Translate

8 de novembro de 2024

Mother Mother faz bela apresentação e se impressiona com público fiel às letras em show único realizado em São Paulo

Foto: Iris Alves


Mother Mother - Tokio Marine Hall - São Paulo/SP - 23 de outubro de 2024


Por Tiago Pereira

Fotos: Iris Alves


Apresentação, que marcou o retorno da banda ao Brasil após o Lollapalooza de 2023, não teve lotação; fãs, no entanto, cantaram o equivalente a uma capacidade total


A banda canadense de Indie Rock Mother Mother retornou ao Brasil, novamente em São Paulo, após exatos um ano e sete meses de sua primeira apresentação no país, no Lollapalooza 2023. Dessa vez, o palco foi o Tokio Marine Hall, na Zona Sul de São Paulo, no último dia 23 de outubro, na terceira apresentação de sua turnê pela América Latina. O evento foi realizado pela Live Nation e contou com a abertura da banda brasileira Plutão Já Foi Planeta.

Antes do show da capital paulista, o Mother Mother passou pela Cidade do México, no México (18), e por Lima, no Peru (20). Depois, o grupo passou pelas capitais Buenos Aires, na Argentina (25), Santiago, no Chile (27), e encerrou em Bogotá, na Colômbia (30).

Apesar de as pistas e mezanino não ficarem lotadas - a exemplo, a premium tinha pouco menos de dois terços ocupados -, a força do jovem público presente, principalmente por conta dos cantos ao longo do show principal, fez com que o local parecesse lotado, tamanho era a altura das vozes e a euforia por presenciarem a que possivelmente era uma das (se não a) bandas favoritas destes.

Outro destaque foi a presença de pais, mães e outros possíveis responsáveis pelos jovens menores de idade, numa demonstração de verdadeiro afeto e atenção por seus filhos, independentemente de ser ou não o primeiro show da vida deste seleto grupo.

No palco, o Mother Mother desfilou, em 23 músicas - seis delas em um medley acústico -, não somente as principais faixas de seu mais recente trabalho, o álbum “Grief Chapter” (2024), como os sucessos dos 19 anos de carreira da banda, com destaque para as faixas dos primeiros álbuns, como “Mother” (2005) e “Touch Up” (2007), “O My Heart” (2008). A fidelidade do público, claro, abrangeu todos os sucessos tocados, tanto nos momentos mais agitados, quanto na sessão acústica, no “miolo” do setlist.


Plutão Já Foi Planeta:

O grupo de Indie Pop nordestino Plutão Já Foi Planeta abriu o evento em um show totalmente alegre e contagiante para o público jovem presente no Tokio Marine Hall. Apesar de não conseguir assistir à apresentação desde o início, e sim da metade para o final, era visível que os presentes nas pistas ficaram impressionados, animados e satisfeitos com o setlist executado por Cyz Mendes (vocal), Gustavo Arruda (guitarra e baixo), Sapulha Campos (guitarra, backing vocal, ukulele e escaleta) e Biel Moreira (bateria).

Cheguei durante a faixa “Me Leve”, uma faixa mais leve e lenta na qual o público contribuiu com flashes do celular e com os cantos pós-refrão de “pá pá pará”. Em seguida, a faixa “Viagem Perdida”, iniciada com o ukulele de Sapulha, deu uma pegada mais folk à apresentação - no final desta faixa, um novo canto do público marcou um momento feliz, com a repetição e extensão do “parará pá pá pá parará” e boas finalizações de Biel na bateria.

Cyz Mendes, no auge de seu carisma e com um casaco repleto do que pareciam prismas ou pedras brilhantes em tal formato, brincou com a reação triste do jovem público ao anunciar a reta final do show: “Isso não foi combiniado. Depois eu faço o pix para vocês”. Reação essa que, claro, só reforçou o quanto o público gostou da banda e apresentação.

A reta final do show se deu a partir da antepenúltima faixa, “Depois das Dez”, faixa da versão deluxe do álbum que leva o nome da banda, lançado em agosto deste ano, em uma clara demonstração do Indie Pop proposto pela banda. Depois, a música “Uma Canção Só Sua”, da versão inicial do álbum homônimo - lançado em 2023 -, trouxe o ritmo mais animado ao palco e à pista. Além das interações entre Sapulha e Gustavo, o público contribuiu e muito com um trecho em que bateram palmas no ritmo da faixa.

As reverências dos membros do Plutão Já Foi Planeta ao público foram o prenúncio do fim do show, que teve mais uma faixa. E ela foi a música “Você Não é Mais Planeta”, do álbum “Daqui Pra Lá” (2014), cuja letra faz um verdadeiro jogo de diferenças, principalmente ao usar o planeta Marte e o planeta anão Plutão como personificações de pessoas que têm costumes diferentes e que tentam entrar em uma concordância. Num ritmo também animado, Cyz e os membros da banda fizeram questão de chamar o público para o os saltos, algo que foi muito bem respondido por quem estava nas duas pistas. Um momento tão alegre que até mesmo pessoas da produção do PJFP foram chamados pela frontwoman para pular e dançar em pleno palco do Tokio Marine Hall, ficando até o fim e participando das fotos.


Os momentos antes da atração principal:

É importante destacar esta parte, devido aos indicadores de ansiedade da plateia para o Mother Mother. E isso veio principalmente após a rápida montagem do palco para a banda canadense, quando o bandeirão com seu logo subiu às 20h48, gerando gritos e comemorações que já mostravam que o barulho dos fãs cobriria qualquer indício de espaços vazios das pistas e mezanino.

Na playlist que tocou nas caixas de som, as músicas que tocaram nos minutos finais antes do show foram as mais cantadas pelo público jovem: um remix de “Summertime Sadness”, de Lana del Rey; “Believer”, do Imagine Dragons; “I Don’t Care”, do duo Icona Pop; “Devil Town”, da banda Cavetown; e com o ápice vocal em “I Kissed a Girl”, de Katy Perry, num misto de gerações de jovens que sabiam a letra da música de ponta a ponta.

Houve um pequeno atraso no início da apresentação, o que fez com que houvesse gritos em nome da banda às 21h03. Quatro minutos depois, as mensagens do último sinal passaram nos telões laterais, em meio à reprodução de “Good Luck, Babe!”, de Chapel Roan, para que o show finalmente começasse, às 21h10.


Mother Mother:

Toda a espera do público se converteu em gritos eufóricos quando Ali Siadat (bateria), Mike Young (baixo), Jasmin Parkin (vocal e teclado) e os irmãos Molly Guldemond (vocal e teclado) e Ryan Guldemond (vocal e guitarra) entraram no palco do Tokio Marine Hall. Eles, em meio a uma espécie de contraluz, iniciaram “Nobody Escapes”, faixa que também abre o mais recente álbum do Mother Mother, “Grief Chapter” (2024). Os gritos se converteram num canto quase que uníssono, algo que se estendeu ao longo das faixas seguintes.

O final lento da faixa anterior logo se converteu para o riff de “Arms Tonite”, um Indie Rock quase que direcionado ao Folk Rock e que gerou a vibe dançante dos membros da banda em todo o palco. Nessa faixa, Molly assumiu o teclado pela primeira vez.

Foto: Iris Alves

Foto: Iris Alves

Foto: Iris Alves


Essa vibe dançante logo se converteu numa explosão vocal do público em “Hayloft II”, faixa que compõe a versão deluxe do álbum “Inside” (2021), lançada no ano seguinte ao da versão original, e que é uma sequência para “Hayloft”, single de 2008. A repetição dos versos “My baby’s got a gun, my baby’s got a gun / My baby’s got a gun, I better run / My baby’s got a gun, it goes / boom, boom, crack, ga-ga, boom, ga-ga-ga-ga”, por parte dos fãs, chegou a ser mais alta que a voz do trio de vocalistas. Já “The Matrix”, do álbum mais recente do Mother Mother, finalizou o “primeiro bloco” da noite com a emenda de um pequeno trecho do riff de “Where Is My Mind?”, da banda Pixies, luzes verdes em destaque, vindas dos LEDs laterais e do telão principal, e com um público que acompanhou Ryan, Molly e Jasmin com os dedos do meio para o alto, durante os refrões da faixa.

Ryan Guldemond fez o primeiro discurso da noite, saudando o público animado e também indicando que a banda estava ali para eles. Logo em seguida, o ritmo do show com a dançante “Problems”, única faixa a representar o terceiro álbum de estúdio da banda, “Eureka” (2011) e destacada pelos slappings do baixo de Mike Young.

Esse ritmo dançante seguiu no show, porém com uma faixa com trechos mais inspirados em Pop Rock - sem perder a essência Indie, claro. “Explode!” foi mais uma do álbum mais recente do Mother Mother que puxou coros poderosos da plateia, principalmente durante os refrões, a ponto de fazer com que Ryan Guldemond mandasse beijos ao público, em uma demonstração clara de carinho e gratidão. Logo depois, a faixa “Back to Life”, única do álbum “Dance and Cry” (2018) no setlist, manteve os ânimos da banda no alto.

Molly Guldemond assumiu o vocal principal para cantar o cover de “Video Games”, de Lana del Rey, no ritmo lento que a música pede. Sua performance no palco chegou ao ápice durante a reta final da faixa, quando executou um lindo e duradouro falsete que arrancou ovações dos fãs.

“Bit By Bit” foi outra música muito comemorada e cantada no Tokio Marine Hall. Ela, que faz parte do álbum “The Sticks” (2012), seguiu na voz de Molly, contou com um solo de guitarra de Ryan, em movimento de um lado para outro do palco, além de uma finalização cada vez mais lenta no instrumental da banda. Em seguida, a faixa “Body”, dedicada pela banda a quem vive algum descontentamento com o próprio corpo. Foi um momento do show que contou com a continuação dos movimentos de Ryan Guldemond para os extremos do palco, desta vez para também saudar os fãs mais à ponta da pista premium. Além disso, o frontman do Mother Mother executou outro belo solo de guitarra.

Ryan fez outro momento de discurso, perguntando se o público presente estava bem e os considerando uma “família brasileira”. Para introduzir a faixa seguinte, “Sleep Awake”, ele chamou sua irmã e companheira de banda, Molly, para destacar a importância da família em momentos ruins. De costas para o público e destacada pela iluminação em plano fundo, Molly iniciou a faixa em uma bela e aguda voz. Ela desceu as elevações do palco após os refrões, para desta vez ficar com a banda na parte instrumental. Tudo isso sob uma chuva de flashes de celulares vindas de todos os cantos da pista e do mezanino do Tokio Marine Hall.

A rápida saída da banda do palco foi apenas para ajustes da percussão, violão e outros instrumentos trazidos pela equipe. O Mother Mother iniciou, assim, a sessão acústica do show, que veio com um medley de trechos de seis sucessos da banda tocados com os membros alinhados no palco.

O primeiro foi “Dirty Down”, que assim como “Sleep Awake”, faz parte do aclamado segundo álbum da banda, “O My Heart” (2008); em seguida veio “Neighbour”, do disco “Touch Up” (2008); já “Wisdom” deu destaque aos acordes suaves do violão de Ryan e às linhas simples da percussão de Ali Siadat; tais linhas suaves seguiram em “Ghosting”, cujo verso do refrão “You don’t need tricks” foi amplamente cantado; “Little Pistol” retomou o repertório do álbum “The Sticks”, com batidas fortes e pontuais da percussão combinados às linhas de violão e, principalmente, às vozes de Molly, Ryan e Jasmin; e por fim, a aclamada “It’s Alright”, em um jogo melódico do refrão muito cantada.

Ryan agradeceu o público presente e reforçou os elogios aos presentes: “Isso é muito melhor do que poderíamos sonhar”, afirmou o frontman do Mother Mother, interrompido por gritos de “We Love You” por parte dos fãs. Ele ainda afirmou que o que se falava do público brasileiro era, de fato, verdade: “‘O povo brasileiro tem a melhor reputação!’ Por muitos anos nós ouvimos sobre isso. E é muito melhor do que pensávamos”.

A sessão acústica seguiu, desta vez fora de um medley, com a super comemorada e cantada “Oh, Ana”. A reação eufórica em cadeia veio logo nas primeiras linhas do violão de Ryan Guldemond, seguidas da letra da música, cantada a todos os pulmões pelos fãs, numa situação em que a voz coletiva superou o volume da voz de Jasmin e Molly ao longo da faixa. 

E isso fez com que os membros da banda, principalmente Ryan, ficassem impressionados ao final. O vocalista e guitarrista caminhou em direção a um grupo de fãs que estavam em uma das extremidades da pista premium. Ele recebeu um cartaz no qual agradeceu e afirmou para as garotas que o presentearam: “Nós as amamos. Prometemos que as veremos após este show”. O novo discurso seguiu com mais agradecimentos à plateia por um todo, enfatizando a criatividade brasileira e afirmando: “Estamos em um mundo grande e ruim, mas nós acreditamos em vocês. Acreditem em seus corações. Prometo que nos veremos logo”.

O Mother Mother tocou mais três faixas impecáveis antes da pausa (encore), enfatizando ainda os primeiros álbuns e começando por “Wrecking Ball”. Esta foi a última em versão acústica, contando ainda com uma transição para o instrumental geral, com a volta do baixo de Mike e da bateria de Ali. Já “Verbatim” teve o mesmo peso de comemoração que “Oh Ana”, retomando a sobreposição da voz do público em comparação às vozes dos vocalistas da banda. O jogo de luzes, predominado pelo branco e lilás, foi outro destaque dentro da execução de um dos maiores sucessos da banda.

Já “Hayloft” voltou ao ritmo contagiante e dançante da noite. Dessa vez, o verso predominante era o “My daddy’s got a gun”, numa faixa que fez sucesso imenso no TikTok durante o período pandêmico do início dos anos 2020. Houve, também, uma finalização absurda com muitas luzes em diversas direções do palco.

No escuro total do Tokio Marine, o público cantou o nome da banda em meio ao clássico “olê, olê, olê olê”. Ryan retornou rapidamente ao palco, dessa vez com o cartaz que recebeu e, provavelmente, autografado por ele e pelos demais membros da banda. Ainda sozinho, o frontman agradeceu novamente pela presença dos fãs, além de discursar sobre a celebração da vida e sobre o quão boa ela pode ser.

Numa situação acústica e com seu violão, Ryan iniciou “Grief Chapter”, faixa que leva o nome do último álbum lançado pelo Mother Mother, que fala sobre perder alguém e seguir a vida após isso. Os demais membros voltaram ao longo da faixa, se preparando para a execução seguinte.

Eis que a banda chegou à última música da noite. “Burning Pile”, do álbum “O My Heart”, foi iniciada de um riff suave de contrabaixo e, assim como outras tantas tocadas na noite, foi super acompanhada pelos fãs presentes, principalmente durante o refrão, além do balançar dos braços, no ritmo do som em questão. Um final lindo, acompanhado dos teclados e de uma série de agradecimentos pela banda, principalmente vindas de Ryan Guldemond, amplamente grato e emocionado com o que foi a apresentação de São Paulo. Ele ficou por mais um tempo, reverenciando o público de todos os setores, jogando palhetas e demonstrando o máximo de carinho possível para seus fãs. E nada mais justo que “We Are the Champions”, do Queen, ser reproduzido após a sua saída, já que a entrega dele e dos demais integrantes no palco era digna de uma banda campeã - de carisma, de sonoridade, de presença de palco, de cativação e de tantas outras virtudes positivas que todos esbanjam no palco, durante e depois do show.

Foto: Iris Alves

Foto: Iris Alves

Foto: Iris Alves


Setlist Mother Mother:

1. Nobody Escapes

2. Arms Tonite

3. Hayloft II

4. The Matrix (com um pequeno trecho de “Where Is My Mind?”, da banda Pixies)

5. Problems

6. Explode!

7. Back to Life

8. Video Games (cover de Lana del Ray cantado por Molly Guldemond)

9. Bit by Bit

10. Body

11. Sleep Awake

12. Medley acústico: Dirty Town / Neighbour / Wisdom / Ghosting / Little Pistol / It's Alright

13. Oh Ana

14. Wrecking Ball

15. Verbatim

16. Hayloft


Encore

17. Grief Chapter

18. Burning Pile

Pós-show: We Are the Champions (Queen)



Agradecimentos à Live Nation Brasil e Motisuki PR pelo credenciamento e Tokio Marine Hall e Miriam Martinez Assessoria de Imprensa pela atenção.

Nenhum comentário:

Postar um comentário