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20 de março de 2023

Kool Metal Fest - Carioca Club - São Paulo – SP

Foto: Bruno Felix


Kool Metal Fest  - Carioca Club - São Paulo – SP - 12 de março de 2023


Por Roberio Lima

Fotos: Roberio Lima / Bruno Felix


Podemos afirmar que a cidade de São Paulo é um “mar de possibilidades”, e principalmente quando se trata de eventos musicais. Em um final de semana que muitos “descolados” saíram de várias partes do país para assistirem  a um dos shows que o Coldplay faria  na terra da garoa, outras alternativas também figuravam entre as opções disponíveis no cardápio de atrações da cidade. Nesse caso, o Kool Metal Fest – evento que já se consolidou na cidade com edições muito festejadas pelo público, e que comemora vinte anos de existência, já teve em seu cast em anos anteriores;  Brujeria, Napalm Death, Dr. Living Dead, Krisiun, Suffocation e Possuídos Pelo Cão (só para ilustrar alguns exemplos que marcaram a memória desse que vos escreve!). E se a tradição do Fest é surpreender o público, dessa vez, não seria diferente, e os curadores capricharam na escalação das bandas. 

Como headliner o D.R.I. , que dessa vez, trouxe na bagagem quarenta anos de história e de bons serviços prestados ao Crossover, com uma obra cada vez mais cultuada por seus seguidores. O Ratos de Porão, por sua vez, figurou como co-headliner, aliás, não precisamos falar aqui sobre a importância que a banda de João Gordo e Cia. tem para a cena brasileira e mundial. Violator, Facada, Vermenoise e Trovão foram as outras formações que abrilhantaram a festa. Definitivamente com uma escalação dessa, não haveria a menor possibilidade de algo dar errado! 

Me antecipo em registrar que o domingo de muita chuva na cidade não impediu que o Carioca Club ficasse abarrotado, fator que fez dobrar a expectativa por parte de público e organizadores. Com os horários rigorosamente respeitados por parte dos organizadores, não consegui chegar a tempo de conferir a primeira atração do dia – o Vermenoise que já havia se apresentado naquele momento. O Trovão assumiria o palco na sequência, e a minha sensação quando adentrei ao recinto, foi a de ter atravessado um portal que me conduziu diretamente aos anos oitenta. Digo isso, pois a banda é um tributo escancarado ao que se produziu em termos musicais naquela década – tanto na estética como na sonoridade – foi particularmente prazeroso vivenciar aquele momento de nostalgia. Um bom público já preenchia o local, ao mesmo tempo em que acompanhava cantando todas as músicas do setlist. O brinde com vodka, em que o vocalista Gustavo Trovão serviu o destilado diretamente no gargalho para alguns headbangers mais afoitos, foi a forma de agradecer aos que chegaram cedo para prestigiar a apresentação. Com o álbum “Prisioneiro do Rock n Roll”, lançado em 2022, o Trovão deu ao público exatamente o que se esperava, e canções como “Distante”, “Princesa do Fogo” e “Prisioneiro do Rock And Roll”, foram alguns dos petardos que fizeram a alegria dos marmanjos que ali estavam. 

Foto: Roberio Lima


A atração seguinte tomou o palco sem qualquer cerimônia, para preencher o recinto com doses cavalares de brutalidade. O power  trio cearence Facada,   que  já em seu nome,  reproduz a verdadeira essência do que ficou conhecido como grindcore, traduz violência pura e simples, em uma musicalidade desesperadora e caótica. Pérolas como “Amanhã Vai Ser Pior” e “Apocalipse Agora” foram responsáveis por estimular alguns dos ‘circle pits’ mais violentos daquele início de noite. James (baixo e vocal), em certo momento anunciou que apresentaria uma nova composição intitulada “Instagrinder”- tema que provoca os que não saem da frente da internet, e que  não contribuem objetivamente para o desenvolvimento da cena grind. Ao finalizar a ‘aula’, que foi transmitida magistralmente com requintes de crueldade, os músicos saíram do palco de forma abrupta, deixando os que sobreviveram ao “massacre”, atônitos e extasiados! A banda que faz uma mini turnê na região  sudeste, tocaria no dia seguinte ao lado do D.E.R. e Test, na Associação Cultural Cecília – um ótimo programa para ouvidos resistentes! 

Foto: Roberio Lima


O Violator, é hoje uma das principais e mais festejada formações do underground. Cada show realizado pelo quarteto é sempre uma enorme alegria para quem segue a banda. O Violator possui uma legião de headbangers fiéis,  que não decepcionam quando o quarteto toca em São Paulo – basta conferir os diversos registros que rolam na internet ou assistir os DVD/split “The Kids Will Have Their Say...Again! – gravado com os camaradas do D.E.R. para confirmar essa afirmação. E assim como em outras oportunidades, os músicos não decepcionaram sua audiência, e dessa vez com Felipe Nizuma (Urutu), assumindo uma das guitarras. O início do pandemônio se deu com “Ordered to Thrash”, já sendo emendada com “Atômic Nightmare”,  e daí em diante, fica meio óbvio afirmar que as coisas se tornaram  incontroláveis. Um número absurdo de “Stage dives”, e o “circle pit” comendo solto, enquanto Poney regia a “orquestra do caos”. Os discursos do frontman também são uma constante em todas as apresentações do grupo. O manifesto contra o antigo mandatário do país, também já não pode mais faltar no setlist, e precede “False Messiah” -  que sempre é recebida pelo público como uma espécie de ‘senha’ para extravasar o ódio reprimido em relação à figura nefasta, ao qual o nome não deve ser pronunciado! 

Já havia um bom tempo que o Violator não se apresentava para o público paulista, e como os ‘gigs’ da banda são sempre uma ‘grande festa da democracia’, Poney convidou a todos para que subissem ao palco, enquanto o número final da apresentação fosse executado. Como não poderia deixar de ser, UxFxTx (United for Thrash), concluiu mais uma apresentação insana!  

Foto: Bruno Felix


O Ratos de Porão foi a próxima atração a se apresentar no palco do Carioca Club, mas logo de cara, ficou claro que não seria autorizado os “Stage dives” como aconteceu no show do Violator. Dois seguranças ficaram prostrados, um de cada lado do palco,  para inibir os  adeptos a prática de “mergulho”. O fato de já ter visto incontáveis apresentações do Ratos, jamais será um problema, pois a cada nova oportunidade de testemunhar a aparição dos caras no palco, é mais uma possibilidade de interagir com a história do punk/Crossover/metal brasileiro em movimento. João Gordo, Juninho, Jão e Boka continuam produzindo a massa sonora que faz a cabeça dos headbanger a mais de quarenta anos. Do álbum mais recente “Necropolitica”, lançado no ano de 2022, tivemos “Aglomeração” mas como sempre, são os clássicos que fazem a audiência perder a sanidade. “Amazônia Nunca Mais”, “Crucificados Pelo Sistema”, “Descanse em Paz” e Aids, Pop, Repressão”,  são só algumas das pérolas que não podem faltar no setlist da banda. Preciso dizer que o show do Ratos foi foda? Claro que não! Com o corpo já em frangalhos, restava aguardar a apresentação da última atração da noite.  

Foto: Bruno Felix

Foto: Bruno Felix


Não é de hoje que o D.R.I. faz a cabeça dos brasileiros, e desde a primeira visita ao país no início dos anos noventa no extinto Projeto SP, já tivemos outras oportunidades de apreciar a banda ao vivo por esses lados. Kurt Brecht foi o único remanescente da formação original nessa turnê,  mas carrega com dignidade o legado por esses quarenta  anos de história. Assim como acontece com o Ratos de Porão, o D.R.I. possui uma discografia cultuada e irretocável. “The Aplication” deu o ponta pé inicial aos trabalhos, e dessa forma, o cansaço que  pairava no ar até aquele momento, foi se diluindo, conforme as injeções de adrenalina davam o gás necessário para apreciarmos a avalanche de  clássicos que era servida naquele momento. A banda estava descontraída no palco e interagindo com o público a todo instante, fato esse bastante compreensível, pois tudo corroborou  para que as coisas se dessem dessa maneira, afinal, são quarenta anos de história, casa cheia, e um público absolutamente afinado com o repertório apresentado até ali!

Assim como na apresentação do Ratos, os seguranças permaneceram nas laterais do palco, e mesmo assim, muitos se arriscaram nos (indefectíveis) mergulhos do palco - prática que realmente faz um diferença danada na dinâmica de eventos dessa natureza. O setlist que o D.R.I. apresentou  nesse show, foi irretocável, e obviamente os clássicos tiveram o protagonismo absoluto. “The Five Year Plan” foi a cartada final de mais uma aparição dos texanos no Brasil.

Foto: Bruno Felix

Foto: Bruno Felix


O saldo final foi o melhor possível para o Kool Metal Fest e aos que compareceram à esse edição. No fim das contas, ficou a certeza de que o Carioca Club no último dia 12/03/2023, foi “ um lugar especial para pessoas especiais”! 


Setlist D.R.I.: 

The Aplication

Violent Pacificafion

Mad Man 

Couch Slouch

Acid Rain 

Argument Then War 

Who Am I

Slumlord

Dead In The Ditch

Suit and Tie Guy

Manifest Destiny

Syringersin The Sandbox

Thrashard

How to act 

Communter Man 

Nursing Home Blues 

Beneath The wheel

I’d Be Sleeping

I Don’t Need Society

The Five Year Plane 



Um agradecimento especial para Tedesco Comunicação e Midia pelo credenciamento e Carioca Club por toda atenção e suporte.

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