Divulgado quatro dias antes de sua morte, o clipe de David Bowie "Lazarus" mostra o artista lutando contra um lado sombrio. Depois da versão excêntrica do espaço retratada em "Blackstar", o diretor Johan Renck apresenta a última persona criada pelo artista, deixando diversas pistas sobre a visão de Bowie sobre a mortalidade. A gravação do álbum coincidiu com os dezoito meses em que ele lutava contra o câncer.
"Sua morte não foi diferente de sua vida, uma obra de arte", comentou o produtor e parceiro musical Tony Visconti na manhã desta segunda, 11. "Ele criou Blackstar para nós, seu presente de despedida. Eu sabia por um ano que seria da forma que foi. E, ainda assim, não estava preparado para isso."
Nas mídias sociais, os fãs passaram a tentar decifrar os vídeos. "Ainda não posso acreditar que ele subiu esse vídeo apenas três dias antes de partir. Foi planejado. Ele sabia sobre isso. Que gênio, que perda para o mundo", escreveu Imran Nazir. "Blackstar" é uma visão abstrata da odisseia clássica de Bowie. É ele dizendo adeus", escreveu The Leathery Man. Para a revista britânica NME, "Bowie estava tentando nos dizer que estava morrendo". Liam Dryden, diz: "'Lazarus' é provavelmente o lançamento mais sombrio que qualquer artista já lançou, descanse em paz, Starman."
Batizado por Renck e Bowie de Button Eyes (olhos de botão), o personagem central sai do armário para um quarto sombrio. Ou seria um hospital? Diretor convidado em séries como Breaking Bad e The Walking Dead, Renck contou em entrevista ao site Noisey, que o personagem "é um tipo de introvertido, um atormentado". Ele ainda explicou que Bowie enviou desenhos para inspirá-lo. "Me disse: quero apenas uma máscara com olhos de botão.”
No curta "Blackstar", com cerca de dez minutos de duração, Bowie mostra uma visão perturbadora do espaço, tema que o fascinava desde de sua "Space Oddity" (1969). O vídeo mostra ainda um astronauta morto, uma possível referência a Major Tom.
"Lazarus" também é o nome do musical de Bowie, protagonizado pelo ator e cantor Michael C. Hall e escrito pelo músico e dramaturgo irlandês Enda Walsh. Trata-se de uma sequência do longa The Man Who Fell to Earth (1976) e conta a história surreal de um milionário alcoólatra, Thomas Newton. Em uma das cenas, após beber gim compulsivamente no seu apartamento decadente, ele está tão fora de si que começa a ter alucinações.
Renck disse anteriormente que é desnecessário qualquer esforço de interpretação, uma vez que o vídeo é resultado de conversas pessoais entre ele e Bowie. "David é um leitor voraz e realmente brilhante. A profundidade das referências é um abismo. Ele sabe tudo, já viu de tudo. E depois de fazer tudo o que ele tem feito por tanto tempo, ainda é grandiosamente curioso e criativo. Diz apenas: 'vamos explorar, vamos tentar algumas coisas e ver o que acontece'."
Leia letra de "Lazarus", último single de Bowie:
"Olhe para mim, estou no céu
Tenho cicatrizes que não podem ser vistas
Tenho drama, não pode ser roubado
Todo mundo me conhece agora
Olha aqui, cara, estou em perigo
E nada tenho a perder
Estou tão alto que faz o meu cérebro girar
Deixei cair meu celular abaixo
Isso não é tão eu?
No momento em que cheguei a Nova Iorque
Eu estava vivendo como um rei
Então usei todo o meu dinheiro
Estava olhando para sua bunda
Desta maneira ou de nenhuma maneira
Você sabe, eu serei livre
Assim como aquele pássaro azul
Agora, isso não é tão eu?
Oh, eu estarei livre
Assim como aquele pássaro azul
Oh, eu estarei livre
Não é que, isso é tão eu?"

 


Fonte: Rolling Stone Brasil