavalcante


Mark Farner: da energia e vitalidade ao bis que não veio:

Logo de cara, no telão principal do palco e nas pequenas telas abaixo do mezanino, veio a introdução com uma chamada sobre Mark Farner e com a música “Also sprach Zarathustra”, composta por Richard Strauss e famosa por ser tema do filme “2001: Uma Odisseia no Espaço”. A banda de apoio, composta por Hubert Crawford (bateria), Paul Randolph (baixo e backing vocals) e Bernie Palo (teclados), entrou aos poucos durante esta intro e, logo depois, Mark Farner chegou já esbanjando um pouco do que seriam as suas cargas altas de energia, carisma e vitalidade que o acompanhariam naquela noite.

Mark não poupou os grandes sucessos dos tempos de Grand Funk Railroad. Das 15 faixas tocadas na noite apenas três – estas como covers de outros artistas renomados – não eram do período do guitarrista na banda de Michigan.

A primeira faixa foi “Are You Ready”, do álbum de estreia do Grand Funk Railroad, “On Time” (1969). Nela, as cordas vocais da maioria dos fãs vieram à tona. Só de ouvir o canto de pessoas de todos os lados, do mezanino à pista, deu pra entender um pouco do que seria aquela noite. Mark tocou a música muito bem e combinou os acordes com danças em seu espaço do palco, mostrando assim o quão à vontade estava.

Em seguida, o grupo tocou “Rock 'n Roll Soul”, que deu continuidade à euforia vocal dos fãs e ao ritmo contagiante da banda. E o momento mais inusitado da noite veio em “Footstompin' Music”, do disco “E Pluribus Funk” 1971: Mark, após pedir para os fãs pularem – o que ocorreu em partes -, correu para a plataforma mais alta, onde havia um teclado vazio. Ao tentar subir, perdeu a passada e tropeçou a ponto de cair. Nada que tenha atrapalhado sua performance naquele momento e ao longo do show, pois ele levantou e seguiu a tocar, até chegar ao ponto de tocar aquele teclado por certo tempo da faixa. Além disso, Farner se destacou por seu solo, assim como Bernie Palo teve seu momento de brilhar com seu kit de teclados, do outro lado da plataforma.

O grupo retornou ao ano de debutante do Grand Funk Railroad, 1969, ao tocar “Paranoid”, do segundo disco, intitulado “Grand Funk”. Aqui, Mark Farner voltou a ser irreverente com suas danças e usou do que parecia um pedal Wah Wah para seu solo marcante. 

Mark foi direto e perguntou se os fãs estavam bem. Bastou o barulho da resposta positiva para que ele desse segmento à apresentação com a faixa “We're an American Band”, que abre o disco de mesmo nome do GFR, lançado em 1973. Eu, já em outra posição do mezanino, consegui observar algo que, é mais difícil se estivesse na pista: o clima da pista nas áreas mais ao fundo. Coincidentemente, foi nessa faixa que vi muitos dos que estavam nesta parte mais “tranquila”, em termos de aglomeração, dançando em rodas de amigos, ou sozinhas. E é claro que, ao final, os aplausos foram fervorosos pela reação positiva à faixa.

Foto: Paula Cavalcante

Foto: Paula Cavalcante

Foto: Paula Cavalcante


Mark Farner mostrou que até mesmo a voz estava em dia. E um dos exemplos disso foi em “Bad Time”, música presente no álbum “All the Girls in the World Beware!!!” (1974). Além dos cantos no ponto, o público o acompanhou com um forte coro em diversas partes da faixa em questão.

O retorno aos primórdios do Grand Funk Railroad veio em “Aimless Lady”, música do álbum “Closer to Home” (1970), o terceiro do GFR e que deu todas as características de uma faixa de Hard Rock e com nuances do Blues Rock. E é claro que Farner não poderia deixar de solar novamente e muito bem.

O guitarrista, em uma pausa irreverente, levantou uma garrafa de cerveja e saudou com o público presente no Carioca Club. Depois, fez questão de virar tudo o que continha nela, sem parar e até que ela estivesse vazia. Tudo isso enquanto Hubert Crawford criava o som de expectativa para aguçar o pessoal da pista.

A cerveja, muito provavelmente, foi um boom para a track seguinte, “Sin's a Good Man's Brother”, em que Mark executou outro grande solo. Em meio a uma cadência excepcional dos membros de sua banda. Em seguida, o grupo tocou a comemorada “I Can Feel Him in the Morning”, que tem um ritmo mais lento, comparado às faixas anteriores e que, porém, foi bem cantada pelos presentes.

Após a faixa, Mark foi cômico e pegou sua toalha preta para se secar e, também, fingir que secava suas axilas e... a região da virilha. Isso arrancou risos de parte da plateia, claro. 

O primeiro cover fora do escopo do Grand Funk Railroad foi o da música “Ohio”, do icônico supergrupo Crosby, Stills, Nash & Young. Fora o riff icônico, Farner executou um ótimo solo com sua guitarra azul.

Depois deste cover, veio ‘The Railroad” e alguns dos momentos mais icônicos da apresentação de Mark Farner. A emoção de alguns fãs – partindo da visão que tinha do mezanino, tanto de quem também estava ali, quanto dos que estavam na pista -, o forte coro do início ao fim, o solo contagiante do icônico guitarrista e os ótimos momentos do baterista e do tecladista da banda – o segundo, inclusive, com um ótimo solo – foram uma combinação perfeita para aquele momento único. Apesar do baixo volume da guitarra do Mark neste momento do show, todo o conjunto citado se sobrepôs a esta percepção que, no final das contas, foi um mero detalhe.

“Heartbreaker” deu continuidade à catarse coletiva no Carioca Club. O clássico do álbum de estreia da banda trouxe um coro ainda mais alto, principalmente no refrão. Na virada para o trecho mais animado da faixa, o ritmo era mais forte e Mark soltou o melhor solo de guitarra da noite junto às costumeiras danças e aproximações aos fãs. É claro que todo o conjunto daquele momento causou uma salva de palmas e ovações poderosas dos fãs, no final da música, além de Farner agradecer em língua portuguesa - “Obrigado!” – e afirmar que todos no local eram “bons cantores”.

A faixa “Some Kind of Wonderful” foi um cover do grupo Soul Brother Six, que atuou com diversas formações entre 1965 e 1976. Ela também esteve como cover no álbum “All the Girls in the World Beware!!!”, do Grand Funk Railroad. No show, Mark entregou a guitarra ao roadie do grupo apenas para aquela faixa, em que assumiu o microfone e também teve o suporte de Paul Randolph enquanto jogou palhetas aos presentes na pista. Na reta final da faixa, os fãs não deixaram de repetir, quando preciso, a frase “Sometimes are Wonderful”.

Após gritos de “Markinho” por parte do público, outro cover também gravado pelo GFR foi tocado: “The Loco-Motion”, de Carole King, cuja versão da antiga banda de Mark foi lançada no álbum “Shinin' On” (1974). Mark Farner voltou a tocar sua guitarra e, na voz, precisou apenas cantar o verso “Everybody's doin' a brand new dance now” para que a plateia o acompanhasse tão fervorosamente quanto em outros momentos do show.

Nesse momento do show, o conjunto de pessoas que estava na parte esquerda da pista era o mais dançante, de longe. De cima, conseguia ver pessoas dançando sozinhas, em grupos de amigos ou com desconhecidos num ritmo contagiante para aquele momento. Do outro lado da pista, alguns fãs arriscaram, também, só que de forma mais contida. 

Mark Farner, após agradecer e deixar dos desejos de paz e amor a todos, sob os gritos de seu primeiro nome, iniciou a última faixa, intitulada “I'm Your Captain (Closer to Home)”. De longe, foi a faixa que trouxe os maiores cantos dos fãs – até mais que “Heartbreaker” – em diversos trechos, principalmente nos inúmeros versos finais que repetiram a frase “I'm getting closer to my home”. Tudo em meio aos últimos passos e acordes de Mark Farner e banda no final.

Farner, no final, demonstrou toda sua felicidade ao agradecer por uma última vez pela noite: “My Brazilian Brothers and Sisters, OBRIGADO!”. Ele e a banda, felizes com o que viram, fizeram todo o ritual de despedida ao irem à frente do palco, reverenciar a plateia, tirar fotos e sair. 

E foi justamente nesse que veio a grande dúvida da noite por parte dos fãs: sem uma música de fundo ou algum indicativo imediato de fim de show, o público ficou em dúvida se haveria um bis ou não. Nisso, foram minutos e minutos de espera com aplausos, assobios, gritos por Mark e um desejo incessante de ao menos mais uma música, após a grande noite baseada na sequência das 15 faixas tocadas. Nisso, as luzes não se apagaram no palco, mas os roadies fecharam as cortinas, o que até gerou uma esperança. 

As luzes do palco seguiram acesas, uma falha de reprodução fez com que o comecinho de “Also sprach Zarathustra” fosse tocado novamente e somente uma pequenina parcela dos que estavam no Carioca Club saíram. E isso após os minutos de espera e a dúvida ainda mais instigante por parte dos seguranças, que não sabiam se abriam ou não, também na expectativa de um bis.

A ficha só caiu quando as luzes da pista foram acesas e nenhum outro movimento ocorreu no palco. Claro que isso não mudou em nada a avaliação positiva de um show tão potente e contagiante quanto o de Mark Farner e sua banda. No entanto, o “gostinho de quero mais” ficou para quem, com certeza, teve as melhores reações possíveis durante o show de quem voltava ao Brasil após cinco longos anos.

Foto: Paula Cavalcante

Foto: Paula Cavalcante


Setlist:

1. Are You Ready

2. Rock ‘n Roll Soul

3. Footstompin’ Music

4. Paranoid

5. We’re an American Band

6. Bad Time

7. Aimless Lady

8. Sin’s a Good Man’s Brother

9. I Can Feel Him in the Morning

10. Ohio (cover de Crosby, Stills, Nash and Young)

11. The Railroad

12. Heartbreaker

13. Some Kind of Wonderful (cover de Soul Brothers Six)

14. The Loco-Motion (cover de Carole King)

15. I’m Your Captain

OBS: como citado em alguns trechos da resenha, todas as faixas são do período em que Mark Farner esteve no Grand Funk Railroad. Os covers citados na lista também foram gravados como covers nos álbuns de estúdio desta banda, no entanto foram os únicos citados nesta categoria para diferenciar a autoria das faixas.



Agradecimentos à Estética Torta e Lex Metalis Assessoria pelo credenciamento e Carioca Club pela atenção.

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