Discharge - Fabrique Club - São Paulo - SP - 11 de dezembro de 2022
Por Roberio Lima
Fotos: Roberio Lima
Já se passaram exatamente dezoito anos, desde a primeira visita do Discharge em terras brasileiras. E falando especificamente de São Paulo – o evento na ocasião histórica, teve como cenário o palco do Hangar 110 – “o CBGB Brasileiro”, que já recebeu incontáveis formações clássicas do punk hardcore mundial – e naquela ocasião, os ingleses tiveram como banda de abertura - nas duas datas em que tocaram na capital paulista - o Ratos de Porão.
Dessa vez, o
anuncio do retorno do Discharge à São Paulo, fez com que os entusiasmados fãs
da banda esgotassem os ingressos para a apresentação que dessa vez, contaria
com a abertura dos santistas do Surra e Urutu. Mesmo com todos os ingressos esgotados,
ainda havia uma procura bastante expressiva, e os promotores resolveram abrir
uma segunda data para sanar a ansiedade do público em ver/rever a banda inglesa
(e pasmem!), novamente com a abertura do
Ratos de Porão! A releitura das apresentações ocorridas nos longínquos anos
2000, aguçaram ainda mais a vontade de testemunhar esse momento histórico do
som pesado, e assim como no sábado (onde estive na portaria, mas não encontrei
nenhum ingresso disponível!), havia um desfile de jaquetas recheadas de
tachinhas, moicanos e os mais inusitados modelitos – característicos do que
ficou imortalizado nos áureos anos setenta e oitenta, onde o movimento punk canalizava
toda a revolta e contestação dos jovens periféricos de várias partes do mundo.
Tendo como base o relato dos que estiveram no Fabrique Club no dia 10/12, foi
possível constatar que houve uma aula de violência musical, e eis que mais uma uma vez a simpática casa de
shows localizada nas proximidades da Barra Funda, abriu suas portas para a
segunda data, onde já adianto que não foi menos histórica que a primeira noite.
Não é para menos, pois o Discharge foi (e ainda é!) influência para as
principais bandas de punk, thrash, Death e outras vertentes, que ainda hoje se
inspiram em álbuns revolucionários como “Hear Nothing, See Nothing, Say
Nothing”(1982). E já de cara, foi possível constatar que o público do domingo
lotaria novamente a casa de shows. E isso ficou comprovado, conforme o horário
da apresentação do Ratos de Porão se aproximava, e cada espaço do Fabrique Club era preenchido
rapidamente.
Foto: Roberio Lima |
Enquanto
o estrago sonoro não se materializava, era possível apreciar clássicos dos anos
oitenta como The Cure, New Order, The Clash e outros sons que proporcionavam um
misto de nostalgia e e ansiedade entre os presentes. Afinal, o que se materializaria
dali a alguns instantes, certamente marcaria a vida daquele público. E não
demorou muito para que João Gordo, Jão, Boka e Juninho assumissem suas posições
no palco para executar o set list mais previsível e adorado pelos seus
seguidores assíduos, e por quem acompanha com certa frequência as apresentações
da banda. É preciso informar que “previsível” não é de forma alguma, algo que
deprecie a trajetória dos caras, pois essa “previsibilidade” traz só o
supra-sumo do que já foi criado por João
Gordo e Cia!
Pontualmente
às 19h, “Alerta Antifascista” do álbum mais recente “Necropolitica”, abria os trabalhos, e na
sequência “Farsa Nacionalista” e “Amazônia Nunca Mais”, canções do magistral
álbum “Brasil”, lançado em 1988. E acredito que a tríade inicial não foi
escolhida por acaso, pois registraram um parâmetro assustadoramente fidedigno dos
momentos mais absurdos vividos nos últimos quatro anos nesse país. O público se
digladiava diante de tamanhas expressões de brutalidade e caos, e era visível
na face dos músicos a felicidade em fazer parte daquele momento. A enxurrada de
músicas/manifestos ia se desenrolando com “Necropolitica”, “Crucificados Pelo
Sistema” , “Aids, Pop, Repressão” e outros clássicos, onde ficou comprovado que
não estávamos diante de uma ‘mera’ banda de abertura, pois o Ratos é, sem
dúvida nenhuma, uma das grandes formações da música pesada mundial, e isso
ficará comprovado, nas próximas linhas dessa singela cobertura.
Após
o término da apresentação do Ratos de Porão, o palco foi rapidamente ocupado
por roadies e músicos do Discharge para que fossem realizados os ajustes
necessários, e se desse o início da apresentação da banda inglesa. Não demorou
muito, e pontualmente às 20h30, Jeff “JJ” Janiak toma a frente do palco para
executar “The Blood Runs Red”, e nessa altura do campeonato, o Fabrique já
havia se transformado em um “forno”, tamanho o calor dentro daquele local.
As
guitarras dos irmãos Tony e Tez Roberts (membros da formação original), conduziam
e potencializavam a impressão de apocalipse que se intensificava naquele
recinto, a medida em que clássicos como “Hear Nothing, See Nothing, Say
Nothing”, “Hell On Earth” e “Never Again” eram executados. A audiência não
media esforços para externar todo o sentimento de fúria que esses petardos
produziram na cabeça de uma seria de seguidores que ouviram exaustivamente os
álbuns da banda, nos últimos quarenta e cinco anos de história do Discharge. A
formação se completa com Roy “Rainy” Wainwright no baixo (outro membro que faz
parte da formação original) e Dave “Proper Caution” Bridgwood na bateria. Do álbum
“End Of Days” lançado em 2016, foi tocada “Hatebomb”, única música apresentada
desse trabalho, e fato compreensível, se levarmos em consideração o tempo que a
banda demorou para retornar ao país. Nada mais natural, pois certamente a grande
maioria dos que compareceram ao fabrique nas dias 10 e 11 de Dezembro queriam
ouvir os clássicos!
Foto: Roberio Lima |
O fim da apresentação já era uma realidade, quando João Gordo voltou ao palco (lembra quando mencionei a importância do Ratos nas linhas anteriores?) para tocar a clássica “Deontrol” do EP homônimo, lançado no ano de 1980. E finalmente chegou ao fim mais um capítulo de uma história que irá ficar marcada na memória dos dos jovens e tiozões que, independente da diferença de idade ou geração, voltaram mais leves para suas casas, com a certeza de que são esses os eventos que nos tornam humanos mais felizes!
Setlist Discharge:
The Blood Runs Red
Fight Back
Hear Nothing See Nothing Say Nothing
The Nightmare Continues
A Look at Tomorrow
The End
Hell on Earth
Ain’t No Feeble Bastard
Protest and Survive
Hyped Overload
New World Order
Corpse of Decadence
Hatebomb
Never Again
State Violence State Control
Realities of War
Accessories By Molotov
War Is Hell
War Is No Fairytale
You Deserve Me
The Possibility of Life’s Destruction
Decontrol (Participação de João Gordo)
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