MassariFest - Fabrique Club - São Paulo/SP - 20 de setembro de 2024
Por Roberio Lima
Fotos: Roberio Lima
O jornalismo cultural no Brasil é um segmento de nicho, e é triste constatarmos que a sua abrangência se limita à um público muito específico. Provavelmente nomes como o do saudoso Kid Vinil, Sérgio Martins, Gastão Moreira, André Barcinski e Fábio Massari passem despercebidos no imaginário do grande público, mas trago esses nomes a tona, pelo nível de versatilidade e de importância dos personagens mencionados. Seja no rádio, mídia impressa, TV, internet ou em qualquer outro meio de comunicação, esses senhores foram (e ainda são!) responsáveis por transformar a personalidade e o caráter de algumas gerações - e não estou exagerando! Ao raríssimo leitor que passar por esse texto, recomendo buscar mais informações sobre o trabalho desses batalhadores. Aliás, nas próximas linhas, falaremos do evento em que dois deles estiveram diretamente envolvidos, e que nós da Big Rock N' Roll, tivemos a honra de conferir todos os detalhes!
O MassariFest, foi concebido para comemorar os sessenta anos de Fábio Massari, e celebrar sua inquieta trajetória jornalística. Também conhecido como ‘reverendo’ e lembrado por muitos como a maior sumidade brasileira em Frank Zappa – no final das contas, temos que concordar que Fábio Massari é um dos maiores divulgadores dos ‘bons sons’ e ‘Honoris causa’, quando falamos de “musica estranha”. Por isso, nada mais justo que comemorar sua existência com uma festa que leva o seu nome, e que contou com a curadoria do homenageado para definir as bandas que participariam do evento. Impossível imaginar algo mediano saindo desse caldo!
Foto: Divulgação |
O segundo personagem envolvido nessa empreitada, foi ninguém menos que André Barcinski – um dos jornalista mais respeitados do país quando falamos de música, cinema e literatura – além disso, é um profundo conhecedor do cenário cultural alternativo. Com todo esse gabarito, ainda encontra tempo para conduzir sua própria produtora de shows – a Maraty – responsável pela organização do evento e por viabilizar as três atrações que abrilhantaram a festa. Aliás, só mesmo esses caras para reunir no mesmo palco: Devotos; diretamente do Alto José do Pinho em Pernambuco, Patife Band; de São Paulo, e os japoneses do Acid Mothers Temple.
Antes do show propriamente dito, houve uma interação entre o publico e Fábio Massari, que na ocasião, atendeu a todos que chegaram cedo. Autografou livros, tirou muitas fotos e conversou descontraidamente com os muitos amigos que ali estavam.
A parte musical do evento teve início pontualmente as 21h, quando Cannibal (baixo/vocal), Neílton (bateria) e Celo Brown (guitarra), ocuparam o palco para um desfile de pérolas hardcore. São 30 anos de história e uma perseverança invejável. Os caras estão em plena forma e tiveram um set de quase uma hora. O tempo foi muito bem aproveitado pela banda, que já contou com um bom público para conferir a apresentação. Entre um som e outro, Cannibal parabenizou Massari, relembrou a importância que o jornalista tem para a banda e para a cena como um todo, e ainda falou sobre o poder de transformação que hardcore teve em sua vida e do quanto isso refletiu na periferia do Alto José do Pinho. Por fim, destaco o novo som, chamado “Vladmir Herzog” – nome do jornalista assassinado nos porões da ditadura, e que também era um grande entusiasta da cultura como ferramenta de transformação. Não faltou a clássica “Punk Rock hardcore, Alto José do Pinho” e uma roda punk só com mulheres. O ‘punk rock hardcore’ foi muito bem representado no MassariFest!
Foto: Roberio Lima |
Foto: Roberio Lima |
Paulo Barnabé e sua trupe, vieram na sequência com a Patife Band para despejar no palco doses insanas se musicalidade ‘torta’ e criativa - em um desfile de vanguardismo e “pitadas” de pós punk. Aliás, seria impossível encontrar uma definição para a musica criada por Paulo Barnabé, e esse é o grande barato de sua arte. Assim como seu irmão Arrigo Barnabé com o seminal “Clara Crocodilo”, Paulo também concebeu seu disco definitivo; o Incrível “Corredor Polonês” lançado em 1987. Não por acaso, o repertório da noite foi baseado no antológico álbum – entre as canções apresentadas: “Tô Tenso”, “Pesadelo” e “Corredor Polonês” – um deleite para aqueles que apreciam sonoridades mais inventivas e desafiadoras. Ver a Patife Band em ação no palco, foi mais uma conquista, assim como aconteceu quando testemunhei Arrigo Barnabé e sua banda tocando o magistral “Clara Crocodilo” na íntegra. Só espero ter mais oportunidades de conferir ao vivo a Patife Band, acredito que não é pedir demais.
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Já passávamos das 23h e o publico não arredou o pé do Fabrique Club. Afinal, ainda teríamos o Acid Mothers Temple. Mesmo para os que dependiam do transporte público, valeria a pena ficar ali para incorporar a viagem sonoro que se sucederia em alguns instantes . Do sua fundação até os dias atuais, a banda já possui mais de cem discos lançados – entre álbuns de estúdio e ao vivo. Kawabata Makoto e Higashi Hiroshi são os fundadores do combo japonês, e estão em plena atividade. Inclusive, já possuem uma extensa turnê americana agendada para os próximos dias.
Com todos os ajustes finalizados no palco, os músicos deram início a viagem lisérgica que conduziria o pública dali em diante. “Dark Star Blues”, foi o primeiro golpe em uma audiência já estarrecida. O cheiro de Canabis inebriou o cenário e a imersão sonora se tornou absoluta. Não havia muito mais a se fazer, que não fosse se entregar de corpo e alma a aquele momento de ‘elevação da alma’. O tempo passou, e conforme o publico recobrava os sentidos, o encerramento veio com a viajante, e não menos lisérgica : “Cometary Orbital Drive”!
É possível que o raríssimo leitor pense que o show foi curto, mas me adianto em informar que estarão redondamente enganados, pois quem já assistiu a uma apresentação do Acid Mothers Temple, sabe que essa possibilidade não existe. Portanto se quiser sentir e as sensações que essa viagem proporciona, recomendo que vejam os caras ao vivo. Só assim, terão uma ideia do que é viver essa experiência. Ao sair do Fabrique Club, minha preocupação não era mais voltar para casa, mas sim, voltar para o mundo real - o que muitas vezes é praticamente impossível.
Foto: Roberio Lima |
Foto: Roberio Lima |
Foto: Roberio Lima |
Dedico esse texto ao meu amigo Danylo Paulo (in memoriam). Produtor de eventos, poeta e agitador cultural; foi um visionário em relação a cena underground, e grande entusiasta de todas as manifestações culturais da periferia. Através de um dos seus principais projetos, o Sarau do Vale, deu voz aos ‘manos e minas’ da nossa periferia e de muitas outras.
Até breve meu amigo!
Agradecimentos à Tedesco Comunicação e Midia pelo credenciamento e Fabrique Club pela atenção.
Q fera
ResponderExcluirParabéns pelos textos, sempre carregados de informação, entusiasmo, história e valorização aos grandes. Obrigada!
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