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20 de junho de 2019

Os irmãos que mudaram o mundo

Foto: Flávio Santiago

Tivemos no dia 16 de junho na Audio Club um grande evento com as bandas Venomous, Korzus e Cavalera.

Os irmãos Cavalera ( Max e Iggor) estavam de volta com o show que apresentaram no finalzinho do ano passado no Tropical Butantã. Confira aqui a resenha sobre esse último show: http://www.bigrockandroll.com/2018/11/os-imortais-max-iggor-cavalera-um-show.html.
Tocando os seminais álbuns "Beneath The Remains" e "Arise" na íntegra, os irmãos mostraram que estão mais afiados e entrosados do que nunca.

Foto: Flávio Santiago

Antes de comentar sobre o principal show da noite, é preciso dizer que a banda de abertura Venomous fez um excelente show. Thiago Pereira "Tigas" (vocal), Gui Calegari (guitarra), Ivan Landgraf (guitarra), Renato Castro (baixo) e Lucas Prado (bateria) mandaram ver em suas diversas influências dentro do rock: desde o metal mais moderno (Gojira, Lamb of God, Project 46) até os clássicos Motörhead e Sepultura. Com a casa já cheia, a banda paulista demonstrou uma garra incrível para conquistar o público. 
Saudando os pioneiros do metal nacional: Korzus e Cavaleras, a banda estava super feliz por compartilhar essa experiência inesquecível de quem está começando a desbravar o caminho do metal aqui no Brasil e na Europa. Com um álbum lançado "Defiant" e prometendo um novo disco para esse ano, o Venomous é uma das grandes apostas do metal nacional.
Interessante também foi a homenagem que fizeram para André Matos no começo do show, com um trechinho de uma música do Angra para abrir os trabalhos, e o mais incrível de tudo isso: há poucos dias antes do vocalista falecer, a banda tinha lançado uma releitura da música "Nothing Say" do álbum clássico "Holy Land" do Angra, nessa versão eles convidaram as musas do metal nacional Fernanda Lira (Nervosa) e Mayara Puertas (Torture Squad) para cantar nesse belíssimo tributo, agora virou póstumo.

Foto: Flávio Santiago

Às 20hs, a lendária banda Korzus entrou ao palco. Com uma formação estabilizada há muitos anos: Rodrigo Oliveira (bateria), Dick Siebert (baixo), Antonio Araújo (guitarra), Heros Trench (guitarra) e Marcello Pompeu (vocalista) executaram o disco clássico "Ties Of Blood" (2004)  na íntegra. O som da banda estava um pouco embolado, mas nem por isso deixaram de fazer um grande show. Por incrível que pareça, nesse álbum tocado na íntegra, havia várias participações especiais de monstros sagrados do heavy/rock nacional: Andreas Kisser (Sepultura), Hélcio Aguirra (Golpe de Estado) - falecido em 2014, e do André Matos! Após tocarem a canção "Evil Sight", Pompeu com seu carisma impressionante no palco, pediu para a plateia fazer um minuto de silêncio quando acabasse a música: "eu não quero palmas, nem gritos, nem nada, quando acabar a música, eu quero todo mundo em silêncio". E dito e feito. Foi emocionante os headbangers todos em silêncio prestando uma linda homenagem ao Matos. Palmas para o metal nacional.
Um dos pontos altos do show do Korzus foi a participação do ex-guitarrista da banda, Silvio Golfetti, integrou a banda por mais de 25 anos, o proprietário da tradicionalíssima gravadora Voice Music, foi um verdadeiro convidado de peso. 

Foto: Flávio Santiago

A Áudio estava lotada quando quase às 21h30 os irmãos Cavalera entraram com a fúria mineira/paulistana/italiana/americana sem deixar ninguém respirar com os clássicos do thrash metal mundial.
Max disse que eles estavam celebrando mais de 30 anos de metal.

Começaram com o álbum "Beneath The Remains" tocando quase todas as músicas na sequência, a banda dos irmãos Cavalera provou estar em uma ótima fase: Marc Rizzo, é o parceiro de décadas de Max Cavalera em todos os seus projetos: Soulfly e Cavalera Conspiracy, o guitarrista americano é uma potente metralhadora de riffs e solos. No baixo Mike Leon, com uma habilidade ímpar no seu instrumento, executando trechos dificílimos das clássicas do Sepultura e é também, um boa praça, a banda está em perfeita comunhão. Muitas vezes os críticos achavam que  Max Cavalera deixava a desejar com os seus line-up de bandas, porque a cada disco era uma formação, por isso era impossível ter um bom entrosamento. Para uma banda estar "comendo" o seu instrumento só com anos e anos com a mesma formação, e muitos ensaios, e shows, é claro.  

Vários moshs, rodas ou bate-cabeça (como vocês acharem melhor) divertidíssimos. Uma hora Max disse: "vamos fazer o Wall Of Death, de um lado os "canibais assassinos", e do outro os "traficantes assassinos"". Você que não sabe o que é "Wall of Death", convido a procurar na internet essa coisa fofa.

Em diversas vezes podemos presenciar os irmãos sorrindo um para o outro, Max sempre conta que no auge do Sepultura, ele nunca foi capaz de elogiar o irmão (sempre considerado um dos melhores bateristas de metal), mas dessa vez, a irmandade literalmente dos Cavaleras foi bonito de se ver. Até no final do concerto, quando os dois usavam a camisa do Palmeiras, não sei se eles sabiam disso, mas no dia 16 de junho o Palmeiras comemorava os 20 anos da conquista da Libertadores da América. Muito emblemático acontecer um show nesse dia, futebol e metal tem tudo a ver com os irmãos: o Iggor começou a tocar bateria no estádio Palestra Itália no meio das organizadas do clube. E talvez, os dois sempre lembrem do pai fanático palmeirense que morreu precocemente de infarto nos braços do Max quando eles ainda eram crianças. 

Max Cavalera virou um showman. Cantando trechos de porradarias do Sepultura em ritmos lentos, com groove, fazendo o público interagir com gritos, com "oooo" em diversas músicas, Max está com um domínio perfeito do palco, que talvez só o João Gordo tenha na música pesada brasileira na mesma proporção. 

Foto: Flávio Santiago

A cover de "Dirty Deeds Done Dirt Cheap" do AC/DC foi um dos momentos mais legais do show, em uma versão rápida e rasteira. 

Chegou uma parte do show onde só o Max e o Iggor ficavam no palco tocando vários covers que influenciaram eles, "Polícia" dos Titãs, uma do Discharge, Black Sabbath, Slayer, Motörhead, entre outras.
Eu fiquei pensando nos moleques que começaram a banda em BH em 1984, nos sonhos que eles tinham, nas histórias que imaginavam, nos ídolos que desejavam um dia conhecer, nas loucuras, crescer emocionalmente em uma banda não deve ser nada fácil, quantos obstáculos enfrentados, 10 anos sem falar um com o outro após a saída do Max do Sepultura, e agora eles estavam ali, como muita gente, depois de ter vivido as mais loucas aventuras, enfrentado quase tudo o que um ser humano pode enfrentar, eles estavam ali se divertindo da melhor forma possível, nem pareciam que eram dois irmãos que mudaram o mundo.



Setlist:

Beneath the Remains
Inner Self
Stronger Than Hate
Mass Hypnosis
Slaves of Pain
Primitive Future
Arise
Dead Embryonic Cells
Desperate Cry
Altered State
Infected Voice
Orgasmatron (Motörhead cover)


Encore:

War Pigs (Black Sabbath cover)
Troops of Doom (com intro de Slayer's "Raining Blood")
Refuse/Resist
Dirty Deeds Done Dirt Cheap (AC/DC cover)


Encore 2:
Hear Nothing See Nothing Say Nothing (Discharge cover) (snippet)
Polícia (Titãs cover)
Black Magic (Slayer cover)
Beneath the Remains / Arise / Dead Embryonic Cells
Roots Bloody Roots


Por: Pedro Pellegrino

Agradecimento pelo credenciamento: Camila Dias - Audio  /  Damaris Hoffman - Hoffman & O'Brian

Fotos gentilmente cedidas por: Flávio Santiago - Onstage

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