Mais raro, porém, é o talento e a capacidade criativa e artística de uma banda como o DREAM THEATER. A condição de maior banda de metal progressivo da história liberta-os de amarras, pois tudo podem e nada mais devem para o seu fiel público ou para a crítica especializada que não cansa de tecer opiniões favoráveis para o quinteto norte-americano.
Com tal carta branca, os veteranos de Long Island escolheram a inusitada distribuição de assentos (peculiares cadeiras de madeira, na verdade) pela maior parte do Espaço das Américas, na zona oeste de São Paulo, como o formato para o público desfrutar da nova e ambiciosa turnê de divulgação de seu mais recente trabalho, “The Astonishing” (2016).
O show apresentado nada mais é que o último álbum da banda tocado integralmente. Com mais de duas horas de duração, “The Astonishing” é uma invenção das mentes do guitarrista John Petrucci e do tecladista Jordan Rudess. Sua história, nitidamente influenciada por clássicos épicos de fantasia e ficção científica como Game of Thrones, Star Wars e Dune e por obras clássicas da ópera rock dos anos 1970, desenvolve-se sequencial e indivisivelmente. No disco, a ideia da banda foi criar uma experiência auditiva similar à uma experiência cinematográfica, com o ouvinte digerindo a obra integralmente do começo ao fim, sem interrupções.
Essa ambição não poderia ter sido traduzida de outra maneira para os palcos que não a que vemos na atual turnê da banda. Divididos em dois atos, os shows são uma fiel reprodução daquilo que foi registrado em estúdio, da primeira à última música do álbum. Nada mais, nada menos. Não há “Pull Me Under”, não há “Metropolis”, apenas as faixas de “The Astonishing”, do começo ao fim, em sequência.
Todos os detalhes musicais e todas as trilhas incidentais e eletrônicas (as chamadas “Womac Tracks”) do álbum constam na apresentação de quase três horas, com o devido intervalo para que banda e público recuperem o fôlego físico e o mental após a primeira hora e meia do show. Os telões acrescentam o elemento visual que faltava no álbum, proporcionando uma imersão ainda maior no universo distópico criado pela banda.
Em São Paulo, o começo da apresentação, embora impecável musicalmente, encontrou alguns problemas técnicos. Em “The Gift of Music”, o primeiro single de “The Astonishing”, os vocais de James LaBrie estiveram inaudíveis nas primeiras linhas; o alto volume dos instrumentos também atrapalhou um pouco nas músicas iniciais, algo rapidamente solucionado pelos técnicos de som.
Mesmo sentado, o público respondia bem às habilidades musicais e performáticas da banda. Não há como cansar de elogiar a maestria e a paixão que os membros do DREAM THEATER possuem em relação ao seu trabalho. Faltam palavras para descrever a genialidade de Petrucci e Ruddess em seus instrumentos. O baterista Mike Mangini, o mais novo membro da banda, demonstra, disco após disco, turnê após turnê, competência, destreza e dedicação, uma somatória de elementos que faz com se esqueça completamente que outrora a banda contava com outro titular nas baquetas.
Pouco antes do encerramento da primeira parte, John Petrucci toma as rédeas da apresentação em “A New Beginning”, com um majestoso solo que figura entre os melhores de sua carreira. Inspiradíssimo, o guitarrista invoca de Joe Satriani a David Gilmour em seus licks e cria um momento épico, causando uma grande catarse no público – que, como sempre, é composto por muitos músicos que apreciam momentos como este.
Após o intervalo, o segundo ato, assim como no disco, é um pouco menos intenso. A complexa e pesada “Moment of Betrayal” e a épica “Our New World”, esta última já com o público em pé a pedido de LaBrie, são os grandes destaques, sendo as músicas que mais se aproximam dos singles de outras obras da banda. Baladas como “Losing Faythe” também arrancam aplausos efusivos do público, novamente conduzidas pela habilidade vocal de LaBrie.




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