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Foto: Divulgação |
Por: João Zitti - Colaborador Big Rock N' Roll
Atualmente em turnê no Brasil, conheça “The Shit Ov God”, último disco da banda Behemoth e um dos melhores álbuns de metal do ano
O Brasil está sendo um grande destaque nas rotas dos artistas internacionais nesse ano de 2025, já tendo contado até o momento com apresentações de gigantes do rock, como System of a Down, Slaughter to Prevail e Kerry King. Ainda que o ano esteja acabando, isso não quer dizer que o ritmo de shows esteja diminuindo: em setembro, o país está sendo palco da turnê “The Unholy Trinity”, com apresentações Nidhogg, Deicide e Behemoth, em uma série de shows brutais no território nacional que tem mantido a chama do Black Metal acesa e vibrante.
Pra quem não conhece, Behemoth é um dos principais nomes atualmente no cenário do Black Metal, tendo surgido na Polônia no início dos anos 90 e formado atualmente por Nergal (vocal e guitarra), Seth (guitarra), Inferno (bateria) e Orion (baixo). Em seu portfólio, o grupo conta com mais de uma dezena de discos de estúdio e canções memoráveis, como “Blow Your Trumpets Gabriel” e “O Father O Satan O Sun!”, ambas do excelente álbum “The Satanist”, de 2014. Como é de se esperar de uma banda de Black Metal, o maior enfoque de seu trabalho está em explorar temáticas relacionadas ao oculto e ao satanismo (para quem ainda não havia pego a deixa com o álbum citado anteriormente), o que gerou uma multidão de polêmicas, mas também uma legião de fãs “fiéis” do grupo. Em 2025, Behemoth lançou o disco “The Shit Ov God”, com pouco menos de 40 minutos de duração e 8 faixas no total. Extremamente aclamado pelo público e pela crítica, o trabalho de estúdio é o enfoque da turnê atual da banda na América Latina, e agora vamos nos debruçar um pouco no porquê de ele ser tão elogiado.
O álbum se inicia com “The Shadow Elite”, um dos principais singles de divulgação do trabalho de estúdio. Para ser sincero, creio que a banda não poderia ter escolhido outra música que fosse tão boa quanto essa para a abertura: a canção começa com graves pulsares que automaticamente criam um sentimento de tensão no ouvinte, aumentando cada vez mais até que, então, são interrompidos pelas batidas aceleradas e inquietas da bateria, acompanhadas pouco depois pelas palhetadas alternadas agressivas dos dois guitarristas da banda. A sonoridade como um todo se mantém mais suja na maior parte da música, trazendo uma quebra no momento dos seus refrões ao cantor sobre uma elite das sombras que traz as mais diversas ruínas e pragas para o mundo, lançando a escuridão por onde passa. A canção conta com um videoclipe gravado em preto-e-branco com um formato entre o quadrangular e o 4:3, mostrando a banda tocando trancafiada em uma jaula enquanto seus fãs gritam e os assistem do lado de fora. O vídeo se utiliza, também, de uma edição extremamente rápida e de altas granulações com estouros de luzes, trazendo uma freneticidade ainda maior para a canção e criando o sentimento de estarmos assistindo a um gravação perdida de uma apresentação underground nos anos 90.
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Foto: Sylwia Makris e Christian Martin Weiss |
Continuamos, então, para “Sowing Salt”, uma faixa que mantém o mesmo ritmo acelerado de sua antecessora, mas que também realiza constantes mesclas entre riffs rápidos e passagens mais arrastadas, com notas dissonantes mais intervaladas umas das outras e que possuem um maior tempo para ressoar juntamente dos vocais de Nergal. Um destaque muito positivo na canção está na sua bateria, que se utiliza de elementos clássicos do gênero, mas também não se prende nas regras pré-estabelecidas em alguns momentos, especialmente no segundo refrão e em um drum fill que acontece logo após ele.
A terceira faixa, “The Shit Ov God”, por si só já é relativamente provocadora, especialmente em seu nome. Ela começa em um silêncio contínuo da música anterior, sendo interrompida pelos gritos desesperadores e desafiadores de Nergal em referências diretas aos símbolos cristãos do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo. Sua letra trabalha muito com opostos das representações e temáticas católicas, colocando o seu protagonista não só como alguém abandonado pelos céus, mas também como a própria figura do anticristo. Ao contrário das músicas antecessoras, seu ritmo é bem menos acelerado (exceto nos momentos de refrão e pré-refrão), criando camadas a mais com a utilização de corais femininos ao fundo para reforçar uma ideia mais sacra, enquanto sua bateria utiliza-se de batidas extremamente bem marcadas que quase se assemelham à batidas em uma forja infernal. Não à toa essa música é a carro-chefe do disco, sendo uma das melhores canções do álbum e um novo clássico no repertório da banda.
Se na faixa anterior temos o anticristo como protagonista, “Lvciferaeon” traz, justamente, seu fiel. Sua letra aborda diretamente um culto à figura de Lúcifer, utilizando-se da mesma regra de oposições da canção anterior não só como uma afirmação, mas como um manifesto de estilo e filosofia de vida. Nas guitarras, a banda foge de uníssonos ao trazer personalidades diferentes a cada uma delas na maior parte da canção, misturando palhetadas rápidas com a execução de acorde de uma maneira mais marcada. O melhor momento em que isso ocorre é logo antes do último refrão, após a execução de um solo muito mais melódico do que necessariamente técnico e que, provavelmente, foi o melhor do disco até agora.
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Foto: Divulgação |
Entrando na segunda metade do álbum, temos uma pancada sonora com “To Drown The Svn In Wine”, que logo nos seus primeiros segundos impacta o ouvinte com seus riffs acelerados e em sincronia, prezando por uma afinação mais grave em suas guitarras. Essa é uma característica que se mantém por toda a música não só na parte instrumental, mas também nos vocais, enquanto Nergal canta sobre abraçar e aceitar a escuridão em uma analogia protagonizada por um capitão de um navio. É engraçada a maneira como essa velocidade musical é tão bem trabalhada ao longo de toda a faixa, com uma maior calmaria e lentidão no momento em que o marujo parece finalmente aceitar a desesperança, cessada bruscamente pelos gritos aflitos de uma mulher em um anúncio de que, talvez, seguir o caminho da escuridão não tenha sido a melhor escolha.
A sexta faixa do álbum, “Nomen Barbarvm”, é talvez a faixa mais fraca do disco. Ela em alguns momentos lembra bastante “Lvciferaeon”, o que pode passar a impressão de ser uma música relativamente mais repetitiva de um modo geral (especialmente pelo fato de ambas serem intervaladas somente por uma única música no álbum), e sua letra não é tão impactante quando comparada com as outras canções do disco. O momento em que ela mais funciona é nos trechos de “abracadabra”, que se assemelham a entoações de feitiços antigos, mas de um modo geral a faixa infelizmente acaba passando batida no disco.
Seguimos para a penúltima faixa do álbum, “O Venvs, Come!”, que, assim como a faixa-título, se inicia em um ritmo mais lento, com notas dissonantes mais intervaladas e com um tempo próprio para ressoarem. O que dita o ritmo nessa música é, realmente, a bateria, muito bem marcada e que faz com que seja quase impossível não mexer a cabeça em sincronia com essas marcações de tempo. Assim como em “Lvciferaeon”, somos colocados em um papel de adorador, de um fiel, agora em um papel até mais “romântico”, de certa forma, de se entregar de corpo e espírito para a figura venerada. Talvez essa seja a canção no álbum que melhor se utiliza de elementos não-instrumentais para criar diferentes camadas e remeter a temáticas mais religiosas, utilizando pontualmente de alguns backing vocals femininos mais discretos e, na reta final da música, assumindo um coro com diferentes indivíduos, concretizando esse ritual macabro.
Chegamos então na música que encerra o disco, “Avgvr (The Dream Vvltvre)”, que também é um anúncio da ressurreição da figura do anticristo, vinda ao mundo para trazer violência e desgraça. A utilização das guitarras em uníssonos nos seus riffs acelerados reforça ainda mais esse sentimento de crescimento da escuridão no mundo, somadas à excelente interpretação de Nergal nos vocais (com destaque na segunda parte da música). A parte instrumental da música acompanha de forma quase que literal a sua letra, buscando criar a ideia de tropas sendo formadas nessa nova era através de passagens mais rítmicas, e também trazendo o sentimento de afastamento e de “voar longe” dos abutres através da utilização de uma passagem acústica com reverbs em fade-out, criando uma sensação de distanciamento e de concretização dos planos desse anticristo. Uma ótima finalização que faz juz ao disco como um todo, mas que também funciona muito bem como uma música por si só.
Utilizando suas características principais com força e confiança, Behemoth tem em “The Shit Ov God” não só um dos melhores discos do ano, mas também de sua carreira, conseguindo criar clássicos instantâneos para seu portfólio e reforçando sua posição como um dos principais nomes do Death Metal no cenário atual.
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Foto: Divulgação |
O grupo ainda possui duas apresentações no Brasil, que irão ocorrer nos dias 26 e 28 de setembro no Rio de Janeiro e em São Paulo, respectivamente. Os ingressos ainda estão disponíveis para compra, e você não pode perder a chance de presenciar uma das principais e mais pesadas turnês de 2025 com Nidhogg, Deicide e Behemoth!
TRACKLIST:
01 The Shadow Elite
02 Sowing Salt
03 The Shit Ov God
04 Lvciferaeon
05 To Drown The Svn In Wine
06 Nomen Barbarvm
07 O Venvs, Come!
08 Avgvr (The Dread Vvltvre)
Ouça aqui: https://behemoth.bfan.link/tsog.ema
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