Translate

14 de abril de 2022

Album Reviews: Shaman - Rescue (2022)

Arte: Carlos Fibes

Rescue (2022), primeiro disco com Alirio Netto chega em 15 de abril às plataformas digitais.




Por: Jair Cursiol Filho - Repórter Big Rock


Chegando à todas as plataformas digitais nessa sexta-feira, 15 de abril de 2022, Rescue, resgate em português, não podia ter título melhor. Curiosamente, é um disco que já nasce com muita história. Rescue era inicialmente o título de um EP que o Shaman estava gravando em 2005/2006 logo após o lançamento de Reason (2005), agora o último disco com a voz de Andre Matos. Nele estariam presentes “Rio” e (veja só) “Rescue”, que acabaram saindo no disco Time to be Free (2007) da carreira solo do vocalista. Ricardo Confessori, baterista, seguiu lançando discos com o nome da banda enquanto Andre, Luis, Hugo e Fábio utilizavam o nome de Andre para lançar suas músicas (e brigavam na justiça para ter o nome de volta, que Ricardo acabou devolvendo). Nesse período, onde Immortal (2007) e Origins (2010) foram lançados, Ricardo quase chamou o seu primeiro disco com Thiago Bianchi, Léo Mancini e Fernando Quesada de Rescue.

Foto: Divulgação

A capa feita com o nome Rescue para o que se tornaria o disco Immortal (2007).


Quando em 2018 finalmente houve o resgate da formação original em uma turnê que terminou abruptamente com o falecimento de Andre em 8 de junho de 2019 (leia mais: http://www.bigrockandroll.com/2019/06/andre-matos-aquele-clipe-de-more.html ) os fãs esperavam que a turnê levasse ao sucessor de Reason. Quis o destino que não. Em 09 de fevereiro do ano seguinte o Shaman subia aos palcos pela primeira vez com Alirio nos vocais, ainda sob a alcunha Shaman + Alirio Netto, numa sutil menção ao formato Queen + Adam Lambert que o Queen usa para se apresentar com seu atual vocalista (Alirio é vocalista do Queen Extravaganza, banda tributo oficial do Queen, tendo sido escolhido por Brian May e Roger Taylor para a posição). 

Outra turnê interrompida, desta vez pela ainda vigente pandemia de COVID-19, e a banda se voltou para o estúdio, além de finalmente oficializar o tecladista Fábio Ribeiro como membro da banda. O resultado deste resgate, que trouxe de volta o produtor Sascha Paeth (que produziu ou co-produziu Angels Cry, Holy Land, Ritual, Reason, Time to be Free e Mentalize) pôde ser ouvido pelos fãs que compraram na pré-venda em uma live no YouTube e é com base nela que este review é feito.

A bolacha começa com a quase obrigatória introdução instrumental “Tribute”, que não precisa ser um gênio para entender quem é o sujeito do tributo. A abertura mesmo vem com “Time is Running Out”, típica paulada power metal, que com a voz de Alirio fez o Shaman soar Iron Maiden como nunca. Os primeiros 2 minutos são capazes de enganar os desavisados, até que entra um refrão que caberia facilmente em um disco do Avantasia. O primeiro solo, que parece ser de teclado, é na verdade de violino, com Marcos Viana voltando a participar de trabalhos da banda (você o ouviu em todos os discos do Shaman com os irmãos Mariutti).

Depois vem “The ‘I’ inside”, primeiro single e clipe do álbum, que é uma música um pouco esquizofrênica, tendo literalmente um pouco de tudo que a banda já fez. Elementos xamânicos? Logo no começo. Bumbos duplos? Claro! Teclados atmosféricos? Sim. Two hands no baixo? Escondidos, mas lá. Solos lentos sentimentais? Sim, o primeiro (solo este que o guitarrista Hugo Mariutti considera um dos melhores, se não o melhor da sua carreira). Solos rápidos improvisados? Sim. Trechos de piano e vocal no meio da pauleira? Sim. Solo de teclado? Sim. Riffs que poderiam estar em uma banda de thrash metal? Ô se sim! Esquizofrenia à parte, o resultado é sensacional e eu mal posso esperar para ver ao vivo.


“Don’t let it rain”, faixa número 4 da bolacha, poderia encaixar facilmente nos trabalhos solos do vocalista Alirio Netto, ou ainda em uma versão mais pesada dos trabalhos solo do guitarrista Hugo Mariutti. As guitarras dessa música facilmente enganariam como de uma banda de britpop. Acho até que Hugo criou aqui o Oasis metal. Radiofônica, a música foi composta para o que deveria ser o quarto disco da carreira solo de Andre Matos (a letra não seria a mesma, já que todas as letras de Rescue são do vocalista Alirio Netto).

“Where are you now?”, que caberia com facilidade no Reason,  começa o que eu creio ser uma tetralogia em homenagem ao maestro. Alirio informou em entrevistas que, sem que os outros músicos percebessem, entrevistou eles sobre os sentimentos que tinham com relação à perda de Matos e escreveu uma letra para cada um. Não sabemos quais são e para quais membros, mas essa parece obviamente a primeira. 

“The Spirit” tem de novo cheiro de Iron Maiden.

“Gone Too Soon” é uma música que Alirio compôs para seu primeiro disco solo, João de Deus (2016), mas não ficou pronta nem para ele, nem para o seu DVD ao vivo e nem para All Things Must Pass (2021). Nas palavras do músico, “ela estava esperando o Shaman”. Fãs de baladas metal não se decepcionarão nem com a melodia, nem com a letra. Esta última é uma coletânea de referências, citando “Carry On”, “Reason” e “Fairy Tale” nominalmente, além de frases como “here the call of a thousand voices”, que junta pedaços de “Distant Thunder” e “Innocence”. Com certeza encontraremos outras com a letra nas mãos.

“The Boundaries Of Heaven”, que parece fechar a tetralogia Andre Matos, não é uma música que gostei muito de cara. Tive que ouvir muitas vezes e, hoje, uma semana depois, é a que mais tenho voltado para ouvir.

“Brand New Me” aparece aqui. Ela é a primeira música da banda com Alirio, lançada ainda como Shaman + Alirio Netto antes do primeiro show em 2020. Foi oficializada em um álbum – talvez para que não se perca no tempo, como aconteceu com a versão acústica de “Looking Back” da carreira solo de Andre Matos que foi lançada apenas no MySpace em 2008 e que sumiu da existência por meios oficiais após isso e como aconteceu com “At MOA”, que Ricardo, Bianchi e cia. Gravaram para o festival Metal Open Air e também sumiu. Lançar com o disco garante que não será esquecida. É uma regravação, não apenas a versão que saiu lá atrás, mas as diferenças são sutis e provavelmente não serão percebidas pela maioria.

“What If?” fecha as músicas cantadas do disco em sua versão padrão, sendo outra que caberia sem grande dificuldade no Reason, com sua pegada mais de heavy metal tradicional. Apesar do disco de 2005 ser o meu favorito de toda a carreira do Shaman (independente de se pra você Rescue é o terceiro ou quinto disco da banda), esta música aqui é a que menos me chama a atenção – embora considerando o quão bom Rescue é, isso não seja demérito.

“The Final Rescue” é uma instrumental de um minuto centrada em violino que serve como outro do disco. Seu nome enganou alguns dos presentes na audição, que acreditava ser uma regravação da já citada “Rescue”.

“Resilience” é a faixa bônus para o mercado japonês e brasileiro (ao menos para as versões físicas disponíveis por aqui, já que no momento desta escrita, ainda não temos confirmação de se estará disponível no Spotify brasileiro e similares). É a primeira música acústica da formação “clássica” da banda, contendo voz, violão e um órgão muito similar ao de “Deep Blue” do Angra – e isso não é coincidência. Se por um lado é uma pena que essa pérola tenha ido para os bônus de alguns mercados (eu até preferiria ela a “Gone Too Soon”), por outro duas baladas e duas instrumentais provavelmente seria demais. Mas espero que esteja nos shows. 

Foto: Divulgação

É impossível não sentir Rescue como a evolução natural de Ritual e Reason.


Desde o Rebirth do Angra em 2001 que um título de disco não é tão representativo do que está acontecendo com a banda naquele momento.

Seria Rescue melhor que Ritual e Reason? Essa é mais difícil de responder. Tenho sentimentos demais sobre esses dois discos para responder objetivamente. Mas é impossível não sentir este disco como a evolução natural de Ritual e Reason. E é igualmente impossível não sentir que esse é o disco do Hugo Mariutti. Os arranjos e solos de guitarra estão impossivelmente na medida certa, sem exageros, mas sem deixarem de lado o virtuosismo que o estilo requer. Terminei a primeira audição do disco com a confirmação do que pensei a primeira vez que ouvi o disco Immortal: para o som do Shaman, a pessoa que mais faz falta é o Hugo.

Ao fim, Rescue é com certeza o resgate do Shaman (aquela versão que em 2006 e voltou aqui). Mas não é apenas um resgate, é uma banda que resgatou o passado e adicionou coisas novas, sem deixar de evoluir, mas sem alienar fãs antigos. Vida longa ao Shaman. E que o Rescue se torne um clássico em 20 anos, da mesma maneira que seus irmãos mais novos.



O Shaman é:

Alirio Netto – Vocais

Hugo Mariutti – Guitarra

Luís Mariutti – Baixo

Fábio Ribeiro – Teclados

Ricardo Confessori – Bateira 



Tracklist: 

01 – Tribute (Intro)

02 – Time Is Running Out

03 – The “I” Inside

04 – Don’t Let It Rain

05 – Where Are You Now?

06 – The Spirit

07 – Gone Too Soon

08 – The Boundaries Of Heaven

09 – Brand New Me

10 – What If?

11 – The Final Rescue (Outro)

12 – Resilience (Bônus para Brasil e Japão

Nenhum comentário:

Postar um comentário