Rafael Bittencourt - Sesc Belenzinho - São Paulo/SP - 08 de fevereiro de 2025
Por: João Zitti
Fotos: João Zitti (@joaozitti.work)
Projetos solo são sempre algo que causa muito medo tanto no público quanto no próprio artista, pois, afinal, levantam uma série de questões: “será que as músicas vão ser parecidas com a da banda principal dele?”, “será que o público está vindo por minha causa ou por causa de meus outros projetos?”, dentre vários outros questionamentos. Em alguns casos, essas empreitadas podem dar muito certo ou muito errado pelos mais diversos motivos. No caso de Rafael Bittencourt, essa empreitada foi muito positiva com a sua banda “Bittencourt Project”.
O Bittencourt Project, como o próprio nome dá a entender, é um projeto musical criado e encabeçado pelo músico Rafael Bittencourt, guitarrista e um dos principais nomes do cenário do rock-metal nacional e membro justamente de uma das maiores bandas desse segmento: o Angra.
Surgido em 2008, o projeto conta com um disco chamado “Brainworms I”, lançado no mesmo ano e com 12 faixas que totalizam pouco menos de uma hora de duração, além de um EP lançado em 2017 (que conta com basicamente as mesmas músicas), o DVD “Live Brainworms in Brazil” (também lançado em 2017) e o single “Dar As Mãos”, de 2021.
Foto: João Zitti |
A formação da banda na apresentação contou com Rafael Bittencourt (vocal e guitarra), Fernando Nunes (baixo), Nei Medeiros (teclado), Amon Lima (violino), Marcell Cardoso (bateria), Wellington Sancho e Guga Machado (percussão). No quesito de qualidade técnica, não há o que falar: todos os músicos apresentam um desempenho admirável, trazendo peças indispensáveis na execução dessas canções, que ultrapassam o convencionalmente visto no cenário do rock e do metal ao adicionarem diferentes sonoridades, instrumentos e ritmos que trazem camadas complementares e que as tornam extremamente ricas, como a combinação da percussão com a bateria em “Nightfly” e a mistura do violão com o violino em “Santa Teresa”, que ajuda a trazer a sonoridade característica da música caipira brasileira.
Quem conhece o Rafael apenas pelo Angra pode se surpreender com a presença do músico no posto de lead singer, mas o mesmo já mostrou ao mundo essa sua face complementar em outros momentos e projetos, como no canal de YouTube “Amplifica”, em que já apresentou diversos covers de canções famosas (incluindo uma ótima versão de “Wasted Years”, do Iron Maiden). Quem toca algum tipo de instrumento sabe da dificuldade que é manter a afinação ao cantar ao mesmo tempo que executa músicas com um grau de complexidade como essas, o que escancara ainda mais o talento de Rafael Bittencourt como um músico multifacetado.
Foto: João Zitti |
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Assim como a apresentação solo do João Gordo no final de janeiro (que escrevi uma review disponível aqui no site da Big Rock N’ Roll), o show do projeto de Bittencourt possui uma grande leveza em toda a sua execução. O Rafael já comentou em entrevistas anteriores que ele realiza o projeto por puro prazer, para se divertir, e isso transparece muito ao longo de toda a performance, que parece mais uma grande reunião de amigos para tocarem as suas composições. Isso é marcado tanto pelas brincadeiras entre os músicos (e suas demais interações no palco) quanto, por exemplo, pelas eventuais confusões no setlist sobre qual seria a próxima música, algo que se fosse em um show de maiores proporções ou até em seus projetos principais, por exemplo, poderia ser visto por alguns como um “erro grave” e coisa do tipo, mas que aqui não possui tanto problema, pois o ambiente permite isso.
Algo também muito positivo no show (auxiliado, claro, pelo local em que a apresentação foi realizada) foi a proximidade com a plateia que assistiu a apresentação e o respeito mútuo entre os artistas e o público. Muitas das pessoas que estavam ali conheciam o Rafael, claro, pelo Angra, mas foi muito bacana ver também a quantidade de pessoas que estavam ali por causa do próprio projeto, e como houve um respeito coletivo de entender que a banda estava ali pra tocar as músicas do Bittencourt Project, sem ficar gritando durante a apresentação pedindo para tocar “Carry On” ou qualquer outra faixa do Angra, um respeito que infelizmente não é uma constante no cenário musical, com músicos como Thom Yorke já tendo sofrido disso em seus shows solo quando alguém gritava pedindo “Creep” do meio da multidão. Claro, eles tocaram “Rebirth” como o encerramento da apresentação, e o público adorou quando isso aconteceu, mas sinto que se a faixa não tivesse sido executada a opinião positiva do público sobre o show não seria tão diferente do que foi.
E falando sobre o local: provavelmente uma das principais unidades de São Paulo, o Sesc Belenzinho conta com uma extensa programação de shows e espetáculos, tendo contado com uma apresentação do Sampa Crew ao mesmo tempo em que acontecia o show do Bittencourt Project. A apresentação aconteceu no teatro do Sesc, no terceiro andar, e a estrutura do local não deixou a desejar, tanto em organização como na parte técnica de iluminação e som (apesar de ter estranhado a altura relativamente baixa do palco, que batia da cintura para baixo). Outro ponto bastante positivo das apresentações do Sesc é a possibilidade de poder encontrar o próprio artista após o show, o que se torna ainda melhor quando o artista em questão é como Rafael Bittencourt, que esbanjou simpatia e atenção com todos os fãs presentes no local.
Foi anunciada uma pausa indeterminada nas atividades do Angra pouco tempo atrás, muito provavelmente para que os músicos possam, dentre vários motivos, desenvolver seus projetos pessoais. Caso isso aconteça, torço fortemente para que o Bittencourt Project tenha seu espaço, pois é um projeto muito bacana formado por músicos talentosíssimos, e um segundo disco de estúdio certamente seria bem-vindo.
Foto: João Zitti |
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SETLIST
01. The Underworld
02. Torment of Fate
03. Holding Back the Fire
04. Santa Teresa
05. Faded
06. Comendo Melancia
07. Nightly
08. Dedicate my Soul
09. Superstition
10. Nacib Veio
11. Rebirth
Agradecimento ao Sesc Belenzinho pelo credenciamento e atenção
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