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Foto: Divulgação |
Stone Temple Pilots - Terra SP - São Paulo/SP - 22 de maio de 2025
Por: João Zitti
Fotos: Divulgação
Se há algo que imagino que seja desafiador para uma banda em turnê é realizar shows no meio da semana: afinal, as pessoas precisam remanejar suas rotinas por completo para conseguirem ir na apresentação, visto que elas ocorrem de noite e é praticamente impossível você estar de volta em casa antes das 23h (complicando bastante para acordar no dia seguinte para trabalhar ou estudar, especialmente se bate a famosa “depressão pós-show”, que certamente todo mundo já teve em algum momento). Isso tudo ainda com os agravantes de valores de transporte, comida, merch e do próprio ingresso podem ser a cereja no bolo pra que bata uma “preguiça” e parte do público desista de ir na apresentação (sem considerar a fatura no fim do mês, que é um pesadelo para uma boa parte das pessoas). Porém, nada disso representou algum tipo de obstáculo para o Stone Temple Pilots, que, com uma discografia consolidada e uma base de fãs apaixonada, conseguiu trazer uma casa lotada em plena quinta-feira no fim de maio.
Para quem não conhece, Stone Temple Pilots é uma banda da Califórnia surgida no final da década de 80-início de 90 que transita entre os gêneros de grunge e rock, sendo originalmente formada por Scott Weiland (vocalista), Eric Kretz (bateria) e os irmãos Dean DeLeo (guitarra) e Robert DeLeo (baixo). Dona de hits como “Plush”, “Vasoline” e “Dead & Bloated”, a formação atual do grupo é praticamente a mesma, com exceção dos vocais, que agora são protagonizados por Jeff Gutt.
A noite começou com o show de abertura da banda Velvet Chains, surgida em Las Vegas e com uma discografia relativamente curta e recente, contando com somente um álbum de estúdio lançado em 2025 (chamado “Last Rites”), além de diversos singles que vão desde covers de canções extremamente conhecidas (como é o caso de “Suspicious Minds”) até canções autorais e mais recentes (como “Ghost In The Shell”, lançado na segunda metade de maio e que tem tudo para ser um dos maiores sucessos da banda). Ainda que em uma performance curta, a banda conseguiu preparar muito bem o terreno para a atração principal, gerando empolgação por parte do público com as canções executadas no palco (algo que pode ser complicado de ser feito às vezes, podendo resultar em um tiro pela culatra) e conquistando uma quantidade significativa de fãs, que marcaram uma maior presença na barraca de merch após o show do que na própria tenda de produtos do Stone Temple Pilots (fato esse que foi auxiliado, também, pelos valores exorbitantes que infelizmente estão sendo cobrados nos produtos dentro dos shows).
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Foto: Divulgação |
Em relação ao local que o show ocorreu: a Terra SP, localizada na região de Santo Amaro, possui como um todo uma ótima estrutura, sendo extremamente fácil de acessar e transitar dentro dos setores disponíveis, contando com diversos andares de camarote e uma divisão entre pista e pista premium que se dá quase que meio-a-meio, evitando superlotações de setores. A qualidade sonora também não deixa a desejar, possuindo dois blocos principais de caixas de som localizadas em cima do palco e que possibilitam que o público possa escutar com total clareza a apresentação de qualquer parte da casa (o que é algo essencial e que, em algumas casas, isso não acontece). A única crítica, porém, se dá em relação à estruturação dos pilares da casa, havendo uma coluna construída no meio da pista que, dependendo do local em que você fique, pode complicar e muito sua experiência ao assistir a apresentação, somente sendo possível “fugir” completamente desse obstáculo caso você esteja na pista premium ou na lateral quase que em 90 graus com o palco.
A apresentação da banda principal ocorreu não só com pontualidade, mas até com uma certa antecipação (ainda que de dois minutos) em relação ao programado, iniciando-se às 21h28 com a energética “Unglued”, criando bases sólidas para que o público ficasse extremamente empolgado e engajado com a banda pelos próximos 90 minutos (que foi o tempo aproximado da apresentação). E que show espetacular que a banda realizou! A começar pelo setlist: a escolha das 17 faixas que compuseram o repertório da apresentação foi extremamente acertada e adequada, trazendo em quase sua totalidade clássicos dos dois primeiros discos de estúdio do grupo, que são o “Core”(de 1992) e o “Purple”(de 1994), trabalhos esses que são indiscutivelmente os maiores sucessos da banda e que exemplificam muito bem a sonoridade grunge dos anos 90 (com muitas similaridades com o grupo “Alice in Chains”, ainda que com um estilo próprio muito bem marcado).
Outro ponto também de grande destaque (e uma grata surpresa) foi a parte visual: claro, isso não se deve ao telão do grupo (que ficou estático o show inteiro com a logo da banda), mas sim ao trabalho de iluminação realizado, que traz um conjunto de combinações de cores que não só são muito agradáveis visualmente, mas também são um ótimo complemento para trazer toda a estética do movimento que o Stone Temple Pilots integrou nos anos 90. Isso tudo também auxiliado pelo desenho de luzes realizado durante a performance, que tingia estrategicamente os integrantes da banda e criando, assim, um contraste visual que certamente amplificou a força da apresentação.
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Foto: Reprodução / Trecho do videoclipe "Vasoline" |
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Foto: Reprodução / Apresentação da banda em 2017/2018 |
A banda como um todo apresentou performances espetaculares e que trouxeram com maestria toda a essência dos primórdios do grupo, mas o grande destaque da noite foi para o vocalista Jeff Gutt: aos que não o conhecem, Jeff foi vocalista da banda de Nu-Metal “Dry Cell”, e foi o grande responsável por suceder os vocais do Stone Temple Pilots, ocupados anteriormente pelos falecidos Scott Weiland (o frontman original do grupo) e Chester Bennington (uma das mais influentes figuras do Nu-Metal e dono de uma voz de destaque no grupo Linkin Park). As expectativas eram altíssimas de serem atingidas (visto os nomes que o sucederam), mas a grande verdade é que ele está muito longe de desapontar: durante toda a performance, Jeff apresentou vocais primorosos e que se assemelhavam (e muito) aos de Scott, sendo uma peça essencial para que fosse recriada com louvor a atmosfera dos dois primeiros discos da banda. Além do mais, a combinação de estilo, confiança e simpatia fez com que o mesmo brilhasse em cima do palco, passando a maior parte do show cantando em contato direto com o público e protagonizando momentos que reforçaram ainda mais a sua figura carismática, como: pegar o celular de um fã na plateia e se filmar cantando diretamente para a câmera; entregar uma rosa a um fã durante a faixa “Interstate Love Song”; e, pra finalizar, se jogar na plateia ao final de “Sex Type Thing”, encerrando o show com tudo e reforçando as expectativas existentes para o seu show seguinte em Brasília, onde foi uma das principais atrações do “Porão do Rock 2025”.
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Foto: Divulgação |
A banda expressou toda a sua empolgação e carinho com o público brasileiro nos intervalos entre canções durante a apresentação, e não é para menos: quando você vai em um show, é de se esperar que a plateia esteja empolgada (obviamente, caso contrário não estariam ali), mas a energia e animação dos fãs do Stone Temple Pilots era simplesmente impressionante e contagiante, vibrando e cantando todas as músicas do show como se fossem parte essencial da trilha sonora de suas vidas (e provavelmente eram). Mesmo com a casa cheia, parte dos fãs tentou até mesmo abrir um mosh pit na pista comum (que durou pouco, mas certamente valeu a intenção). A comoção e a conexão com os artistas no palco foi tão grande que a quantidade de celulares filmando a apresentação foi pouquíssima, fenômeno esse que é raro atualmente e que é extremamente incentivado por artistas como Bruce Dickinson e Tobias Forge (que chegou a proibir o uso de celulares na atual turnê da banda “Ghost”). Isso foi mais do que reconhecido pela banda, que revelou estar animada para retornar ao país novamente e, se possível, no ano que vem.
Com um setlist formado pelos “Greatest Hits” da banda e performances vibrantes e energéticas, Stone Temple Pilots trouxe um show impecável e marcante em meio a uma quinta-feira tímida em São Paulo, compartilhando uma paixão tão grande pelo país quanto de seus fãs brasileiros e que, se tudo der certo, irá ser presenciada novamente em breve (assim esperamos e torcemos!).
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Foto: Divulgação |
SETLIST:
01. Unglued
02. Wicked Garden
03. Vasoline
04. Big Bang Baby
05. Down
06. Silvergun Superman
07. Meatplow
08. Still Remains
09. Big Empty
10. Plush
11. Interstate Love Song
12. Crackerman
13. Dead & Bloated
14. Trippin’ on a Hole in a Paper Heart
15. Kitchenware & Candybars
16. Piece of Pie
17. Sex Type Thing
Agradecimento a Catto Comunicação e Rider2 pelo credenciamento e Terra SP pela atenção