Kiko Loureiro celebra seu legado juntamente de Marty Friedman em um show lotado em São Paulo

Foto: André Tedim

Kiko Loureiro & Marty Friedman - Tokio Marine Hall - São Paulo/SP - 07 de junho de 2025

Por: João Zitti

Fotos: André Tedim (@andretedimphotography)

Kiko Loureiro é, provavelmente, um dos guitarristas brasileiros de rock mais conhecidos: nascido no Rio de Janeiro, Kiko foi guitarrista da banda Angra por mais de 20 anos (tendo feito algumas participações especiais em alguns shows de 2024), deixando o grupo para integrar o Megadeth, um dos principais nomes do Big Four das bandas de thrash metal. Em seu currículo, possui músicas gigantescas tanto do rock nacional quanto do internacional, como “Carry On”, “Rebirth” e “Dystopia”, que foi a responsável por lhe dar um Grammy e, com isso, se tornar o primeiro brasileiro a ganhar o prêmio juntamente de uma banda de metal. O músico saiu do Megadeth no segundo semestre de 2023 e já no ano seguinte iniciou uma série de shows celebrando seu legado musical tanto nas bandas que integrou quanto em sua carreira solo.

Em 2025, Kiko realizou a turnê “Theory of Mind Tour 2025” ao lado de Marty Friedman, se apresentando em São Paulo no dia 07 de junho. A apresentação aconteceu no Tokio Marine Hall, uma das principais casas de shows de São Paulo atualmente. Para quem nunca foi, o local é próximo de outros estabelecimentos próprios para isso, como o Vibra São Paulo, estando quase que às margens do Rio Pinheiros e entre as regiões do Brooklin e Santo Amaro. Com capacidade para aproximadamente quatro mil pessoas, a casa tem uma ótima estrutura: além de ser muito fácil de se localizar, a locomoção entre pistas também é algo tranquilo de se fazer (o que poderia ser uma preocupação devido ao fato de a entrada para a premium ser dentro da pista normal, teoricamente complicando bastante o acesso, o que não se mostrou como verdade). Além disso, as caixas de som utilizadas são um grande destaque, apresentando uma grande nitidez sonora e ótimo alcance, fazendo com que não hajam problemas relacionados a isso durante as apresentações. A casa enfrentou um momentâneo problema técnico antes da apresentação de abertura ao ter uma queda de energia (que foi suficiente para se espalhar pelas redes sociais quase que instantaneamente), mas logo a situação foi resolvida. A única consequência real disso foi o pequeno atraso no início dos shows de abertura e da apresentação (que atrasaram, literalmente, 10 minutos cada).

A abertura da noite foi realizada por Andy Addams, guitarrista colombiano-americano cuja história pessoal e profissional é tida como um grande caso de superação após enfrentar uma série de problemas financeiros. O músico não é nenhum desconhecido dos integrantes do Angraverso, tendo contado com participações de Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt em seu primeiro e único disco de estúdio, o “The Eyes of the Moon Pt. 1”. Sua performance foi marcada somente por músicas instrumentais, realizando o show ao lado dos músicos Luigi Paraventi (bateria) e David Sánchez (baixo). Ainda que Andy estivesse visivelmente receoso na primeira metade do show (perceptível nos momentos em que conversava com a plateia no microfone - sofrendo com uma falha técnica logo no início do show, o que certamente não o ajudou a ficar mais calmo), o músico não deixou isso afetar de forma alguma seu desempenho musical. Com quase uma hora de show no total, o músico apresentou tanto trabalhos autorais quanto músicas amplamente conhecidas pelo público, como a abertura do anime Dragon Ball Z, o que tirou aplausos e reações extremamente positivas da plateia. A qualidade técnica do músico, também, é indiscutível, apresentando uma sincronia espetacular entre as suas mãos e um ótimo fraseado. Os melhores momentos da apresentação foram justamente os momentos em que Andy estava mais confiante, permitindo-se arriscar e improvisar mais, entregando um show divertido e que serviu como um ótimo aquecimento para a apresentação principal. Os elogios se aplicam também a Luigi e David (os dois músicos de apoio na apresentação), que tiveram momentos próprios para brilhar em solos autorais e de um altíssimo nível técnico, tirando aplausos empolgados quase que com unanimidade do público.

Foto: André Tedim

Pouco após as 22h, enfim começou o principal show da noite: com uma banda de apoio composta por Luiz Rodrigues (guitarra base), Felipe Andreoli (baixo) e Bruno Valverde (bateria), Kiko Loureiro subiu ao palco e começou sua mega apresentação, com a música “Blindfolded” abrindo o que seria um show de quase três horas de duração. Algo muito legal de se ver é que a proximidade e carinho que Kiko possui em relação ao Angra vai muito além das músicas (tendo tocado várias delas durante a noite, inclusive), contando com metade de sua banda formada por membros atuais do grupo e, inclusive, contando com a participação de Rafael Bittencourt entre os convidados para assistir a apresentação (infelizmente não rolou participação durante o show, mas quem sabe na próxima). O show fez parte da mais recente turnê do músico, a “Theory of Mind Tour 2025”, temática do último disco de estúdio de Kiko (lançado em outubro de 2024 e que conta com o mesmo nome, além de ser inteiramente composto por faixas exclusivamente instrumentais).

Foto: André Tedim

De um modo geral, o setlist da apresentação não foi tão diferente do show de 2024 (realizado em agosto também no Tokio Marine Hall), contando com a presença de músicas como: “Overflow”, “No Gravity” e “Pau-de-Arara”; a mega junção de faixas do Angra “Carry On/Spread Your Love/Nova Era/Morning Star/Evil Warning/Speed”; e também algumas das composições de Kiko durante a sua recente fase no Megadeth, como “Killing Time”, “Conquer or Die!” e “Dystopia” (talvez a favorita dos fãs do músico em sua passagem pelo grupo norte-americano). Assim como na apresentação do ano anterior, Kiko ficou responsável, também, por fazer os vocais de parte das canções (especialmente as faixas do Megadeth), o que é de uma grande dificuldade de execução enquanto se assume as guitarras principais de músicas tão complexas como essas. Tal façanha exigia um nível redobrado de atenção, que, como era de se esperar, o músico tinha, entregando com louvor alguns de seus principais trabalhos. Na parte em que estavam somente Kiko e sua banda no palco, creio que o show poderia ter tentado se distanciar um pouco mais das apresentações da turnê de 2024, visto que o músico possui um repertório muito extenso e que certamente poderia (e deveria) ter sido explorado mais.

Foto: André Tedim

Porém, o grande diferencial da turnê não estava no setlist, e sim na participação especial do icônico ex-guitarrista do Megadeth: Marty Friedman, que subiu no palco do Tokio Marine Hall executando “Hyper Doom”, uma de suas músicas autorais. Elogiar a técnica de Marty Friedman se torna até mesmo redundante, de certa forma, especialmente após tantos anos e as contribuições gigantescas que trouxe ao Megadeth nos quase 10 anos que integrou o grupo, mas nunca é demais falar, especialmente quando se toca ao lado de Kiko Loureiro, com ambos os músicos apresentando uma sintonia gigantesca entre eles. Em um repertório conjunto de seis músicas e extremamente diverso, Kiko e Marty viajaram pela música nacional e internacional ao atravessar por faixas como “Tornado of Souls” (e seu icônico solo sendo executado na íntegra) e “Rebirth” (talvez o ponto alto da noite, acompanhados pela sempre magistral voz de Alirio Netto), além da execução conjunta das músicas “Asa Branca” e “Brasileirinho”, sendo o suficiente para já ter o seu CPF brasileiro “entregue” pelos fãs. O carinho foi mútuo, com Marty declarando estar extremamente grato pelo carinho do público brasileiro e pela turnê em conjunto com Kiko.

Foto: André Tedim

Fugindo do comum e entregando um show extenso, Kiko Loureiro se juntou com muitos outros talentos e entregou uma apresentação técnica, veloz e nostálgica, explorando parte do seu passado e de seu catálogo musical enquanto dando um gostinho de como poderia ter sido um Megadeth em uma realidade alternativa na qual Kiko e Marty subiram ao palco juntos. Fica aqui a torcida para que possamos vê-los juntos novamente no futuro!

SETLIST:

01. Blindfolded

02. Reflective

03. Overflow

04. Killing Time

05. Pau-de-Arara

06. No Gravity

07. Carry On-Spread Your Fire-Nova Era-Morning Star-Evil Warning-Speed

08. Conquer or Die!

09. Dystopia

10. Mind Rise

11. Nothing to Say