Andar
na contramão jamais foi algo fácil de conseguir, e não é preciso dizer que isso
pode trazer consequências na maioria das vezes fatal. Pois bem, o fato é que se
todos andassem em uma mesma direção, certamente alguns permaneceriam
imperceptíveis em uma caminhada uniforme e sem graça. Esse fato fica evidente
quando falamos das mais diversas manifestações artísticas, mais especificamente
quando falamos de música. Não é de agora que a produtora Abraxas, vem na
contramão das tendências óbvias, desafiando os padrões de entretenimento,
exaustivamente explorados por inúmeras produtoras que não arriscam e insistem
em direcionar seus investimentos em atrações já consolidadas. Imaginem
concorrer com Testament, trazendo uma formação que faz chorar de alegria
qualquer marmanjo que cresceu ouvindo os caras, ou tentem ignorar uma
apresentação do Ratos de Porão e outras bandas muito bacanas que tocariam no
palco do Hangar 110, e ainda; na mesma noite, o Mr. Big, tendo como convidado
de luxo – ninguém menos que Geoff Tate – que dispensa maiores apresentações. Some
a isso o frio e a garoa, que foram impiedosos durante todo o sábado, e
provavelmente até o mais otimista ousaria acreditar que uma atração vinda da
Ucrânia, pudesse fazer frente a todos os fatores mencionados até agora. E para
não haver dúvidas, o risco de andar na direção oposta, nesse caso, foi muito
feliz! Chegando ao Clash Club, já havia uma fila aguardando a liberação da
entrada e, ouvindo uma conversa ou outra, dava para saber o que todos esperavam
daquela noite. Pois se em 2016 o Stoned Jesus debutava no Brasil, agora os
caras já vieram como uma atração bastante festejada pelos fãs brasileiros. E
como já é tradição, além da atração principal, mais duas formações
incrementaram o cardápio musical do evento – o Red Mess, power trio de
londrina/PR e o Cobalt Blue de Florianópolis/SC.
Com
o público ainda entrando na casa, o Red Mess despejou uma jorrada de Stoner Rock,
para o público que já se posicionava em frente ao palco e assistiam com atenção
a performance do power trio. Solos de guitarra ensandecidos, bateria precisa e
o baixo Rickenbacker, sendo tratado “carinhosamente” de forma a dar orgulho aos
mestres que tinham no instrumento uma marca registrada (quem não se lembra de
Lemmy ou Allan White empunhando o instrumento?). E os rapazes mal terminaram a
apresentação e já caíram na estrada, pois o dia seguinte ainda reservava o
Goiânia Noise Fest, maratona impiedosa para os três garotos que estão com a
adrenalina a mil! Na sequência o Cobalt Blue deu uma equilibrada nos ânimos com
um som mais progressivo e complexo, trouxe um rastro de influências que eram
denunciadas na camisa do vocalista. Um combo que traduziu no palco a
complexidade de grandes referências e que mostrou um som bastante complexo - do
jeito que o bom e velho rock progressivo deve ser. Em Cataclysm, os caras
executaram a parte instrumental de “Pictures Of A City” do seminal “In The Wake
Of Posseidon” do King Crimson. Só por isso, já dá para imaginar o nível dos
caras. É de encher os olhos, poder ver uma
nova geração resgatando o que houve de melhor no rock. Sensacional!
Já
com um bom público acomodado no Clash, bastou Igor subir ao palco para ajustar
o seu equipamento e os mais afoitos já trataram de ovaciona-lo como um grande
astro. E não demorou muito para que o público fosse atendido, e os caras já
mandaram “Stormy Monday” - que foi
recebida com enorme empolgação por parte do público que naquela altura já se
espremia em frente ao palco. O aclamado disco “Seven Thunders Roar” foi
praticamente tocado na integra. A adoração a esse disco é tão grande que o CD
já estava esgotado antes do fim da apresentação dos ucranianos e o vinil também
teve uma ótima aceitação. Quem viu a fila para adquirir o merchandising dos
caras, sabe do que estou falando. Eu inclusive, não resisti e o resultado são
mais alguns disquinhos na minha coleção. Voltando ao palco o clima de festa era
evidente e o Stoned Jesus ou ”Jesus Chapado” (como muitos insistiam em
chama-los), tinham o público na mão tamanha a aceitação de seu trabalho.
O trio
já possui boa quilometragem em palcos do mundo inteiro e até o mais desavisado
que estivesse “perdido” no Clash, sairia cantarolando o som dos caras. Tudo
corria bem e já estava se desenhando uma apresentação histórica, mas o
anticlímax se deu por conta de uma fã mais “eufórica” que no primeiro momento e
com o consentimento do Igor, até dividiu os vocais e fez uma performance
“involuntária”, mas bem bacana... o problema é que como nada estava combinado,
a moça acabou danificando um dos equipamentos, item esse, crucial para a
continuação da apresentação. Mesmo com os ânimos mais exaltados, os caras ainda
voltaram para tocar “Here Come The Robots”, mas não havia mais clima para
continuar. No final deixaram de fora “Black Woods” e mesmo tendo acontecido o
contratempo é possível afirmar que o show foi ótimo e o evento no geral foi
muito bem organizado. Pude presenciar a preocupação dos organizadores em
relação à garota e a toda situação. Mesmo concordando que não há motivo para
linchamento, entendo que deve haver uma reflexão maior por parte do público que
muitas vezes quer ter na marra uma atenção maior do que lhe é devida. Vamos
torcer para que o “Jesus ucraniano” continue “chapando” por essas bandas!
Setlist - Stoned Jesus
1 –
Stormy Monday
2 –
Bright Like The Morning
3 –
Eletric Mistress
4 –
Indian
5 –
I Am The Montain
6 –
Here Come The Robots
Setlist - Cobalt Blue
1 –
All We Have Are oscillations
2 –
Dweller Of Sevenfold Bereaved
3 –
Cataclysm
4 –
Luciferase
5 –
Catalyst
6 –
Eloquent Bawl
Setlist - Red Mess
1 –
Raskólnicov
2 –
Enemies
3 –
Kork
4 –
Into The Mess
5 –
Disillusion
6 –
Snowglasses
Por: Roberio Lima
Fotos: Roberio Lima
Agradecimento: Erick Tedesco - Abraxas
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