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13 de janeiro de 2023

Discharge - Fabrique Club - São Paulo - SP

Foto: Roberio Lima


Discharge - Fabrique Club  - São Paulo - SP - 11 de dezembro de 2022


Por Roberio Lima

Fotos: Roberio Lima


Já se passaram exatamente dezoito anos, desde a primeira visita do Discharge em terras brasileiras. E falando especificamente de São Paulo – o evento na ocasião  histórica, teve como cenário o palco  do Hangar 110 – “o CBGB Brasileiro”, que já recebeu incontáveis formações clássicas do punk hardcore mundial – e naquela ocasião, os ingleses tiveram como banda de abertura - nas duas datas em que tocaram na capital paulista - o Ratos de Porão. 

Dessa vez, o anuncio do retorno do Discharge à São Paulo, fez com que os entusiasmados fãs da banda esgotassem os ingressos para a apresentação que dessa vez, contaria com a abertura dos santistas do Surra e Urutu. Mesmo com todos os ingressos esgotados, ainda havia uma procura bastante expressiva, e os promotores resolveram abrir uma segunda data para sanar a ansiedade do público em ver/rever a banda inglesa (e pasmem!), novamente  com a abertura do Ratos de Porão! A releitura das apresentações ocorridas nos longínquos anos 2000, aguçaram ainda mais a vontade de testemunhar esse momento histórico do som pesado, e assim como no sábado (onde estive na portaria, mas não encontrei nenhum ingresso disponível!), havia um desfile de jaquetas recheadas de tachinhas, moicanos e os mais inusitados modelitos – característicos do que ficou imortalizado nos áureos anos setenta e oitenta, onde o movimento punk canalizava toda a revolta e contestação dos jovens periféricos de várias partes do mundo. Tendo como base o relato dos que estiveram no Fabrique Club no dia 10/12, foi possível constatar que houve uma aula de violência musical, e  eis que mais uma uma vez a simpática casa de shows localizada nas proximidades da Barra Funda, abriu suas portas para a segunda data, onde já adianto que não foi menos histórica que a primeira noite. Não é para menos, pois o Discharge foi (e ainda é!) influência para as principais bandas de punk, thrash, Death e outras vertentes, que ainda hoje se inspiram em álbuns revolucionários como “Hear Nothing, See Nothing, Say Nothing”(1982). E já de cara, foi possível constatar que o público do domingo lotaria novamente a casa de shows. E isso ficou comprovado, conforme o horário da apresentação do Ratos de Porão se aproximava,  e cada espaço do Fabrique Club era preenchido rapidamente.

Foto: Roberio Lima


Enquanto o estrago sonoro não se materializava, era possível apreciar clássicos dos anos oitenta como The Cure, New Order, The Clash e outros sons que proporcionavam um misto de nostalgia e e ansiedade entre os presentes. Afinal, o que se materializaria dali a alguns instantes, certamente marcaria a vida daquele público. E não demorou muito para que João Gordo, Jão, Boka e Juninho assumissem suas posições no palco para executar o set list mais previsível e adorado pelos seus seguidores assíduos, e por quem acompanha com certa frequência as apresentações da banda. É preciso informar que “previsível” não é de forma alguma, algo que deprecie a trajetória dos caras, pois essa “previsibilidade” traz só o supra-sumo do que  já foi criado por João Gordo e Cia!

Pontualmente às 19h, “Alerta Antifascista” do álbum mais recente  “Necropolitica”, abria os trabalhos, e na sequência “Farsa Nacionalista” e “Amazônia Nunca Mais”, canções do magistral álbum “Brasil”, lançado em 1988. E acredito que a tríade inicial não foi escolhida por acaso, pois registraram um parâmetro assustadoramente fidedigno dos momentos mais absurdos vividos nos últimos quatro anos nesse país. O público se digladiava diante de tamanhas expressões de brutalidade e caos, e era visível na face dos músicos a felicidade em fazer parte daquele momento. A enxurrada de músicas/manifestos ia se desenrolando com “Necropolitica”, “Crucificados Pelo Sistema” , “Aids, Pop, Repressão” e outros clássicos, onde ficou comprovado que não estávamos diante de uma ‘mera’ banda de abertura, pois o Ratos é, sem dúvida nenhuma, uma das grandes formações da música pesada mundial, e isso ficará comprovado, nas próximas linhas dessa singela cobertura.

Após o término da apresentação do Ratos de Porão, o palco foi rapidamente ocupado por roadies e músicos do Discharge para que fossem realizados os ajustes necessários, e se desse o início da apresentação da banda inglesa. Não demorou muito, e pontualmente às 20h30, Jeff “JJ” Janiak toma a frente do palco para executar “The Blood Runs Red”, e nessa altura do campeonato, o Fabrique já havia se transformado em um “forno”,  tamanho o calor dentro daquele local.  

As guitarras dos irmãos Tony e Tez Roberts (membros da formação original), conduziam e potencializavam a impressão de apocalipse que se intensificava naquele recinto, a medida em que clássicos como “Hear Nothing, See Nothing, Say Nothing”, “Hell On Earth” e “Never Again” eram executados. A audiência não media esforços para externar todo o sentimento de fúria que esses petardos produziram na cabeça de uma seria de seguidores que ouviram exaustivamente os álbuns da banda, nos últimos quarenta e cinco anos de história do Discharge. A formação se completa com Roy “Rainy” Wainwright no baixo (outro membro que faz parte da formação original) e Dave “Proper Caution” Bridgwood na bateria. Do álbum “End Of Days” lançado em 2016, foi tocada “Hatebomb”, única música apresentada desse trabalho, e fato compreensível, se levarmos em consideração o tempo que a banda demorou para retornar ao país. Nada mais natural, pois certamente a grande maioria dos que compareceram ao fabrique nas dias 10 e 11 de Dezembro queriam ouvir os clássicos!

Foto: Roberio Lima


O fim da apresentação já era uma realidade, quando João Gordo voltou ao palco (lembra quando mencionei a importância do Ratos nas linhas anteriores?) para tocar a clássica “Deontrol” do EP homônimo, lançado no ano de 1980. E finalmente chegou ao fim mais um capítulo de uma história que irá ficar marcada na memória dos dos jovens e tiozões que, independente da diferença de idade ou geração, voltaram mais leves para suas casas, com a certeza de que são esses os eventos que nos tornam humanos mais felizes! 

 

Setlist Discharge: 

 The Blood Runs Red 

 Fight Back 

 Hear Nothing See Nothing Say Nothing 

The Nightmare Continues 

 A Look at Tomorrow 

The End 

Hell on Earth 

 Ain’t No Feeble Bastard 

 Protest and Survive 

 Hyped Overload 

New World Order 

Corpse of Decadence 

 Hatebomb 

Never Again 

State Violence State Control 

 Realities of War 

Accessories By Molotov 

War Is Hell 

War Is No Fairytale 

You Deserve Me 

The Possibility of Life’s Destruction 

Decontrol (Participação de João Gordo)

 


Um agradecimento especial à Tedesco Comunicação e Midia pelo credenciamento e Fabrique Club por toda atenção e suporte.

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