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1 de setembro de 2022

Edu Falaschi - Gravação do DVD Vera Cruz – Tokio Marine Hall - São Paulo - SP

Foto: Gisele Oliveira


Edu Falaschi - Gravação do DVD Vera Cruz – Tokio Marine Hall - São Paulo - SP - 21 de agosto de 2022


Por Jair Cursiol Filho

Fotos: Gisele Oliveira


Vamos começar tirando da frente a conclusão: se tudo der certo na pós-produção e com direitos autorais, pode ser o melhor DVD de metal já feito no Brasil. Em resumo, Falaschi tem uma banda muito sólida, um setlist de fazer inveja e as participações especiais foram de outro nível, sem falar da maior produção de palco que já vi (nacional e internacional) de bandas do estilo.

O Tokio Marine Hall, antigo Tom Brasil, recebeu Edu Falaschi e banda no último 21 de agosto para a gravação do seu segundo DVD solo, da turnê de lançamento o CD Vera Cruz (2021). Mas primeiro, como diria um jovem Edu em 2001, "vamos voltarrrr no tempo, hehey!". Edu está, assim como sua ex-banda Angra, comemorando também os 20 anos do Rebirth, ambas as bandas tocando o disco na íntegra. O que, aliás, parece seguir uma constante: em 2013 Angra e Andre Matos fizeram turnês tocando o Angels Cry na íntegra; em 2016 o mesmo aconteceu com o disco Holy Land. Agora é a vez de Edu Falaschi. Aqui, como lá atrás, se eu tivesse que escolher um dos shows, seria o do vocalista original - por mais que o disco seja do Angra e eu ache o Lione excelente. Mas há sempre aquela coisa com a voz original. Nenhum vocalista soa exatamente como o outro. 

Foto: Gisele Oliveira


A banda que acompanha Edu tem dois ex-membros do Angra daquela mesma turnê: o então tecladista convidado Fábio Laguna e o baterista Aquiles Priester, o que faz o fã mais nostálgico olhar para a banda como um pseudo-Angra dos anos 2000 (coisa que só fica mais clara quando se escuta o Vera Cruz, pensado para soar como um Temple of Shadows 2). Completando o pseudo-Angra estão os ex-Almah Raphael Dafras (baixo) e Diogo Mafra (guitarras), além de Roberto "Cyborg" Barros (guitarrista que se tornou um assunto delicado na semana seguinte à gravação, tendo anunciado aposentadoria do metal nacional, mas sem data). Para os shows ao vivo, eles são acompanhados pelos backing vocals Fábio Caldeira (da excelente banda Maestrick e autor do livro Vera Cruz) e a talentosa Raíssa Ramos.

O show inclusive começa com Rebirth na íntegra, desde sua introdução In Excelsis até Visions Prelude, na ordem exata. Fui pego de surpresa por Edu estar cantando sem abaixar o tom (coisa que ele fez no Temple of Shadows in Concert). Aos mais leigos, isso quer dizer que ele não está cantando mais grave do que no CD, ainda que sua voz obviamente seja a de alguém de 50 anos e não mais aveludada como era no início da carreira no Angra e no Symbols.

A voz de Edu passou por altos e baixos durante sua carreira e se tornou a primeira polêmica da turnê: estaria Edu fazendo playback durante alguns refrões? Sinceramente, não vi playback algum – e olhe que fiquei parte do show na área dos fotógrafos, literalmente entre a pista VIP e o palco. O que vi e ouvi foi um volume baixo para o microfone de Edu que em certos momentos até tornou difícil ouvir ele e, principalmente, a backing vocal Raíssa Ramos fazendo alguns agudos junto com ele, algo absolutamente normal em qualquer gênero musical. Mas playback na voz? Não. (Embora os violões pareceram DEMAIS ser playback).

Foto: Gisele Oliveira


A primeira participação especial foi Fábio Lima, tocando violão em Rebirth. Lima é um violonista clássico famoso por seus prêmios e seu canal do YouTube ( https://www.youtube.com/c/FabioLima/ ). 

A próxima surpresa seria o tenor de ópera Thiago Arancam, a voz de O Fantasma da Ópera no Brasil. Thiago fez uma versão de Nessum Dorma da ópera Turandot antes de fazer a música final do Rebirth, Visions Prelude. Edu pouco cantou nela, deixando para Arancam, o que talvez tenha sido extremamente positivo para uma música que é pouco metal (e que, serei sincero, só escuto em show pois não tem como pular). Como ele foi o único convidado a participar apenas na parte do Rebirth, me pergunto se dar uma música como Nessum Dorma não foi justamente uma maneira de garantir que Thiago esteja no vindouro DVD caso os problemas de direitos autorais dos DVDs Temple of Shadows in Concert e OMNI Live atinjam esse também. (Nota do editor: Problemas de direitos autorais envolvendo Angra e Edu fizeram com que o Temple of Shadows In Concert nunca fosse lançado fisicamente no Brasil e em nas plataformas de streaming ele tem apenas músicas que não são do Angra, enquanto o OMNI Live saiu fisicamente sem nenhuma música de autoria de Falaschi e nunca saiu em streaming.)

Acabando a primeira metade do show, houve um intervalo de quase 10 minutos, aumentaram os adereços de palco, que já parecia um barco, e teve a adição de duas estátuas de uns 5 ou 6 metros de altura, além de uma roda de leme e dois canhões laterais, dando ainda mais cara de navio ao palco. E aí estávamos prontos para a execução do álbum Vera Cruz, "primeiro" da carreira solo de Edu. (Nota do editor: tecnicamente o primeiro foi o Almah, de 2006, que depois virou banda, e ainda houve o Moonlight de 2016, com releituras majoritariamente acústicas da carreira de Falaschi). 

Não cheguei a fazer uma resenha do disco para o Big Rock, mas Vera Cruz é claramente uma “continuação espiritual” do Temple of Shadows, à ponto de eu ter demorado para me acostumar ao disco, pois ele sempre me fazia querer ouvir o original do Angra. É tão pensado para ser uma continuação que a capa contém um cavaleiro medieval, apesar da história se passar no Brasil próximo ao ano 1500. 

Com uma introdução em vídeo explicando parte da história, a banda voltou ao palco basicamente como se estivesse começando um novo show (novamente, imagino que pensado para caso apenas o Vera Cruz possa ser lançado em DVD). Aqui alguém teve a péssima ideia de aumentar o volume da banda toda, o som das guitarras ficou embolado, o baixo desapareceu, e assim se seguiu o resto do show. 

E pelo resto do show surgiram alguns problemas relacionados ao som das guitarras, majoritariamente do guitarrista Roberto Barros. Várias vezes o som embolado tornou impossível entender o que ele tocava. Tive algumas vezes impressão de algum tipo de falha nos captadores da guitarra. Estou falando tudo isso antes de tocar no detalhe que virou a segunda polêmica da turnê: vários vídeos de Barros errando solos geraram críticas de que ele não seria capaz de tocar ao vivo o que compôs, algo que explodiu alguns dias depois quando Barros anunciou que Vera Cruz seria seu último disco de metal nacional, citando o efeito das críticas na sua saúde mental. Saúde mental é algo MUITO sério e importante, que infelizmente muita gente acha que é besteira. E se Barros está sendo afetado por isso, tem mais é que cuidar da sua saúde mesmo! Dito isto, alguns solos e introduções do disco realmente foram executadas com erros (o que acontece, todo mundo tem dias bons e ruins em qualquer profissão) e com certeza terão que ser regravados para um lançamento oficial.

Essa segunda seção do show contou com mais convidados do que a primeira. Fábio Lima voltou para o violão em Bonfire of Vanities, que teve Tito Falaschi, irmão de Edu nas guitarras. Em seguida veio a minha favorita do disco, Face of the Storm, que na gravação original contém a participação de Max Cavalera (Soulfly, ex-Sepultura). Se Max não pode se juntar ao show, Edu escolheu não um, mais dois substitutos de peso: Marcelo Pompeu (Korzus) e Fernanda Lira (Crypta, ex-Nervosa). Sinceramente? Acho que ficou até melhor assim. A produção do disco de estúdio certas horas esconde um pouco a voz de Max.  Ao vivo, Pompeu e Lira deram um show à parte. Com certeza será a minha favorita da bolacha! E ainda por cima contou com um lado teatral, de luta de espadas entre dois cavaleiros medievais (um deles interpretado por Juninho Carelli, ex-Shaman e ex-Noturnall).

Foto: Gisele Oliveira


E aí veio a participação mais inusitada da noite: Elba Ramalho, que repetiu no palco o dueto de estúdio na última faixa do Vera Cruz, Rainha do Luar. Preciso dizer que, para mim, Rainha do Luar beira a cópia descarada do que o Angra (com Edu) fez em Late Redemption do Temple of Shadows, que teve Milton Nascimento no estúdio e Guilherme Arantes no DVD. Ainda assim, é inegável a luz que Elba traz e o quão interessantes são essas uniões de estilos aparentemente opostos. Se o meu ponto alto foi Face of the Storm, este dueto foi o ponto alto para minha esposa (e fotógrafa do Big Rock).

Para não terminar com uma música lenta, a banda ainda tocou Spread Your Fire do Temple of Shadows. É difícil em um show com um setlist tão grande reclamar da falta de outras músicas. Tanto Rebirth quanto o Vera Cruz funcionam muito bem quando apresentados na íntegra ao vivo. Falaschi montou um show memorável, com a maior produção que este país já viu em uma banda de rock pesado. Se tudo der certo, será um DVD memorável, daqueles que todo fã de metal do Brasil deve ter na coleção.


Setlist:

Parte 1 – Rebirth (Angra)

1. In Excelsis / Nova Era

2. Millennium Sun

3. Acid Rain

4. Heroes of Sand

5. Unholy Wars

6. Rebirth (com Fabio Lima no violão)

7. Judgement Day

8. Running Alone

9. Nessun Dorma (Giacomo Puccini cover, com Thiago Arancam cantando)

10. Visions Prelude (com Thiago Arancam cantando)


Parte 2: Vera Cruz

1. Burden / The Ancestry

2. Sea of Uncertainties

3. Skies in Your Eyes

4. Frol de la Mar / Crosses

5. Land Ahoy

6. Fire with Fire

7. Mirror of Delusion

8. Bonfire of the Vanities (com Tito Falaschi na guitarra e Fabio Lima no violão)

9. Face of the Storm (com Fernanda Lira e Marcello Pompeu nos vocais)

10. Rainha do luar (com Elba Ramalho nos vocais)


Bis:

1. Deus le Volt! / Spread Your Fire



Um agradecimento especial à Miriam Martinez Assessoria de Imprensa pelo credenciamento e Tokio Marine Hall por toda atenção e suporte.

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