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16 de agosto de 2021

De Papo Com... Sascha Gerstner

Foto: Divulgação


O repórter Big Rock JAIR Cursiol Filho conversou por 40 mintuos com o guitarrista SASCHA GERSTNER (Helloween) sobre o lançamento do disco "Helloween", o primeiro da banda após o retorno de Michael Kiske e Kai Hansen à banda e o primeiro com 3 vocalistas na história da banda!

Confira!

*O áudio da entrevista na íntegra, em inglês, está disponível em nosso podcast: https://anchor.fm/big-rock-n-roll



Jair: Em primeiro lugar, meu nome é Jair e sou repórter do Big Rock 'N Roll, que é um site brasileiro. Eu gostaria de agradecer o seu tempo. E também de parabenizá-lo por aquele que é, na minha opinião, o álbum mais original do Helloween desde que o Helloween começou. Eu amei. É muito Helloween, mas também é muito diferente. Embora o mais diferente seja o "Unarmed", que na verdade é o meu favorito. É o que eu mais ouço.

Sascha: Ah, que bom! Eu quase não ouço isso das pessoas. Você sabe, é bom.


Jair: Sim, tenho a sensação de que os fãs não entenderam direito. Mas eu acho incrível. E eu posso ouvir com minha mãe, avó e todo mundo.

Sascha: Está vendo!?

Foto: Divulgação


Jair: Sério! É metal sem ser metal. É muito legal. Então, vou começar com algo que acredito que afeta você diretamente. O Helloween está em uma situação parecida com a do Iron Maiden, com três guitarristas? Isso afetou sua composição de alguma maneira? Porque você também é compositor. O que você acha disso? Ou isso é algo pensado depois, que vocês só fazem no estúdio ou enquanto faziam as demos?

Sascha: Não, de modo algum. Tenho que dizer, na verdade, não sei como o Maiden está fazendo, mas no nosso caso, foi como se a banda já existente ganhasse um grande acréscimo com os dois novos membros antigos. E assim foi como nós fizemos. Não foi uma reunião em si. Foi mais ou menos como o espaço da banda que já existia e mais dois caras se juntaram à banda novamente. Todo mundo nessa banda já tinha seu espaço e tivemos que abrir espaço para mais pessoas, sabe? Essa é a situação com as guitarras também. Claro, quando fazemos shows ao vivo, eu não toco mais tantos solos de guitarra, é claro, porque você meio que divide, mas tudo bem, porque todo mundo tem sua posição na banda. E como você disse antes, também para composição, ninguém me falou "não escreva mais música", ou algo assim. Então era mais ou menos, como, “todos continuem como eram, nós apenas nos juntamos a vocês”, da perspectiva do Kai [Hansen] e Michael [Kiske], eu acho. E trabalhamos nisso enquanto estivemos em turnê. Então, é claro, quando você vai para o estúdio, é uma situação diferente e você tem que se acostumar com o trabalho do outro, mas essa é a questão aqui: cinco pessoas trabalharam juntas por um longo tempo, e nós desenvolvemos o procedimento perfeito para não matar um ao outro. Essa é uma parte importante quando você tem tantas personalidades fortes em uma banda: vocês precisam ficar juntos e respeitar um ao outro. Então, antes, trabalhamos no procedimento perfeito para gravar álbuns e teríamos os dois novos caras antigos entrando, e eles têm que se acostumar com isso e nós temos que nos acostumar com a energia deles também. Então fazer uma turnê antes ajudou muito, porque nós soubemos que não havia nenhum idiota na banda. Nós nos amamos, é isso. A propósito, desde o show do Rock in Rio no Brasil, estávamos em um grande hype, saímos da turnê e toda a turnê foi incrível. E nós estávamos pegando fogo para fazer esse álbum, então não havia limites nem houve momentos de desconfiança ou algo assim. Havia liberdade total para qualquer pessoa ter ideias.


Jair: Que legal! Bacana. Ainda sobre essa história dos três guitarristas, o que foi mais difícil: escrever novas músicas para três guitarristas (porque você tem escrito para dois músicos por cerca de 20 anos, desde que se juntou à banda), ou adaptar as músicas antigas para ter Kai no palco tocando juntos? O que foi mais difícil e o que foi mais fácil, se é que houve alguma diferença?

Sascha: Na verdade, não há muita diferença. Porque normalmente o que fazíamos era - mesmo que tenha um ou dois guitarristas na banda, tem muito mais partes e faixas no álbum de estúdio do que você pode reproduzir em um show ao vivo. E isso nos ajudou muito para o show ao vivo também. Porque nós, por exemplo, fazíamos coisas como ter três solos de guitarra na “Dr. Stein”, que não existiam antes; e eu tenho que dizer que, pessoalmente, não ligo muito para solos de guitarra. Porque para mim, a questão é a música e mesmo nos materiais antigos nos discos do Keeper [Of the Seven Keys 1 e 2], há tantas guitarras nas gravações. E eram dois guitarristas na banda. Não dá para tocar todas as partes. Então, na verdade, ter três guitarristas ajuda, porque então é muito mais fácil reproduzir o que está gravado. E o mesmo acontece agora: não estamos escrevendo explicitamente para três guitarristas. Você meio que escreveria para três cantores, porque haveria músicas onde você diria 'tudo bem, com esse tipo de canto dá para...'. Por exemplo, “Angels” escrevi especialmente para Michael Kiske, porque conheço sua voz e sei do que ele é capaz. E eu queria escrever uma música onde ele pudesse brilhar. Eu poderia usar toda a gama de suas habilidades vocais, você sabe, e brilhar. Então daria para fazer coisas assim. Mas para tocar guitarra, na verdade - e eu posso falar por Weiki e Kai também - nós não nos importamos. Queremos apenas escrever boas músicas. E o resto, como vamos dividir as coisas, veremos. A questão mais importante era ter a magia e a energia acontecendo, como tivemos vida na turnê. Todo mundo que viria para ver um show de Helloween entenderia que se tratava de energia e vibe. E isso é o que queríamos reproduzir no álbum também.


Jair: Eu não estava no show do Rock in Rio, mas fui eu no Wacken [Open Air] e foi incrível. O show gravado para o DVD. Tinha muita energia. Foi um dos melhores shows que vi na minha vida. 

Sascha: Bacana. 

Foto: Divulgação


Jair: Este é o primeiro álbum em que Kai está cantando, embora Kai não cante muito hoje em dia. E Michael Kiske também. Para você, essa nova experiência foi difícil? Você teve que pensar ‘ok, estou escrevendo muito para Kiske e estou esquecendo Andi’ ou isso nunca passou pela sua cabeça?

Sascha: Não, nunca. Quer dizer, devo dizer que o foco estava mais ou menos em Michael e Andi como sendo os novos cantores, já que Kai é um ótimo guitarrista, sabe? E do meu ponto de vista, claro, ele grita muito bem e é um bom cantor também. Mas do meu ponto de vista, na turnê - e eu pude ver como os fãs reagiram - é claro que Kai tem seu lugar e seu holofote. Ele fez ótimas coisas com o Gamma Ray e, claro, no álbum Walls of Jericho. Mas eu diria que os verdadeiros cantores da banda, tipo 'este é um cara da frente cantando, apenas cantando' são Michael e Andi. Então o foco também foi esse, para os shows ao vivo: como eles se misturariam nas músicas. E há músicas que são perfeitas para Michael. Tenho que dizer que temos muitos cantores na banda agora e isso não está causando problemas. Ter muitos guitarristas nessa banda também não, porque nos damos muito bem. Então é saudável, porque você pode criar coisas como Angels, mas também coisas como “Mass Pollution”, onde Andi simplesmente brilha, sabe? E há músicas em que os três cantam como “Skyfall”. Havia uma versão em que Kai cantava e funciona muito bem, mas é uma história totalmente diferente, se você tiver três cantores nessa faixa. Porque está dando mais variedade e mais poder à música, e eu acho que isso é o mais importante: ter mais cores. E estou sempre pensando, por exemplo, se você pega bandas fora do gênero metal, se você pega bandas como Chicago ou Toto. O Toto tem toneladas de sucessos de rádio com cantores diferentes, porque há grandes cantores na banda. E eu tenho a sensação de que no mundo do metal, o Helloween é uma banda que pode fazer algo assim, o que é engraçado, porque nesse álbum eu estava cantando em "Best Time" e muitas pessoas estavam pensando 'Oh, três cantores de novo', porque existem, de fato, três cantores diferentes. Mas o terceiro é a minha voz, o que é meio engraçado, porque é a primeira vez que eu cantei em um disco do Helloween, sabe? O que é uma loucura e eu estava pensando quando isso aconteceu. Porque, em certo momento, Andi [Deris, vocal] e Charlie [Bauerfind, produtor] me ligaram, perguntando se eu estava bem com isso, com minha voz lá, e eu tipo, 'sim, isso é bem legal'. E eu pensei comigo mesmo, 'ei, é tipo Toto', sabe? Então temos essa parte onde Steve Lukather [guitarrista do Toto] canta uma bridge, ou o refrão, ou o que quer que seja, e é pela música. É brilhante, porque dá mais linguagem e mais cor para a música.


Jair: Na verdade, estou surpreso que era você cantando, porque não está, pelo que eu vi, não está nos créditos do livreto; pelo menos não diretamente o seu nome.

Sascha: E você consegue ouvir. Dava para ouvir? Não é Kai cantando.


Jair: Eu estava pensando que era Kai. Isso foi muito bom. Na verdade, é minha música favorita do álbum, a “Best Time”.

Sascha: O que eu queria dizer com isso é que apenas dá um pouco mais de cor à música; mostra que estamos tendo a liberdade ou a oportunidade de usar todo o talento que há na banda. Então é ótimo. E o mesmo vale para a guitarra, sabe? Tem três guitarristas diferentes que estão "falando a mesma língua" quando se trata de preferências. São três linguagens diferentes, mas dá muito mais valor à música, eu acho.


Jair: Okay. Quando você mencionou o Toto, eu estava pensando nos Beatles, onde todos os quatro eram cantores. Então há muitas cores, vozes e oportunidades diferentes em um álbum ou em uma música. Sobre as influências no álbum: neste álbum dá para ouvir um pouco de cada era do Helloween. Por exemplo, há músicas que poderiam claramente estar no "Seven Sinners", tipo "Mass Pollution", ou músicas que poderiam estar nos "Keepers". Isso foi algo planejado? Ou simplesmente aconteceu?

Sascha: Não, cara, nós apenas escrevemos músicas do jeito que escrevemos. Não tinha planejamento. O único plano que tínhamos - e veio basicamente da cabeça de Charlie [Bauerfeind, produtor] - era recriar a vibe que a banda tem quando estamos no palco, com todos os sete membros juntos, criamos uma grande quantidade de energia e caos. É esse tipo de caos e energia que queríamos recriar no álbum, mas as músicas cada um tem um estilo de compor. Andi não mudaria seu estilo de composição só porque poderia haver alguma pressão ou coisa do tipo. Nós apenas escrevemos do nosso jeito. E no final, se todos os membros estiverem gravando as músicas, será o Helloween. E foi o que fizemos. Além disso, o jeito como as coisas aconteceram... eu acho que se houvesse um plano, teria sido genial se terminar assim. Porque agora é um álbum tipo coletânea das melhores só que com músicas novas, sabe, mas não era esse o plano. Acontece que o único plano era ter as melhores músicas no álbum e criar o máximo de energia que pudéssemos e a melhor vibe que pudéssemos ter de cada membro da banda; e isso foi o mais importante para nós. Aliás, sempre. Quer dizer, mesmo antes dessa era. Sempre queremos fazer o melhor álbum que conseguimos fazer. Naquela época, a gente nunca estava se segurando, tipo, 'talvez dessa vez não devêssemos fazer um álbum tão bom', sabe? Ninguém faria isso. Queríamos fazer o melhor álbum e com este álbum é a mesma coisa, agora que Kai está de volta. Eu tenho que dizer, com uma faixa tão incrível como "Skyfall", você pode ouvir o valor e está dando muito impacto ao álbum todo, ter sete membros. É muito bom. Você sabe, não há nenhum plano para fazer tipo 'ah, aqui vamos ter uma pegada mais old school e aqui, uma pegada mais new school' ou qualquer coisa assim. Ao mesmo tempo, a banda tem quase 40 anos de carreira com muitos álbuns diferentes. Como você mesmo disse, tem o álbum "Unarmed", mas também tem um "Master of the Rings", um "Chameleon" e tudo o mais, sabe, "The Dark Ride"... Cada álbum do Helloween foi corajoso, em certo sentido, porque a banda sempre quis escrever música boa. E eles, eu diria, talvez o Helloween seja uma das bandas de metal mais rebeldes que existe. Porque, mesmo antes de eu entrar na banda, eles estavam testando coisas que provavelmente ninguém faria, e isso deu à banda, ao longo dos anos, uma variedade musical maior e mais ampla. E, nesse sentido, conseguimos escrever canções para este álbum também. Mas tendo essa vibe old school também, que veio com certas ideias, por exemplo, como Dani [Löble, baterista] gravando na bateria que era de Ingo [Schwichtenberg, falecido ex-baterista da banda], e então Charlie disse, 'Ok, se você quer ir por esse caminho, vamos gravar a bateria em fita', você sabe? E então, quando começamos com as gravações de guitarra, pensamos 'ok, que tipo de '... ele sabe, por exemplo, que sou um colecionador de equipamentos dos anos 19 80; que eu teria sintetizadores, reverbs, delays e coisas assim, que estou usando muito para gravações. E ele disse, 'Ok, agora que estamos nessa vibe retrô, como podemos colocar isso no álbum?' E foi o que a gente fez. Mas, ao mesmo tempo, não queríamos que soasse retrô ou old school. Queríamos ter a vibe, mas ao mesmo tempo, queríamos criar uma nova era, sabe? 

Foto: Martin Häusler

Jair: Você mencionou em outra entrevista para algum outro site brasileiro - agora não estou me lembrando qual - que, no começo, no seu início com o Helloween, nada havia preparado você para o que o Helloween era e que você visitou Andi [Deris] e Michael [Weikath] nos Estados Unidos, e eles só esperavam que suas músicas estivessem no mesmo nível, e nada preparou você e seu primeiro show - acredito que tenha sido no Brasil, na verdade. Você sentiu alguma pressão agora com o retorno de Kai e Kiske? Você estava preparado para essa experiência? Ou, agora que você tem 15, quase 20 anos com o Helloween, foi uma experiência totalmente diferente?

Sascha: Não, eu tenho que dizer que a diferença aqui é que, se você tem mais gente, há diferentes mecânicas surgindo, tipo a estrutura social da banda está mudando; mas como eu disse antes, a turnê anterior ajudou muito e eu também tenho que dizer, com Kiske, por exemplo, eu tenho um ótimo relacionamento desde o início. No primeiro ano em que o conheci, tivemos uma conexão instantânea, falávamos no telefone de vez em quando, e mandávamos mensagens um para o outro algumas vezes na semana, sabe? Tivemos uma ótima conexão e isso ajuda muito. E também, quando a ideia surgiu, a banda e também o empresário deram o sinal imediatamente para Andi, e claro também para Dani e eu, que a banda existente, continuará existindo. Quando Kai ou Mike ou ambos se juntaram à banda - eu só estou supondo -, para eles foi uma coisa com a qual eles tiveram que se acostumar, porque para mim, ainda era a mesma banda, os caras que eu amava e com quem estava trabalhando. E por muito tempo. E eu acho que para Kai e Michael [Kiske] era uma situação nova, porque eles não encontraram a banda que haviam deixado 20 anos antes; eles não encontraram mais a mesma banda. É uma banda diferente agora. E, ao mesmo tempo, é a mesma. Então não ... ter 25 anos e entrar para uma banda lendária, naquela época, tudo o que aconteceu foi muito impressionante. Além disso, eu estava meio fora da cena do heavy metal. Tudo aconteceu tão rápido. E, ao mesmo tempo, eles esperavam que eu escrevesse ótimas músicas. Então era uma situação diferente. Agora... com toda a história do "Pumpkins United", a turnê e o álbum, eu não me sentia mais assim. Porque, você sabe, eu gravei muitos álbuns com essa banda e há muitas das minhas músicas lá, muito da minha guitarra tocando lá. E me sinto muito, muito confortável com isso. No final, é uma questão de respeito. Eu me lembro dos primeiros ensaios que fizemos quando Michael Kiske veio até mim e disse: 'Uau, você está tocando guitarra muito bem', sabe? Portanto, a questão é o respeito que todo mundo tem um pelo outro. E também, Kai e eu, antes da turnê do "Pumpkins United", nos sentávamos na casa dele e tocávamos guitarra juntos. E isso ajuda muito a construir confiança, sabe, parecia que ele, eu pensava 'Ok, esse cara é ... ele está ... ele está me respeitando'. E não há nada de competição e ta l. E eu tenho que dizer que eu não sou assim. Para mim, estar em uma banda significa estar em uma banda com um grupo de pessoas, um time que está criando algo bem legal e isso sempre foi a coisa mais importante para mim. E se eu não quiser isso, vou fazer projetos solo, sabe? Se você não quer estar em uma banda e se socializar com outras pessoas, ou se você quer fazer uma competição, talvez você deva ser um artista solo. Você não é o cara certo para uma banda; e eu sempre fui um cara de banda. Adoro estar junto e tocar com outras pessoas. Portanto, não havia nada a que eu tivesse que me acostumar.


Jair: Que legal! Sobre Michael Kiske ... ter dois Michaels em uma banda e dizer Michael às vezes é um problema.

Sascha: Bem, normalmente dizemos Weiki e Michael.


Jair: Isso deixa tudo mais fácil. Ok, bom. Bom saber. Então, sobre Michael. Eu me lembro... queria perguntar desde o lançamento do DVD, mas esta é minha primeira entrevista com alguém do Helloween. Então, eu tenho que perguntar agora. Lembro que, no Wacken [Open Air], Michael estava reclamando de uma gripe ou resfriado ou algo assim. Esse show também foi usado para o DVD ao vivo do United; não foi usado para a versão em CD, mas para o DVD. Como algo assim afeta a escolha dos shows para o show ao vivo?

Sascha: O que você quer dizer com escolha? Tipo escolher os shows para o DVD?


Jair: Sim, porque o Helloween tem o hábito de fazer a versão ao vivo, o DVD ao vivo, com três shows. Tem sido assim desde, pelo menos, eu acredito, o álbum ao vivo do Keepers em 2007. Desta vez, foram Wacken, Brasil e Espanha e apenas a Espanha foi usada para a versão em áudio. Por que essa diferença? E algo como a gripe ou resfriado de Michael afeta ou afetou a pós-produção?

Sascha: Não, a questão com esses shows é - e isso é o que fazíamos antes, mesmo com [Keeper of the] Seven Keys:The Legacy - na maioria das vezes você sai em turnê por talvez dois anos e participa de festivais e tal. Então, às vezes, os shows são gravados, o que também é ótimo, mas não é que foi planejado para estarem em um DVD; mais tarde, você ouve o material de que gosta, e aí é uma boa [ideia estarem no DVD]. Isso é muito bom. É um bom show e queremos que esteja no DVD também. Então nosso empresário dizia 'Ok, vocês querem ter todos esses shows em DVD. Como podemos organizar isso? ' Sabe? Algo do tipo. Quando tocamos em 2018 no show do Wacken - você mesmo disse - foi um show mágico e não estava planejado para fazer parte do DVD no início, porque sabíamos que iríamos gravar no Brasil e na Europa, e antes a gente já fazia esse negócio dos três continentes, sabe? Então é muito bom para os fãs ao redor do mundo fazerem parte disso; mesmo que não tenha o show do seu país, você pode ver que a banda estava em turnê pelo mundo todo. E há uma base de fãs ao redor do mundo que está gostando da música e aí às vezes tem esses shows mágicos que foram gravados, e você fica tipo..., sabe? Fizemos outro show muito bom no Chile, por exemplo, e tinha uma equipe de vídeo lá para gravar. Foi ótimo e, por motivos físicos, também não conseguimos colocar em um DVD. Mas basicamente, a voz do Michael nunca teve nada a ver com isso. Claro, seria uma droga, tipo na Espanha... aquele foi o show principal que gravamos e teria sido muito ruim se estivesse em mau estado. Mas quase nunca aconteceu, sabe? Ele estava lutando no início da turnê, bem no começo, ele pegou um vírus, foi um começo bem ruim. Eu acho que mentalmente também, porque esse é o primeiro show que fizemos reunidos e tudo mais. Bem, se você pegar uma gripe ou sei lá o quê, você pega ué, não tem nada que se possa fazer e aí então teria sido ruim para o show espanhol, ou para o show brasileiro, ou qualquer um. Mas ei... bate na madeira, deu certo e o show do Wacken foi ótimo. Então nós pensamos, 'Uau, este foi um show incrível'. Foi uma espécie de marco para nós também, sabe, ser a atração principal do festival Wacken e ter feito um show tão bom. E então queríamos registrar isso em um DVD.

Foto: Divulgação


Jair: Que legal! Eu realmente amei aquele show. Ficou muito bom. Eu tenho que perguntar pelos fãs, não sei se vocês planejaram fazer isso. Mas no começo, era para ser apenas uma turnê de reunião. Então se tornou uma turnê de reunião, um álbum ao vivo e agora um álbum de estúdio. Então o Helloween permanecerá para sempre uma banda de sete integrantes?

Sascha: Bem, você sabe, para sempre é algo muito forte. Mesmo no dia a dia com relacionamentos normais. Mas hoje é muito bom. E eu, pessoalmente, só espero que fiquemos juntos, porque é algo que faz muito sucesso e nos divertimos muito juntos. Recentemente, eu estava passando pelo meu telefone, vendo fotos ao longo dos anos... era como se eu estivesse observando o que estava acontecendo. E então eu vi um monte de besteiras que fazíamos nos bastidores, sabe, porque há muito bom humor na banda também. E eu acho que somos capazes agora de - porque somos adultos - conversar e superar se houver algum problema. Nós nos respeitamos. E eu só estou supondo que vamos ficar juntos o máximo de tempo possível, e espero que todos continuem saudáveis mais do que qualquer outra coisa, porque esse seria o pior cenário, se alguém ficasse doente ou algo pior, sabe? Então, considerando as personalidades e as coisas sociais, eu acho que podemos continuar assim. E acho que mostramos isso quando fizemos a turnê "Pumpkins United", sabe? A marca "Pumpkins United" foi a marca da turnê. Mas, em algum momento durante a turnê, lembro de estamos sentados juntos em algum aeroporto e conversar a respeito desse assunto, e então, instantaneamente, enquanto estávamos conversando e o manager apareceu, nós pensamos, 'Ei, ouça, podemos nos chamar de Helloween de novo, e não "Pumpkins United"? Porque estamos meio cansados dessa coisa de "Pumpkins United". Agora somos nós sete. É o Helloween.' E esse foi um momento mágico para mim. Porque é o que é. Parece certo. E essa é o motivo de eu ter dado a ideia de chamar o álbum [novo] de "Helloween", sabe, porque eu pensei que qualquer outro título também seria ótimo, mas este também é o começo de uma nova era. E é assim que a gente sente. E é assim a pegada do álbum também. Então, sim, poderia durar para sempre.


Jair: Que bom ouvir isso. Na verdade, é muito bom ouvir isso. Então eu tenho que perguntar: vocês estavam planejando fazer uma turnê este ano, e vocês têm shows planejados para o próximo ano. O quanto o Corona, essa situação da COVID, afetou o álbum e a banda? Quanto tempo você espera ou acredita que os efeitos nos shows ao vivo durem? Porque eu acredito que mesmo o Helloween, por maior que seja, ainda recebe mais receitas de shows do que de álbuns hoje em dia. [O mercado] é o que é. O mercado para bandas menores está ainda mais difícil. Mas está afetando as bandas há dois anos, quase dois anos agora. Então, quanto tempo você acredita que isso vai durar e o quanto afetou, se é que afetou, a gravação do álbum?

Sascha: Bem... sabe... Não tenho bola de cristal, então não posso prever o futuro. Essa é a questão, sabe? Isso nos afetou, porque não pudemos lançar o álbum no momento em que queríamos. E também, não pudemos sair em turnê, o que é uma droga. Porque eu, pessoalmente, adoro fazer turnês, adoro estar em turnê, adoro estar no palco e encontrar pessoas e obter essa energia durante os shows ao vivo, e fazer muitas viagens também, sabe? Isso está nos afetando muito, porque não podíamos fazer essas coisas. Mas, por outro lado, neste momento, devo dizer para nós foi meio perfeito para o álbum, porque pudemos, por exemplo, fazer esse ótimo clipe para "Skyfall", que levou seis meses para terminar. Não poderíamos fazer isso se tivéssemos o plano de lançamento normal. Se não houvesse COVID, talvez teríamos feito outro single, talvez uma música mais curta ou algo assim. É assim que trabalhamos, você sabe, e essa é a nossa personalidade também. E dentro da banda, é isso que temos em comum, embora sejamos pessoas muito diferentes, mas sempre tentamos ter uma perspectiva positiva das coisas. Você sabe, é claro, é uma situação de merda para todo mundo, não apenas para as bandas. Você estava perguntando especificamente sobre a banda, mas devo dizer que penso ainda mais nos caras que estão conosco há muito tempo em nossa equipe. É ainda pior para eles, porque contam com os shows ao vivo ainda mais do que as bandas, sabe? E depois tem outras profissões ou outras pessoas que sofrem mais do que nós, então eu não posso reclamar disso. Estou morando em um país bastante estável. Não mereci, ou sei lá o quê, acabei nascendo aqui, e fico feliz que tudo está meio que funcionando bem. E é uma situação de merda. E estou pensando mais nas pessoas ... Como penso na Índia, por exemplo, onde as pessoas estão realmente sofrendo. Na verdade, é o que eu sempre faço antes mesmo do COVID. Sempre fui muito grato pela minha vida e por tudo o que fiz. Então, eu não viria aqui em um canal como o seu reclamar sobre 'Oh, há COVID e não podemos fazer turnê'. Sim, é um saco. Não podemos fazer turnê. Isso é ruim. Mas muita gente tá pior, sabe? Portanto, não quero reclamar. Estou muito feliz por termos sido capazes dar um jeito e adiado as coisas e ainda termos conseguido fazer este ótimo vídeo. E então temos outro vídeo chegando. E também tivemos mais tempo para trabalhar os detalhes do álbum. E agora isso mostra que valeu a pena. E era para ser assim. E então eu só quero ser grato. E não quero reclamar da situação do COVID aqui.

Foto: Martin Häusler


Jair: Na verdade, é uma visão muito legal. Então, Sascha, recebi cerca de 30 minutos do seu manager. Acho que são quase 20h na Alemanha, certo? Portanto, vou terminar com uma pergunta totalmente não relacionada que uma amiga minha me fez. Ela disse que seu cabelo é lindo. E ela me perguntou, o que você faz para mantê-lo assim? 

Sascha: Okay. É, não sei o que responder, porque no fim das contas é só cabelo, sabe? E não é relacionado à música. Mas o que posso contar para você é uma história legal, porque muita gente, no passado, reclamava da minha aparência. Que eu não estava parecendo tão heavy metal. E a questão é - sobre aparência e cabelo e tal - que eu tenho que dizer que provavelmente eu sou a pessoa mais rebelde da banda, porque sempre meio que tentei me reinventar e nunca fui me prendendo a clichês, sabe? Eu nunca quis ser esse cara típico do metal em uma banda. E já fiz isso antes. E para mim, as coisas que eu fiz estão ficando chatas com muita rapidez. Quero recriar e me reinventar, então os looks são apenas uma coisa para se expressar. E eu vou dizer, toda essa coisa sobre o mundo do heavy metal, cabelo e aparência: eu meio que acho mais rebelde ir contra o estereótipo. E é por isso que meu cabelo é assim. E é por isso que tenho essa escolha visual estranha, de vez em quando. Porque para mim é disso que se trata o heavy metal: rebeldia e não ser um clichê nem um estereótipo. Então, é engraçado, porque muitas pessoas estão falando mais sobre minha aparência do que sobre minha música, você sabe, então... 


Jair: Bom… espero que você considere isso um elogio.

Sascha: Sim, com certeza. 


Jair: Ela adora seu cabelo.

Sascha: Total. Total. Eu entendi, mas achei que é uma boa oportunidade para explicar o que isso significa para mim, porque, em primeiro lugar, a música é o mais importante. E tem muita gente falando disso, dos visuais, sabe? 'Oh, esse cara tem um visual meio merda, e esse cara é gordo e blablabla, esse cara é careca' e coisas assim. E especialmente no mundo do heavy metal ... Em qualquer outro gênero, provavelmente, há mais coisas que são permitidas. E para mim, é só mais uma forma de expressão. Eu só queria dizer que, no mundo do heavy metal, eu acho meio engraçado que todo mundo esteja falando sobre ser verdadeiro, ser metal, ser hard e rebelde. 


Jair: E não deveria ser assim.

Sascha: Não, tem que ser rebelde. Mas se você quer ser rebelde, se é contra seus pais, ou o que quer que seja, quando você começa a ouvir heavy metal... no final, não é ser um clichê e se parecer com todo mundo... e o gênero não te torna rebelde, não te faz se encaixar; você está se misturando e nunca se vai se destacar. Estou sempre indo contra a corrente. E também na cena do metal, tem um certo mainstream, então eu meio que gosto de ir contra isso. E é por isso que meu cabelo é assim. Eu acho que Dani pensa do mesmo jeito. Nós temos sido como ... Não sei quando foi... talvez 2013 ou 2015, ou algo assim, não me lembro. Quando estávamos tomando café juntos, pensamos, 'Esse visual não funciona mais. Já é batido. É over'. Então, quisemos mudar um pouco. Eu estava me reinventando com minha outra banda Palast, que é meu trabalho solo e que não tem nada a ver com heavy metal, e eu queria recriar ou reinventar a persona para que se encaixasse nos dois mundos. Mas, ao mesmo tempo, sendo totalmente rebelde. E foi possível. Aliás, quero mandar um salve para minha banda [Helloween] porque eles estão permitindo isso. Porque é uma banda de metal de dinossauros old school, mas eles nunca chegariam em mim e diriam 'É, sabe... Por que você cortou seu cabelo?' Então, eu só queria fazer uma observação sobre esse assunto, porque é algo interessante quando se trata de heavy metal e ser verdadeiro e rebelde, sabe?


Jair: Okay. Muito obrigado, Sascha, pelo seu tempo. Espero que você tenha uma ótima noite e um ótimo fim de semana. Espero poder ver um show do Helloween aqui no Brasil em breve.

Sascha: Digo o mesmo. Fique bem, cara. E boa sorte com seu canal e tudo mais. Fique com saúde. Se cuide.


Jair: Você também. Muito obrigado.

Sascha: Tchau.


Jair: Tchau.



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Por: Jair Cursiol Filho

Agradecimento: Marcos Franke - Nuclear Blast

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