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9 de julho de 2025

Album Reviews: Maestrick - Espresso Della Vita: Lunare (2025)

Arte: Juh Leidl


Por: Alexandre Veronesi - Colaborador Big Rock N' Roll  


Sejamos honestos: o Brasil nunca foi exatamente uma referência em se tratando de Prog Metal. Muito embora hajam formações que apostem na mescla do subgênero com outros diversos, especialmente o Heavy e o Power - o próprio Angra é um bom exemplo disso - além de nomes que causaram alguma repercussão durante seu período de existência, como é o caso do MindFlow, este nicho específico ainda carece de maior representatividade por aqui. Bem, no que depender do Maestrick, tal cenário poderá mudar muito em breve.

Fundada em 2004 na cidade de São José do Rio Preto (interior de São Paulo), a banda estreou em estúdio com o EP "H.U.C." (2010), para já no ano seguinte soltar seu primeiro álbum cheio, o muito bem recebido "Unpuzzle!", e a verdadeira consagração dentro do âmbito nacional veio com "Espresso Della Vita: Solare", disco de 2018 que marcou a primeira etapa da história conceitual do grupo sobre a jornada da vida, representada na obra por meio de uma viagem de trem. Com nada menos do que uma pandemia no caminho, a aguardada segunda parte enfrentou atrasos e outros percalços, até que pôde ver a luz do dia em 02 de Maio de 2025, e eis que "Espresso Della Vita: Lunare" encontra-se finalmente entre nós, uma cortesia da renomada gravadora italiana Frontiers Records.

O line-up atual - e naturalmente, responsável por esta gravação - permanece contando com Fábio Caldeira (vocal, piano e teclado), Renato Montanha (baixo) e Heitor Matos (bateria), os membros originais do Maestrick, acrescido por Guilherme Henrique, músico que em 2019 assumiu as seis cordas da banda.

A introdução "A Very Weird Beginning" é basicamente uma narração com piano ao fundo, que rapidamente dá lugar a "Upside Down", com seu clima e pegada quase circenses - consigo facilmente imaginar Caldeira aqui portando uma cartola e terno colorido enquanto canta - detentora de um dos refrãos mais poderosos do registro. Na sequência, vem "Boo!", faixa bastante pesada que flerta com o Heavy Metal mais tradicional (da escola moderna), com destaque para as linhas de guitarra, além da boa participação de Tom S. Englund, frontman do Evergrey; "Ghost Casino", uma interessante representação de teatro musical, com vocais dinâmicos e um arranjo recheado de variações melódicas; e então, "Mad Witches", a primeira faixa de longa duração (9 minutos), detentora de um lindo início em piano e voz - com passagem similar ao meio - que logo ganha contornos dramáticos, diversas mudanças rítmicas, e possui um dos melhores solos do disco.


A audição segue com a balada "Sunflower Eyes", que particularmente considero a faixa mais 'insossa' do repertório, mas as coisas logo voltam aos trilhos em "The Root", canção Prog Metal raíz - com o perdão do trocadilho - que chega até a lembrar Dream Theater em alguns momentos, altamente pesada, climática e de refrão denso, e devo evidenciar também o ótimo duelo de guitarra e teclado que a abrilhanta. "Dance Of Hadassah" possui um tom enigmático e carrega a interpretação mais sublime de Caldeira, além da bela passagem executada pelo Coral Sharsheret, que é formado por mulheres judias, muitas delas sobreviventes do holocausto ou descendentes de sobreviventes.

Adentrando o quarto final temos "Agbara", uma quebradeira fortemente influenciada pela música regional nordestina, contando com incrível trabalho de groove por parte da cozinha rítmica de Montanha e Matos, algumas pontuais passagens em português e a sagaz adição de Jim Grey, vocalista da subestimada banda australiana Caligula's Horse; então, "Lunar Vortex" traz o lendário Roy Khan (Conception e ex-Kamelot), e a despeito da inclusão de efeitos eletrônicos de voz que considero bastante desnecessários, se revela mais uma boa canção. A próxima, "Ethereal", foi a primeira música de trabalho (lançada ainda em 2024), e é tranquilamente o som mais 'comercial' do álbum, estruturado de maneira bastante protocolar, mas não menos empolgante por isso, muito pelo contrário; e finalmente, "The Last Station (I A.M. Leaving)", um encerramento épico dividido em blocos quase perfeitos, e que cresce consideravelmente a cada ato apresentado, condensando em 18 minutos todo o excepcional trabalho de uma banda muito mais focada em riqueza de arranjos do que mero virtuosismo barato.

Em suma, "Espresso Della Vita: Lunare" é, no mínimo, tão especial e grandioso quanto o seu antecessor. Os 78 minutos que ostenta fluem com enorme organicidade, sem conter excessos ou 'gorduras', pois tudo está ali por uma razão, todas as nuances, detalhes, e dessa forma a engrenagem trabalha 100% em prol da arte. Sem sombra de dúvidas, um dos grandes lançamentos do ano!

Foto: Herick Mem


Maestrick - Espresso Della Vita: Lunare (2025)

Data de lançamento: 02/05/2025

Gravadora: Frontiers Records


Tracklist:

01 - A Very Weird Beginning

02 - Upside Down

03 - Boo!

04 - Ghost Casino

05 - Mad Witches

06 - Sunflower Eyes

07 - The Root

08 - Dance Of Hadassah

09 - Agbara

10 - Lunar Vortex

11 - Ethereal

12 - The Last Station (I A.M. Leaving)


Formação:

Fábio Caldeira - voz e piano

Guilherme Henrique - guitarra

Renato Montanha - baixo

Heitor Matos - bateria

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