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22 de agosto de 2025

Album Reviews: Deftones - private music (2025)

Foto: Divulgação 


Por: João Zitti - Colaborador Big Rock N' Roll  


Com “private music”, Deftones entrega um excelente disco que abraça raízes, experimentações e que agradará suas diferentes gerações de fãs.


Após quase cinco anos de espera desde “Ohms”, Deftones finalmente está de volta! Para quem não conhece, Deftones é um dos principais nomes do Nu Metal, movimento musical surgido nos anos 90 e que misturava rock e metal com elementos de hip-hop. Liderado por Chino Moreno, a banda é detentora de hits como “Change (In The House Of Flies)” e “My Own Summer (Shove It)”, e é tida como uma das principais portas de entrada da nova geração no mundo do rock e do metal. O novo lançamento do grupo é o disco “private music”, que conta com pouco mais de 40 minutos de duração e 11 músicas em seu tracklist. Além disso, o álbum está sendo lançado no mesmo ano em que “Adrenaline” completa 30 anos, uma grande coincidência (ou não) do destino. A Big Rock teve o prazer de ser convidada pela Warner Music Brasil para a Listening Party exclusiva do novo álbum, em um evento exclusivo e que aconteceu em um dos principais pontos da cidade quando se fala de metal: a Galeria do Rock, mais especificamente no “The Cave”, que fica logo na entrada do andar subsolo do local. 

O disco inicia com a faixa “my mind is a mountain”, que não é uma grande novidade para os fãs do grupo, pois foi marcada por ser o primeiro single lançado do novo trabalho. Já de cara, ela é uma ótima introdução para o disco, com a utilização de riffs que combinam o peso e a velocidade para impactar o ouvinte e anunciar que Deftones, enfim, voltou. Além disso, a abordagem de Chino Moreno por preservar as suas linhas vocais mais arrastadas (no sentido positivo) reforça o intuito da banda de seguir com suas raízes nos seus trabalhos mais modernos, ainda que claramente buscando se modernizar. Falando de Chino: quem acompanhou a banda nos últimos tempos está ciente das mudanças vocais que o vocalista tem enfrentado, o que é perfeitamente normal de se acontecer. E nesse disco, o artista toma a inteligente decisão de criar músicas que se adequam aos seus vocais atuais, de forma a preservar a sua identidade e abraçar o presente e o futuro, dando preferência a entregar trabalhos de qualidade ao invés de se jogar em uma tentativa desesperada de mostrar que é o mesmo garoto de quase três décadas atrás. 

Seguimos, então, para “locked club”, faixa que apresenta vocais mais “recitados”, de certa forma, do que cantados em sua grande maioria. O peso, aqui, é trazido por uma afinação mais grave das guitarras (muito provavelmente de 7 cordas, algo feito anteriormente pela banda), que deixa de lado riffs mais complexos para dar lugar, então, para bends e notas ressoando por um maior intervalo de tempo. As linhas de guitarra mantém um padrão muito similar ao longo da canção como um todo, o que faz com que a bateria seja o grande destaque da música, que mistura batidas bem marcadas e agressivas com pratos em momentos estratégicos que reforçam a energia mais “etérea” desejada. A terceira música do álbum, “ecdysis”, apresenta um elemento inédito até então no disco, que é a utilização de batidas mais eletrônicas que remetem à ideia de algo mais industrial, não orgânico e padronizado. Ela, então, segue para um padrão já mais rítmico, reforçada pela excelente combinação das linhas de bateria e de baixo que lembram até mesmo o início de “Around The Fur”. A utilização desses elementos mais eletrônicos no início da canção fazem muito sentido, especialmente quando alinhados à letra da canção, que se propõe a falar de uma retomada do mundo por parte da natureza, com o aumento dos rios e o domínio das chamas como um símbolo da “praga” do ser humano e de suas ações com o meio-ambiente. 

O disco segue para “infinite source”, que é provavelmente uma das faixas mais fracas do disco. Creio que o grande problema aqui seja a presença de muitos elementos diferentes em um lugar só: a música tenta criar uma atmosfera mais etérea, com guitarras pesadas e, ao mesmo tempo, linhas com um timbre clean, com vocais que recitam a letra de uma maneira mais rítmica, mas ao mesmo tempo mais arrastada. Consequentemente, isso cria uma canção em que muitas coisas querem falar ao mesmo tempo, mas nenhuma consegue com um efetivo sucesso, se tornando uma canção que fica perdida no meio de todas as outras. 

Foto: Clemente Ruiz


A canção seguinte, “souvenir”, é a mais longa de todo o álbum: seis minutos e dez segundos, no total. Ao contrário da sua antecessora, ela consegue trazer muito bem todo o aspecto mais voltado pra uma transcendência da matéria, em um amor que ultrapassa o espaço e tempo em sua letra. O uso de efeitos na guitarra enquanto combinada por riffs de peso, especialmente no minuto 2 acompanhando a letra em “Keep warm here beside me, holding you tightly”, é a grande cereja do bolo na canção, que, assim como em “locked club”, busca criar riffs que não necessariamente são os mais complexos, mas definitivamente são os mais efetivos. A partir do minuto 4, são utilizados sintetizadores (ao que tudo indica) para transportar o ouvinte diretamente a esse mundo espacial que tanto se fala durante a canção, criando uma calmaria antes da explosão. 

E é exatamente isso que acontece em “cXz”, que traz uma sonoridade que é, definitivamente, a mais caótica até o momento no álbum, reforçada especialmente pelas linhas de guitarra e pelos efeitos utilizados por Chino em seus vocais, que transmitem uma sensação de quebra e rompimento da realidade. Isso tudo, claro, é muito alinhado com sua letra, que fala justamente de reconfigurações da realidade e distorções mentais. A mensagem é muito reforçada, também, pelo visualizer elaborado pelo grupo, que mostra diferentes imagens tentando se encaixar e voltar ao padrão, mas sem sucesso. 

Agora tendo entrado oficialmente na segunda metade do álbum, somos presenteados pela belíssima “i think about you all the time”, que lembra (e muito) outras canções mais melódicas da banda, como “Beauty School” e “Sextape”, do disco “Beauty School”. Isso acontece. especialmente, pela escolha de vocais mais melancólicos por parte do Chino e, também, pela utilização de timbres mais cleans em alguns momentos da canção, combinados por delays e, claro, interrupções por partes mais pesadas e com a típica sonoridade mais arrastada. Podemos decretar, oficialmente, que temos um novo hino da sofrência do Deftones, e que é uma excelente adição ao catálogo da banda. 

E seguindo a sequência de excelentes músicas, temos “milk of the madonna”, que foi o segundo e último single do álbum lançado pelo grupo. Em pouquíssimo tempo, ela consegue criar uma explosão sonora e energética surpreendente, acompanhando e desenhando as tragédias de uma chuva de sangue citada na letra com sucesso. Claro que colocar o nome de Madonna no título da canção tem muito haver com o fato de ser uma artista que possui ligações com um certo lado religioso e bíblico (especialmente no quesito polêmica), mas muito se deve, também, ao relacionamento que ambos os artistas possuem: foi a gravadora de Madonna que, lá nos anos 90, assinou um contrato com Deftones para a gravação e lançamento de seus discos, tendo sido aprovados pela própria artista em pessoa. Ela, inclusive, chegou a presentear Chino com um pôster nu dela com seu autógrafo em comemoração pelo contrato assinado. Muitos anos depois, o grupo finalmente resolveu retribuir a homenagem, escolhendo justamente uma das melhores músicas desse disco (e arrisco dizer de sua carreira) para isso. 

A nona música do álbum, “cut hands”, é uma viagem no tempo quase que instantânea para o Nu Metal dos anos 90, especialmente para seus dois primeiros discos “Adrenaline” e “Around the Fur”. O uso de scratches pontuais (especialmente na sua abertura) são justamente o causam esse efeito, acompanhado pelo estilo dos vocais utilizados por Chino, com screams agudos que ajudam nesse grande flashback. Aqui, é claramente priorizado o peso ao invés de uma construção mais etérea vista em outras canções, retomando toda uma sonoridade mais caótica e, especialmente, revoltada desse período e desse movimento musical. 

Foto: Divulgação 


Algo a ser parabenizado sobre esse disco é o excelente uso de transições extremamente limpas entre as faixas. Isso acontece em todo o álbum, mas é importante fazer esse comentário justo agora devido à impressionante transição entre “cut hands” e “~metal dreams”, que tanto na Listening Party quanto escutando o álbum posteriormente transmitiram a impressão de que as duas eram uma única música, de tão bem encaixadas que elas foram. Portanto, fica esse comentário pontual que, definitivamente, me pegou desprevenido positivamente.

Falemos, então, de “~metal dreams”: a canção volta a brincar com a criação de uma sonoridade mais etérea, mas ao mesmo tempo encaixando diversos elementos de estranhamento sonoro, como a utilização de notas dissonantes e quebras de timing durante toda a canção. 

Fechando o disco, temos a faixa “departing the body”, canção essa que parece ser uma grande retomada de tudo que escutamos ao longo do disco: o grupo mistura sonoridades mais eletrônicas e tecnológicas com uma certa introspecção a princípio, para, então, ser quebrada pela agressividade das guitarras em um ritmo que parece se arrastar por toda a canção. É quase como se nós trancendescemos a matéria para um espaço livre de tudo mas, ao mesmo tempo, extremamente tecnológico, e que em certos aspectos causa até mesmo uma sensação de aprisionamento ao invés de uma liberdade real, encerrando com chave de ouro as sonoridades e temáticas trabalhadas ao longo de todo o disco. 

Após quase cinco anos desde seu último trabalho, Deftones entrega em “private music” um disco com excelentes canções, como “ecdysis”, “i think about you all the time” e “milk of the madonna”, e que traz um balanço perfeito entre elementos experimentais e de suas raízes, abraçando o seu consolidado público do passado e abrindo os braços para receber as novas gerações do futuro. 


TRACKLIST COMPLETA:

1. my mind is a mountain

2. locked club

3. ecdysis

4. infinite source

5. souvenir

6. cXz

7. i think about you all the time

8. milk of the madonna

9. cut hands

10. ~metal dream

11. departing the body


Ouça aqui: https://deftones.lnk.to/PrivateMusic

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