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30 de novembro de 2025

Em sua terceira passagem pelo Brasil, James realiza um show com potência musical e grande conexão com o público

Foto: João Zitti 


James – Audio - São Paulo/SP - 13 de novembro de 2025


Por João Zitti (@joaozitti.work)

Fotos: João Zitti (@joaozitti.work)


Ícones da música alternativa, a banda britânica James realizou no mês de novembro sua terceira passagem pelo Brasil, em mais de 40 anos de existência e pouco mais de um ano após sua apresentação no Rock in Rio de 2024. Em turnê pela América Latina, o grupo dedicou dois dos cinco shows para o solo nacional, sendo Curitiba (12 de novembro) e São Paulo (13 de novembro) as cidades escolhidas. 

A apresentação (segunda e última no país) ocorreu na Audio, localizada na Barra Funda e em frente ao parque da Água Branca. Na noite, o grupo enfrentou o grande desafio de bater de frente com o show conjunto do Cavalera Conspiracy e de Massive Attack, que ocorreu ao mesmo tempo no Espaço Unimed (praticamente do lado da casa de shows). Surpreendentemente, isso não afetou em nada na presença de público, que lotou os dois andares do local. Marcada para as 21h, o show enfrentou um atraso de mais de 20 minutos, o que foi sentido por parte do público (que reclamou pontualmente sobre a situação), mas justificado pelo trânsito caótico do dia. Inclusive, uma parte considerável dos fãs chegou atrasada, então a demora no início da apresentação não pesou tanto no saldo final, sendo rapidamente esquecida quando o grupo subiu ao palco. 

Se tivesse que dividir a performance, separaria ela em três partes. A primeira, o início, foi excelente: a euforia foi o sentimento que definiu a atmosfera do local, com a execução de algumas canções muito conhecidas pelos fãs, como “She’s a Star”, “Waltzing Alone” e “Say Something”. O vocalista Tim Booth, inclusive, desceu do palco para ficar colado com os fãs na grade, cantando diretamente para o público e criando momentos que, certamente, foram marcantes para a plateia. Isso tudo foi ainda mais intensificado pelo grande carisma do cantor, que esbanjou simpatia e fez questão de, desviando dos vários celulares, olhar no fundo dos olhos de cada um que estava no local prestigiando a apresentação. 

Foto: João Zitti 

Foto: João Zitti 

Foto: João Zitti 


A segunda parte, porém, trouxe uma queda como um todo: o grupo, conhecidamente experimental, optou por tocar algumas músicas menos conhecidas e, de um modo geral, mais longas. Tecnicamente falando, não há do que reclamar, visto tamanha complexidade musical e infinidade de camadas instrumentais nas faixas, com algumas das canções chegando a se tornarem quase que paisagens sonoras. Isso se tornou ainda mais impressionante pelo fato de terem sido executadas totalmente ao vivo, o que mostrou a enorme sincronia entre os membros do grupo (que são muitos, diga-se de passagem). Porém, técnica não é sinônimo de entretenimento, e isso ficou bem claro durante esse trecho, em que grande parte da plateia ficou mais morna. 

O terceiro ato, em contrapartida, levantou e muito o ânimo da casa. A banda, sabiamente, optou por tocar a grande maioria de seus sucessos na reta final do show, dividindo os vocais com o vivíssimo coro do público em canções como, por exemplo, “Sit Down” (argumentavelmente o maior hit da banda), um momento mágico na noite e que, por si só, teria sido um excelente encerramento para a apresentação. No bis, o grupo inglês optou por executar as músicas “Getting Away With It (All Messed Up)”, um dos pontos altos da noite para grande parte do público (inclusive para mim), e “Laid”, do disco de mesmo nome, arrancando aplausos emocionados dos fãs. Nessa reta final, o guitarrista do grupo decidiu dedicar “Getting Away With It (All Messed Up)” ao Brasil como um todo, e expressou sua vontade de, em um próximo retorno ao país, tocar em um estádio-arena. Ainda que não tenha tanta certeza em relação a esse aumento de proporções, o grupo certamente merecia um lugar maior para se apresentar, como, por exemplo, um Tokio Marine Hall, mas vamos ver o que o futuro reserva. James manifestou sua vontade de retornar ao país em breve, e a ideia certamente foi abraçada pelos fãs da banda, que certamente agradeceriam uma quarta passagem pelo país. 

Com quase 20 músicas no total, a banda James se apresentou com um setlist irregular, mas que mesmo assim foi superado por uma técnica musical excepcional, a presença de hits icônicos e um carisma gigantesco, se conectando com o público com sinceridade e maestria.  

Foto: João Zitti 

Foto: João Zitti 

Foto: João Zitti 


SETLIST:

01. She’s a Star 

02. Waltzing Alone 

03. Say Something 

04. Way Over Your Head 

05. Attention 

06. Five-O 

07. Shadow of a Giant 

08. Born of Frustration 

09. Come Home 

10. Stay 

11. P.S. 

12. Out to Get You 

13. Heads 

14. Beautiful Beaches 

15. Sit Down 

16. Sound 

17. Tomorrow 

18. Getting Away With It (All Messed Up) 

19. Laid 


Agradecimento à Catto Comunicação pelo credenciamento e atenção 

Marduk e Torches of Nero: a blitz sueca finaliza em São Paulo a turnê latino-americana em comemoração aos 35 anos de banda

Foto: Rafael Cunha Procópio 


Marduk - Manifesto Bar - São Paulo/SP - 02 de novembro de 2025


Por: Rafael Cunha Procópio

Fotos: Rafael Cunha Procópio (@rafaelcprocopio)


As luzes profanas do black metal descenderam no Novo Manifesto para coroar o primeiro fim de semana de novembro. Entre as tochas do imperador romano e a luz do deus supremo da Babilônia, o fiel público paulista do metal obscuro presenciou duas apresentações bem distintas entre si, mas que mostraram a vastidão do gênero entre blasfêmia, misantropia e belicosidade.

O trio gaúcho do Torches of Nero iniciou a noite com seu blasfemo ritual de máscaras, dividido em dois blocos, equilibrando o setlist com músicas inéditas – foco da primeira parte – e outras já divulgadas pela banda – que prevaleceram na segunda metade do show. Produtores de um black metal cru e bem calcado nas duas primeiras ondas, apesar de o som remeter mais claramente às bandas europeias continentais da década de noventa, o Torches of Nero não deixar de reverenciar os expoentes europeus e brasileiros da primeira onda, como os suíços Hellhammer e Celtic Frost, os ingleses Venom e os brasileiros Sarcófago, Vulcano e Holocausto.

Baal Seth Penitent (ou Santiago, para os mais chegados) conduziu o baile macabro com maestria, introduzindo a maior parte dos sons com breves discursos ácidos contrários à dogmática judaico-cristã. Interessante notar como nada do figurino parece ser mero acaso. No primeiro bloco, a máscara de Baal Seth personificou o deus Pã, possivelmente como meio de introduzir o novo som rústico da banda – tal qual teria feito o deus camponês na Grécia Antiga. O anticristianismo, mote principal da entidade Baal, estava presente em várias faixas dessa primeira parte, tais como Blessed be the lepers that Yeshua didn’t cure; The rat; Hosana Iscariot e Rotting corpse of Christ (and the whore impaled).

A máscara mais enigmática e despersonificada do segundo bloco entrou em maior sintonia com as usadas pelo baterista Antimater e baixista Blackpest – em minha opinião, a de maior destaque, um demônio despersonificado com crucifixos invertidos para ornamentar sua malignidade. Ainda calcado no tom crítico aos dogmas religiosos, os gaúchos tocaram Mokk – do seu primeiro EP, de mesmo nome –; Hate Mokking Abrahamaggedon e The Key of Denial. O show foi finalizado com a música The Sower of Darkness, composta em homenagem a Euronymous e com sonoridade claramente inspirada no Mayhem. Nessa noite, foi dedicada ao Venom e aos 43 anos do álbum Black Metal, completados no mesmo dia.

Após mais de uma hora de espera, chegou a vez de o público presenciar a máquina de guerra do Marduk. Similar à estratégia de guerra relâmpago alemã, a falta de um anúncio claro sobre a hora do show parecia testar os nervos dos presentes. Sem saber se os suecos tocariam às 21h, 21h30 ou 22h, a expectativa era quase palpável. Por fim, as primeiras bombas de abertura do clássico Panzer Division Marduk começaram a rolar nos PAs do Novo Manifesto às 21h35. Pelos próximos 30 minutos, o álbum foi tocado na íntegra, seguindo a ordem do tracklist original de 1999 de forma impiedosa.

Ainda que a voz visceral de Erik “Legion” Hagstedt seja insubstituível, o vocal mais grave de Daniel “Mortuus” Rostén tem o mérito de, ao vivo, transmitir com maior precisão a urgência e a belicosidade dos temas de guerra que se tornaram a marca registrada do Marduk ao longo das décadas e após os primórdios da banda tocando death metal e perpassando as temáticas anticristãs usuais nas origens do black metal. Os meus destaques pessoais de sua performance foram Baptism by Fire; Scorched Earth; 502 e Fistfucking God’s Planet. Por algum motivo oculto – seja o cansaço da extensa turnê, seja algum problema técnico de retorno do som que eu particularmente não captei –, o vocalista teve diversos arroubos de mau humor e descontou o descontentamento no pedestal do microfone, diversas vezes lançado ao chão ou na direção do (também músico) roadie da banda. Fica a nota de que similar desrespeito que não se justifica em qualquer caso.

Foto: Rafael Cunha Procópio 

Foto: Rafael Cunha Procópio 

Foto: Rafael Cunha Procópio 


A tríade instrumental da banda merece igual menção pela precisão, volume e peso na execução das músicas. A sintonia da dupla de Simons – Wizén no baixo e “Bloodhammer” Schilling na bateria –, que já estava presente na última passagem da banda em 2023, ficou ainda mais evidente dessa vez. Mesmo com o volume da bateria se sobrepondo um pouco aos demais instrumentos, o desbalanceamento não chegou a prejudicar a audição geral. O codinome “martelo de sangue” do baterista tem motivo de ser, porque, se as peles da bateria sangrassem às marteladas sofridas ao longo do set completo, certamente as baquetas sairiam tingidas do mais rubro vermelho. A técnica e desenvoltura em músicas como Panzer Division Marduk; Beast of Prey; Blooddawn e, claro, Blond Beast – que encerrou o show – impressionaram.

Presenciar o Morgan “Evil” Håkansson, fundador e mentor do Marduk, ao vivo é um espetáculo a parte. Apesar da postura mais contida do lado esquerdo do palco, o homem é uma máquina de riffs monumentais do mais escuro e perverso metal, tirando o exercício de resistência e estamina (talvez aí mais um motivo para a sua camiseta referenciando a Revolta de Varsóvia de 1944). As suas composições falam por si só, então ele sequer precisa dividir a atenção com o frontman. A velocidade das suas palhetadas hipnotiza e Morgan atua como o regente da invasão diabólica sob o irônico banner do deus babilônico da luz. Exemplo claro é a igual atenção que as linhas de guitarra receberam do público brasileiro ao mesmo tempo em que os presentes cantavam em uníssono os refrões de Christraping Black Metal e Fistfucking God’s Planet.

Passados alguns poucos minutos, a banda voltou ao palco para terminar a destruição sonora com um sobrevoo pelos 35 anos de carreira. O (também breve) segundo bloco contou com seis músicas, sendo duas da fase Mortuus no vocal. Those of the Unlight abriu os caminhos com um black metal mais cru e tradicional, sendo seguida por With Satan and Victorious Weapons, que conta com um exímio trabalho de guitarra de Morgan. A referência ao trabalho mais recente da banda veio na forma da cadenciada Shovel Beats Sceptre, uma soturna marcha fúnebre regida pelas seis cordas de Morgan e pelas cordas vocais de Daniel, tão implacável e inevitável quanto o chamado à morte.

Sendo ou não a faixa do disco Memento Mori a representante da Morte do tripé conceitual “Blood, Fire, Death” em substituição ao La Grande Danse Macabre – disco que originalmente fechou essa trilogia conceitual do Marduk –, fato é que o ícone do Sangue também se fez presente com Slay the Nazarene, fechando o círculo iniciado com o Fogo do disco Panzer Division Marduk. Já se encaminhando para o fim da apresentação, The Black... foi o único aceno ao primeiro disco da banda, uma música com toques de death metal, mas que ao vivo ganha uma roupagem mais soturna e próxima do black metal que a versão original de estúdio.

Foto: Rafael Cunha Procópio 

Foto: Rafael Cunha Procópio 

Foto: Rafael Cunha Procópio 

Foto: Rafael Cunha Procópio 


O coro gritado de “Marduk” precedeu a execução do hino moderno Blond Beast, com o seu ritmo guiado por guitarra e bateria capaz de injetar a energia final em todo um batalhão (ou seria legião?) de almas sem luz em marcha pelas planícies manchadas de terror, sangue e negror. Pena que esta foi, de fato, a faixa final do show. Com um misto de sabor agridoce e confusão da casa, equipe e público, as luzes apagadas perduraram por mais alguns minutos antes de finalmente serem acesas sem a execução da esperada Wolves. Apesar de ela sequer constar na versão impressa do setlist, ela era antecipada pelo público brasileiro, pois foi tocada nos demais shows dessa turnê latino-americana.

Voltando às palavras de abertura, é interessante notar como a performance dos suecos do Marduk, despida de que quaisquer adereços de palco e contando apenas com uma iluminação que durante a maior parte do show é bastante escura, se diferencia da ritualística performada pelos brasileiros do Torches of Nero. Cada um ao seu modo revela as distintas faces do metal negro, mostrando o quão amplo é o terreno tocado pela escuridão do black metal.


Agradecimento ao Manifesto Bar pelo credenciamento e atenção 

Cro-Mags - Burning House - São Paulo/SP

Foto: Roberio Lima 

Cro-Mags - Burning House - São Paulo/SP - 08 de outubro de 2025


Por: Roberio Lima

Fotos Roberio Lima


Antes de nos atermos aos fatos relacionados a última passagem do Cro-Mags por São Paulo, gostaria de registrar nesse espaço, como “descobri” a banda, e o quanto sua obra foi impactante desde então na vida desse que vos escreve. Já me adianto em dizer que não há nada demais nessa história, mas acredito que os mais de trinta anos transcorridos desde a minha tórrida adolescência, ainda produzem uma fagulha de jovialidade em uma existência que já flerta descaradamente com a iminência do ‘fim’.  

O Fúria Metal, exibido na extinta MTV, era meu programa favorito na década de noventa, e em uma das memoráveis edições apresentadas pelo VJ Gastão Moreira - onde sua curadoria de videoclipes era o grande barato da atração – uma banda em especial me chamou a atenção - e foi justamente o  Cro-Mags com “We Gotta Know” - do clássico álbum “The age Of Quarrel”, lançado no ano de 1986, e que na época, me causou assombro! As imagens e a violência sonora contida em menos de quatro minutos de duração daquele videoclipe, já foram suficientes para que a experiência ficasse impregnada no meu imaginário pelos anos seguintes. Desde então, ansiava pela possibilidade de conferir ao vivo o poder de fogo da banda, e eis que no ano de 2025 finalmente consegui realizar mais esse sonho! 

O local definido para receber o show de Harley Flanagan e seus comparsas, foi a Burning House, muito próxima da estação de trem Água Branca, e que tem recebido shows de diversas bandas internacionais nos últimos meses. Uma quantidade considerável de ingressos foi vendida com antecedência (estamos falando de uma quarta-feira à noite!), e mesmo com garoa e trânsito intenso na cidade, o público foi ocupando os espaços do Burning House de forma gradativa, pois o primeiro ato da noite, contaria com a aparição do Paura, banda que dispensa apresentações e que já é figura carimbada nesse tipo de evento. Para corroborar essa afirmação - de dois anos para cá, já testemunhei aparições dos caras, dividindo o palco com nomes como Madball, Gorilla Biscuits e Rise Of The North Stars - só para ficar nesses três nomes! Por isso, é desnecessário enfatizar o grau de importância dessa instituição do hardcore paulistano. Sem muitas delongas, pouco depois das 19h30m, abriram os trabalhos com a visceral “No Hard Feelings!? Fuck You!”. O público se mostrava acanhado naquele início de apresentação, fato prontamente percebido pelo experiente vocalista Fabio Prandini, que por sua vez, incitava os presentes a participarem do mosh. A faixa “Karmic Punishment” - música que abre o mais recente lançamento da banda, e que já se tornou presença obrigatória no setlist dos shows, deu sequência aos trabalhos, e ajudou a ambientar a audiência naquele momento. 

Foto: Roberio Lima 


A segunda metade da apresentação, estabeleceu um teor ainda mais agressivo para canções que eram apresentadas - fato que culminou em uma aparição furiosa de Felippe Max em “N.W.A. (Never Walk Alone)”. Aliás, Felippe, minutos antes de fazer sua participação no show da banda, engrossava a movimentação no mosh em frente ao palco. A apresentação já se encaminhava para o fim, mas ainda houve tempo para um cover de “Sailin´On” do Bad Brains , e culminou no encerramento com “History Bleeds” do álbum homônimo, lançado em 2010. O Paura, mais uma vez, deixou sua marca em uma apresentação intensa e brutal. Dessa forma, não há como negar a importância de seu legado para o hardcore nacional. 

Que continuem contribuindo com a cena e proporcionando entretenimento do mais alto nível para um coletivo sedento por agressão sonora! 


Setlist Paura: 

No hard Feelings!? Fuck You!

Karmic Punishment

Last Response 

Urban Dacay 

Reverse the Flow 

For Each Dead One / Scars Of Life 

Level of Maturity 

Time Heals No Wounds 

N.W.A. (Never Walk Alone) 

Sailin´On (Bad Brains cover) 

History Bleeds 

Foto: Roberio Lima 


O público já se fazia presente preenchendo todos os espaços do Burning House, pois dali a alguns instantes, o palco seria ocupado por um personagem lendário do hardcore mundial. A última vez que o Cro-Mags esteve no Brasil, onde se apresentou no extinto Clash Club, contava com os vocais de John Joseph, mas diante das disputas judiciais envolvendo os integrantes da formação clássica, eis que a encarnação mais recente da banda conta com Harley Flanagan nos vocais (e no baixo!), sendo esse o único integrante da formação original.  

Já estávamos próximos das 21h, quando Supla (sim, exatamente esse que você pensou!), subiu ao palco para anunciar a grande atração da noite. Naquele instante a audiência já estava extasiada com a iminência de mais uma aula de moshs e stage dives! Dessa forma, Harley Flanagan assume seu lugar no palco munido de um cigarro da “erva maldita”, e ao mesmo tempo em que deu um trago caprichado no “cigarrinho”, cumprimentou rapidamente os paulistanos, e já emendou a introdução mortal de “We Gotta Know” - Nem preciso descrever o alvoroço instaurado naquele espaço, e que momento meus amigos! Imediatamente fui transportado no tempo de volta aos meus quinze anos, mais precisamente para o período em que descrevi na abertura desse texto. 

Foto: Roberio Lima 


Quando o pandemônio se instaurou de vez, foi necessário que dois seguranças se posicionassem em frente ao palco para conter o frenesi que dominava o lugar. Muitos não entenderam que a atitude tinha como objetivo preservar a integridade física dos músicos e do público, mas ainda assim, houve indignação generalizada por aqueles que só queriam “dar um mergulho” do palco. Enquanto isso, Flanagan, soava em bicas ao mesmo tempo em que destilava as músicas do repertorio - que priorizou os dois primeiros trabalhos da Cro-Mags, sendo o já citado “The age Of Quarrel” e o segundo disco “Best Wishes”, lançado em 1989. Além do Flanagan, o Cro-Mags conta em sua atual formação com Dom DiBebedetto (guitarra), Christian Lawrence (bateria) e Dave Sharpe (guitarra).

Por fim, preciso dizer que o show foi exatamente o que se esperava, e em termos de diversão, estará entre os melhores na memória dos que compareceram ao evento. Definitivamente, ver e ouvir clássicos do quilate de “World Peace”, “Show You No Mercy” ou “Hard Times” - já valem qualquer eventual hematoma - que servirá no final das contas - como um souvenir de uma vivência destinada somente para alguns destemidos sobreviventes.  

Foto: Roberio Lima 

Foto: Roberio Lima 


Setlist Cro-Mags: 

We Gotta Know 

My Life 

Crush the Demoniac

Malfunction

Show You No Mercy

World Peace

Hard Times

The Only One

Down but Not Out

Apocalypse Now

Then and Now

These Streets 

No One’s Victim


Agradecimento a Tedesco Comunicação e Midia  pelo credenciamento e atenção 

Hellsinki Metal Fest 2025 - Dia 2 - Finlândia



Por Giovanna Marques (correspondente Big Rock na Finlândia)

Fotos gentilmente cedidas por Sigryd Bagon @sbagon_photography)

@henrijuvonen / @tekegraphy / @lucasekblade 


No dia 8/8/2025 aconteceu o primeiro dia da terceira edição do Hellsinki Metal Festival (HMF), o festival de Metal realizado na tradicional arena de hóquei no gelo de Helsinki. 

Embora esteja em sua terceira edição, o festival já se consolidou como um dos maiores nomes da cena Metal Nórdica, graças à sua ousadia em trazer headliners absolutamente lendários. Neste ano, o festival contou com nada menos que nomes como King Diamond, Venom, Candlemass e Michael Schenker. 

A equipe do Big Rock 'n' Roll não poderia ficar de fora de tamanha magnitude, e por isso fomos conferir mais uma vez essa lenda do Metal em forma de festival. (Para quem ainda não leu, clique aqui para conferir a resenha da edição de 2024 do festival.)


Sábado, dia 09/08, e já saímos preparados para um dia maravilhoso de calor na capital finlandesa. No palco principal, Lähiöbotox abriu o dia de apresentações. A incrível banda de Helsinki faz uma mistura interessantíssima de rap, riffs super pesados, hardcore e crossover thrash. Se você não conhece, vale a pena dar uma olhada, eu particularmente adoro! 

Infelizmente não foi possível assistir à apresentação na íntegra, mas por uma boa razão: fomos aceitos para fazer parte de um tour mega especial organizado pelo promoter e pelos organizadores do festival e dedicados aos profissionais de imprensa. Começamos o tour, liberado por Toni Törrönen, indo em direção à famosa sauna do evento: Bodom Sauna & Bar. O bar, localizado na cidade de Espoo, é gerenciado por membros originais do Children of Bodom e exibe uma coleção incrível e exclusiva de materiais de turnês do COB pelo mundo, além de guitarras de Alexi Laiho, set lists e álbuns publicados. O Bodom Sauna & Bar possui uma área exclusiva no HMF que conta com uma mini exposição de itens incríveis da banda. Era possível ver pôsteres de turnês e presentes de fãs (desde ursinhos de pelúcia, bandeira da Argentina até peças íntimas jogadas no palco). Em seguida, fomos conhecer diversos locais, entre eles: backstage, palco 2, a área onde as bandas possuem seus camarins e a área RIP (VIP), onde o tour terminou com drinks e pipoca. O tour também contou com a participação de Heta Hyttinen, Jere Saajoranta e Maria Uusitalo. Foi sem duvida uma grande felicidade poder fazer parte dessa tão esperada tour e conhecer locais tão especiais.

Durante o tour, tivemos a oportunidade de ver do backstage e fotografar a banda Party Cannon fazendo sua apresentação no palco 3. A banda escocesa de Slam Death Metal combina muitas coisas bizarras no palco, onde era possível ver máscaras de todos os tipos, integrantes da equipe da banda subindo no palco segurando cartazes e usando fantasias, um pênis gigante feito de papelão e muito papel colorido. A banda agitou os presentes e fez não só um show de metal, mas um entretenimento completo.



Em seguida, fomos para o Palco 1 para assistir à lenda do grindcore, Napalm Death. A banda inglesa, que dispensa apresentações, fez uma show digno de lenda: clássicos no setlist, porrada na orelha, mensagens sociopolíticas e até um cover de Dead Kennedys. Era possível ver o coro do público cantando junto no refrão “Nazi Punks Fuck Off!”. O vocalista, Mark “Barney” Greenway, explicou a origem de algumas letras e fez um lindo discurso agradecendo ao HMF por ser um festival tão inclusivo, onde todos são bem-vindos independentemente de cor, gênero, orientação sexual ou nacionalidade. Muita atitude!

Foto: Sigryd Bagon @sbagon_photography

Foto: Sigryd Bagon @sbagon_photography


Uma passadinha rápida para ver os suecos do Alfahanne no palco 3 e dar uma descansada de 10 minutos (já que o palco 03 coberto possui inúmeras cadeiras para sentar e assistir às bandas) mostrou um som que eu mesma não esperava: a banda mistura temas sombrios da humanidade com black metal, Punk, Goth Rock e uma pegada bem rock n' roll. A banda autoentitula seu gênero de: “Alfapocalyptic Rock”, fazendo jus ao seu som.


Em seguida, fomos em direção ao palco 2 para assistir aos noruegueses do Enslaved. Formada em 1991, a banda simplesmente não tem que provar nada mais a ninguém e provou isso. Antes mesmo da entrada dos músicos no palco já havia um grande número de fãs à espera das lendas do metal extremo. Apesar de serem sempre lembrados como Black Metal, o Enslaved faz um som que remete às terras nórdicas de um jeito sem igual, mesclando Viking, Black e até mesmo Prog Metal. O set list mesclou novos e antigos clássicos, mas o mais incrível da apresentacao foi a sensação de se estar no meio do inverno em uma floresta nórdica, com sons guturais e acústicos que trazem à tona toda a mitologia nórdica, mesmo estando no meio de um festival de verão! Incrível!

Foto: Sigryd Bagon @sbagon_photography

Foto: Sigryd Bagon @sbagon_photography

Foto: Sigryd Bagon @sbagon_photography


Continuando no mesmo palco, a lenda do Hard Rock mundial, Michael Schenker, chegou e fez bonito, como sempre. Para os que não estão a par da carreira e do tamanho da lenda: Michael Schenker iniciou sua carreira como um garoto prodígio, juntando-se à lenda alemã Scorpions com apenas 16 anos e sendo guitarrista full time da banda em seu álbum de lançamento “Lonesome Crow”. Logo após o lançamento, Schenker deixou o Scorpions (e foi substituído por ninguém menos que Uli Jon Roth) para se juntar ao UFO em 1973, ajudando a criar e moldar o som icônico do hard rock britânico dessa e das futuras décadas. O UFO é tão gigante que influenciou praticamente todas as bandas de rock e metal que vieram em seguida, tendo o Iron Maiden falado publicamente em diversas entrevistas o quanto a influência do UFO foi importante para a criação do som deles. Fato tão conhecido que na sua última turnê, Run For Your Lives World Tour 2025, o Iron Maiden entra no palco ao som de “Doctor Doctor”! Outro fato curioso: na turnê desse ano de comemoração de 30 anos de lançamento do The X Factor, Blaze Bayley também entra no palco ao som de “Doctor, Doctor”! Fatos interessantes que dão somente uma pequena dimensão da lenda que Michael Schenker é. Voltamos ao show do HMF: pura lenda. Michael Schenker trouxe ao HMF a turnê “My Years With UFO”, onde toca somente músicas da sua carreira no UFO. O show foi simplesmente brilhante. 

Foto: Sigryd Bagon @sbagon_photography

Foto: Sigryd Bagon @sbagon_photography


Além da sua banda já incrível formada por Bodo Schopf na bateria, Barend Courbois no baixo e Steve Mann nos teclados e guitarra base, essa turnê contou ainda com o famoso Erik Grönwall nos vocais e violão. De todos os quatro shows que vi na minha vida com do Schenker, esse foi, sem dúvids, o que teve o melhor entrosamento entre os músicos alem de ser nitidamente visível no rosto de Schenker sua empolgação com a turnê. Enquanto Erik fazia o papel de frontman, agitando e engajando o público a participar do show, Schenker se concentrava no que fazia melhor: suas notas e groove, reconhecíveis de longe na sua flying V. É incrível como que, mesmo aos 70 anos, Schenker não perdeu a fluidez e energia, e a cada show que passa, Schenker se assemelha a um bom vinho: quanto mais passam os anos, melhor fica seu som! Em sua performance, na minha opinião, icônica, de “Love to Love”, Schenker pareceu entrar em um transe em que as notas simplesmente saíam de sua flying V como uma doce viagem aos anos 70, porém com a maravilha da tecnologia de 2025. Foi algo que é simplesmente impossível de colocar em palavras: o flow que se seguiu foi tão lindo e fazia jus a cara de empolgação da lenda com a apresentação. O transe continuou por todo o show e solos não previstos tornaram a apresentação ainda mais épica. O que, para os die hard fans como eu, foi como uma viagem mágica, por outro lado não foi possível completar o set list, ficando de fora a clássica “Too Hot to Handle” pelo tempo de apresentação ter sido estourado. Fato que ficará na memória de todos os fãs que esperavam por tanto tempo para ver essa turnê, e que não só não deixou a desejar como surpreendeu positivamente de formas infinitas a apresentação dessa lenda. A notícia boa para os fãs é que vem mais Michael Schenker nas terras finlandesas: seu show em Helsinki foi confirmado para a primavera de 2026 e os ingressos já estão à venda!

Foto: Sigryd Bagon @sbagon_photography

Foto: Sigryd Bagon @sbagon_photography


Parada momentânea para recarregar depois de uma apresentação tão icônica, era hora de irmos em direção ao palco principal para assistirmos à lenda viva do hard/metal core, Hatebreed. Formada em 1994 em Connecticut, EUA, o Hatebreed possui um som que conta com influências óbvias como o hardcore e punk e heavy metal e estilos não tão óbvios como o groove metal e thrash metal, e além de ter muitos anos de estrada e de possuir uma indicação ao Grammy, alem de muita polêmica. A apresentação no HMF foi insana, com o público indo ao delírio com um mosh gigante, efeito pirotécnico e bolas gigantes voando pelo público. O show também contou com homenagem ao Ozzy e sua importância para o metal mundial. A banda referência do metalcore fez um efeito impressionante no público; durante o evento, não vi tanta animação por parte do público quanto presenciei no show do Hatebreed!

Foto: Sigryd Bagon @sbagon_photography

Foto: Sigryd Bagon @sbagon_photography

Foto: Sigryd Bagon @sbagon_photography


De volta ao palco 2, chegou a hora dos suecos do Marduk fazerem sua apresentação. O Marduk tambem dispensa apresentações aos fãs de metal extremo, e  vale sempre a pena lembrar da sua importância no black metal mundial: a banda é conhecida pela sua influência e consistência no metal extremo, além de ser uma das bandas do gênero com um dos maiores tempos de estrada, estando na ativa desde sua criação em 1990. Uma apresentação que ocorreu sem grandes eventos, simplesmente o bom e velho black metal.

E finalmente chegou a hora do Headliner da noite: VENOM! Os britânicos, reconhecidos como os pioneiros do metal extremo, entram no palco em meio a um verdadeiro clima infernal: Luzes vermelhas, fumaça, pentagramas, distorções de guitarra e volume no talo, parecia que Satan realmente se fazia presente. A banda mostrou o porquê de serem verdadeiras lendas: um show com uma energia gritante, cada música um soco no estômago e aquela vontade incontrolável de bater a cabeça: Os deuses Rock n' Roll se faziam presentes! A apresentação foi simplesmente brilhante e, apesar da banda não lançar nenhum material novo desde 2018, Venom mostrou que tinha mais energia que qualquer artista novinho no palco. O set list foi um deleite para todos os fãs, contendo todos os clássicos esperados, além de material dos seus últimos três lançamentos. Não vou negar que, como grande fã de Sabbath, a melhor parte da noite veio com a homenagem a Ozzy e um lindo medley de músicas do Sabbath: “Children of the Grave / Symptom of the Universe / Paranoid” tocadas pelo Venom! Para mim foi, sem dúvida, o ápice da noite. A voz ”Lemmyniana” de Cronos e as guitarras quase impecáveis de Rage, combinadas com o groove poderoso de Dante, fez com que o tributo fosse, sem dúvida, um dos melhores já vistos ao vivo. Fechando a noite, as clássicas “Witching Hour” e “In League With Satan” fizeram a apresentação se encerrar de forma mais que memorável.


O Hellsinki Metal Festival mostrou mais uma vez toda sua força em forma de festival e se consolida como um dos pontos imperdíveis de festivais de verão do norte da Europa! 

Os ingressos para o HMF 2026 já estão à venda e as primeiras bandas já foram anunciadas: corre lá (hellsinkimetalfestival.fi/en/read-more/hellsinki-metal-festival-2026-first-artist-announcement) e dá uma olhada, pois com certeza será mais uma vez um evento imperdível!

O Big agradece imensamente a toda produção do Hellsinki Metal Festival, em especial à Ginger Vine Management, pelo credenciamento.

28 de novembro de 2025

Guns N’ Roses anuncia início da venda de ingressos para turnê brasileira 2026

Foto: Guns N' Roses 


O Guns N’ Roses divulgou nesta quinta-feira (27) as informações sobre a venda de ingressos para a nova etapa da turnê “Because What You Want and What You Get Are Two Completely Different Things” no Brasil. Além da participação no Monsters of Rock, no dia 4 de abril, no Allianz Parque, em São Paulo, a banda confirmou oito shows solo no país em abril de 2026: