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8 de dezembro de 2021

No Porão do Ratos

Foto: Pedro Pellegrino



Ratos de Porão - La Iglesia - São Paulo - 04/12/2021


Por: Pedro Pellegrino


O Ratos de Porão tocou na mais nova casa de São Paulo, La Iglesia. Esse lugar de shows fica ao lado da La Borratxeria, restaurante do Jão do RDP.

O esperto guitarrista do Ratos aproveitou o estacionamento do estabelecimento alimentício e transformou em uma pequena mas bonita casa de espetáculos barulhentos. Cheio de pôsteres do Ratos de Porão, La Iglesia tem um ar de uma antiga casa punk em Nova Iorque. Tomara que se transforme no CBGB brasileiro. Do lado de fora, uma cruz invertida dá o tom nada católico do lugar. Punks e headbangers estavam (e estão) entre o público cativo do Ratos de Porão.

A banda nasceu em 1981, portanto, estão comemorando 40 anos de atividade. Com mais de 20 álbuns lançados (contando com discos ao vivo, EPs, coletâneas, splits), a banda resolveu tocar na íntegra alguns discos clássicos.

Dia 4 de dezembro foi a vez do álbum "Cada Dia Mais Sujo e Agressivo". O petardo foi lançado em 1987. Essa frase o João Gordo pescou da parede do quarto do Iggor e Max Cavalera lá em Belo Horizonte. Os três eram muito amigos. As duas bandas (Sepultura e Ratos) se inspiravam entre elas o tempo todo. Bons tempos!

Quando os quatro integrantes da banda subiram ao palco e começaram a descer a marreta na La Iglesia, o mundo parece que parou. Um show do Ratos é uma das melhores sensações dessa vida besta. A intensidade é tamanha que as pessoas se davam socos na cara, jogavam cerveja para o alto, pulavam, berravam como se não houvesse amanhã. Na terceira música já estavam acabados. 

Um maluco estava no mosh, quando derrubou toda a banquinha de merchan do Ratos. 

Foto: Pedro Pellegrino


O público inteiro cantava como se ali fosse o último dia da vida de cada um. 

"Tattoo Maniac" começou com a elegia à tatuagem. Naquela época quem tinha tattoo, era considerado ladrão, bandido, hoje em dia como diria João Gordo: "qualquer zé buceta tem tatuagem... o anormal é não ter". 

A próxima música "Plano Furado" era gritada por todos. Alguns que conheceram a música pelo disco ao vivo do Ratos (91), sentiram que ao vivo o bicho pega de verdade. "Crise Geral" a quarta da noite, é a música mais tocada na história do Ratos, comentou o Gordo.

Gordo, que aliás, engordou muito nessa pandemia (pois ficou muito doente de uns dois anos pra cá) e tinha que se sentar algumas horas para conseguir comandar o submarino U-48 que disparava potentes torpedos em nossa "fuça". 

Jão, com seu cabelo cumprido e riffs demoníacos, é uma alegria assistir um show de um guitarrista assim. Já vi guitarristas de outras bandas perguntando como ele tira aquele som?! O criador do Ratos, que já foi só baterista da banda, que foi só vocalista, é uma instituição do punk/crossover, junto com seus companheiros João Gordo, Juninho (baixista) e Boka (bateria).

O baixista da banda (aliás, confira aqui uma entrevista que fizemos com ele), também é um show a parte. Altos pulos, vibra como se fosse um fã em cima do palco. E com certeza ele era fã do Ratos antes de entrar para a banda. 

Boka é um dos melhores bateristas desse estilo. O cara da baixada santista, que tem um selo chamado Pecúlio Discos, é um dos mais cabulosos bateras que o RDP já teve. 

A banda teve ótimos músicos, mas talvez essa formação, que já vai completar quase 20 anos, é a mais técnica, insana e perfeita para o som do Ratos.

Quando a banda estava passando o som, a distorção que saía do baixo do Juninho era uma coisa de louco. Aliás, parabéns pelos responsáveis pelo som da banda e da casa. Perfeito. Alto. Alto pra cacete. Hoje em dia em alguns shows que fomos assistir, parece que você está assistindo um DVD. Caramba, então é melhor assistir em casa. Show é pra ser alto.

"Morte e Desespero" é uma das músicas mais metal do Ratos. Foi legal ver ao vivo isso. 

"Assalto na Esquina", lembro do Gustavo Andrade (ele trabalha na La Iglesia) relatando para esse jornalista em uma outra oportunidade: "eu nem sabia que existiam músicas assim quando ouvi a primeira vez... eu era moleque... perguntei para os meus amigos: 'mas pode uma música dessa?'".

"Sentir Ódio & Nada Mais" é um clássico também da banda, que embalou muito as baladas de um jovem revoltado.

"Não Há Outras Vidas" foi a tentativa da banda de homenagear a banda inglesa English Dogs. Assim disse o JG.

Após tocarem todas as músicas do "Cada Dia Mais Sujo e Agressivo", o Ratos executou a "Conflito Violento" do último disco "Século Sinistro" (2014), "Expresso da Escravidão" do "Homem Inimigo do Homem" (2006) veio na sequência, "Crocodila" do "Carniceria Tropical" (1997), e fecharam a noite com uma cover do disco "Feijoada Acidente- Internacional" (1993) "Quando ci vuole ci vuole". João Benedan treinando o seu italiano mais uma vez.

Durante o show, não poderiam faltar "elogios" ao nosso maravilhoso presidente que queima no inferno (ops, isso é uma outra música).

Foto: Pedro Pellegrino


A gente só tem a agradecer ao Ratos de Porão por mais uma sessão descarrego contra tanta coisa que existe em nosso país. Obrigado, Jão, João, Boka e Juninho. 

Não vejo a hora de estar em um próximo show da banda que me fez entender mais o Brasil. Pro bem e pro mal. A gente sempre vai tatuar o Ratos de Porão na nossa vida.



Agradecimento pelo credenciamento: Tedesco Comunicação e Midia

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