Big Rock N' Roll - Pensou em rock, pensou Big Rock!: Gorilla Biscuits - Fabrique Club

Foto: Roberio Lima

Gorilla Biscuits - Fabrique Club - São Paulo/SP - 27 de setembro de 2024

Por Roberio Lima

Fotos: Roberio Lima

No exato momento em que recebi a informação sobre o retorno do Gorilla Biscuits ao Brasil (com um único show agendado para acontecer na capital paulista), me submeti imediatamente a um processo de preparação, pois para encarar um show da lenda do hardcore novaiorquino de forma apropriada, é muito importante estar 'em dia' com as questões físicas e psicológicas - visto que a performance dos caras consiste em doses cavalares de adrenalina, sangue suor e lágrimas. Sendo assim, é correto afirmar que a atitude foi muito acertada. Além disso, a notícia de que os ingressos estavam praticamente esgotados, elevou ainda mais as expectativas do que se sucederia nas imediações da Barra Funda.

Como já é de praxe, tivemos mais uma sexta-feira de muito trânsito, superlotação no transporte público e as oscilações de temperatura que nos remetem à um cenário de caos – no entanto, nem esses fatores foram suficientes para impedir que o Fabrique Club fosse tomado por um público sedento por diversão.

A tão esperada apresentação do Gorilla Biscuits, foi precedida de ótimas atrações nacionais: Freak Fur, Strong Reaction, Good Intentions, Paura, além da nova banda do lendário guitarrista John Porcell (Youth Of Today, Shelter e Judge), formação que figurou no “lado gringo” das atrações da noite; estamos falando do Values Here. Infelizmente, pelos motivos descritos nas linhas anteriores, não foi possível conferir a apresentação do Freak Fur. E logo ao adentrar o recinto, já nos deparamos com o Strong Reaction de Americana/SP no palco, ao mesmo tempo em que o publico ia ocupando os espaços do Fabrique Club. O show dos caras foi intenso, e naquele momento já era possível testemunhar reações mais efusivas dos que ali estavam.

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Com uma dinâmica de circuito de Fórmula 1, o palco foi rapidamente preparado para o Good Intentions - terceira atração da noite. Com anúncio de despedida dos palcos, a banda preparou um setlist que agradou em cheio ao bom público que ficava cada vez mais numeroso, e que proporcionou uma festa digna da história construída por seus integrantes. Mais um capítulo que se encerra, mas certamente ainda veremos Fausto Oi e André Vieland em outros projetos agitando a cena underground.

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Sem muito tempo para respirar, o Paura fez aquele ‘arregaço’ habitual. Na ocasião, Fábio Prandini – frontman da banda, comemorava 52 anos de vida e agraciou o publico com uma chuva de balas de iogurte. Além disso, a virulência sonora “comeu solta” naquele ambiente que mais parecia um centro de exorcismo, fato esse corroborado pela enorme quantidade de socos e chutes no ar (quem já esteve em um show dos caras, sabe bem do que estou falando!). “No Hard Feelings!? Fuck You!” e “Urban Decay”, foram dois dos destaques de uma apresentação primorosa! Não poderia faltar o “Parabéns pra você” e o discurso enfático contra a extrema direita brasileira – que mesmo não estando no poder, tem sido responsável por muitos absurdos no cenário da política nacional.

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O Values Here, ficou com a missão de realizar o penúltimo show da noite. Com uma sonoridade mais pop, a banda teve uma recepção bem contida por parte do público, e mesmo com o esforço e carisma da vocalista Chuí, a audiência se manteve comportada. O destaque da apresentação ficou por conta do cover de “Young ‘Til I Die” do 7 Seconds.

Foto: Roberio Lima

E eis que finalmente a espera de dez anos chegaria ao fim dali a alguns minutos. Da última vez que tocaram em São Paulo no extinto Clash Club com os comparsas do Judge, fizeram um show intenso, e não seria necessário possuir poderes sobrenaturais para prever algo no mesmo patamar para esse show!

Quando dois senhores se posicionaram do lado direito do palco empunhando cada um o seu trompete, os ânimos ficaram aflorados e os instintos primitivos vieram a tona. Quando iniciaram a introdução de “New Direction” o acesso ao palco ficou incontrolável e os mergulhos se multiplicam rapidamente (e só estamos falando da introdução!). Anthony ‘Civ’ Civarelli tem um carisma absurdo e conduziu com maestria o pandemônio que se instaurou a partir do momento em que o Gorilla Biscuits entrou em ação.

São “apenas” dois discos lançados em uma carreira prestes a completar quarenta anos, mas que se tornaram a trilha sonora de muitas gerações. Em certo momento, entendi que a natureza e a vida propriamente dita, se encarregariam de conduzir aquele movimento uniforme de uma massa humana indissociável. “Degradation” , “Things We Say” e “Good Intentions” já não eram mais só canções do setlist, e se tornaram a trilha sonora da catarse que se instaurou naquele espaço. Ainda houve tempo para covers de Buzzcocks, Minor Threat e Warzone. O final desse dia histórico se deu com “Start Today”, e com o palco sendo completamente tomado pelo publico. O Gorilla Biscuits conta ainda em sua formação com Artur Smilios (baixo), Luke Abbey (bateria), Charlie Garriga (Guitarra) e Walter Schreifels (guitarra – e que já esteve nesse mesmo Fabrique Club com o espetacular Quicksand em 2018).

Me utilizo de um clichê habitual para definir tudo que aconteceu no dia 27/09/24 – ‘Foi histórico’!!