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5 de novembro de 2024

Bréa Extreme 2024 - Vip Station - São Paulo/SP

Foto: Alexandre Veronesi


Bréa Extreme 2024 - Vip Station - São Paulo/SP - 26 de outubro de 2024


Por: Alexandre Veronesi

Fotos: Alexandre Veronesi


Quem curte som extremo e reside em São Paulo (ou arredores) não poderia estar em outro lugar no dia 26 de Outubro de 2024 que não o Vip Station. Na ocasião, a casa localizada no ponto sul da capital recebeu o grande festival Bréa Extreme, encabeçado por NAPALM DEATH e DEAD CONGREGATION, com abertura das brazucas ROT, SURRA, CEMITÉRIO, FOSSILIZATION, PODRIDÃO, BAIXO CALÃO, ANDRALLS, SUBCUT, TRACHOMA e DISCHAVIZER.

Infelizmente, devido a problemas logísticos, não pude chegar a tempo de prestigiar as 2 primeiras bandas, e quando adentrei a casa estava se iniciando o show do SUBCUT no palco principal. Oriundo do interior de São Paulo, o trio já está prestes a completar 3 décadas de estrada, realizando um Grindcore sujo e reto, que agradou boa parte do ainda diminuto público presente.

No palco secundário, localizado em área inferior à pista, rolou a apresentação do ANDRALLS. Formação icônica da cena Thrash Metal paulistana, que se encontra na ativa desde 1998, o grupo entregou uma performance avassaladora (como é de praxe), mesmo com a ausência do baterista e membro fundador Xandão Brito - temporariamente substituído pelo ótimo Marcos William. Em divulgação do novo álbum "Universal Collapse" (disponibilizado em Maio do ano vigente), Alex Coelho e seus asseclas demonstraram muito vigor e alto poder de fogo com porradas do nível de "Cross Of Shame", "Rotten Money", "We Are The Only Ones", "Hate", e é claro, a necessária "Andralls On Fire".

Foto: Alexandre Veronesi


Retornando ao Grindcore, tivemos na sequência o BAIXO CALÃO, banda de Belém do Pará, que assim como as predecessoras, logo menos estará chegando na casa dos 30 - o ano de sua fundação foi 1996. Capitaneado pelo carismático vocalista Leandro "Porko", o enérgico quinteto tocou diversos sons de forma a abranger praticamente toda a sua trajetória, tais quais "Famigerado", "Agitações no Sistema Límbico", "Pódio de Chegada", "Das Vísceras da Estupidez", "A Ama Sui Generis", "Cropofagia" e "Antecipação Irracional", tendo como motes centrais o recente 'split album' "Holocausto Yanomami" (gravado em parceria com o Social Chaos) e o full-lenght "Necrológio", de 2020.

Foto: Alexandre Veronesi


Sempre digo que bandas 'de estrada', ou seja, aquelas que fazem turnês atrás de turnês sem parar, se encontram em um nível acima da maioria quando falamos do quesito 'ao vivo', e o PODRIDÃO está aí para não me deixar mentir. Executando um Death Metal viscoso e repulsivo desde 2016, o grupo realizou aqui um show altamente violento, apresentando repertório cheio de canções já bastante conhecidas pela audiência underground, como "Darkness Swallows The Light", "Verminoses Faecalis", "Cadaveric Impregnation" e "Chronic Gonorrhea" (a qual o frontman jocosamente afirmou ser uma de suas doenças prediletas), além de alguns temas presentes no 'split album' "Convulsively Rotteness", lançado em Janeiro de 2024 ao lado do Convulsive.

Foto: Alexandre Veronesi


Na sequência, o FOSSILIZATION aportou entregando a atuação mais densa do evento, em termos de atmosfera e ambiência. Dos grandes destaques da atual cena extrema brasileira - ao menos na opinião deste humilde redator - a banda realiza uma sonoridade calcada principalmente no Death Metal, porém recheada de nuances provenientes do Doom e também do Black Metal, em abordagem que pode muito bem ser definida como 'cavernosa'. Lamentavelmente, o áudio estava um tanto quanto mal equalizado e excessivamente alto, o que causou leve prejuízo à experiência, mas não impediu que o quarteto destilasse de forma muito competente porradas como "Once Was God", "Oracle Of Reversion", "At The Heart Of The Nest" e "Leprous Daylight", faixa-título de seu recém-lançado primeiro álbum cheio.

Foto: Alexandre Veronesi


Com uma proposta que remete diretamente ao som do Death nos primórdios, e letras em português abordando filmes de horror 'cult', o CEMITÉRIO apresentou a sua sempre divertidíssima performance no Bréa Extreme. Já há alguns anos em formação de 'power trio', Hugo Golon (baixo e vocal, idealizador do projeto), Douglas Gatuso (guitarra) e Guilherme Fructuoso (bateria) fizeram a alegria de centenas de headbangers com "A Volta dos Mortos Vivos", "Quadrilha de Sádicos", "Sexta-Feira 13", "O Dia de Satã", "Sentinela dos Malditos", a nova "Massacre no Texas", Oãxiac Odèz", "Tara Diabólica" e outros petardos, obtendo real notoriedade dentre tantas excelentes atrações que tivemos no dia.

Foto: Alexandre Veronesi


Chegava então a vez dos santistas do SURRA. De Thrash/Crossover veloz e contestador, e com disco novo na praça (o ótimo "Falha Crítica"), o grupo naturalmente priorizou os sons novos - "Operação Cala a Boca e Morre", "Murro em Ponta de Faca", "Plano Infalível" e "É Proibido Ser Pobre", por exemplo - mas sem esquecer de suas pérolas anteriores, tais quais "Escorrendo pelo Ralo", "O Mal que Habita a Terra", "Do Lacre ao Lucro", "Caso Isolado" e "Arquitetos da Desgraça". Não obstante o ótimo desempenho do trio, senti certa frieza por parte do público, e juntando tal percepção ao fato de já ter assistido a outros shows dos caras em locais menores, fiquei com a impressão de que o espetáculo teria sido ainda mais intenso se alocado no palco secundário.

Foto: Alexandre Veronesi


De certa forma, o que aconteceu na apresentação do ROT endossa a minha fala anterior. A conexão entre banda e audiência, muito por conta da proximidade, foi algo simplesmente insano - e também, convenhamos, o que os caras fazem é a bagaceira no estado da arte, o Grindcore definitivamente não fica muito melhor que isso. Em pouco menos de 30 minutos, o quinteto, que agora conta com Borella (Social Chaos) como segundo vocalista, despejou em uma galera ensandecida pedradas como "Pathetic Whiteman", "Life Is Serve A Lie", "The Silent World", "Beyond The Evidence", "Bastard Politicians", "Espólios de Revolução", "Decreased Possibilities", "War Business", "Plural", "Passado Presente Sem Futuro" e "Learn Some Respect", de maneira tão rápida quanto devastadora.

O primeiro nome internacional da noite foi importado diretamente da bela Grécia. Tendo as suas atividades iniciadas há exatamente 20 anos atrás, o DEAD CONGREGATION entregou ao vivo uma experiência quase que indescritível, unindo brutalidade e precisão de maneira singular, sob uma mixagem de som perfeita, que fazendo grosseira analogia, era algo como uma parede etérea e inquebrável. Portador de uma até então curta discografia, o conjunto baseou o seu repertório nos 2 full-lenghts ("Graves Of The Archangels", de 2008, e "Promulgation Of The Fall", lançado em 2014), com algumas adições extraídas dos EP's de 2005 e 2016 - "Purifying Consecrated Ground" e "Sombre Doom", respectivamente - como "Auguring An Eternal War" e "Wind's Bane", performando um total de 11 faixas em aproximadamente 60 minutos.


Setlist:

01 - Martyrdoom

02 - Morbid Paroxysm

03 - Quintessence Maligned

04 - Wind's Bane

05 - Vanishing Faith

06 - Dismal Realms

07 - Auguring An Eternal War

08 - Only Ashes Remain

09 - Promulgation Of The Fall

10 - Serpentskin

11 - Teeth Into Red

Foto: Alexandre Veronesi


E para coroar o evento, por fim tivemos o lendário NAPALM DEATH, que subiu ao palco com cerca de 20 minutos de atraso, em decorrência de problemas técnicos nos retornos. Falar a respeito dessa verdadeira instituição da música pesada, diga-se de passagem, é nada mais do que chover no molhado, visto que a excelência da banda em tudo que tange sua carreira é amplamente conhecida há décadas. Da abertura com "From Enslavement To Obliteration", até o encerramento por meio da emblemática "Siege Of Power", o que testemunhamos foi uma impecável amostra de que o caos também pode ser organizado, e até harmônico se visualizado pelo prisma correto.

Sem jamais menosprezar Mitch Harris (guitarra e backing vocals) e Danny Herrera (bateria), que por óbvio são peças fundamentais dessa engrenagem, as figuras que mais chamam a atenção atendem por Mark "Barney" Greenway (vocal) e Shane Embury (baixo), personagens extremamente carismáticos e com imensa presença, sendo que o frontman ainda ostenta invejável vitalidade no alto de seus 55 anos, agitando incessantemente da sua maneira, digamos, peculiar.

Para além da música, muito bem representada na forma das esmagadoras "Taste The Poison", "Continuing War On Stupidity", "The Wolf I Feed", "Amoral", "Fuck The Factoid", "Suffer The Children", "When All Is Said And Done", "Scum", "You Suffer" (1 segundo de pura glória), "Nazi Punks Fuck Off" (cover de Dead Kennedys que já deveria ser propriedade do NAPALM DEATH por usucapião), "Instinct Of Survival etc., Barney ainda trouxe para São Paulo os seus tradicionais e edificantes discursos contra o ódio, sexismo, homofobia e outros tipos de preconceitos, ressaltando mais de uma vez que somos todos, acima de tudo, seres humanos. Em suma, mais um grande show deste que é, incontestavelmente, o maior pilar do Grindcore mundial.


Setlist:

01 - From Enslavement To Obliteration

02 - Taste The Poison

03 - Next On The List

04 - Continuing War On Stupidity

05 - Contagion

06 - The Wolf I Feed

07 - Resentment Always Simmers

08 - The Curse Of Being In Thrall

09 - Amoral

10 - It's A M.A.N.S. World!

11 - Backlash Just Because

12 - Fuck The Factoid

13 - Suffer The Children

14 - When All Is Said And Done

15 - Scum

16 - M.A.D.

17 - You Suffer

18 - Metaphorically Screw You

19 - Dead

20 - Nazi Punks Fuck Off [Dead Kennedys]

21 - Instinct Of Survival

22 - Siege Of Power

Foto: Alexandre Veronesi



Agradecimentos à LP Metal Press e Xaninho Discos pelo credenciamento e Vip Station pela atenção.

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