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26 de agosto de 2024

Angra - Espaço Unimed - São Paulo/SP

Foto: Natalia Eidt


 Angra - Espaço Unimed - São Paulo/SP - 17 de agosto de 2024


Por Jair Cursiol Filho

Fotos gentilmente cedidas por: Natalia Eidt (Metal no Papel)


A banda brasileira Angra começou a primeira parte da sua turnê acústica pelo Brasil, com 5 shows. E eu tive o prazer de - como fã - ir ver o segundo desses shows no espaço Unimed, em São Paulo. Há algo muito curioso em começar uma turnê de um DVD que ainda não foi lançado, visto que o Angra gravou um DVD acústico na Ópera de Arame, em Curitiba, em 2023. Mas não lançou e ainda nem anunciou a data de lançamento. Esse é mais um dos capítulos malucos da história do Angra, que já tentou algumas vezes gravar DVDs acústicos e nunca conseguiu. 

Para quem não era fã da banda, se falava lá pela época do Aurora Consurgens, por volta de 2006 ou 2007, da gravação de um DVD acústico como comemoração de 15 anos da banda. A gravação nunca saiu do papel e o Aurora foi a comemoração de 15 anos. À época se falava da troca do baterista Aquiles em boatos e da tentativa (uma das várias que ocorreram por aí) de trazer o ex-vocalista André Matos de volta para cantar neste acústico.

Depois, em 2010, o Angra ensaiou de novo essa coisa de acústico, tendo feito o show de lançamento do Aqua em formato acústico na cidade de Campinas/SP (eu estava lá inclusive). Nesse show em Campinas/SP, inclusive, eu era adolescente, foi a primeira vez que eu levei meu pai e minha mãe para ver um show de metal para entenderem que nós - fãs de metal - não somos o que a mídia na época colocava. E daí começou uma ligação muito interessante do meu pai e da minha mãe, principalmente da minha mãe, com shows de metal. Você nunca vai chegar na casa deles e ver a minha mãe escutando metal, mas ela já foi comigo em mais de um show do Angra, já foi em um show do Andre Matos, já foi em um show da Tarja Turunen (ex-vocalista do Nightwish). E nesse show do Angra, nesse acústico, nesse primeiro acústico de verdade mesmo, eu consegui levar ela e meu pai, e levei também a minha esposa pela primeira vez ver um show do Angra. Então foi um show mais do que especial para mim.

O espaço Unimed estava todo pronto, com o palco já com aquela cara de acústico MTV do começo dos anos 2000. Não teve nenhuma banda de abertura, o que nesse caso, para esse evento específico foi muito bom. E quase um milagre na história do Angra, o show começou na hora certa. Eu já fui em muitos shows do Angra, e eu posso contar nos dedos de uma mão quantas vezes eles não se atrasaram. Ao menos lá nos anos 2000, a gente ainda podia cantar "au au au Shaman é pontual" (não era).
Como a banda ainda não lançou o DVD, uma parte desse review também não vai prestar atenção nos arranjos, já que eles são inéditos. E quando o DVD sair, é possível que seja um review bem curto, porque as músicas tocadas foram exatamente as mesmas. Apenas a ordem alterou um pouco, acho que por causa dos convidados diferentes de cada show.

Foto: Natalia Eidt

Foto: Natalia Eidt

Foto: Natalia Eidt


Lá como cá a banda abriu com Nova Era. Essa que todos nós conhecemos como uma paulada power metal. Eu confesso que eu estava muito curioso de ver como que iriam fazer esse arranjo. Até porque o próprio Edu Falaschi já fez um arranjo de piano e voz dela em seu disco solo Moonlight alguns anos atrás. Porém, as similaridades entre o arranjo do Angra e do ex-vocalista acabam no fato de que não tem guitarras. Aqui o Angra fez uma versão mais animada e menos melancólica, que com certeza vai estar entre as minhas favoritas a hora que o CD e DVD saírem.

Junto com a banda estava um sexteto de cordas, dois músicos com instrumentos de sopro, além de um pianista e um percussionista. E a próxima música, Make Believe, foi exatamente a música que fez esses músicos extras brilharem. Aqui, obviamente, até pela característica original da música, ela foi muito pouco alterada. Vale lembrar que a original você só realmente percebe as guitarras lá pelos 4 minutos, quando começa o solo. Essa, na verdade, é a primeira das músicas que eu acho que está ocupando espaço desnecessário nesse setlist, que podia ser de uma música que já não fosse quase acústica.

A primeira real grande surpresa foi Storm of Emotions, do disco Secret Garden. Esse costuma ser o menos apreciado dos 3 discos do vocalista Fabio Lione e tem essa música fantástica onde Lione e Rafael Bittencourt fazem um dueto. E aqui foi o primeiro momento do show onde o Angra realmente demonstrou que conseguia manter peso de música no formato acústico. Acredito, inclusive, que pessoas que ouvirem essa música vão acabar voltando no Secret Garden e redescobrindo esse disco.

A quarta música foi outra que quando você escuta, também já pensa que tem muito pouco a última a mudar quando passada para um arranjo acústico. Eu sou extremamente parcial com essa, porém, pois Gentle Change é uma das minhas favoritas, senão A favorita de toda a discografia da banda. Eu duvido você estar num show, ouvir essa música e não bater palmas com todo o restante da plateia acompanhando a banda.

The Bottom of My Soul do disco Omni, é o mais próximo que esse disco tem de uma balada. E para diferenciar essa versão da versão existente já na bolacha, a banda resolveu inverter os vocalistas. Explico: já háalguns anos, Rafael Bittencourt tem cantado pelo menos uma música em cada disco, e essa é a música dele no disco Omni. Para o acústico a banda resolveu entregar essa música para o vocalista principal Fabio Lione. E o resultado ficou fantástico.

Dessa, seguiram-se outras duas que caberiam dentro do que se esperaria de qualquer show do Angra: Silence and Distance do disco Holy Land e Reaching Horizons. Na primeira, meu cérebro teima em esquecer toda a parte de metal que tem em quase toda a música e guarda só o início e o fim, como se fosse uma balada. Talvez seja essa versão existente apenas na minha mente que vi nesse último final de semana e que talvez seja a que eu mais vou escutar no meu Spotify. 

Foto: Natalia Eidt

Foto: Natalia Eidt

Foto: Natalia Eidt


Já Reaching Horizons tem sido tocada em formato acústico em vários shows do Angra desde a turnê de 20 anos do disco Angels Cry. Se você já viu esse DVD, vai se lembrar que nele apenas Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt ficam com violões tocando essa música, enquanto Rafael explica que essa foi a primeira música composta para o Angra - aliás, composta antes do Angra. Aqui, o que muda é apenas o fato de que Rafael fica sozinho, mas é acompanhado do sexteto de cordas. 

Depois Rafael aproveitou para introduzir os membros do sexteto fazendo uma homenagem para o falecido apresentador Sílvio Santos, que havia morrido naquele dia: os nomes dos músicos substituíam o de Sílvio na clássica parte “E o Silvio Santos lá lá lá lá”. Ficou alegre e respeitosa.



Cycles of Pain, o disco mais novo da banda, não poderia ficar de fora. Curiosamente, o DVD, que ainda não foi lançado, foi gravado antes do lançamento do disco, então apenas 2 músicas entraram. Não acho que seja uma coincidência que as 2 músicas que entraram sejam justamente músicas que tenham convidados no disco. Aqui entra a cantora de MPB Vanessa Moreno, que gravou a música Here in the Now no disco, participou do clipe e do DVD. A música se tornou tão emblemática dessa nova fase da banda que se tornou também um dos três clipes já lançados da gravação do DVD. E é a música favorita da minha esposa, a única que ela fica cantarolando quando eu invento de colocar uma playlist do Angra no carro.

E aí, quebraram o meu coração. Wuthering Heights, cover de Kate Bush, é uma música rara de ser tocada pela banda. Já havia sido abandonada do setlist na turnê do Fireworks, lá em 1998. Também esteve completamente ausente durante toda a passagem de Edu Falaschi pela banda e só foi executada na turnê de 20 anos do Angels Cry, quando havia alguma vocalista feminina para fazer as vozes. Foi executada por Tarja Turunen no já citado DVD de 20 anos do Angels Cry. Para o DVD acústico havia sido convidada Amanda Somerville (ex-Avantasia e ex-Exit Eden e que trabalhou com Andre Matos nos discos Ritual, Reason, Time To Be Free e Mentalize). Poucas músicas simbolizam tanto o falecido ex-vocalista quanto essa. E aí, a hora que Vanessa Moreno começou a cantar junto com a banda eu desabei. Chorei como não esperava chorar, mesmo sabendo que essa música seria tocada.

Vanessa continuou no palco para substituir Amanda na música Tears of Blood. Para mim continua sendo a música mais estranha do disco novo, com um dueto operático entre Lione e Amanda (ou Vanessa, neste caso). Penso que talvez Rafael Bittencourt quis escrever algo que servisse para Tarja Turunen, já que ele fez parte da banda da finlandesa na gravação do DVD Circus Life pouco antes da pandemia de COVID-19. Existem dias que adoro esta canção e dias que não quero nem ouvi-la. Ainda assim, não tem como reclamar da performance da banda e da vocalista convidada.

Entra então Kiko Loureiro, ex-guitarrista da banda e do Megadeth, agora em carreira solo. Por muitos anos, Kiko não foi meu guitarrista favorito nem sequer do Angra, quanto mais do estilo – e seu substituto Marcelo Barbosa é um músico fantástico. Mas sabe aquela história de dar valor quando perde? Pois é. Eu não via Kiko ao vivo desde a já tão mencionada gravação do DVD de 2013. Onze anos depois, ver ele tocando de novo com a banda foi uma enorme emoção.

Foto: Natalia Eidt

Foto: Natalia Eidt

Foto: Natalia Eidt

Foto: Natalia Eidt


A participação dele durou quatro músicas, iniciando pela maravilhosa No Pain for the Dead do disco Temple of Shadows, que de novo contou com Vanessa Moreno fazendo os vocais femininos. 
Sai Vanessa e vamos para Holy Land, música-título do clássico supremo do Angra com Andre Matos. Pouca surpresa pelo estilo da música, mas que surpreendeu muito ao ser cantada por Rafael Bittencourt. E como ele está cantando se comparado com alguns anos atrás! Sinceramente, uma das melhores performances da noite, que ganhou muito pela quantidade de músicos extras no palco, substituindo os instrumentos pré-gravados de um show normal. E aí, para finalizar, rolou uma maravilhosa improvisação de Kiko ao violão após o final da música - coisa quase impossível de acontecer em um show com trilhas pré-gravadas. Um presente para a plateia do Espaço Unimed.



Daí voltamos para o disco Temple of Shadows, com a maravilhosa Late Redemption. A versão acústica é o terceiro single do DVD, gravada com Toni Garrido substituindo o monstro da MPB Milton Nascimento. Dos clipes que saíram até agora é o que melhor demonstra o quanto uma música pesada pode ser alterada em sua versão acústica sem perder o peso. Em São Paulo coube a Rafael Bittencourt e Kiko Loureiro fazerem as partes em português da música.

Kiko finalizou sua participação no show em uma música que teve novamente Vanessa Moreno: Rebirth. Esta já é normalmente uma balada, e inclusive já tem uma versão acústica no EP Hunters and Prey, então apresentou pouca novidade. Nem mesmo ouvir Lione cantando na bolachinha será novo para os fãs, pois em 11 anos com ele na banda, já existem quatro versões ao vivo oficiais do italiano. A diferença para o show com relação à gravação foi justamente Vanessa, que fez um dueto com Lione, lembrando que cantava essa com os amigos quando era adolescente.



Para fechar a parte principal do show, a banda trouxe o primeiro single do DVD: Bleeding Heart, que já virou um clássico da banda e até da música brasileira com a questionável versão em português do Calcinha Preta. Já era hora dessa música ganhar espaço merecido e ser abraçada pela banda!

Show "finalizado" e fomos para o cada vez mais desnecessário intervalo onde bandas fingem que saíram e o público finge que não sabe que a banda vai voltar. A banda obviamente voltou, agora para fechar o show com a obrigatória Carry On, que só escapou do setlist em uns poucos shows na história da banda. Para aqueles que como eu foram em vários shows do Angra em (no meu caso) duas décadas como fã da banda, Carry On no final costuma ser a música que serve para sair mais cedo e evitar engarrafamentos. A versão acústica, ao contrário, era a que eu mais esperava ouvir. Sempre achei fantástica a versão de Angels Cry presente no EP Freedom Call e queria ver o que a banda iria inventar para seu clássico máximo. Ela conseguiu entregar tudo o que eu esperava e provavelmente vai para a minha lista de favoritas do Spotify.

Vou deixar aqui, inclusive, meus parabéns para o baixista Felipe Andreoli, que tocou grande parte do show com baixo vertical fretless, O que já é difícil e se torna mais ainda quando o som do seu baixo não está sendo encoberto pelas guitarras e erros ficam muito claros.

Chegando aqui, parece que o show foi perfeito, né? Não foi. Houveram alguns erros de músicos entrando em momentos errados, por exemplo. Não que pequenos erros não sejam comuns, afinal, nenhum show é perfeito. Mas o formato acústico, sem guitarras distorcidas, acentua coisas que passariam despercebidas em um show normal. Mas dá para perdoar, seja pelas diferenças grandes entre versões acústicas e elétricas de algumas músicas (a banda não parou a tour elétrica do disco Cycles of Pain e está fazendo as duas turnês ao mesmo tempo), ou pelo fato de que foi apenas o segundo show da turnê acústica e ficaram quase um ano sem tocar esse material.

Também poderia ter um setlist com mais músicas pesadas, que mostrassem realmente grandes alterações de arranjos, como The Course of Nature, The Voice Commanding You, Metal Icarus, Awake from Darkness e tantas outras ao invés de algumas que praticamente já nasceram para o formato. Mas tudo bem. Em todo ao vivo (acústico ou não), sempre ficam de fora músicas que queremos, ainda mais considerando uma banda com 10 álbuns e 2 EPs em mais de 30 anos de carreira.

Ao final, o show só me fez querer mais ter o DVD em mãos. Já queria lá em 2007. Agora quero mais ainda! Só espero que não fique engavetado, como o show de 14 anos durante a turnê do Temple of Shadows, ou que nunca chegue às plataformas de streaming, como o CD Omni Live.

Nota: 9/10.

Foto: Natalia Eidt

Foto: Natalia Eidt

Foto: Natalia Eidt



Setlist:

1. Nova Era
2. Make Believe
3. Storm of Emotions
4. Gentle Change
5. The Bottom of My Soul (Fabio cantando)
6. Silence and Distance
7. Reaching Horizons (Rafael cantando sozinho com cordas)
8. Here in the Now (com Vanessa Moreno; Fabio e Vanessa cantando)
9. Wuthering Heights (Kate Bush cover, com apenas Vanessa Moreno cantando)
10. Tears of Blood (Fabio e Vanessa cantando)
11. No Pain for the Dead (com Kiko Loureiro; cantada por Fabio e Vanessa Moreno)
12. Holy Land (com Kiko Loureiro; Rafael cantando)
13. Late Redemption (com Kiko Loureiro)
14. Rebirth (com Kiko Loureiro e Vanessa Moreno)
15. Bleeding Heart
16. Carry On

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