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Foto: Deivide Leme |
O
videoclipe do single ‘Cidade Sem Lugar’, lançado no último mês de abril,
reafirmou o hardcore politizado do Gagged, que coincide com Brasil despedaçado
e à beira do colapso. As críticas à desenfreada impessoalidade das cidades, no
convívio diário e nas reações primitivas a este contexto são apenas os
primeiros de tantos temas político-sociais que a banda paulista articula nas
letras das demais canções do álbum Sobre Nós, o sucessor do elogiado Silent,
previsto para ser lançado ainda em 2018.
A sonoridade
do próximo disco segue a proposta de ‘Cidade Sem Lugar’, isto é, músicas
recheadas de riffs rápidos, com o peso hardcore, a partir de estruturas que
remetem principalmente ao punk californiano, ou hardcore melódico, mas também a
outras referências dentro do rock.
A
diversidade e a pegada característica da Gagged se fundem, por exemplo, em uma
faixa intitulada ‘Caleidoscópio’, que deve ser o próximo single. Como comenta o
vocalista Zeca, tem levada rock n’ roll, com riffs mais clássicos que abrem
espaço à letra e para melodias de voz mais agressivas.
“A
prosódia da música é muito legal, porque a intensidade vai aumentando e vai
ficando claro que as tendências, no som e na temática, só podem conduzir ao
caos. A música acaba num desarranjo intenso, cheio de dissonâncias e
insanidades”, ele ressalta. Construída em metáforas, a letra é, mais uma vez,
pontual: como o debate partidário polarizou nosso país, “de maneira burra”,
aponta Zeca.
Mais do
que música, o novo álbum do Gagged será lançado - inicialmente - nas
plataformas de streaming e virá junto a um livro, uma espécie de ensaio que
organiza as ideias propostas nas letras e que convoca à reflexão sobre música,
arte e política.
“Quando
todas as letras ficaram prontas a gente percebeu que existia uma unidade em
torno delas. Estávamos o tempo todo falando sobre os problemas de nossa
geração, do caos do nosso tempo histórico, mas sob perspectivas diferentes. Em
alguns momentos falamos sobre uma lógica maior, sobre nossas relações humanas e
sobre a sociabilidade contemporânea. Outras vezes, falamos sobre o ponto de
vista do indivíduo e sua progressiva mecanização, num processo carregado de
falibilidades, culpa, angústia e raiva. Por outras, falávamos de maneira
concreta, sobre peculiaridades nosso país. E tudo sempre remetia para aquela
mesma grande lógica como integração das ideias”.
Para
Zeca, o contexto do novo disco, cujo single ‘Cidade Sem Lugar’ é o embrião,
será uma experiência diferente no cenário hardcore nacional. “Aqueles que se
propuserem a ler de cabeça aberta sairão com perguntas novas na cabeça”. E
completa: “A gente simplesmente não consegue ficar fora do debate. A gente vive
intensamente nosso tempo histórico e quer entender, discutir e compartilhar
sobre o que a gente vê e sente. Não temos a pretensão de fazer algo como uma
grande revolução, mas a gente tem certeza que algumas pessoas se identificarão
com nossas ideias e perceberão que elas influenciam na forma em que nossa
sonoridade é construída”.
Política
O Gagged
não esconde, é politizada e assume um posicionamento progressista. Sobre isso,
faz questão de enfatizar que o conteúdo das letras é construído a partir de um
posicionamento político, mas não partidário.
“A gente
tem uma visão de mundo que construímos ao longo da vida. A gente debate e
estuda sobre isso, faz parte do nosso dia a dia. A gente entende a arte como
uma visão de mundo. Pra nós é inevitável falar sobre política. Mas nossa
linguagem musical não é panfletária. Inclusive por que essa abordagem vem sendo
utilizada como instrumento de manobra”, explica Zeca.
Junto ao
posicionamento político, o vocalista é enfático ao assumir, enquanto Gagged, a
função social do punk rock, a de contestação do sistema. “Portanto, a despeito
de algumas letras de bandas do punk e hardcore flertarem com a intolerância e
com o uso quase fascista da violência, o berço do estilo é a denúncia social, é
uma visão de transformação do mundo, de ideias que permeiam, grosso modo, o
ideário progressista, da esquerda”.
Cidade
sem Lugar
Sobre a
repercussão do videoclipe de ‘Cidade Sem Lugar’, Zeca revela que os feedbacks
foram construtivos. “Alguns perceberam as referências de Pennywise, outros
lembraram Propagandhi, o que obviamente nos deixou muito orgulhosos. Neste
disco a gente primou muito pelo detalhe de composição. Todas as músicas têm
aqueles pequenos detalhes e variações de arranjo que você vai percebendo
conforme escuta”.
Agradecimento: Erick Tedesco - Tedesco Comunicação e Midia
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