Foto: Rogério Talarico |
Lucifer - Fabrique Club - São Paulo/SP - 06 de outubro de 2024
Por: Alexandre Veronesi
Fotos: Rogério Talarico
"Occult Rock" foi um termo cunhado no final dos anos 60, a fim de designar artistas e bandas que abordavam o sobrenatural e o dito "proibido" em seu conteúdo lírico, como era o caso do folclórico Coven, de Jinx Dawson. Particularmente, não sou fã de tal expressão, mas é inegável que ela cai como uma luva em se tratando do LUCIFER.
Grande admiradora do obscuro, Johanna Platow Andersson - à época, Johanna Sadonis - fundou a banda há exatos dez anos, imediatamente após o racha do The Oath, projeto que mantinha ao lado da guitarrista Linnéa Olsson. Iniciou em 2016 um relacionamento amoroso com o multi-instrumentista Nicke Andersson (Entombed, The Hellacopters, Death Breath), que não tardou a se estender para o âmbito profissional, com Nicke assumindo o posto de baterista no ano de 2017, união que se fez imprescindível para uma nova e extremamente bem sucedida fase da banda, cujo patamar em muito se elevou com o lançamento do álbum "Lucifer II" (2018), e assim o grupo obteve grande projeção ao redor do globo. Além do supracitado casal, o line-up conta com Martin Nordin (guitarra), Linus Björklund (guitarra) e Harald Göthblad (baixo), sólida formação que já perdura há 5 anos.
Domingo ensolarado em São Paulo, o dia 06 de Outubro de 2024 marcou a terceira apresentação do LUCIFER na cidade - em sua segunda visita ao Brasil - que a exemplo da estreia, aconteceu no Fabrique Club (casa de shows localizada na Zona Oeste da capital), dessa vez com abertura das bandas NIGHT PROWLER, WEEDEVIL, TANTUM, PESTA e SPACE GREASE.
O evento teve início pontualmente às 15h30, com os paulistanos do NIGHT PROWLER. Apostando no Heavy Metal tradicional (com uma saborosa pitada de Hard Rock), aos moldes de Iron Maiden, Diamond Head, Angel Witch, Saxon e similares, o quinteto destilou 8 canções de seu catálogo, variando entre temas do disco de estreia, "No Escape..." (2018), e singles lançados a posteriori, como "Free The Animal", "The Darksider" e "Tightrope". Fazendo-se valer da estética oitentista e uma técnica refinada, além da ótima presença de palco demonstrada por todos os membros - Fernando Donasi (vocal), Igor Senna (guitarra), Luke D. Couto (guitarra), Lucas Chuluc (baixo) e Marck Oliver (bateria) - o NIGHT PROWLER entregou um show empolgante aos privilegiados que chegaram cedo no Fabrique.
Setlist:
01 - Free The Animal
02 - Devil In Disguise
03 - Never Surrender
04 - The Darksider
05 - Tightrope
06 - The Witches Curse
07 - No Escape
08 - Make It Real
Foto: Alexandre Veronesi |
Logo a seguir, veio o WEEDEVIL. Na ativa desde 2019, e contando com Poison nos vocais, Paulo e Henrique nas guitarras, Cláudio HC Funari no baixo e Flávio Cavichiolli comandando as baquetas, a banda está em divulgação de seu novo trabalho de estúdio, o excelente "Profane Smoke Ritual", portanto o repertório aqui foi majoritariamente calcado no mesmo. A densa sonoridade Doom / Stoner praticada pelo grupo tomou todo o local de imediato, quase que hipnotizando o já numeroso público por meio de sons como "Serpent's Gaze", "Chronic Abyss Of Bane", "Underwater", "Necrotic Elegy" e a derradeira "Serenade Of Baphomet". Um show pesado e de grande intensidade, agradando em cheio à esmagadora maioria dos presentes, que simplesmente ovacionou os músicos ao encerramento.
Setlist:
01 - Serpent's Gaze
02 - Chronic Abyss Of Bane
03 - Underwater
04 - Profane Smoke Ritual
05 - Necrotic Elegy
06 - Serenade Of Baphomet
Foto: Alexandre Veronesi |
A grande surpresa do dia foi a apresentação dos mineiros do TANTUM. Comandado pela carismática e enérgica frontwoman Chervona (que além de cantar, toca flauta doce e teclado), o conjunto trouxe seu espetáculo 'extravagante' ao palco do Fabrique, impressionando especialmente àqueles que os assistiam pela primeira vez - este que vos fala incluso. Com figurinos bastante característicos e tons teatrais na performance, a banda executou faixas de seu full-lenght "Turning Tables" (2022), mais o recém-lançado single "Rojo" (no qual Chervona brilha em termos de interpretação, trajada de noiva e até 'bebendo sangue' em certa altura da música) e a inédita "On The Road", que seria a última caso o público tivesse 'deixado' a banda sair do palco, que perante os pedidos de bis, finalizou o seu memorável set com a porrada "Glory". Completam a formação do TANTUM João Brumano (guitarra), Laer Aliv (baixo) e Rafael Mineiro (bateria).
Setlist:
01 - Speed (Addicted)
02 - New World
03 - Wicked Spirit
04 - Blind Snake
05 - Ivory Towers
06 - Rojo
07 - Roulettenbourg Roulette
08 - On The Road
09 - Glory
Foto: Alexandre Veronesi |
O clima sombrio das profundezas se instaurou novamente na casa com a chegada do PESTA. Oriundo de Belo Horizonte/MG e completando agora uma década de estrada, o grupo tornou-se - com muita justiça, diga-se de passagem - um dos maiores expoentes do Doom / Stoner nacional, trazendo em sua formação Thiago Cruz (vocal), Marcos Resende (guitarra), Anderson Vaca (baixo) e Flávio Freitas (bateria). Sob um design de som cristalino, fizeram valer a notoriedade esbanjando descomunal peso e precisão ao longo de 6 canções, sendo 2 do debut "Bring Out Your Dead" (2016), 3 extraídas do excepcional "Faith Bathed In Blood" (2019), além da novíssima e ilustre "Marked By Hate", parte integrante do vindouro álbum "The Craft Of Pain", que possui previsão de lançamento para Fevereiro de 2025. Aguardemos, pois certamente vem coisa boa por aí!
Setlist:
01 - Anthropophagic
02 - Marked By Hate
03 - Witches' Sabbath
04 - Black Death
05 - Words Of A Madman
06 - Moloch's Children
Foto: Alexandre Veronesi |
O último - mas não menos importante - ato de abertura ficou a cargo do SPACE GREASE. Ju Ramirez (vocal), Diego Nakasoni (guitarra), Franco Ceravolo (guitarra), Antonio Carlos Castro (baixo) e Antonio Fermentão (bateria) praticam uma sonoridade voltada ao Hard Rock 70's, com elementos de Heavy Metal, Stoner e outros, porém trilhando uma vertente, digamos, mais psicodélica que as suas predecessoras da ocasião. O set foi composto por boa parte das canções originais já disponibilizadas nas plataformas de streaming, tais quais "Burning Inside My Chest", "Can't Hide" e "Separation Time", e um bloco com 3 interessantes novos temas: "Empty Man", "Lose Control" e "Cheap Drugs". O bom repertório aliado à química e desenvoltura dos integrantes em ação, demonstram que o quinteto, apesar da pouca idade, encontra-se pronto para alçar vôos maiores.
Setlist:
01 - Burning Inside My Chest
02 - Can't Hide
03 - Breakdown
04 - Empty Man
05 - Lose Control
06 - Cheap Drugs
07 - Separation Time
Foto: Alexandre Veronesi |
Relógio marcando 20h30, casa completamente lotada, e no telão ao fundo uma imagem simulando um letreiro luminoso com o nome da atração principal. Era chegado o tão aguardado momento da noite.
Creio ser quase impossível estar em um show do LUCIFER e não se sentir imediatamente transportado ao passado, para aquela tão comentada 'era de ouro do Rock N' Roll', visto que o espetáculo inteiro remete a tempos que há muito se foram: timbres, iluminação, vestimentas, postura de palco etc., tudo soa rigorosamente antiquado, do exato jeitinho que a gente gosta!
Foto: Rogério Talarico |
Foto: Rogério Talarico |
Após breve introdução, Johanna e seus asseclas tomaram o palco de assalto, já mandando de cara a vigorosa "Crucifix (I Burn For You)", seguida por "Ghosts" e "Midnight Phantom", únicas 2 representantes do terceiro álbum. A essa altura, a audiência já se encontrava em absoluto estado de transe, então, sem tempo para respiro, veio "Dreamer", um verdadeiro regalo aos fãs de São Paulo, levando em conta principalmente o fato de que esta belíssima canção não fazia parte do setlist regular da "Satanic Panic Tour". A performance do quinteto é irrepreensível, não há muito o que se pontuar, mas por óbvio o grande destaque fica por conta da figura central e líder da banda: como se a sublime voz já não fosse o suficiente, a moça ainda ostenta uma presença imponente e magnética, atraindo as atenções sem necessitar de muito esforço.
A apresentação dos europeus foi curta e direta, nada de firulas e tampouco enrolação, só música de alta qualidade por cerca de 75 minutos, privilegiando, é claro, o novo registro "Lucifer V", lançado em Janeiro deste ano (que teve 6 de seus 9 temas executados). Afora as já citadas, outras pérolas responsáveis por arrebatar o público foram "At The Mortuary", "The Dead Don't Speak", "Bring Me His Head", "Maculate Heart" - precedida por um pequeno trecho de "I Want You (She's So Heavy)", dos Beatles - e o duo que colocou um ponto final a essa extraordinária atuação, "California Son" e "Reaper On Your Heels", pertencente ao disco de número 2 do grupo.
Setlist:
01 - Crucifix (I Burn For You)
02 - Ghosts
03 - Midnight Phantom
04 - Dreamer
05 - A Coffin Has No Silver Lining
06 - Wild Hearses
07 - Fallen Angel
08 - At The Mortuary
09 - The Dead Don't Speak
10 - Slow Dance In A Crypt
11 - Bring Me His Head
12 - I Want You (She's So Heavy) [The Beatles] / Maculate Heart
13 - California Son
14 - Reaper On Your Heels
Foto: Rogério Talarico |
Foto: Rogério Talarico |
Foto: Rogério Talarico |
Agradecimentos à LP Metal Press e Xaninho Discos pelo credenciamento e Fabrique Club pela atenção.
Nenhum comentário:
Postar um comentário