Big Rock N' Roll - Pensou em rock, pensou Big Rock!: Kiko Loureiro & Marty Friedman - Santo Rock Bar

Foto: Santo Rock Bar

Kiko Loureiro & Marty Friedman - Santo Rock Bar - Santo André/SP - 30 de maio de 2025

Por Alexandre Veronesi

Fotos: Santo Rock Bar

Me parece até redundância afirmar, em pleno ano de 2025, que Kiko Loureiro é um dos maiores nomes da guitarra Rock / Metal de sua geração. Ex-membro do Angra, e tendo passado 8 anos ao lado do genioso - para dizer o mínimo - Dave Mustaine no Megadeth, Kiko consolidou sua marca a nível mundial, e desde a desvinculação do icônico grupo de Thrash Metal, vem difundindo com grande ênfase a sua excelente carreira solo, que teve início há 2 décadas atrás e já conta com 6 álbuns de estúdio, sendo o mais recente "Theory Of Mind", de 2024. Por si só, uma simples turnê do guitarrista já causaria certo 'frisson' entre os fãs brasileiros, mas esta específica trouxe consigo um tempero mais do que especial: a participação de outro ex-Megadeth, o lendário Marty Friedman, simplesmente o responsável pelas seis cordas durante a fase mais aclamada da banda estadunidense. Falaremos aqui a respeito do primeiro show do giro - que contou ao todo com singelas 8 datas - realizado em Santo André (região do ABC Paulista) na noite de 30 de Maio, uma fria e agradável sexta-feira, no Santo Rock Bar.

Andy Addams ficou responsável pelo ato de abertura. Acompanhado por David Sánchez (baixo) e o nosso conterrâneo e garoto-prodígio Luigi Paraventi (bateria), o virtuoso guitarrista colombiano-americano, equipado com uma jaqueta recheada de leds que piscavam e alternavam de cor, apresentou seu trabalho instrumental para um público que ia adentrando a casa aos poucos, porém já se fazia bastante numeroso neste momento. Convergindo diretamente com a atração principal do evento, Addams aposta em uma sonoridade Fusion Rock, com elementos de Hard, Heavy, Prog e até Power Metal, que logo se mostrou bastante fluida e criativa, agradando em cheio com um repertório praticamente todo calcado nas composições autorais, algumas ainda inéditas, outras lançadas em formato de single, e as demais extraídas do até então único full-lenght do artista, "The Eyes Of The Moon Part 1" (2020). Ao longo dos aproximadamente 50 minutos da apresentação, rolaram também breves solos de baixo e bateria, nos quais Sánchez e Paraventi puderam demonstrar toda a intimidade que possuem com seus devidos instrumentos, e o 'gran finale' foi um divertido medley de covers, composto por pérolas como "Separate Ways (Worlds Apart)", do Journey, "Eruption" e "Ain't Talkin' 'Bout Love", do Van Halen, "Saint Seiya" e "Cha-La Head-Cha-La", temas de Os Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball Z - respectivamente - e que, para a surpresa de absolutamente ninguém, foram as mais celebradas do set, com a galera cantando ferozmente por cima do instrumental do trio.

Setlist:

01 - Redemption

02 - Black Moon

03 - The Eyes Of The Moon / When The Spirits Collide

04 - Solo de guitarra / Silver Tears

05 - Solo de baixo

06 - Everlasting Faith

07 - The Warrior

08 - Solo de bateria

09 - Piedra de Fuego

10 - Medley covers

Foto: Santo Rock Bar

Por volta das 23h20, Felipe Andreoli (baixo), Bruno Valverde (bateria) e Luizinho Rodrigues (guitarra) subiram ao palco do Santo Rock, precedendo a entrada triunfal do astro Kiko Loureiro ao som de "Blindfolded", exemplar do supracitado novo disco, "Theory Of Mind". Durante as primeiras canções, houveram falhas no transmissor da guitarra principal (que felizmente foram solucionadas sem grande demora), mas olhando pelo aspecto positivo, tais problemas deram a oportunidade ao jovem Luizinho ter o seu momento de glória, isso com incentivo do próprio Kiko, que o conduziu ao centro do palco para solar enquanto eram feitos os reparos técnicos necessários.

Foto: Santo Rock Bar

A primeira parte do show, 100% instrumental, foi composta por algumas das principais faixas da carreira solo de Loureiro, como "Reflective", "Overflow", "Pau-de-Arara" (com fortes influências do Baião e música regional nordestina) e a cadenciada "No Gravity"; um medley de Angra, abrangendo os trechos com 'destaques guitarrísticos', digamos assim, de "Carry On", "Spread Your Fire", "Nova Era", "Morning Star", "Evil Warning" e "Speed"; rapidamente sucedido pela aclamada "Conquer Or Die!", a primeira composição do brasileiro para o Megadeth. Assim como aconteceu na tour de 2024, Kiko novamente vem se arriscando nos vocais, dessa vez em 2 canções de sua antiga banda internacional: "Killing Time" e "Dystopia", cantando com competência e sem fazer feio, é importante dizer. Após breve 'jam' dos músicos com um habilidoso menino da plateia chamado Fernando Jordão (empunhando a guitarra de Loureiro), tivemos a última representante da carreira solo na noite, "Mind Rise".

Devo citar que o clima entre os músicos estava realmente ótimo, e isso vale também para as interações do guitarrista com a plateia, que não poderiam deixar de render aquelas diversas piadinhas infames de sempre envolvendo o seriado Chaves - mais especificamente, o inesquecível personagem Quico. Penso que tal descontração faz toda a diferença em se tratando de um show mais intimista, como foi o caso aqui - não tenho números em mãos, mas arriscaria dizer que o Santo Rock Bar comporta, no máximo, umas 600 pessoas.

Quando a introdução "Crossing", faixa de abertura do álbum "Holy Land", emana dos PA's, o fã de Angra sabe exatamente o que vem a seguir. Com a adição do extraordinário Alírio Netto (frontman do Queen Extravaganza, ex-Shaman, Age Of Artemis e Khallice), o grupo executou "Nothing To Say" de forma magistral, para então cometer "Angels And Demons", música do aclamado "Temple Of Shadows". Logo após, recebemos uma breve sessão acústica, na qual Kiko e Alírio, no formato 'voz / violão', performaram a linda e melancólica "Late Redemption" - com um trechinho de "Reaching Horizons" a precedendo - e "Heaven And Hell", do Black Sabbath, esta cantada integralmente pelo guitarrista.

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Era chegado então o mais aguardado momento: o dono da festa convida ao palco Marty Friedman, e a casa vai abaixo. Esbanjando carisma e simpatia invejáveis, o baixinho (que utilizava uma bota portando enorme salto plataforma), com aquele inimitável jeitão todo 'torto' e distinto de tocar, chegou mandando "Hyper Doom", tema de seu disco de 2014, "Inferno", emendada com nada mais, nada menos do que "Tornado Of Souls" - presenciar Friedman executando o solo desta música ao vivo e de perto foi algo quase transcendental! Mas a surpresa mesmo veio na sequência, quando pudemos tomar conhecimento da familiaridade que o americano possui para com a música brasileira, isso por meio de uma pesada releitura de "Asa Branca", com "Brasileirinho" (de Waldir Azevedo) completando a etapa tupiniquim. Outra da carreira solo do americano, a bela "Tearful Confession", e então Alírio Netto estava de volta para "Rebirth", um dos momentos mais apoteóticos do espetáculo, reforçado pelo enorme coro da audiência que, contrariando as expectativas iniciais, lotou completamente o lugar. Assim, Marty Friedman se despediu, com sua missão mais do que cumprida.

Foto: Santo Rock Bar

Passados poucos minutos, a banda retornou ao palco para o 'bis', que logo se deu através de "Stormbringer", clássico da formação 'MK III' do Deep Purple (com David Coverdale e Glenn Hughes), cantada aqui por Kiko Loureiro e tendo os vocais de apoio de Netto. Fim de show, e as expectativas foram amplamente superadas depois de 2 horas intensas, uma experiência completa para apreciador de música pesada - e de altíssima qualidade - nenhum botar defeito.

Setlist:

01 - Blindfolded

02 - Reflective

03 - Overflow

04 - Pau-de-Arara

05 - No Gravity

06 - Carry On / Spread Your Fire / Nova Era / Morning Star / Evil Warning / Speed [Angra]

07 - Conquer Or Die! [Megadeth]

08 - Killing Time [Megadeth]

09 - Dystopia [Megadeth]

10 - Jam com Fernando Jordão (jovem fã da plateia)

11 - Mind Rise