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Discharge, Midnight, Havok e Manger Cadavre? - Carioca Club - São Paulo/SP - 21 de junho de 2024
Por Roberio Lima
Fotos: Roberio Lima
A última aparição do Discharge em São Paulo, deixou muitas sequelas entre os destemidos apreciadores de sonoridades mais extremas que tiveram a oportunidade de testemunhar ‘in loco’ – uma das duas apresentações que a banda fez pela cidade no ano de 2022. Na ocasião, foram duas noites com ingressos esgotados no Fabrique Club (tradicional casa de shows, localizada na região da Barra Funda).
Com toda a celeuma resultante das referidas apresentações, ocorreu o anúncio de um retorno ao país já no ano de 2023, mas que, no final das contas, não se concretizou, sendo posteriormente adiado para o ano de 2024. Felizmente a espera foi muito vantajosa aos que mantiveram a ansiedade sob controle, pois além da icônica banda inglesa, teríamos a oportunidade de conferir também duas formações americanas muito prestigiadas no underground mundial, sendo elas Havok e Midnight. Os paulistas do Manger Cadavre? tiveram a incumbência de representar o Brasil nessa empreitada. Uma enorme responsabilidade, já que dessa vez, seria a única data da turnê marcada para o país. A ‘Hell on Earth Tour’, passou também por países como México, Colômbia, Peru, Chile e Argentina.
Já se tornou uma obviedade sempre mencionar o caos, trânsito, poluição sonora e todas as adversidades que a rotina da cidade nos impõe. Mas dessa vez, me aproprio desse cenário para compor um relato mais ‘palpável’ ao raríssimo leitor. Afinal de contas, essa rotina que nos é imposta diariamente, teve sua interpretação mais fiel, encenada pelos artistas que passaram pelo palco do Carioca Club.
Os músicos do Manger Cadavre?, assumiram suas posições no palco, e imediatamente iniciaram uma breve introdução para já emendarem com a dobradinha “Em Memória” e “Imperialismo” (essa última, dá nome ao mais recente álbum lançando pelo quarteto). Nata Nachthexen conquistou enorme representatividade e respeito na cena. Desde a primeira apresentação que testemunhei na Avenida Paulista nos idos de 2017, perdi a conta dos shows que já vi da banda - todos sempre permeados por doses cavalares de indignação e fúria – fórmula perfeita que resultou em uma das formações mais interessantes do underground. O público reduzido não interferiu na performance contundente do Manger Cadavre? e abriu espaço inclusive para executarem um som que ainda não foi gravado - “Retórica do Silencio”. Nata aproveitou a oportunidade para falar sobre a primeira turnê europeia - que terá seu ponto alto no tradicional festival de música extrema Obcene Extreme Festival, realizado anualmente na República Checa. As tradicionais rodas iam se abrindo enquanto sons como “A Raiva Muda o Mundo” e “Homem de bem” infestavam cada espaço do recinto. Não demorou muito para que o encerramento viesse com “Encarceramento e morte” e dessa forma só nos resta, agradecer os serviços prestados pela banda até aqui, e desejar muita sorte nessa jornada pelo Europa nos próximos dias!
Setlist Manger Cadavre?:
Insônia
Imperialismo
Hostil
Iconoclastas
Retórica do Silêncio
Peregrinos
A raiva muda o mundo
Como nascem os monstros
Tragédias previstas
Encarceramento e Morte
Foto: Roberio Lima |
O numero de pessoas aumentou consideravelmente na pista do Carioca, e a expectativa era muito grande para ver em ação o quarteto americano, oriundo de Denver (Colorado). O Havok, sem sobra de dúvidas, fez as coisas esquentarem assim que tomara o palco com seu Thrash Metal classudo e bem executado. No entanto, confesso que não aprecio o trabalho da banda por considerar a sonoridade, e até a postura no palco como um pastiche de formações clássicas do estilo como Exodus, Testament e Metallica (essa é só a minha opinião, e posso garantir que 99% dos que assistiram a essa apresentação, não concordam com esse que vos escreve!). O fato é que os caras fizeram um show energético e com um repertório que foi de encontro aos anseios de seus seguidores mais fanáticos. Destaco como ponto positivo a entrega e o carisma dos músicos, que de todas as formas, interagiam com o publico de forma bastante sincera. O baixista Nick Schendzielos manteve o folego mesmo agitando de forma ininterrupta, e vê-lo vestido com a camisa da inesquecível Whitney Houston, foi a deixa para que tivéssemos a certeza de que definitivamente; “os brutos também amam”!
Incontáveis “moshes”, “stage dives” e “rodas” foram acontecendo durante a apresentação, e com o público completamente inebriado, foi a hora de se despedir. O rastro sonoro ficou bem marcado com sons do quilate de “D.I.A.I”, “Intention to Deceive” e o ‘gran finale’ se deu com a dobradinha composta por “Give me Liberty... or Give me Death” e “Time Is Up”. Os músicos saíram ovacionados do palco e prometeram voltar ao brasil em breve. Vamos aguardar!
Setlist Havok:
Point of No Return
Fear Campaign
Hang ´Em High
Prepare for Attack
D.I.A.I.
D.O.A.
Intention to Deceive
Phantom Force
From the Cladle to the Grave
Covering Fire
Give Me Liberty ... or Give Me Death
Time Is Up
Foto: Roberio Lima |
Finalmente chegava a hora mais esperada por esse senhor que vos escreve! O Midnight, em sua última aparição na cidade, mais precisamente no festival Setembro Negro, teve uma participação marcante e deixou muitos seguidores na expectativa de um retorno ao país com um setlist mais extenso. Felizmente as preces foram atendidas, e eis que dez minutos antes do previsto, os caras já estavam no palco quebrando tudo! "Black Rock ´n´Roll" teve efeito de tsunami entre os que estavam no gargarejo, onde cabeças se agitavam freneticamente, quase como um daqueles rituais tão comuns em uma certa igreja "Universal". Jamie Walters (Athenar) é a mente ensandecida, responsável pelas atrocidades que o Midnight apresenta no palco. Acompanhado por Ryan Steigerwald (bateria) e Matt Sorg (guitarra). A banda trouxe na bagagem seu mais recente lançamento; "Hellish Expectations" (2024), mas desse álbum, só tocaram "Expect Total Hell" (que pra mim já é um clássico!) e "Mercyless Slaughtor". Apesar desse álbum já ser candidato a clássico da banda em um futuro próximo, priorizaram os álbuns mais antigos, para deleite daqueles que já estouraram os tímpanos de tanto ouvir o 'black speed metal' produzido por Athenar e seus comparsas. A sequência de ``pauladas´´ não deu trégua, e já retomada minha consciência, percebo que minha alma naquele momento, já havia sido tomada enquanto eram proferidas perolas como "Satanic Royalty", "Violence on Violence", "You Can´t Stop Steel" e "All Hail Hell". Uma apresentação soberba que culminou com Athenar quebrando a corda de seu instrumento e simulando o próprio enforcamento. Não me recordo de momento mais apropriado para exorcizar todas as angustias e frustrações acumuladas dentro desse velho peito. Obrigado Midnight, por expurgar dessa criatura decadente, as impurezas de um "mundo tão perfeito"!
Setlist Midnight:
Funeral Bell (Instrumental)
Black Rock ´n´Roll
Lust Filth and Sleaze
Endless Slut
Expect Total Hell
Mercyless Slaughtor
F.O.A.L.
Fucking Speed and Darkness
Szex Witchery
Evil Like a Knife
Satanic Royalty
Violence on Violence
All Hail Hell
You Can´t Stop Steel
Who Gives a Fuck?
Unholy and Rotten
Foto: Roberio Lima |
Já chegávamos perto da meia noite e não havia mais forças para nada! Sim, o Discharge, entraria no palco a qualquer momento, e já era previsto o que aconteceria naquele espaço. No entanto o corpo já não correspondia mais ao desejo estar no meio daquela muvuca. Ocupei um lugar no camarote, e foi dali que testemunhei momentos de violência, adrenalina e dor. Com Jeff "J J" Janiak a frente, a massa sonora já se converteu em "The Blood Runs Red", e confesso que a partir dali, pude testemunhar de um local privilegiado a violência e o pandemônio que se transformou a pista do Carioca Club. "Hear Nothing, See Nothing, Say Nothing" do antológico disco de 1982, foi recebida com a sensação de que o mundo acabaria em alguns instantes. Esse cenário caótico foi tomando proporções mais insanas a medida em que pérolas do submundo como "A Hell on Earth", "Protest and Survive" ou "Never Again" eram executadas no palco. No final das contas, será sempre um privilégio conferir as aparições desses caras no palco. Royston "Rainy" Wainwright (baixo), Tony "Bones" Roberts (guitarra), Terence "Tezz" Roberts (guitarra), David "Proper" Caution (bateria) e o já mencionado Jeff ``J J`` Janiak (vocal), já estão na história da musica pesada por ter influenciado gigantes como Metallica e Sepultura, além de produzirem uma sonoridade que se tornou referência para outras formações do punk e do metal. Bom, o show terminou com "Decontrol", e os músicos do Havok e Midnight voltaram ao palco para dar a última canja, e sacramentar o clima de festa (acreditem se quiser!), que se estabeleceu naquele dia. A madrugada já era uma realidade, e com ela, todas as dores do corpo e da alma, tomavam conta de uma existência em constante transformação. Mesmo com esse fim melancólico, o otimismo começou a ressurgir (como uma pequena brasa!), na expectativa de qual será o próximo capitulo dessa história...
Setlist Discharge:
The Blood Runs Red
Fight Back
Hear Nothing, See Nothing, Say Nothing
The Nightmare Continues
A Look at Tomorrow
Drunk With Power
A Hell on Earth
Cries of Pain
Ain´t No Feeble Bastard
Protest and Survive
Hype Overload
New World Order
Corpse of Decadence
Hatebomb
Never Again
Satate Violence/State Control
Realities of War
Acessories by Molotov
War is Hell
You Deserve Me
The Possibility of Life´s Destruction
Decontrol
Foto: Roberio Lima |
Agradecimentos à Tedesco Comunicação e Midia pelo credenciamento e Carioca Club pela atenção.
Animal demais
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